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Opinião Joaquim Ramos:"Covid-19"

"Confesso que não tenho uma posição concreta sobre a necessidade de medidas mais musculadas. Em primeiro lugar, porque eu acho que os portugueses, ao contrário do que aconteceu nos primeiros dias da pandemia, já interiorizaram que têm que adotar voluntariamente medidas de precaução que impeçam a proliferação do vírus."
22-03-2020 às 18:32


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Começo por afirmar, desde logo, que sou um caso de alto risco face à nova pandemia Covid 19 que, nascida na China, donde normalmente têm partido as epidemias gripais que afligiram a humanidade no ultimo século, rapidamente se estendeu ao mundo inteiro. Com setenta anos, insuficiência cardíaca, renal e pulmonar, sou seguramente um daqueles que, se apanha o “bicho”, não há mezinha – aliás ainda por inventar- nem ventilador que me valham.

Não foi maioritariamente por esta razão que me resguardei e que tenho tomado as medidas aconselhadas pelos diversos especialistas, que nesta fase ainda apalpam soluções, preventivas e paliativas, que impeçam a progressão do vírus. Resguardei-me sim porque, sendo eu um sério candidato a constituir um reservatório de Covid, não quero que o meu sono seja atormentado pelos receios de poder ser eu a transmiti-lo ao meu semelhante. Passei a ter filhos virtuais, sobrinhos via Skype, amigos por teleconferência. Mas isso sou eu, que tive oportunidade de ir acompanhando o desenvolvimento das tecnologias de comunicação por forma a poder utilizá-las nesta contingência. Suponho, no entanto, que não serei um caso típico na minha faixa etária : a grande maioria dos portugueses com a minha idade não têm estes domínios tecnológicos para mitigar a solidão que uma quarentena acarreta. Só a ajuda do Estado e das Instituições e a solidariedade dos mais novos lhes poderá valer. E o despertar dum humanismo que tem estado tantas vezes arredado na nossa sociedade das “coisas” será talvez um dos poucos aspetos positivos desta crise mundial.

E esta é uma primeira razão pela qual eu acho que são perigosos os radicalismos de fechar tudo e todos numa jaula asséptica na esperança de que o bicho não tenha hipótese de se transmitir. A China, como qualquer regime totalitário, fê-lo a vários milhões de habitantes, conseguiu conter a infeção – embora a gente não saiba, nem nunca se calhar venha a saber, quantas pessoas morreram por lás vítimas do coronavírus- mas não impediu que em dois meses ele se alastrasse a todo o Mundo. Era inevitável. Estas coisas são invisíveis e “viajam” onde menos se espera.

Rejubilavam os portugueses, até fins de Fevereiro, que Portugal era aquele rectangoluzinho que aparecia nos mapas a branco, julgando que algo de miraculoso se passava na nossa fronteira que impedia que o vírus implicasse connosco e hoje é o que se vê. Até hoje parece não haver casos no Alentejo. Tenho muito pena, mas não durará muitos dias que Évora e Beja também não apareçam ponteados a vermelho. É inevitável.

Depois, há uma ideia errada que se instalou subliminarmente na cabeça de muitos de nós : a de que contaminado é equivalente a condenado, o que faz instalar o pânico generalizado. Devo dizer que os órgãos de comunicação social e os especialistas que vêm às televisões falar sobre a pandemia não têm desmistificado eficazmente esta ideia : a Covid 19 é, na verdade, uma doença de baixa mortalidade. Tanto quanto se sabe, mais de oitenta por cento dos infetados não apresentam nunca sintomas ou estes manifestam-se com tão pouca intensidade que as pessoas nem sabem que estão ou estiveram doentes.

​Na verdade, as taxas de mortalidade só começam a ultrapassar os dois dígitos em idades muito avançadas e, geralmente, em pessoas com outras doenças crónicas que lhes criam grandes fragilidades imunitárias. Não estou aqui a tentar minimizar a gravidade da pandemia. Estou apenas a referir que me parece haver um pânico excessivo e obsessivo sobre os seus efeitos. Ainda ontem, aliás, num conhecido programa semanal televisivo que se costuma pautar por alguma qualidade informativa, em meu entender foi prestado um mau serviço à sociedade, nomeadamente quando se caiu no ridículo das extrapolações matemáticas que levavam a que Portugal, em meados de Abril, tivesse mais infetados que habitantes…aí induziu-se a ideia de que todos nós vamos ser infetados e, como paira nalguns espíritos que infeção é equivalente a morte, acabou-se a raça lusitana. E não houve o cuidado de desmontar claramente esta situação por nenhum dos intervenientes, até talvez porque o grande (e legítimo) objetivo dos intervenientes foi, pareceu-me, encostar o Governos às boxes, isto é, pressionarem a tomada de medidas mais musculadas – particularmente em vésperas do Conselho de Estado que pode decretar o estado de emergência.

Confesso que não tenho uma posição concreta sobre a necessidade de medidas mais musculadas. Em primeiro lugar, porque eu acho que os portugueses, ao contrário do que aconteceu nos primeiros dias da pandemia, já interiorizaram que têm que adotar voluntariamente medidas de precaução que impeçam a proliferação do vírus. E isso já é visível na nossa terra e nas vilas e cidades que aparecem na televisão, quase transformadas em desertos.

Em segundo lugar, porque receio que essas medidas, a serem tomadas, criem uma situação generalizada de pânico que, embora compreensível, seja desproporcionada face à gravidade da situação.

No dia em que sair o ValorLocal já se saberá se foi ou não declarado o estado de emergência e quais as suas condicionantes em termos da vida de todos nós.

Uma coisa tenho como certa: é impossível manter um país fechado por muito tempo. No imediato, porque há sectores da economia e do sector produtivo que têm que continuar a trabalhar, sob pena de virmos todas a sentir carências graves de bens de primeira necessidade indispensáveis ao dia-a-dia das pessoas. A mais longo prazo porque temos que nos preparar para a segunda fase da crise: a recessão económica. Estamos a enfrentar uma crise de saúde pública que é preciso vencer, monitorizando as situações e tomando progressivamente as medidas que se mostrem adequadas ao evoluir da situação. Algumas medidas, como o fecho parcial de fronteiras ou a declaração de estado de calamidade a nível local ou regional já foram tomadas e podem ser intensificadas. Mas ninguém duvide que iremos também enfrentar uma crise económica de enormes proporções e que tudo o que fizermos agora terá repercursões na dimensão e profundidade dessa crise e na eficácia das medidas que terão que ser inevitavelmente tomadas com sacrifícios enormes de todos nós.
​
Cá por mim, vou ficando pela minha quarentena, à espera que o Corona não se lembre de mim…
 

 
 


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