Opinião João Santos: A “visão” de transferir vida humana para o Espaço resolverá o problema da sustentabilidade da Terra? Ou pelo contrário?
"O fundador da Amazon foi ao espaço e regressou com a promessa de ajudar o planeta Terra. Será a dinâmica tecnológica dos Humanos suficiente para concretizar o objetivo de “transferir” vida humana para o espaço e com isso melhorar o meio ambiente terrestre? Ou, ao invés, poderá este objetivo contribuir para agravar a conjuntura ambiental da Terra?"
|18 Ago 2021 17:48
O fundador da Amazon foi ao espaço e regressou com a promessa de ajudar o planeta Terra. Será a dinâmica tecnológica dos Humanos suficiente para concretizar o objetivo de “transferir” vida humana para o espaço e com isso melhorar o meio ambiente terrestre? Ou, ao invés, poderá este objetivo contribuir para agravar a conjuntura ambiental da Terra?
Jeff Bezos afirma que está comprometido com o combate à emergência climática e que pretende usar o seu projeto como um primeiro passo para colonizar o Espaço em benefício da Terra. “Vamos construir uma estrada para o espaço, para que os nossos filhos, e os filhos deles, possam construir o futuro. Não se trata de fugir da Terra... este é o único planeta no sistema solar que se ajusta às necessidades Humanas e, por isso, temos de cuidar dele”, refere o fundador da Amazon. De facto, a indústria tecnológica tem-se revelado muito interessada na chamada “crise climática”. No entanto, também é precisamente a tecnologia, lado a lado com o modelo económico capitalista, que tem contribuído para a sobreexploração dos recursos terrestres e para a desestabilização do equilíbrio do nosso Planeta. A tecnologia digital e a Inteligência Artificial têm potencial para aumentar a eficiência da maioria dos setores de atividade da Terra, desde a energia elétrica, até ao transporte e logística, passando pela gestão energética dos edifícios, pelos automóveis elétricos ou pela monitorização do risco de incêndios florestais. Apesar de todas estas aplicações potenciais, e já reais na maioria dos casos, a tecnologia não tem deixado de contribuir, e muito, para a “pegada ambiental” significativa que estamos a deixar na Terra. Numa análise muito superficial, é provável que cheguemos à conclusão de que todas estas possibilidades tecnológicas nos conduzirão a formas de vida menos prejudiciais para o meio ambiente. Ainda assim, também não será necessário sermos génios para perceber que o caminho mais rápido para um desastre climático será, provavelmente, pactuar com a continuidade do atual modelo económico prevalecente, que assenta na perseguição ininterrupta de objetivos, sobretudo, de lucro. E neste modelo económico é a tecnologia e a Inteligência Artificial que assumem o protagonismo central. A acumular à evidência acima descrita, o próprio setor de atividade da tecnologia digital, de forma isolada, também impacta diretamente na chamada “pegada ambiental”. A este propósito, a investigadora Kate Crawford (Microsoft) refere que “a criação de sistemas contemporâneos de Inteligência Artificial depende da exploração massiva de recursos energéticos e minerais, da exploração do mercado laboral e de dados em massa”. O elevado consumo de energia elétrica das numerosas “fábricas” de servidores; o minério de lítio em várias partes do mundo; as enormes quantidades de trabalho humano necessário (em muitas circunstâncias, com condições controversas ou condenáveis); a apropriação de dados pessoais; o corrompimento da esfera pública; o enfraquecimento dos processos eleitorais e democráticos através do “efeito câmara de eco”, que é potenciado pela abrangente disponibilidade tecnológica; e o aumento da chamada “obsolescência programada” para um nível nunca antes visto na história da indústria, são exemplos dos pontos de interrogação que nos são levantados pela odisseia iniciada por Jeff Bezos no dia 20 de julho de 2021. E tudo isto, uma vez mais, resultado de um modelo económico e de sociedade que assenta cada vez mais na tecnologia digital e na Inteligência Artificial. Ainda assim, desde que algumas características da sociedade atual se invertam, a tecnologia digital e a Inteligência Artificial poderão ser decisivas para mitigar as atividades prejudiciais ao meio ambiente. Mas é fundamental fazer uso de racionalidade e de ponderação. O projeto de Jeff Bezos desencadeará dinâmicas económicas colossais, exigindo, por conseguinte, direta e indiretamente, a utilização de muitos recursos terrestres. Em função da expectativa de novidade ou de descoberta que é gerada na opinião pública com este tipo de iniciativas, a probabilidade de o real impacto das mesmas ser devidamente percebido no presente é muito reduzida. Por estas razões, a sociedade deve ponderar convenientemente os custos ambientais e os supostos benefícios de ideias como a de Jeff Bezos. Deixe a sua Opinião sobre este Artigo
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