Opinião João Santos: "Feminismo Radical"
"Na verdade, apesar da imensa controvérsia associada ao feminismo radical, as feministas radicais tiveram o condão de colocar as diferenças de género sob análise minuciosa e de pôr em causa a masculinidade e a dimensão de violência física que lhe vai sendo associada"
|22 Nov 2021 08:18
Não há uma definição consensual para “feminismo”. Provavelmente, os entendimentos diferentes acerca deste conceito são tantos quantas as pessoas que afirmam ser suas adeptas. É provável que esta indefinição não pese em benefício do feminismo. O facto de ter um significado subjetivo contribui para o risco efetivo de a conceção perder sentido.
No mínimo, talvez seja possível afirmar que o feminismo é um movimento que visa alcançar a igualdade entre mulheres e homens nos quadros da legalidade, do reconhecimento social e da perspetiva de futuro. Ainda assim, “mulheres e homens”, classificados apenas em função de algumas diferenças físicas específicas, parece, hoje, ser já muito redutor. Os grupos são muitos heterogéneos. Este facto é suficiente para que perdurem sentimentos de injustiça em matéria de direitos. Por exemplo, a este propósito, na atualidade, a rede social Facebook oferece mais de 50 opções de género. Em função desta heterogeneidade, as ativistas feministas têm vindo a referir, ao longo dos tempos, que o seu propósito consiste numa “luta” muito mais abrangente do que a procura da igualdade entre “homens e mulheres”. Assim, pela dificuldade associada à definição do conceito, o próprio feminismo engloba, inevitavelmente, várias perspetivas. Uma dessas perspetivas é o “feminismo radical”. O feminismo radical é um movimento revolucionário de justiça social, nascido na década de 1960, nos Estados Unidos. Quando surgiu, visava alcançar um “mundo mais justo”, batendo-se pela “libertação” das mulheres e procurando acabar com o “patriarcado” como forma de sistema social predominante. O feminismo radical pretendia colocar fim ao poder primário dos homens nos domínios da liderança política, da autoridade moral, do privilégio social e da família (contexto em que a figura paterna mantinha a autoridade sobre mulheres e crianças). Para Ellen Willis (1941-2006) - uma destacada Professora do Departamento de Jornalismo da Universidade de Nova Iorque, conhecida pela sua intervenção pública feminista -, o feminismo radical é uma corrente do feminismo que visa uma reorganização radical da sociedade em que a "supremacia masculina é eliminada em todos os contextos sociais e económicos." À medida que vão ocorrendo progressivamente mudanças nas sociedades, o feminismo, centrando-se numa única identidade de género, vai sendo frequentemente anunciado como desatualizado. Hoje, os mais jovens são muito mais “descomplexados” na abordagem ao sexo, à identidade de género e à sexualidade, o que faz com que o feminismo seja visto como desajustado no tempo e “preso” ao passado. Ainda assim, recuando algumas décadas, até ao período em que o feminismo radical surgiu, é muito provável que este movimento estivesse à frente de seu tempo. As feministas radicais da década de 1970 foram algumas das primeiras a desbravar o caminho dos debates sobre identidade de género e sexualidade; debates estes que, na atualidade, se desenvolvem abundantemente na nossa sociedade. O trabalho das feministas radicais contribuiu para a construção dos pilares que continuam a suportar algumas das grandes questões da atualidade: igualdade estrutural entre homens e mulheres; definição mais ampla de família; liberdade de expressão para identidades sexuais e de género que não se inserem na heterossexualidade “convencional”. Aliás, as feministas radicais rejeitavam a existência de uma heterossexualidade padronizada. Um dos princípios fundamentais do feminismo radical foi, desde sempre, a rejeição do determinismo biológico. O feminismo radical não considera a possibilidade de papéis sexuais biológicos inatos. Ainda neste sentido, o objetivo final da revolução feminista, disse Shulamith Firestone (figura central no desenvolvimento inicial do feminismo radical), deve ser, “não apenas a eliminação do privilégio masculino, mas da própria distinção sexual: diferenças genitais entre os seres humanos não devem ter importância cultural”. Na verdade, apesar da imensa controvérsia associada ao feminismo radical, as feministas radicais tiveram o condão de colocar as diferenças de género sob análise minuciosa e de pôr em causa a masculinidade e a dimensão de violência física que lhe vai sendo associada. Este aspeto central do feminismo radical era considerado altamente controverso na época e, de algum modo, ainda hoje é. Eventualmente, o facto de o feminismo continuar envolto em controvérsia na atualidade é, por si só, bem revelador do trabalho visionário e valioso levado a cabo pelas protagonistas da perspetiva mais radical deste movimento. |
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