Opinião João Santos: "Os dois pratos da balança do capitalismo: a Covid-19 e A Vacina"
"Num ambiente de concorrência feroz, os diversos investidores, espalhados pelo mundo inteiro, confrontaram-se vigorosamente com um objetivo: alcançar A vacina e o imenso lucro que desse feito viria a resultar. E conseguiram! É esta a grande virtude do capitalismo"
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| 13 Dez 2020 08:01
Nesta edição do jornal Valor Local, apresento-vos um texto transcrito da conclusão do meu livro Economia Indispensável, publicado em novembro de 2020. Este excerto ajusta-se com precisão ao período que vivemos à escala global.
Atravessamos uma crise sanitária profunda e o recurso ao essencial do capitalismo parece ser a nossa única esperança e o que nos permite vislumbrar a luz ao fundo do túnel. “A redação do Economia Indispensável teve início à saída de uma crise, em 2015, e foi concluída no auge de outra, corria o ano de 2020. A crise de 2020, que começou por ser uma emergência sanitária (pandemia devido à doença por Covid-19), veio a transformar-se numa crise económica de contornos históricos. Nesta crise, o consumo, que constitui o dínamo das sociedades contemporâneas, caiu abruptamente, por via das medidas de distanciamento social necessárias à contenção da pandemia. Este acontecimento afetou fatalmente o fluxo circular da atividade económica nacional. Apesar de marcadamente sanitária, terão ou não sido também razões de ordem económica a estar na origem da crise de 2020? Claro que sim, pelo menos conceptualmente. E a escapatória à crise, terá sido concebida com recurso aos fundamentos da economia enquanto ciência? Sim, também, indiscutivelmente. Comecemos pela escapatória à crise, pois é o âmago da economia clássica a preencher o essencial da solução. A indústria farmacêutica, empurrada pela mão invisível de Adam Smith, produziu A vacina contra a Covid-19. Num ambiente de concorrência feroz, os diversos investidores, espalhados pelo mundo inteiro, confrontaram-se vigorosamente com um objetivo: alcançar A vacina e o imenso lucro que desse feito viria a resultar. E conseguiram! É esta a grande virtude do capitalismo. Segundo Adam Smith, um investidor, “na prossecução do seu próprio interesse, promove frequentemente o interesse da Sociedade de uma forma mais efetiva do que quando realmente o pretende fazer.” Quanto à origem da crise e ao puzzle que a configura, a leitura atenta do Economia Indispensável permite-nos compreender uma das peças mais importantes: a livre circulação de pessoas e bens à escala global. No ponto 2.4., é abordado o conceito de vantagem comparativa, que constitui, aliás, um dos princípios que orienta este livro. O conceito de vantagem comparativa refere que os países se devem especializar na produção e exportação dos bens e serviços que produzem com custos relativamente mais baixos. Esta lógica, válida para os mercados dos três fatores produtivos (terra, capital e trabalho), impõe a necessidade de circulação de pessoas e bens à escala global. Na realidade, a eliminação de barreiras à livre circulação de pessoas e bens é um processo que tem vindo a intensificar-se desde a revolução industrial. À escala global, seguindo a sinalética do capitalismo, circulam os mais variados bens, serviços, pessoas… e vírus! A pandemia por Covid-19 não foi, por isso, uma surpresa por aí além. Será este o modelo de sociedade que melhor serve a Humanidade? Talvez esta seja uma das questões para ‘um milhão de dólares’.” |
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