Opinião João Santos:
"O fantasma da inflação - contrair ou continuar a expandir, eis a questão que se coloca na atualidade" "O aumento do preço do petróleo e a crise de matérias-primas despertou o fantasma da inflação. A confirmação de níveis de inflação superiores ao que é habitual e desejável na Europa e nos Estados Unidos da América impõe a necessidade de “medidas contracionistas"
|07 Fev 2022 18:16
Vivemos um período preocupante. O aumento do preço do petróleo e a crise de matérias-primas despertou o fantasma da inflação. A confirmação de níveis de inflação superiores ao que é habitual e desejável na Europa e nos Estados Unidos da América impõe a necessidade de “medidas contracionistas”. Estas medidas, por sua vez, pelas consequências negativas que espoletam no desemprego e na saúde das empresas, tendem a impor a necessidade de “políticas expansionistas”. Então em que é que ficamos? Será esta a melhor altura para aplicar medidas contracionistas?
A assunto é muito complexo. Os principais perigos da inflação são conhecidos. De entre as principais ameaças da inflação, a maior de todas é a possibilidade de as famílias com menos rendimento líquido sentirem dificuldade acrescida no acesso a bens de primeira necessidade. Uma das formas de controlar a inflação consiste na subida das taxas de juro associadas quer ao crédito, quer à poupança. Esta solução é o que tipicamente se designa de “medida monetária contracionista”. Do lado dos Estados, para o mesmo efeito, podem praticar-se as chamadas políticas fiscais contracionistas, havendo, neste caso, lugar a um aumento dos impostos cobrados aos contribuintes. Em qualquer uma destas duas opções contracionistas (monetárias ou fiscais), o objetivo será sempre diminuir a quantidade de dinheiro em circulação na economia e contribuir para a queda da propensão para o consumo. Em relação às medidas monetárias, as pessoas, perante juros mais elevados associados ao dinheiro, sentem-se menos tentadas a recorrer ao crédito para consumo e simultaneamente mais inclinadas para o investimento em poupança. Relativamente às políticas fiscais, efetivando-se um aumento da carga fiscal sobre os contribuintes, registar-se-á, no seguimento, uma diminuição da liquidez de dinheiro em circulação na economia. Em ambos os casos (políticas monetária e fiscal), promove-se o recuo no consumo e o arrefecimento da atividade económica. Este desfecho culmina com a desaceleração da subida generalizada dos preços (controlo da inflação). Ainda assim, esta lógica faz parte de uma moeda com duas faces. O abrandamento da economia conduz ao desemprego. O aumento do desemprego acentua a diminuição do rendimento líquido das famílias, o que, por sua vez, interfere negativamente com o funcionamento do fluxo circular da atividade económica, originando ainda mais desemprego. Considerando a economia global em que vivemos, qualquer política ou medida contracionista bem-sucedida na Europa ou nos Estados Unidos terá, necessariamente, propagação negativa à escala mundial, nomeadamente em economias que dependam da dinâmica económica ocidental. É caso da China. A este propósito, o presidente Xi Jinping veio já a público chamar a atenção mediática para a repercussão global de eventuais medidas norte-americanas e europeias que visem contrariar a inflação. Agora que se perspetiva a recuperação global da pandemia, a China alerta os EUA e a Europa para os efeitos negativos de um rápido aumento nas taxas de juro (política monetária). A acontecer, corresponderia a uma travagem no restabelecimento da ordem económica mundial, segundo o presidente chinês. Neste sentido, Xi Jinping salienta que, ao invés de medidas contracionistas, os bancos centrais devem manter o estímulo monetário. De outro modo, de acordo ainda com o presidente chinês, os bancos centrais arriscam sérias consequências económicas colaterais, que resultarão do impacto negativo das medidas contracionistas nos mercados em desenvolvimento, desigandamente na Ásia, onde se produz parte significativa da matéria-prima necessária à produção mundial. E é provável que o presidente da República Popular da China esteja certo. Embora os riscos de inflação na Europa e nos EUA sejam uma realidade, talvez seja mais premente nesta fase fomentar a coordenação económica à escala global de modo a desenvolver políticas que contribuam para o “recobro” da atividade económica mundial. Apesar da enorme pressão sobre a Reserva Federal Norte-Americana, para que esta responda ao nível mais alto de inflação dos últimos 40 anos naquele país (7% em dezembro), e sobre o Banco Central Europeu (em função do que ocorre já em economias como a alemã), talvez seja ainda o tempo de debelar a pandemia e de continuar a impulsionar a recuperação económica e social. Assim sendo, nesta fase, se as principais economias pisarem o travão económico, invertendo as suas políticas monetárias e promovendo medidas contracionistas (monetárias e/ou fiscais) para abrandar a inflação, poderão resultar, com muita probabilidade, sérias repercussões negativas para a estabilidade financeira e económica mundial, sendo que os países menos desenvolvidos serão os mais afetados pelo impacto desta alteração. Para já, restará, eventualmente, uma solução. Os decisores políticos, de forma concertada e à escala global, deverão assumir como inevitável um nível de inflação relativamente alto. Paralelamente, os países devem manter-se em “estado de alerta” social relativamente às franjas populacionais mais frágeis do ponto de vista socioeconómico. A prazo, a economia mundial restabelecer-se-á e os preços tenderão a estabilizar. |
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