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Opinião João Santos: "Nós e os Outros"

"As diferenças, sejam de raça ou de classe, não podem ser reduzidas à dicotomia errada 'brancos/negros'. Esta nomenclatura promove clivagens, sentimentos de culpa e ódio."
13-07-2020 às 17:05


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Na atualidade, a rejeição do racismo é relativamente consensual. Não há dúvidas de que o entendimento generalizado acerca do fenómeno do racismo é o seguinte: a Vida dos “outros” seres humanos importa, até porque para os “outros”, os “outros” são os “outros”. Confuso?! Esta abordagem não deve ser de cariz racial. Deve ser de natureza cultural. É a dicotomia “nós”/“outros” em evidência. Os seres humanos concebem as culturas diferentes das suas como as culturas dos “outros”. Ora isto significa que todos “nós” também somos os “outros”. E se assim é, devemos então caracterizar todos os “nós” e todos os “outros pelo que têm em comum: a condição de seres humanos, de pessoas.

Isto parece mais fácil escrito. Da consciência geral em relação à negação do racismo, até à sua concretização na prática, há uma distância longa a percorrer. Aliás, os últimos tempos têm confirmado esta impressão.
As atitudes raramente mudam de um momento para o outro, como se no seguimento do toque de uma varinha mágica. A problemática do racismo é principalmente social e estrutural. A velocidade das recentes transformações reflete também o caráter febril da política contemporânea. Volatilidade e polarização são expressões do mesmo problema: o desprendimento da política dos seus alicerces sociais tradicionais. Nos últimos anos, aliás, esta questão tem sido muito discutida, enquadrada, sobretudo, na ascensão do populismo e de movimentos independentes, alguns manifestamente radicais nas conceções que valorizam e defendem. Infelizmente, este quadro confirma que as leis e as instituições também não têm conseguido ser eficazes no combate a práticas discriminatórias.

A narrativa do “branco contra o negro” transformou uma questão cultural (“nós”/“outros”) numa questão de psicologia pessoal e de grupo, que divide, melindra e alimenta o ódio. Raças e classes não são meras categorias que devam competir entre si, “umas contra as outras”. As minorias são necessariamente parte integrante das sociedades e das diferentes estruturas de organização social. E também é sabido que desenvolvem experiências semelhantes de auto-autoridade.

Consideremos os casos dos sindicatos, das associações de moradores ou dos clubes desportivos. Do mesmo modo, a raça, a classe, a naturalidade, o clube, a religião…, também moldam a Vida das pessoas de forma complexa. Olhemos ainda para os portugueses emigrantes, que constituem minorias nos países que os acolhem. Porventura, este exemplo permite-nos compreender com mais profundidade e redobrada sensibilidade o essencial da dicotomia “nós”/“outros”.

Em função da volatilidade da sociedade em geral, e muito particularmente da política e de muitos dos seus agentes às escalas nacional e global, o que parecia até agora uma alteração fundamental do juízo público e coletivo face ao racismo, transformou-se radicalmente em menos de um mês. Certo, porém, é que as diferenças, sejam de raça ou de classe, não podem ser reduzidas à dicotomia errada “brancos/negros”. Esta nomenclatura promove clivagens, sentimentos de culpa e ódio.

Finalmente, faço referência a um estudo científico desenvolvido em 2005, “Criminalidade de Estrangeiros em Portugal”. Deste estudo, conduzido pelo Observatório da Imigração, resulta uma conclusão importante: em condições semelhantes, os diferentes grupos sociais tendem a tornar-se perfeitamente equivalentes no que respeita à criminalidade.
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O mesmo estudo sublinha ainda que questões complexas como esta, “se é ou não fundamentada a associação entre imigração e criminalidade”, não podem ser respondidas apenas com o “parece-me” ou o “acho que”. Porque é de seres humanos que se trata, é imperativo investigar, estudar, recolher informação estatística fiável e interpretá-la. Só assim se alcançarão respostas credíveis.

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Muito bem descrito como sempre pelo dtr joao santos o meu muito obrigado
José Marques
Vila Franca de Xira
14-07-2020 às 06:56

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