Opinião Mário Frota: "Nos 20 anos do Euro... A perspectiva do consumidor"
Quando um pobre é aceite num clube de ricos ou vai para porteiro ou para lugares humílimos da estrutura. Na fase de pré-lançamento do euro, cedo se anteviu que os pobres decerto se tornariam mais pobres e vastas hostes de remediados se lhes associariam
| 30 Jan 2022 11:06
A perspectiva realista da arraia miúda que sentiu nos bolsos a carestia provocada pela introdução do euro não é nada lisonjeira! Quando um pobre é aceite num clube de ricos ou vai para porteiro ou para lugares humílimos da estrutura.
Na fase de pré-lançamento do euro, cedo se anteviu que os pobres decerto se tornariam mais pobres e vastas hostes de remediados se lhes associariam… As justificações para a introdução do euro visavam sobretudo as elites. Recordamo-nos dos exemplos que, ao tempo, o primeiro ministro em exercício oferecia, ao referir-se invariavelmente ao facto de os portugueses muito terem a lucrar com a moeda única: se se deslocassem, em viagem de turismo, a três ou quatro países com um nota de 1 000 escudos no bolso, só nos câmbios, de país em país, acabariam por ficar, no limite, com pouco mais 200 escudos para gastos… Tal reflectia bem a inadequação entre a moeda de todos os dias com a que emergiria para as deslocações lúdicas ou de negócios, decerto que não ao alcance de todos… A FALACIOSA CONVERSÃO DE PREÇOS Houve, na circunstância, um agravamento especulativo dos preços, nas mais elementares categorias de bens. E havia regras expressas para a conversão e sanções para o incumprimento. No restaurante de um hotel, no Porto, o “frango à passarinho” que se se servia a 750$00 não passou a figurar nas ementas a 3,75 €, antes a 7,50 €. E os exemplos abundaram! E disso nos chegavam ecos dos quatro cantos do território… Em tempos, um dos jornais da capital ofereceu um quadro comparativo, simplista, da abissal diferença registada, no lapso de cerca de 20 anos, entre moedas. Escasseiam, porém, dados outros que propiciariam conclusões bem mais fundadas. Não se considerou a erosão da moeda ao longo dos tempos. Falece-lhe,pois, o rigor que convinha se imprimisse a um tal quadro… Ei-lo: “Café Custava, ao tempo, 50$00, o equivalente a 24,45 cêntimos. Custa agora 70 cêntimos, o equivalente a mais de 140$00. Quase triplicou… Gasolina 95 Um litro custava, em média, 172$00, o equivalente a 0,86 €. Hoje o preço médio é de 1,64 €, o que corresponde a quase 328$80. Os combustíveis quase duplicaram e é o depósito do carro, de par com a carteira a sofrer. Se no início do século conseguia comprar seis litros com 1.000$00, hoje com tal valor consegue apenas comprar três. Transportes No início dos anos 2000 um bilhete de metro custava 100$00, o equivalente a 0,50 €, enquanto nos dias de hoje um bilhete custa 1,50 € (300$00). Andar de metro ou de autocarro, hoje, é três vezes mais caro do que há 20 anos. Comida Um dado hambúrguer, dos mais populares em todo o mundo, usado pelo “The Economist “como indicador simples do poder de compra individual em cada um dos países”, custava cerca de 500$00, hoje o seu preço é de 3,90 € (mais de 780$00).” Um estudo que a lume veio em 2019 e a Comissão Europeia qualificou, entretanto, de enganador, revela que neste lapso de tempo cada um de nós terá perdido cerca de 41 000 € com o euro, factor que influenciou decisivamente a carestia que passou a dominar o quotidiano de todos e de cada um. A perspectiva de personalidades de topo Personalidades de topo das distintas constelações europeias vieram a terreiro, há tempos, exaltar os efeitos benéficos do euro… Uma expressão só, que as limitações de espaço a mais não consentem: “Após o grande entusiasmo com que foi inicialmente acolhido, o euro cresceu para se tornar a segunda moeda mais utilizada no mundo. A nossa moeda comum continua a ser muito popular (cerca de 80 % dos cidadãos consideram que o euro é positivo para a UE) e a área do euro tem vindo a expandir‑se (começou com 11 membros e conta agora com 19 países, havendo outros em vias de aderir nos próximos anos).” “Impulsionado pela expansão do mercado único, o euro tornou‑se uma das conquistas mais tangíveis da integração europeia, juntamente com a livre circulação de pessoas, o programa de intercâmbio de estudantes Erasmus ou a supressão das tarifas de itinerância na União Europeia (UE). A um nível mais profundo, o euro reflecte uma identidade europeia comum, simbolizando a integração enquanto garante da estabilidade e da prosperidade na Europa.” São duas perspectivas que jamais convergirão, a menos que as correcções nos rendimentos se operassem como que por magia… Presidente emérito da apDC – DIREITO DO CONSUMO - Portugal |
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