Opinião João Santos: "As doses de reforço da vacina Covid-19 poderão ajudar na proteção contra a Ómicron, mas não acabarão com a pandemia"
É provável que o nosso sistema imunológico necessite de exposição regular às proteínas virais Sars-CoV-2, para se ir “lembrando” de gerar a resposta imunitária necessária. Só o tempo permitirá obter esta confirmação
|03 Jan 2021 11:28
Primeiro, o mundo combateu a Alfa, depois a Beta, a Gama e a Delta. Agora, o planeta enfrenta a variante Omicron. De acordo com o universo cientista, esta nova estirpe tem uma série de mutações que a distinguem das anteriores, originando preocupações acrescidas, incluindo a possibilidade de as vacinas disponíveis poderem deixar de ser eficazes. Como resposta, vai-se assistindo, um pouco por todo o mundo e de forma generalizada, a recomendações no sentido de os “reforços” serem administrados a maiores de idade e passados três meses desde a última dose.
Com as chamadas “doses de reforço”, é expectável que se garanta à população um maior nível de imunidade. Sendo o processo bem sucedido, assistir-se-á, em princípio, a uma redução de internamentos hospitalares e de óbitos relacionados com a variante Omicron. Apesar de tudo, esta lógica assenta na ideia de que as vacinas atualmente disponíveis apresentam, pelo menos, alguma eficácia contra esta nova variante. Ainda assim, é muito cedo para a ciência confirmar cientificamente esta ideia. A comunidade científica está, portanto, a atuar de forma preventiva e sem certezas em relação à eficácia da solução da “vacinação de reforço”. Então, nesta fase, assentando a estratégia e a esperança nas doses de reforço, como funcionam estes “boosters”? Os estudos científicos sugerem que a imunidade construída pela exposição às vacinas e ao vírus diminui com o tempo. Um ensaio clínico levado a cabo recentemente no Reino Unido avaliou a resposta imunológica de dois grupos distintos de pessoas vacinadas: 1. Indivíduos que receberam a mesma vacina tanto para as duas primeiras doses como para o reforço; 2. Indivíduos que receberam um reforço diferente das duas primeiras doses. O ensaio incidiu em pessoas que receberam duas doses das vacinas Pfizer ou AstraZeneca. A estas pessoas foram aleatoriamente administrados reforços com uma de quatro vacinas Covid diferentes. Todos os reforços aumentaram os níveis de anticorpos quando administrados após duas doses da vacina AstraZeneca e seis em cada sete aumentaram os níveis de anticorpos quando administrados após a vacina da Pfizer. Ainda assim, os especialistas vão alertando para a dificuldade de prever, com rigor, o nível de proteção de longo prazo que as vacinas e os reforços garantem, especialmente quando o quadro futuro envolve a possibilidade de surgimento contínuo de novas variantes. Os médicos referem ainda que a medição do nível de anticorpos tem pouco significado quando se trata de antecipar a eficácia de uma vacina na prevenção de doenças que resultem, a prazo, em hospitalização ou falecimento. A comunidade científica também não sabe, com certeza, se a Ómicron e outras variantes futuras obrigarão à administração de reforços adicionais, mas vai adiantando que é possível que sim. É provável que o nosso sistema imunológico necessite de exposição regular às proteínas virais Sars-CoV-2, para se ir “lembrando” de gerar a resposta imunitária necessária. Só o tempo permitirá obter esta confirmação. A maior incerteza neste processo resulta da forte probabilidade de surgirem variantes do Sars-CoV-2 muito diferentes daquelas que circulam na atualidade. Um quadro destes poderá resultar na necessidade de produção de vacinas completamente novas. Começa, atualmente, a ser notório o encorajamento para o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 que assegurem proteção contra vários tipos de coronavírus, evitando a necessidade de uma vacina diferente para cada nova estirpe que surja. É, no entanto, um objetivo mais “simples” de ser encorajado do que de ser concretizado. A agravar - e muito - o atual contexto de incerteza, está o facto de em muitas áreas do globo se registar um défice muito acentuado de doses de vacina contra a Covid-19. Para evitar o surgimento de outras variantes preocupantes, como a atual Ómicron, é fundamental reduzir a transmissão viral em todo o mundo. Se isto não ocorrer, surgirão, inevitavelmente, variantes “indiferentes” às vacinas atualmente existentes. E se assim for, perder-se-á o relativo sucesso alcançado no primeiro ano e meio de pandemia, podendo vir a registar-se níveis elevados de mortalidade e um imenso prejuízo para o bem-estar de milhões e milhões de pessoas. Para concluir, é possível comparar a pandemia de Covid-19 a um incêndio florestal, com as devidas diferenças. É um fenómeno muito perigoso, com elevada severidade associada e que não considera fronteiras administrativas. Por ser um fenómeno com uma elevada propensão para o alastramento, a crise sanitária que atravessamos carece de regulação única, concertada e de âmbito global. Por esta razão, a disponibilização de vacinas e doses de reforço a apenas alguns países, sem as distribuir também pelos países com menos recursos, contribuirá para que os primeiros não deixem de permanecer altamente vulneráveis a novas estirpes. |
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