Rio Tejo: A Grande Referência dos Ribatejanos
Por Joaquim Ramos
Tenho para mim que, se há coisa que define aquilo que somos nós, os Ribatejanos, essa coisa é o Rio Tejo. Foi ele que moldou a paisagem em que crescemos e que nos enche os olhos. Foi ele que determinou a economia dos nossos antepassados , em períodos em que tudo se passava a um nível menos global e em que a referência das gerações era a região onde nasciam e viviam. Era ele também o nosso local de lazer e recreio, porque estava ali à mão. Quem nunca fez piqueniques nas suas margens, quem não descansou nas suas sombras em tardes de sexta-feira santa, quem nunca deu um mergulho nas suas águas?
Já repararam na diversidade paisagística, histórica e cultural que acompanha o Tejo? As mesmas águas correm pela aridez da Estremadura Espanhola, sulcam serranias e penhascos da nossa Beira e Alto Ribatejo, espraiam-se depois pela lezíria e pelos esteiros, para acabarem na grande metrópole, donde partiram aqueles que deram mais mundo ao Mundo.
A importância estratégica do Tejo como reservatório de água doce, via de comunicação e factor determinante da fertilização das terras por o-nde corre tem sido reconhecida desde sempre. Basta pensarmos, em termos históricos, que a defesa e consolidação da nossa nacionalidade se baseou numa série de fortificações ao longo do Tejo ou no próprio rio; ou nas obras de engenharia hidráulica que a visão do Marquês de Pombal promoveu ao longo da sua bacia, no sentido de o tornar mais navegável e mais proveitoso para a agricultura.
A importância estratégica do Tejo é patente, também, nos conflitos, abertos ou latentes, que ao longo dos séculos opôs portugueses e espanhóis. Ainda hoje em dia, uma das questões mais delicadas em discussão entre as diplomacias dos dois países é o desvio que “nuestros hermanos” fazem, e se preparam para fazer, da água do Tejo.
Então, perguntar-se-á, foi sempre reconhecida e acarinhada essa valia estratégica do Tejo? Claro que não. A partir da segunda metade do Século vinte foram feitos os maiores atentados à qualidade da água do Tejo, à sua biodiversidade – basta referir para tanto a construção de centrais nucleares em cima do rio e a sua transformação no destino dos esgotos de todas as vilas e cidades abrangidas pela sua enorme bacia hidrográfica.
Foram tomadas medidas para repor a qualidade do Tejo? Evidentemente que sim, nos últimos vinte ou trinta anos. É notória a melhoria da qualidade da água, permitida pela generalização do tratamento das águas residuais. São notáveis as tentativas de salvaguarda das diversas culturas tradicionais do Tejo, nomeadamente a cultura Avieira.
Creio, no entanto, que a grande revolução que se fez na nossa atitude perante o Tejo, ficou a dever-se às diversas intervenções que os Municípios fizeram no sentido de valorizar as suas margens do ponto de vista ambiental e da construção de infraestruturas de recreio e lazer que tornaram o Tejo “vivível”. Basta lembrar o que foi feito em Ródão, Barquinha, Abrantes – onde o Tejo voltou a ser a grande referência em termos de desporto e lazer – ou, mais perto de nós, a intervenção do Cartaxo em Valada, de Salvaterra no Escaropim ou na Vala de Salvaterra e de Vila Franca ao longo da margem.
Sei qual é a questão que paira na cabeça dos leitores. Então, porque não se fez em Azambuja ? Fez-se. Fez-se e foi destruído. Por uma simples razão : é que aquelas intervenções com êxito a que atrás me referi foram feitas em troços urbanos do Tejo – vilas ou cidades que são banhadas pelo rio – e as próprias populações previnem os casos de vandalismo. Não é o caso de Azambuja, em que Tejo corre a três quilómetros em linha recta – o que, infelizmente, determinou que o que foi feito tivesse sido rapidamente destruído.
02-09-2015
17:12
Por Joaquim Ramos
Tenho para mim que, se há coisa que define aquilo que somos nós, os Ribatejanos, essa coisa é o Rio Tejo. Foi ele que moldou a paisagem em que crescemos e que nos enche os olhos. Foi ele que determinou a economia dos nossos antepassados , em períodos em que tudo se passava a um nível menos global e em que a referência das gerações era a região onde nasciam e viviam. Era ele também o nosso local de lazer e recreio, porque estava ali à mão. Quem nunca fez piqueniques nas suas margens, quem não descansou nas suas sombras em tardes de sexta-feira santa, quem nunca deu um mergulho nas suas águas?
Já repararam na diversidade paisagística, histórica e cultural que acompanha o Tejo? As mesmas águas correm pela aridez da Estremadura Espanhola, sulcam serranias e penhascos da nossa Beira e Alto Ribatejo, espraiam-se depois pela lezíria e pelos esteiros, para acabarem na grande metrópole, donde partiram aqueles que deram mais mundo ao Mundo.
A importância estratégica do Tejo como reservatório de água doce, via de comunicação e factor determinante da fertilização das terras por o-nde corre tem sido reconhecida desde sempre. Basta pensarmos, em termos históricos, que a defesa e consolidação da nossa nacionalidade se baseou numa série de fortificações ao longo do Tejo ou no próprio rio; ou nas obras de engenharia hidráulica que a visão do Marquês de Pombal promoveu ao longo da sua bacia, no sentido de o tornar mais navegável e mais proveitoso para a agricultura.
A importância estratégica do Tejo é patente, também, nos conflitos, abertos ou latentes, que ao longo dos séculos opôs portugueses e espanhóis. Ainda hoje em dia, uma das questões mais delicadas em discussão entre as diplomacias dos dois países é o desvio que “nuestros hermanos” fazem, e se preparam para fazer, da água do Tejo.
Então, perguntar-se-á, foi sempre reconhecida e acarinhada essa valia estratégica do Tejo? Claro que não. A partir da segunda metade do Século vinte foram feitos os maiores atentados à qualidade da água do Tejo, à sua biodiversidade – basta referir para tanto a construção de centrais nucleares em cima do rio e a sua transformação no destino dos esgotos de todas as vilas e cidades abrangidas pela sua enorme bacia hidrográfica.
Foram tomadas medidas para repor a qualidade do Tejo? Evidentemente que sim, nos últimos vinte ou trinta anos. É notória a melhoria da qualidade da água, permitida pela generalização do tratamento das águas residuais. São notáveis as tentativas de salvaguarda das diversas culturas tradicionais do Tejo, nomeadamente a cultura Avieira.
Creio, no entanto, que a grande revolução que se fez na nossa atitude perante o Tejo, ficou a dever-se às diversas intervenções que os Municípios fizeram no sentido de valorizar as suas margens do ponto de vista ambiental e da construção de infraestruturas de recreio e lazer que tornaram o Tejo “vivível”. Basta lembrar o que foi feito em Ródão, Barquinha, Abrantes – onde o Tejo voltou a ser a grande referência em termos de desporto e lazer – ou, mais perto de nós, a intervenção do Cartaxo em Valada, de Salvaterra no Escaropim ou na Vala de Salvaterra e de Vila Franca ao longo da margem.
Sei qual é a questão que paira na cabeça dos leitores. Então, porque não se fez em Azambuja ? Fez-se. Fez-se e foi destruído. Por uma simples razão : é que aquelas intervenções com êxito a que atrás me referi foram feitas em troços urbanos do Tejo – vilas ou cidades que são banhadas pelo rio – e as próprias populações previnem os casos de vandalismo. Não é o caso de Azambuja, em que Tejo corre a três quilómetros em linha recta – o que, infelizmente, determinou que o que foi feito tivesse sido rapidamente destruído.
02-09-2015
17:12
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