
Como vai o comércio tradicional na região? Será que os negócios com décadas ou mesmo mais do que um século nos tempos atuais estão bem e recomendam-se? Ou será que a diferença entre manter a porta aberta ou fechada é quase nenhuma quanto a clientes; e os novos negócios têm pernas para andar? Ou apenas garantem pouco mais do que a subsistência dos seus donos. Como os velhos e os novos negócios se articulam no espaço público, e o que dizem as associações comerciais nesta reportagem.
O último alfaiate de Alenquer
Secundino Coelho mantém uma das casas mais características da vila de Alenquer desde 1967. É um dos poucos alfaiates que ainda vão persistindo na região. Os clientes não são muitos, mas o facto de fazer as fardas para a academia da Força Aérea é algo que já lhe dá muito trabalho, recorrendo por vezes ao auxílio de costureiras para o ajudarem nessa função.
Conta que decidiu abrir a alfaiataria depois de vir de África, e aos poucos foi conquistando uma clientela exigente. “Fiz fatos para muitos juízes, arquitetos, engenheiros e doutores de Lisboa”, conta. Hoje com 71 anos, revela que são raros os clientes para além da força aérea – “De vez em quando vem um ou outro cliente, mas não mais do que um por mês”. Neste momento está a acabar um casaco aba de grilo para um comendador da ordem do Infante, e Secundino Coelho mostra a comenda. Em mãos tem também um fato para um embaixador.
Em regra, demora uma semana a confecionar um fato para cada membro da academia, mas quando se fala em abas de grilo a dificuldade acresce – “Estes cortezinhos têm todos de bater certos, é um trabalho muito complicado”. Normalmente, uma aba de grilo custa entre 800 a 1000 euros. No fim a roupa é passada com um ferro dos antigos, “porque os a vapor apenas passam e não esmagam, não vincam umas calças, ou certos tecidos fininhos.”
O alfaiate diz que ainda se sente em forma, e os dedos vão sendo ágeis. Os seus fornecedores são alguns dos melhores fabricantes de tecidos como Cerrutti, Ermenegildo Zegna, e Cavalli. É com pena que vê a profissão a acabar na região. Ainda tem um colega em Vila Franca; e em Azambuja recorda o senhor Mendes, entretanto falecido, com quem chegou a trocar trabalhos. “Por vezes pedia-me ajuda para conseguir fazer as fardas para os bombeiros”. Só em Alenquer chegaram a existir cinco alfaiates.
Hoje em dia, surgem-lhe alguns interessados em fatos à medida, mas o problema é que “muitos não querem pagar”. “Chegam clientes que querem encomendar um fato para um casamento mas quando lhes adianto o preço, referem que não conseguem pagar. Nesse caso aconselho-os a irem ao Campera onde a qualidade é menor mas o preço é mais barato, pagam 50 ou 100 euros e ficam ótimos. Depois quando lavarem o fato, a roupa encolhe para metade mas isso pouco interessa”, ilustra ironizando.
Para si, a qualidade dos tecidos hoje em dia não é famosa, mas já foi pior na altura da “fancaria”. “Se apanhasse uma chuvada, as mangas encolhiam”.
Quanto ao comércio na Rua Triana (hoje à espera de ser revitalizado) ainda se lembra bem da época de ouro quando o movimento de trabalhadores para as fábricas existentes na vila, (Chemina, Barros) permitia fazer negócios e tudo fluía bem para os diferentes comerciantes.
Secundino Coelho não tem seguidores para já do seu negócio, os filhos enveredaram por outras carreiras. “Para tudo é preciso ter queda, e eles não a têm para este negócio”.

Loja de decoração mais conhecida de Alenquer em rota ascendente
Sandra Aguiar recebe-nos numa das lojas mais carismáticas de Alenquer, já com várias décadas de existência, e que soube até à data adaptar-se e acompanhar as exigências da vida moderna. Situada em plena Rua Triana, contempla uma vasta gama de artigos de decoração, de móveis e de utilidades para o lar. Os clientes são sobretudo os que gostam de peças originais, particularmente na onda do rústico.
Sempre bem-disposta Sandra Aguiar responde rindo, (quando se lhe pergunta como consegue esta loja competir com outras do país do mesmo género, mas com uma oferta maior), -“É um segredo não se pode dizer””.
“Noto que as pessoas têm dificuldades em confiar no comércio exterior e mais massificado, e é aí que o comércio tradicional tem a ganhar. No meu caso, trabalho aqui há 20 anos, as pessoas já me conhecem, bem como os produtos.”
Já com várias gerações de proprietários, a loja goza de uma rede interessante de clientes fiéis, “e cada vez mais tem conseguido novos clientes”. “Assisto a um fenómeno que é este: as pessoas estão a ficar cansadas do comércio dos centros comerciais, onde é tudo igual”. Também é nesta luta que Sandra Aguiar se posiciona – “Procuro todos os dias oferecer artigos diferentes, pois só assim consigo competir”.
Entre os produtos mais fortes da loja, destaca alguns quadros pintados à mão, em que é a própria Sandra Aguiar que escolhe as pinturas. Trabalha muito sob encomenda. “Tenho coleções que estão sempre a mudar várias vezes por ano, normalmente vendo mais por catálogo do que propriamente o que está exposto na loja, e como estamos a falar de artigos com qualidade, consigo ter um produto que interessa às pessoas”.
A funcionária revela que mantém uma filosofia de venda do que é rústico, que soa a antigo mas com valor e com caráter, mas com alguns atrevimentos no que a peças mais modernas diz respeito. Refere que já pensou que peças atuais fariam mais sentido, mas acabou por se enganar – “O nosso cliente procura essencialmente algo que não tenha esse toque de moderno tão acentuado, que seja algo com mais personalidade, mais campestre”.
Com uma área interessante, e situada em pleno coração de Alenquer, esta casa “consegue manter-se, dá para pagar as despesas, e mal de nós se não conseguíssemos pelo menos isso”. A loja “já teve momentos muito bons, mas não devem voltar”, “mas estamos a falar de tempos diferentes, hoje em dia as pessoas facilmente compram em Lisboa, e há 100 anos, altura em que esta casa nasceu, isso não acontecia”.
Muito se tem falado na possibilidade de se fechar a Rua Triana ao trânsito, mas Sandra Aguiar aponta que essa não deverá ser a solução. No seu caso, e face a uma montra com um tamanho apreciável, confessa que esse facto acaba por suscitar com alguma facilidade a atenção por parte de quem ali circula. “Talvez fosse bom para os cafés, mas pouco mais do que isso!”
Com a crise, “a loja foi abaixo, mas tem estado a crescer nos últimos tempos”. “Penso que seria muito importante mais do que fechar a rua ao trânsito apostar-se na recuperação dos edifícios degradados e potenciar-se alguma espécie de turismo rural, isso daria logo movimento a esta rua”.
Sandra Aguiar recebe-nos numa das lojas mais carismáticas de Alenquer, já com várias décadas de existência, e que soube até à data adaptar-se e acompanhar as exigências da vida moderna. Situada em plena Rua Triana, contempla uma vasta gama de artigos de decoração, de móveis e de utilidades para o lar. Os clientes são sobretudo os que gostam de peças originais, particularmente na onda do rústico.
Sempre bem-disposta Sandra Aguiar responde rindo, (quando se lhe pergunta como consegue esta loja competir com outras do país do mesmo género, mas com uma oferta maior), -“É um segredo não se pode dizer””.
“Noto que as pessoas têm dificuldades em confiar no comércio exterior e mais massificado, e é aí que o comércio tradicional tem a ganhar. No meu caso, trabalho aqui há 20 anos, as pessoas já me conhecem, bem como os produtos.”
Já com várias gerações de proprietários, a loja goza de uma rede interessante de clientes fiéis, “e cada vez mais tem conseguido novos clientes”. “Assisto a um fenómeno que é este: as pessoas estão a ficar cansadas do comércio dos centros comerciais, onde é tudo igual”. Também é nesta luta que Sandra Aguiar se posiciona – “Procuro todos os dias oferecer artigos diferentes, pois só assim consigo competir”.
Entre os produtos mais fortes da loja, destaca alguns quadros pintados à mão, em que é a própria Sandra Aguiar que escolhe as pinturas. Trabalha muito sob encomenda. “Tenho coleções que estão sempre a mudar várias vezes por ano, normalmente vendo mais por catálogo do que propriamente o que está exposto na loja, e como estamos a falar de artigos com qualidade, consigo ter um produto que interessa às pessoas”.
A funcionária revela que mantém uma filosofia de venda do que é rústico, que soa a antigo mas com valor e com caráter, mas com alguns atrevimentos no que a peças mais modernas diz respeito. Refere que já pensou que peças atuais fariam mais sentido, mas acabou por se enganar – “O nosso cliente procura essencialmente algo que não tenha esse toque de moderno tão acentuado, que seja algo com mais personalidade, mais campestre”.
Com uma área interessante, e situada em pleno coração de Alenquer, esta casa “consegue manter-se, dá para pagar as despesas, e mal de nós se não conseguíssemos pelo menos isso”. A loja “já teve momentos muito bons, mas não devem voltar”, “mas estamos a falar de tempos diferentes, hoje em dia as pessoas facilmente compram em Lisboa, e há 100 anos, altura em que esta casa nasceu, isso não acontecia”.
Muito se tem falado na possibilidade de se fechar a Rua Triana ao trânsito, mas Sandra Aguiar aponta que essa não deverá ser a solução. No seu caso, e face a uma montra com um tamanho apreciável, confessa que esse facto acaba por suscitar com alguma facilidade a atenção por parte de quem ali circula. “Talvez fosse bom para os cafés, mas pouco mais do que isso!”
Com a crise, “a loja foi abaixo, mas tem estado a crescer nos últimos tempos”. “Penso que seria muito importante mais do que fechar a rua ao trânsito apostar-se na recuperação dos edifícios degradados e potenciar-se alguma espécie de turismo rural, isso daria logo movimento a esta rua”.
Negócio das Unhas é dos mais evidentes em Azambuja
O dito negócio das unhas é um dos mais florescentes na vila de Azambuja. Já são perto de uma dúzia, as esteticistas que fazem deste um dos negócios da moda na localidade. Uma dessas novas empresárias do ramo é Débora Marques, 28 anos, que entrou no ramo há um ano e meio. Para trás ficou um emprego no Campera, Carregado. Em conversa com uma prima achou que era boa ideia aventurar-se neste mercado. Tirou um curso para o efeito.
Débora Marques conta que sempre achou piada à estética de unhas, e era uma fiel cliente também deste tipo de espaços. Implantar o negócio em Azambuja, já com um mercado muito competitivo “foi um risco”, mas “como estávamos perto de casa, decidimos que era melhor ser aqui”. Inicialmente instalou o seu espaço no centro da vila, mais recentemente mudou-se para uma zona menos central, “até porque se foi instalar no rés-do-chão do prédio onde estávamos uma outra esteticista”.
Contudo, e como entretanto conseguiu fidelizar uma clientela fiel, “cerca de 60 pessoas”, espera que a nova fase também seja bem-sucedida. Mas este centro de estética possui ainda outros serviços como depilações, massagens e aplicação de pestanas. “O passa-palavra é que acabou por fazer a casa”, não tem dúvidas. A esteticista também conta com clientes fora da vila de Azambuja, nomeadamente, do Carregado, de Alenquer e de Santarém.
Um dos desafios de quem está neste mercado competitivo passa por uma necessidade de atualização constante, até tendo em conta a concorrência e para isso Débora Marques, bem como a prima que é sua sócia, conta em ir fazendo vários cursos, pois as novidades no mercado das unhas são constantes, com clientes cada vez mais exigentes que pedem às esteticistas para arriscar sempre mais um pouco no que toca a desenhos e outras técnicas. “Por vezes não é fácil satisfazer esses pedidos, mas tentamos esforçar-nos o mais possível”.
Para muitas mulheres portuguesas habituadas a trabalhar em outras áreas, a estética é vista atualmente como uma boa aposta no que toca a conseguir ter um negócio próprio e onde as clientes não faltam. A mulher moderna não descura a sua aparência, e a crise parece não ter chegado ao mundo das unhas, depilações e afins. Débora Marques também confirma esta tese e apesar da proliferação destes negócios refere que “há cada vez mais pessoas a quererem vir para este ramo”. Mas nem tudo são facilidades. Para esta empresária, a sua timidez a início preocupou-a, até porque se trata de um trabalho em que se lida com o público, sendo que este em particular “é muito exigente”.
O mercado de Azambuja é difícil e para além das cerca de uma dúzia de esteticistas instaladas, “ainda há as que trabalham em casa”. “Só o tempo dirá se o ramo da estética de unhas continuará a ser tão apelativo para quem deseja arranjar uma nova profissão”.
O dito negócio das unhas é um dos mais florescentes na vila de Azambuja. Já são perto de uma dúzia, as esteticistas que fazem deste um dos negócios da moda na localidade. Uma dessas novas empresárias do ramo é Débora Marques, 28 anos, que entrou no ramo há um ano e meio. Para trás ficou um emprego no Campera, Carregado. Em conversa com uma prima achou que era boa ideia aventurar-se neste mercado. Tirou um curso para o efeito.
Débora Marques conta que sempre achou piada à estética de unhas, e era uma fiel cliente também deste tipo de espaços. Implantar o negócio em Azambuja, já com um mercado muito competitivo “foi um risco”, mas “como estávamos perto de casa, decidimos que era melhor ser aqui”. Inicialmente instalou o seu espaço no centro da vila, mais recentemente mudou-se para uma zona menos central, “até porque se foi instalar no rés-do-chão do prédio onde estávamos uma outra esteticista”.
Contudo, e como entretanto conseguiu fidelizar uma clientela fiel, “cerca de 60 pessoas”, espera que a nova fase também seja bem-sucedida. Mas este centro de estética possui ainda outros serviços como depilações, massagens e aplicação de pestanas. “O passa-palavra é que acabou por fazer a casa”, não tem dúvidas. A esteticista também conta com clientes fora da vila de Azambuja, nomeadamente, do Carregado, de Alenquer e de Santarém.
Um dos desafios de quem está neste mercado competitivo passa por uma necessidade de atualização constante, até tendo em conta a concorrência e para isso Débora Marques, bem como a prima que é sua sócia, conta em ir fazendo vários cursos, pois as novidades no mercado das unhas são constantes, com clientes cada vez mais exigentes que pedem às esteticistas para arriscar sempre mais um pouco no que toca a desenhos e outras técnicas. “Por vezes não é fácil satisfazer esses pedidos, mas tentamos esforçar-nos o mais possível”.
Para muitas mulheres portuguesas habituadas a trabalhar em outras áreas, a estética é vista atualmente como uma boa aposta no que toca a conseguir ter um negócio próprio e onde as clientes não faltam. A mulher moderna não descura a sua aparência, e a crise parece não ter chegado ao mundo das unhas, depilações e afins. Débora Marques também confirma esta tese e apesar da proliferação destes negócios refere que “há cada vez mais pessoas a quererem vir para este ramo”. Mas nem tudo são facilidades. Para esta empresária, a sua timidez a início preocupou-a, até porque se trata de um trabalho em que se lida com o público, sendo que este em particular “é muito exigente”.
O mercado de Azambuja é difícil e para além das cerca de uma dúzia de esteticistas instaladas, “ainda há as que trabalham em casa”. “Só o tempo dirá se o ramo da estética de unhas continuará a ser tão apelativo para quem deseja arranjar uma nova profissão”.

Loja de discos em Azambuja chegou a receber visita de Adelaide Ferreira
Em tempos foi uma das poucas lojas de música da região. Hoje a loja de António Lopes, a Top 10, no centro de Azambuja, vende sapatos, roupa para desporto, troféus e carteiras, mas o negócio é praticamente nulo. Longe vão os tempos em que havia fila à porta para um autógrafo da cantora Adelaide Ferreira no lançamento do primeiro single. A evolução da forma como hoje se ouve música condicionou em muito esta que já foi uma loja importante no concelho de Azambuja.
O seu proprietário, António Lopes, recorda esses tempos com nostalgia e algum brilho nos olhos. Foi há 36 anos que tudo começou. Desde logo apostou numa espécie de mix de artigos com brinquedos, música e desporto, tendo em vista a possibilidade de atrair mais clientes.
“Muitos miúdos compravam vinis e tenho mesmo muitas saudades daquele tempo. Sentia-se verdadeiramente a essência do comércio tradicional. Hoje os tempos são de uma pasmaceira total”. Entre os discos que mais vendeu lembra-se bem dos de Pink Floyd e Super Tramp. Como este tipo de lojas não era vulgar na região, com frequência recebia “a visita de clientes de fora de Azambuja”, sempre à procura das últimas novidades.
O investimento que fez na altura ainda foi avultado, com a aquisição de gira discos, auscultadores e balcões. “Quis fazer algo de diferente, gastei 3500 contos na remodelação da loja”. Chegou a ter também uma boutique, mas o valor das rendas também tornou incomportável a continuidade.
Hoje reconhece que mantém a porta aberta apenas porque é importante para si e para a esposa terem esta ocupação. “A juventude pega na mesada dos pais, mete-se no comboio e vai comprar roupa ao Colombo e ao Vasco da Gama”, reconhece. “Vou mantendo a clientela fixa até ir para a reforma”, conforma-se.
Quanto ao restante comércio de Azambuja é pessimista – “Tem tendência para acabar, não se fazem eventos que chamem as pessoas, e a própria Associação de Comércio, Indústria e Serviços do Município de Azambuja (ACISMA) também podia dinamizar um pouco mais a sua atividade”. A esposa sentencia – “Neste momento o que está a dar em Azambuja é casas de unhas e cafés”. “A Câmara que ponha a imaginação a funcionar, a falta de dinheiro não pode ser desculpa para tudo”, acrescenta António Lopes.
É também um crítico da forma como está a ser gerido o estacionamento na vila – “Pois é urgente que se avance para o estacionamento pago. Durante todo o dia tenho automóveis estacionados à minha porta, deixados por quem vai trabalhar para Lisboa, e que só saem daqui à noite”. E neste aspeto pede também mais celeridade por parte da ACISMA.
Em tempos foi uma das poucas lojas de música da região. Hoje a loja de António Lopes, a Top 10, no centro de Azambuja, vende sapatos, roupa para desporto, troféus e carteiras, mas o negócio é praticamente nulo. Longe vão os tempos em que havia fila à porta para um autógrafo da cantora Adelaide Ferreira no lançamento do primeiro single. A evolução da forma como hoje se ouve música condicionou em muito esta que já foi uma loja importante no concelho de Azambuja.
O seu proprietário, António Lopes, recorda esses tempos com nostalgia e algum brilho nos olhos. Foi há 36 anos que tudo começou. Desde logo apostou numa espécie de mix de artigos com brinquedos, música e desporto, tendo em vista a possibilidade de atrair mais clientes.
“Muitos miúdos compravam vinis e tenho mesmo muitas saudades daquele tempo. Sentia-se verdadeiramente a essência do comércio tradicional. Hoje os tempos são de uma pasmaceira total”. Entre os discos que mais vendeu lembra-se bem dos de Pink Floyd e Super Tramp. Como este tipo de lojas não era vulgar na região, com frequência recebia “a visita de clientes de fora de Azambuja”, sempre à procura das últimas novidades.
O investimento que fez na altura ainda foi avultado, com a aquisição de gira discos, auscultadores e balcões. “Quis fazer algo de diferente, gastei 3500 contos na remodelação da loja”. Chegou a ter também uma boutique, mas o valor das rendas também tornou incomportável a continuidade.
Hoje reconhece que mantém a porta aberta apenas porque é importante para si e para a esposa terem esta ocupação. “A juventude pega na mesada dos pais, mete-se no comboio e vai comprar roupa ao Colombo e ao Vasco da Gama”, reconhece. “Vou mantendo a clientela fixa até ir para a reforma”, conforma-se.
Quanto ao restante comércio de Azambuja é pessimista – “Tem tendência para acabar, não se fazem eventos que chamem as pessoas, e a própria Associação de Comércio, Indústria e Serviços do Município de Azambuja (ACISMA) também podia dinamizar um pouco mais a sua atividade”. A esposa sentencia – “Neste momento o que está a dar em Azambuja é casas de unhas e cafés”. “A Câmara que ponha a imaginação a funcionar, a falta de dinheiro não pode ser desculpa para tudo”, acrescenta António Lopes.
É também um crítico da forma como está a ser gerido o estacionamento na vila – “Pois é urgente que se avance para o estacionamento pago. Durante todo o dia tenho automóveis estacionados à minha porta, deixados por quem vai trabalhar para Lisboa, e que só saem daqui à noite”. E neste aspeto pede também mais celeridade por parte da ACISMA.
ACISMA planeia mais atividades para os comerciantes
A Associação de Comércio, Indústria e Serviços do Município de Azambuja (ACISMA) tem a visão de que o comércio e a sua revitalização passa também pela melhoria das condições do espaço público, porque “hoje em dia temos uma porta aberta, e duas fechadas, uma casa com bom aspeto, e duas em ruína”, refere o porta-voz, Daniel Claro.
“A recuperação destas casas através da criação de espaços comerciais e residenciais pode funcionar para que entre em desuso aquela ideia de que mas pessoas passam e não compram nada”. Por outro lado, acredita que foi criado um fosso no largo do município com a recuperação do edifício onde agora se encontra a vereação municipal, espaço que poderia ser um forte chamariz pela sua centralidade, se no local tivesse sido criado um espaço comercial. “O largo do município é um autêntico muro, e isso funciona como uma barreira entre a zona norte a sul de Azambuja”. A proximidade a Lisboa e o aparecimento desde o Campera ao Vasco da Gama acabam por também ter a sua influência nalgum estado de decadência comercial de Azambuja.
Com esta ordem de fatores expressa, a ACISMA entende que dificilmente o estado de cosias poderá ser revertido no curto-médio prazo – “Tudo o que se possa fazer entretanto não passa de uma espécie de pensos rápidos”.
A ACISMA não esconde que nos últimos anos deu mais importância à formação, e tem ficado um pouco aquém da intervenção junto dos seus associados. “Mesmo assim tivemos ações de formação com formadores muito exigentes, académicos experientes, e não pessoas com um CAP tirado na esquina, que ensinaram noções de vitrinismo, atendimento comercial, informática, gestão de stocks, inteligência emocional em contexto de organizações.”
Passada esta fase, a associação está a planear um conjunto de ações de aproximação aos comerciantes com a possibilidade de poder contribuir para algum ganho de ânimo, nomeadamente, e em concertação com a junta de freguesia de Azambuja, “instituir de quatro em quatro meses, uma espécie de dia do comércio, com animação de rua”. A ACISMA levará ainda a cabo a distribuição de uma newsletter com informação ao comerciante.
Mas o principal projeto da associação passa entretanto pelo gabinete de apoio ao empresário, que deverá ser inaugurado em novembro, faltando apenas acertar questões ligadas ao mobiliário e ao layout. Este gabinete poderá ajudar tão só o comerciante ou o empresário em tarefas mais ou menos administrativas até fornecer instrumentos no âmbito de uma candidatura aos fundos comunitários. Por outro lado, a associação adianta que em breve poderá também existir fumo branco quanto ao estacionamento pago na vila, pois contrariamente a ouras ocasiões onde o assunto foi aflorado, “neste momento já existe um estudo para o efeito”.
A Associação de Comércio, Indústria e Serviços do Município de Azambuja (ACISMA) tem a visão de que o comércio e a sua revitalização passa também pela melhoria das condições do espaço público, porque “hoje em dia temos uma porta aberta, e duas fechadas, uma casa com bom aspeto, e duas em ruína”, refere o porta-voz, Daniel Claro.
“A recuperação destas casas através da criação de espaços comerciais e residenciais pode funcionar para que entre em desuso aquela ideia de que mas pessoas passam e não compram nada”. Por outro lado, acredita que foi criado um fosso no largo do município com a recuperação do edifício onde agora se encontra a vereação municipal, espaço que poderia ser um forte chamariz pela sua centralidade, se no local tivesse sido criado um espaço comercial. “O largo do município é um autêntico muro, e isso funciona como uma barreira entre a zona norte a sul de Azambuja”. A proximidade a Lisboa e o aparecimento desde o Campera ao Vasco da Gama acabam por também ter a sua influência nalgum estado de decadência comercial de Azambuja.
Com esta ordem de fatores expressa, a ACISMA entende que dificilmente o estado de cosias poderá ser revertido no curto-médio prazo – “Tudo o que se possa fazer entretanto não passa de uma espécie de pensos rápidos”.
A ACISMA não esconde que nos últimos anos deu mais importância à formação, e tem ficado um pouco aquém da intervenção junto dos seus associados. “Mesmo assim tivemos ações de formação com formadores muito exigentes, académicos experientes, e não pessoas com um CAP tirado na esquina, que ensinaram noções de vitrinismo, atendimento comercial, informática, gestão de stocks, inteligência emocional em contexto de organizações.”
Passada esta fase, a associação está a planear um conjunto de ações de aproximação aos comerciantes com a possibilidade de poder contribuir para algum ganho de ânimo, nomeadamente, e em concertação com a junta de freguesia de Azambuja, “instituir de quatro em quatro meses, uma espécie de dia do comércio, com animação de rua”. A ACISMA levará ainda a cabo a distribuição de uma newsletter com informação ao comerciante.
Mas o principal projeto da associação passa entretanto pelo gabinete de apoio ao empresário, que deverá ser inaugurado em novembro, faltando apenas acertar questões ligadas ao mobiliário e ao layout. Este gabinete poderá ajudar tão só o comerciante ou o empresário em tarefas mais ou menos administrativas até fornecer instrumentos no âmbito de uma candidatura aos fundos comunitários. Por outro lado, a associação adianta que em breve poderá também existir fumo branco quanto ao estacionamento pago na vila, pois contrariamente a ouras ocasiões onde o assunto foi aflorado, “neste momento já existe um estudo para o efeito”.
A loja mais icónica da Rua Batalhoz
Fundada em 1904, a Perfumaria/Drogaria Guedes é um dos ex-libris do concelho do Cartaxo. As histórias que já se passaram nesta casa apelam em muito ao imaginário dos antepassados locais. Talvez a história mais conhecida, e relatada já muitas vezes, seja aquela que dá conta que a pasta de dentes Couto foi inventada pelos antepassados de Frederico Guedes, que atualmente gere a casa, mas como a patente nunca foi registada, um dos antigos funcionários levou a fórmula e entregou-a à empresa que ainda hoje a comercializa.
Nesta perfumaria/drogaria ainda podemos encontrar aqueles produtos de décadas passadas bem presentes na nossa memória, e Frederico Guedes dá o exemplo dos desodorizantes em frasco de vidro da Lander, “feitos à base de ingredientes naturais” e que são muito procurados. “Não fazem alergias como os de supermercado”. “Dá-me orgulho estar a vender marcas nacionais ao balcão”, enfatiza.
Também o restaurador e petróleo Olex é muito procurado e a pasta de dentes Couto. A clientela é feita de pessoas de todas as idades, “porque a avó ensina a mãe, que por sua vez ensina a filha, e as tradições vão passando de geração em geração”. Neste caso, refere a procura que o creme facial Benamor tem vindo a suscitar. Mas também para as mobílias a drogaria possui o produto “Milagroso”, registado com este nome e fabricado na casa, que tem resistido ao assédio de empresários que o querem comercializar.
Clientes não faltam e durante a nossa reportagem, Frederico Guedes recebeu clientes que queriam comprar desde um shampoo de marca nacional, até um produto para eliminar o bicho da madeira.
O empresário é muito crítico sobre o estado do comércio no Cartaxo, ao qual o poder político também não tem dado a mão no seu entender. “Estamos numa terra estagnada, as pessoas de cá foram matando a terra. O Cartaxo era uma terra muito boa, com uma feira dos santos com milhares de pessoas, com grande movimentação e dava orgulho. Já para não falar da nossa noite, com a Las Vegas do Ribatejo. Tiraram-nos um jardim lindíssimo para colocarem um bocado de pedra, fecharam uma estrada nacional, algo que não se vê em mais lado nenhum, asfixiaram o comércio por completo”. Frederico Guedes conclui – “Hoje o Cartaxo tem casas de chineses, casas para alugar e para trespasse, e oito grandes superfícies à volta”.
O empresário conta que ainda chegou a fundar uma associação comercial no Cartaxo, mas lembra que foi imediatamente criticado “pelos velhos do Restelo”, porque “já havia uma associação em Santarém que defendia os interesses do Cartaxo”. Sobre a atuação da Nersant, a única associação do género presente no concelho, refere que a mesma “apenas defende os interesses das empresas de alguma dimensão, e não os dos comerciantes”.

Mercearia da Malva Rosa, Alverca, aberta até às 22 horas
Bruno Costa abraçou desde cedo o trabalho na mercearia da mãe, mas hoje em dia mantém uma loja sua deste tipo na urbanização da Malva Rosa em Alverca, onde para além de frutas e legumes frescos, vende de tudo um pouco para o cliente do bairro, sobretudo aquele que precisa de um qualquer produto de “última hora” ou de “emergência”; e assim evita ir ao supermercado. Para conseguir fazer “negócio” o grande trunfo é manter a loja aberta até às 10 horas da noite, a par da sua “natural simpatia”.
“Por vezes estou a arrumar as coisas quando já passa da meia-noite, e aparecem fregueses”.
Normalmente, os sábados e domingos também são dias fortes, pois “há sempre clientes que se lembram de virem comprar alguma coisa que lhes faz falta”. “Trabalho muito com base no espírito do desenrasca”, ilustra.
“Há dias em que saio às duas da manhã, porque entretanto chega o carro com os produtos para o dia seguinte”, dá conta. O denominado “passa palavra” também foi essencial para manter a mercearia até porque esta loja conta ainda com a concorrência de outras existentes na Malva Rosa. “O bairro necessitava que se diversificassem os negócios, depois de abrir a minha loja, já abrirão mais duas”.
Contrariamente ao que seria de esperar, este lojista refere que “são as pessoas mais novas que neste momento estão a dar mais importância ao pequeno comércio, porque as pessoas de mais idade preferem ir comprar onde é mais barato, sendo que os mais jovens preferem a qualidade e dão muita importância à alimentação”. Sabendo que trabalha sobretudo para o cliente que se quer “desenrascar” com determinado produto, faz questão de ter um pouco de tudo e de várias marcas, sobretudo também portuguesas.
“De início foi difícil porque já se sabe que trabalhar com frutas e legumes é um risco, e se não os conseguir vender ao fim de dois ou três dias, posso abrir a tampa do contentor, mas está a valer a pena”.
Bruno Costa abraçou desde cedo o trabalho na mercearia da mãe, mas hoje em dia mantém uma loja sua deste tipo na urbanização da Malva Rosa em Alverca, onde para além de frutas e legumes frescos, vende de tudo um pouco para o cliente do bairro, sobretudo aquele que precisa de um qualquer produto de “última hora” ou de “emergência”; e assim evita ir ao supermercado. Para conseguir fazer “negócio” o grande trunfo é manter a loja aberta até às 10 horas da noite, a par da sua “natural simpatia”.
“Por vezes estou a arrumar as coisas quando já passa da meia-noite, e aparecem fregueses”.
Normalmente, os sábados e domingos também são dias fortes, pois “há sempre clientes que se lembram de virem comprar alguma coisa que lhes faz falta”. “Trabalho muito com base no espírito do desenrasca”, ilustra.
“Há dias em que saio às duas da manhã, porque entretanto chega o carro com os produtos para o dia seguinte”, dá conta. O denominado “passa palavra” também foi essencial para manter a mercearia até porque esta loja conta ainda com a concorrência de outras existentes na Malva Rosa. “O bairro necessitava que se diversificassem os negócios, depois de abrir a minha loja, já abrirão mais duas”.
Contrariamente ao que seria de esperar, este lojista refere que “são as pessoas mais novas que neste momento estão a dar mais importância ao pequeno comércio, porque as pessoas de mais idade preferem ir comprar onde é mais barato, sendo que os mais jovens preferem a qualidade e dão muita importância à alimentação”. Sabendo que trabalha sobretudo para o cliente que se quer “desenrascar” com determinado produto, faz questão de ter um pouco de tudo e de várias marcas, sobretudo também portuguesas.
“De início foi difícil porque já se sabe que trabalhar com frutas e legumes é um risco, e se não os conseguir vender ao fim de dois ou três dias, posso abrir a tampa do contentor, mas está a valer a pena”.

Centro Comercial da Mina: um exemplo de sobrevivência
O Centro Comercial da Mina foi inaugurado há 28 anos, e é um exemplo de resistência na cidade de Vila Franca de Xira. Depois dele já existiu o moderno e muito apelativo Vila Franca Centro, surgido em meados da década de 90, mas que viria a fechar as portas em finais de 2013.
O Centro Comercial da Mina é ponto de encontro da comunidade do bairro. Dois snack-bares, onde chegam muitos clientes para almoçar uma refeição rápida e barata, um cabeleireiro e outros serviços não deixam o centro comercial morrer.
A instalação de algumas valências da Câmara no rés-do-chão, vem dar mais um motivo de alento aos comerciantes do centro comercial mais antigo da cidade. A unidade de atendimento da Segurança Social é também um importante balão de oxigénio para “um centro que já teve dias melhores e dias piores”. “Há muita gente que se admira pelo facto de o centro ainda se manter aberto, muitos pensavam que já estaria encerrado”, afirma o lojista Telmo Costa
Este empresário, que possui com o pai uma loja desde os primórdios do complexo comercial, não tem razões de queixa. Conseguiu fidelizar uma clientela fixa. Na sua loja, um cubículo mais ou menos apertado onde se amontoa material de diversa ordem, vende de tudo um pouco para eletrónica, e ainda arranja eletrodomésticos.
Quando o Vila Franca Centro abriu portas, os lojistas da Mina tiveram alguns receios mas depressa perceberam que havia margem de manobra “até porque o outro também não vendia todo o tipo de artigos”.
Quando o Centro Comercial da Mina foi inaugurado tinha 13 anos, e para Telmo Costa este foi também o local onde cresceu. E lembra-se bem de algumas lojas que existiram no local, na altura em que abriu, mas que o tempo e as contrariedades se encarregaram de colocar a palavra Trespasse na porta – “Havia aqui um bazar mesmo ao lado, e à frente da minha loja tinha uma perfumaria e um dito templo de beleza. Também tivemos uma papelaria, a Cinderela, que hoje apenas tem uma loja em Arruda dos Vinhos. Tínhamos uma loja de videojogos”.
Para este comerciante, o fecho do Vila Franca Centro, onde também chegou a ter loja, ainda hoje não deixa ninguém que tenha porta aberta na cidade indiferente – “Tenho pena porque chegou a ter o cinema, que era uma novidade na altura, com o Imax. Mas o tempo veio a dar a ideia de que estávamos perante uma obra megalómana que rapidamente foi engolida pela proximidade a Lisboa, e o surgimento do Parque das Nações”.
Para além disso “houve má gestão por parte da administração, e como trabalhei lá sei do que falo”.
O empresário vê com preocupação o estado do comércio na cidade de Vila Franca de Xira – “As lojas fecham às sete da tarde, altura em que as pessoas chegam de Lisboa, deveriam fechar às oito, pelo menos no verão, e abrir um pouco mais tarde”. Este lojista diz que fecha às oito da noite e não deixa de ter clientes.
O Centro Comercial da Mina foi inaugurado há 28 anos, e é um exemplo de resistência na cidade de Vila Franca de Xira. Depois dele já existiu o moderno e muito apelativo Vila Franca Centro, surgido em meados da década de 90, mas que viria a fechar as portas em finais de 2013.
O Centro Comercial da Mina é ponto de encontro da comunidade do bairro. Dois snack-bares, onde chegam muitos clientes para almoçar uma refeição rápida e barata, um cabeleireiro e outros serviços não deixam o centro comercial morrer.
A instalação de algumas valências da Câmara no rés-do-chão, vem dar mais um motivo de alento aos comerciantes do centro comercial mais antigo da cidade. A unidade de atendimento da Segurança Social é também um importante balão de oxigénio para “um centro que já teve dias melhores e dias piores”. “Há muita gente que se admira pelo facto de o centro ainda se manter aberto, muitos pensavam que já estaria encerrado”, afirma o lojista Telmo Costa
Este empresário, que possui com o pai uma loja desde os primórdios do complexo comercial, não tem razões de queixa. Conseguiu fidelizar uma clientela fixa. Na sua loja, um cubículo mais ou menos apertado onde se amontoa material de diversa ordem, vende de tudo um pouco para eletrónica, e ainda arranja eletrodomésticos.
Quando o Vila Franca Centro abriu portas, os lojistas da Mina tiveram alguns receios mas depressa perceberam que havia margem de manobra “até porque o outro também não vendia todo o tipo de artigos”.
Quando o Centro Comercial da Mina foi inaugurado tinha 13 anos, e para Telmo Costa este foi também o local onde cresceu. E lembra-se bem de algumas lojas que existiram no local, na altura em que abriu, mas que o tempo e as contrariedades se encarregaram de colocar a palavra Trespasse na porta – “Havia aqui um bazar mesmo ao lado, e à frente da minha loja tinha uma perfumaria e um dito templo de beleza. Também tivemos uma papelaria, a Cinderela, que hoje apenas tem uma loja em Arruda dos Vinhos. Tínhamos uma loja de videojogos”.
Para este comerciante, o fecho do Vila Franca Centro, onde também chegou a ter loja, ainda hoje não deixa ninguém que tenha porta aberta na cidade indiferente – “Tenho pena porque chegou a ter o cinema, que era uma novidade na altura, com o Imax. Mas o tempo veio a dar a ideia de que estávamos perante uma obra megalómana que rapidamente foi engolida pela proximidade a Lisboa, e o surgimento do Parque das Nações”.
Para além disso “houve má gestão por parte da administração, e como trabalhei lá sei do que falo”.
O empresário vê com preocupação o estado do comércio na cidade de Vila Franca de Xira – “As lojas fecham às sete da tarde, altura em que as pessoas chegam de Lisboa, deveriam fechar às oito, pelo menos no verão, e abrir um pouco mais tarde”. Este lojista diz que fecha às oito da noite e não deixa de ter clientes.
Restaurante de petiscos gourmet e não só em Vila Franca
Ricardo Leal e Pedro Teles inauguraram um conceito diferente de restauração em Vila Franca de Xira. Desde maio que mantêm perto da CP um restaurante que procura despertar experiências de sabor. São servidas entradas com tachinhos de acompanhamento, algo que não é comum. Neste espaço o cliente pode experimentar pataniscas com arroz de tomate, ou esparregado, ou legumes salteados, só a título de exemplo. “Cada tachinho custa 2 euros e meio, e o cliente não tem de acompanhar apenas com arroz”, ilustra Pedro Teles.
Desde início que apostaram por marcar pela diferença. Quem entra neste restaurante que dá pelo nome de 150 gramas, “porque tudo é pesado com a porção certa para as pessoas”, encontra elementos de decoração das casas dos nossos avós. O pitoresco cruza-se com o rústico nos vários detalhes. As cadeiras e mesas lembram as das antigas tabernas. O restaurante tem uma lotação apenas para 30 pessoas, mas isso também atende à ideia de que “o mais importante é servir com qualidade”, afiançam os responsáveis que recusam a ideia de massificação do seu produto. “O ideal é servir apenas 30 pessoas de cada vez”, para que “depois possam dar lugar a mais 30”. De modo, a que esta rotatividade seja possível, rapidez é palavra de ordem e em regra o cliente não espera mais do que 10 minutos. A cozinha tem quatro pessoas. E até à data, a clientela oriunda não só da cidade mas de vários concelhos à volta “tem apreciado o conceito, e temos recebido críticas positivas”.
Os responsáveis são claros em referir que o restaurante se desvia da norma segundo a qual há que comer bem e muito quando se quer almoçar ou jantar fora. A ementa deste restaurante não pugna por um prato em especial, algo que a dupla também rejeita, pois o interesse é o de ter vários pratos estrela, também com uma ementa rotativa ao longo do ano.
A casa aposta em servir normalmente pratos conhecidos mas com algumas nuances mais modernas, como “as moelas com manjericão”, ou o torricado, mas o deste restaurante leva um coulis de pimentão, aromatizado com azeite, coentros, alho e lima; e o bacalhau assa em baixa temperatura no forno, o que permite criar um líquido branco que depois de trabalhado pelo chef Pedro Teles satisfaz também os paladares ribatejanos. Quando for a época do sável ou da enguia, o chef promete fazer colocar estes produtos de época na carta, mas confecionados com as variantes que já vão mostrando um pouco do que é este restaurante. Produtos nacionais e da época “fazendo jus a Portugal, ao Ribatejo e a Vila Franca é também o lema do restaurante”.
Associações de comerciantes de Alenquer e Vila Franca na expetativa de melhores dias
A Associação Comercial e Industrial do concelho de Alenquer (ACICA) diz estar atenta às exigências dos seus associados. Hélder Miguel, presidente desta associação, refere que é dado apoio a nível logístico e jurídico a quem o solicitar. A ACICA tem diversos parceiros, entre eles o Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e à Inovação (IAPMEI).
O responsável acredita que ainda é possível dar a volta ao comércio de Alenquer, que muitos consideram estagnado e à espera de uma urgente revitalização. O fecho da rua Triana é defendido por uns e recusado por outros, mas Hélder Miguel defende antes um “bom marketing” que possa de certa forma contrariar o marasmo reinante. Hélder Miguel conta que o programa de incentivo à modernização do comércio não contou com aderentes no município, “porque tinha de haver um investimento mínimo, a rondar os cinco mil euros, e as pessoas não quiseram arriscar”.
Quando se pergunta ao presidente da ACICA que soluções é que podiam ser dadas aos comerciantes mais velhos, que hoje em dia mantém a porta aberta mas pouco ou nada vendem, refere que essa é a grande pergunta que hoje também se coloca, mas não consegue adiantar respostas. “As pessoas conformaram-se com a crise”, acaba por dizer. Por outro lado, “pouco ou nada se arrisca no marketing, temos o exemplo da Feira das Ascensão onde temos mais empresários de fora”. Também no caso do Carregado, o cenário não “é muito mais animador”, embora “haja mais gente a circular nas ruas, mas não se consegue ir mais além”.
O dirigente vai mais longe quando se fala nos eventos turísticos do concelho como o “Alenquer, Presépio de Portugal” ou “Alenquer Terra da Vinha e do Vinho” – “Ninguém compra mais no comércio local porque a vila está mais ou menos bonita, ou porque tem mais ou menos luzes”. Definitivamente “a revitalização do comércio não passa por este tipo de eventos”.
Em Vila Franca de Xira, a Associação Empresarial dos concelhos de Vila Franca de Xira e de Arruda dos Vinhos (ACIS), segundo o seu presidente João Paulo Range, teve lugar um programa de adesão as candidaturas ao investimento comercial que foi aprovado, e que se encontra em fase de execução. A associação está ainda a preparar um portal tendo em vista a criação da marca Vila Franca a nível nacional, de modo a permitir a atração de clientes e o consumo.
Muito se tem falado na abertura das lojas depois das 19h, mas o dirigente refere que a decisão é de cada um, e prefere não emitir opinião neste âmbito. Quanto ao facto de o comércio de Vila Franca já não ser o que um dia foi, afirma: “Não estamos mortos, temos de combater essa ideia, e apostar ao máximo na revitalização”.
Sílvia Agostinho
26-10-2015 às 17:54
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