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Opinião João Santos: "Infelizmente, a classe média-baixa sofrerá as consequências da crise económica""Abrir gradualmente a economia ajuda a contrariar minimamente este problema, mas não o resolverá no curto prazo, pois as pessoas, numa primeira fase, sentir-se-ão inseguras e isso penalizará o consumo"
09-06-2020 às 17:50
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Esta é uma crise histórica e sem precedentes à escala da vida de cada um de nós. Nesta crise, nenhuma parte sairá incólume. O Estado, as empresas, as famílias, as instituições de solidariedade social, as instituições financeiras… Todos, sem exceção, pagarão um preço.
De uma forma geral, os impactos de natureza económica têm efeitos dramáticos no bem-estar das famílias e das comunidades. A propósito da covid-19, a maior parte do impacto económico resulta do período prolongado de isolamento social. Recorde-se que as medidas de afastamento social, impostas desde o início da pandemia, visaram garantir a operacionalidade do Serviço Nacional de Saúde. No entanto, apesar de imposto, o distanciamento social também foi/está a ser bem acolhido pela generalidade dos portugueses, que visam, obviamente, evitar a todo o custo o contágio. Por estas razões, o consumo de bens não essenciais cessou completamente em Portugal. Para além do isolamento social, o governo, através da declaração do estado de emergência, impôs a proibição de funcionamento a algumas atividades económicas. Foram sobretudo atividades económicas de venda de bens e serviços ao consumidor final. São, portanto, atividades que empregam, em regra, funcionários com baixos rendimentos do trabalho. Algumas empresas (incluindo estabelecimentos de ensino privado), pela natureza da atividade que desenvolvem, adotaram, ainda antes da declaração do estado de emergência, medidas proativas para evitar a propagação da infeção no seio dos seus recursos humanos. Este encerramento em massa das empresas, motivado pelas medidas de isolamento social ou imposto pela declaração do estado de emergência, resultaria sempre na diminuição do rendimento real das famílias portuguesas, com especial impacto nas classes socioeconomicamente mais frágeis. E isto é ainda mais preocupante para os profissionais independentes, que são já, por defeito, altamente desprotegidos em matéria de segurança social. Ora, um ambiente económico tão adverso, que afeta negativamente um conjunto muito alargado de atividades económicas, coloca em evidência a essência do designado mecanismo de preços. Este é outro um aspeto desta crise que prejudicará particularmente as classes socioeconomicamente mais frágeis. Considerando a diminuição do rendimento real agregado à disposição das famílias, o consumo diminui. Havendo menos propensão para o consumo, as empresas que resistirem à conjuntura terão de promover ajustamentos nos seus níveis de produção maximizadores de lucro, acabando inevitavelmente por produzir menos. Produzindo menos, carecerão de menos empregados. Menos empregados significará menos rendimento, sobretudo para a classe média baixa. Abrir gradualmente a economia ajuda a contrariar minimamente este problema, mas não o resolverá no curto prazo, pois as pessoas, numa primeira fase, sentir-se-ão inseguras e isso penalizará o consumo. Por outro lado, na economia altamente globalizada em que grande parte das empresas portuguesas se move, a cadeia de abastecimento de bens intermédios tende, num contexto de pandemia, a ser interrompida ou a funcionar intermitentemente. Por isso, mesmo em tempo de crise e de menos consumo, algumas atividades económicas instaladas em Portugal não encontrarão outra solução senão aumentar o preço de venda dos seus bens ao consumidor final. Está aqui em equação o aumento dos custos de produção das empresas em função: da diminuição de matéria prima à disposição; ou do aumento do custo dos bens intermédios, tendo o empresário considerado viável a sua importação a partir de uma origem alternativa. Portanto, quer seja pela via da diminuição do rendimento do trabalho, quer seja por via do aumento do preço de alguns bens de venda ao consumidor final, serão sempre as classes socioeconomicamente mais desfavorecidas a sofrer o maior impacto desta crise. Finalmente, também é importante referir que o governo tem vindo a apresentar medidas que visam garantir alguma estabilidade às famílias socioeconomicamente mais frágeis, com destaque para: a suspensão da caducidade dos contratos de arrendamento; a prorrogação automática dos subsídios de desemprego, do complemento solidário para idosos e do rendimento social de inserção; e ainda, por exemplo, um programa de moratórias aplicado ao crédito à habitação. |
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opiniões de ''velhos do Restelo''. Assim que normalizar o estado de saúde do país, o consumo será ainda superior ao ano de 2019, todos esperam o fim para a retoma. Até lá obviamente que o consumo não será o mesmo mas de acordo com o plano de estabilização certamente que as finanças do Estado recompor-se-ão em 2021. Do que não precisamos são de ''velhos do restelo''.
Jaime Mota
Azambuja
09/06/2020 18:12
Jaime Mota
Azambuja
09/06/2020 18:12
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