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Opinião Padre Paulo Pires: Mensagem de Esperança em tempo de Covid-19"No contexto desta paragem “forçada”, que todos vivemos, o discípulo de Jesus sabe, tal como aprendeu de seu Mestre, que deve “ler” as circunstâncias não apenas como fruto de um mero acaso, mas como uma oportunidade de escutar, mais profundamente, aquela Voz que ultrapassa a simples vibração do ar, e que o convida à esperança"
19-03-2020 às 18:03
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«Perguntaram-lhe, então: “Mestre, quando sucederá isso? E qual será o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” Ele respondeu: “[…] Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis; é necessário que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim.” Disse-lhes depois: “Há-de erguer-se povo contra povo e reino contra reino. Haverá grandes terramotos e, em vários lugares, fomes e epidemias; haverá fenómenos apavorantes e grandes sinais no céu.» (Lc 21, 7-11)
Para quem conhece os Evangelhos, certamente que agora, mais do que nunca, sente este passo de S. Lucas ecoar na sua mente… Trata-se de uma afirmação de Jesus, do seu famoso discurso apocalíptico, no qual o Mestre anuncia os sinais que precederão a Sua vinda no final dos tempos. A vida dos Homens sempre conheceu momentos de grande crise, nos quais estes puderam sentir, mais claramente, a sua fragilidade e dependência… Na história da Humanidade, tais momentos aparecem condensados sob a forma de três grandes flagelos que, através dos milénios, acossaram a sociedade dos Homens: guerra, fome e peste. No contexto desta paragem “forçada”, que todos vivemos, o discípulo de Jesus sabe, tal como aprendeu de seu Mestre, que deve “ler” as circunstâncias não apenas como fruto de um mero acaso, mas como uma oportunidade de escutar, mais profundamente, aquela Voz que ultrapassa a simples vibração do ar, e que o convida à esperança… O elenco de flagelos feito por Jesus certamente que não nos surpreende; aliás, eles são recorrentes na história humana. Porém, se Jesus os anuncia como sinais prenunciadores da Sua vinda, será, porventura, que estaremos prestes a viver o fim do mundo? Só Deus sabe! Creio, contudo, que mais do que uma profecia milenarista, Jesus quer mostrar a necessidade de que cada geração faça sua própria experiência de finalidade, como garantia “pedagógica” de encontro com o verdadeiro sentido para a existência. Neste tempo, que agora tem mais tempo, eis algumas lições que o discípulo de Jesus poderá revisitar: - Lição de silêncio e de interioridade: numa vida profundamente acelerada, onde tantas vezes vivemos “embriagados” pelo activismo, este tempo poderá ser um momento de redescoberta do silêncio, através do qual possamos viajar até ao mais profundo de nós mesmos, e aí tomarmos consciência de que existe um “eu interior” que também reclama atenção; - Lição de reencontro: ao longo da rotina diária, nem sempre realmente nos apercebemos da presença do outro, mesmo daquele que compartilha o nosso lar! Poder parar, estar mais por casa, ajudar-nos-á a redescobrir o outro enquanto pessoa, enquanto desafio, enquanto dom…; - Lição de sentido último e de abertura ao transcendente: a maior proximidade com a possibilidade do (nosso) fim, naturalmente que não deixa ninguém indiferente. Somos, assim, como que impelidos a fazer um ponto de situação da nossa vida, a ponderar os gestos e palavras já usados ou omitidos, no amor dado ou negado, a embater nos castelos de ilusões atrás dos quais corremos... Afinal de contas, não passamos de frágil barro que, mais cedo ou mais tarde, há-de voltar à terra donde foi tirado (cf. Gén. 3, 19). Abre-se-nos, assim, uma proposta de novo horizonte: um horizonte de vida, daquela vida verdadeira que supera a fragilidade da natureza, porque marcada pelo selo na sobrenaturalidade. «Eu sou a Ressurreição e a Vida. (…) E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre.» (Jo 11, 25-26). Possa esta singela partilha, neste período de incerteza e de dúvida, ser motivo de alento e de esperança. Pároco de Azambuja e Vila Nova da Rainha PS: Texto propositadamente escrito não seguindo o novo acordo ortográfico. |
ESCOLHAS DO EDITOR |
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Obrigada pelo texto. Um excelente texto para reflexão. Quantos de nós, numa vida "sem tempo"deixamos um espaço para analisar os sinais de Deus ? Quantos de nós olha para o "outro" com o olhar de "ver"? Obrigada Padre Paulo
Amélia Monteiro
Ramada
23/03/2020 11:26
Amélia Monteiro
Ramada
23/03/2020 11:26
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