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Os prós e contras do projecto Lusolândia
Desde que o sonho foi projectado nos anos 80, a ideia de construir um parque temático dedicado aos Descobrimentos Portugueses já foi revisitada em mais do que uma ocasião e tem apaixonado vários empresários e habitantes da região
12-03-2020 às 11:40
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Pouco conhecido dos portugueses em geral, o projecto da Lusolândia já foi tema de inúmeras conversas na Azambuja. Desde que o sonho foi projectado nos anos 80, a ideia de construir um parque temático dedicado aos Descobrimentos Portugueses já foi revisitada em mais do que uma ocasião e tem apaixonado vários empresários e habitantes da região. O projecto chegou a envolver o reputado arquitecto brasileiro Oscar Niemeyer e a envolver um orçamento megalómano de 250 milhões de euros. Seria o maior parque temático de Portugal, assim como o primeiro estabelecimento de entretenimento português dedicado à época dos Descobrimentos. Mas o projecto nunca chegou a ver a luz do dia.
Em 2009, uma notícia do Público parecia indicar que o grande sonho do empresário António Domingos poderia ser finalmente cumprido. A Lusolândia, no entanto, não conseguiu ser classificada como um projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN), e o sonho foi mais uma vez adiado. Desde então, outro empreendedor da região projectou um parque temático, chamado de Discovery Park. Inspirado pelo sonho da Lusolândia, o empresário Paulo Carmona divulgou planos relativos à construção de um parque de diversões na fronteira entre a Azambuja e Alenquer; mais ambicioso do que a Lusolândia, o Discovery Park previa um orçamento extraordinário de 500 milhões de euros. Mais de 5 décadas depois da ideia de construir um parque temático na Azambuja ter sido pela primeira vez tornada pública, decidimos analisar o projecto de forma imparcial e responder à questão que alguns dos mais poderosos empresários da região teimam em ignorar: afinal, vale a pena construir um parque temático como a Lusolândia em Portugal? Lusolândia, a obra que falta? Um dos principais argumentos a favor da construção da Lusolândia relacionava-se com a sua natureza história. Por ser dedicado aos Descobrimentos Portugueses, o projecto Lusolândia funcionaria como uma plataforma de divulgação da história e tradição do país. É de facto estranho que continue a faltar em Portugal uma obra que homenageie de forma ilustrativa a época de maior sucesso da nossa História. Mesmo os parcos monumentos relacionados com os Descobrimentos que podem ser visitados hoje em dia parecem não estar à altura dos requisitos, sendo que alguns são mesmo negligenciados pelo Estado. Mas seria o projecto Lusolândia uma resposta eficaz para este problema? Se por um lado é óbvio que todas as grandes construções são capaz de atrair interesse estrangeiro, por outro lado não é suficientemente claro que um parque temático possa funcionar como um monumento de divulgação cultural eficaz. Na sua projecção, a Lusolândia explorava a temática dos Descobrimentos Portugueses, mas sempre no contexto de um parque de diversões. Se a ideia passa por enriquecer o património cultural do nosso país, um parque temático gerido por privados não parece ser a solução ideal. Quando o entretenimento e o lucro se tornam na prioridade, a significância e divulgação cultural têm tendência para passar para segundo plano. Lusolândia, a Disneyland portuguesa Na base da criação da Lusolândia está o grande parque temático da Disneyland Paris. O projecto Lusolândia pretendia oferecer uma alternativa a todos os portugueses que não tivessem oportunidade de se deslocar à capital francesa para o visitar. Afinal, Portugal nunca teve um parque de diversões digno de atrair o interesse de turistas estrangeiros. António Domingos, ele próprio um fã da Disneyland, pretendia colmatar essa falha. A ideia faz sentido; basta olhar para o país vizinho da Espanha para perceber que Portugal fica muito aquém no que à oferta de parques temáticos diz respeito. O projecto inicial da Lusolândia incluiria mesmo um casino, que seria o primeiro localizado na região da Azambuja e de Alenquer. Mas será que um grande parque temático teria "pernas para andar" no nosso país? A cultura portuguesa parece não privilegiar este tipo de entretenimento. Por outro lado, os turistas que normalmente visitam o país são atraídos por outro tipo de motivos, normalmente relacionados com a cultura tradicional e urbana, as praias, ou o clima. A Bracalândia, que foi uma espécie de "mini-Lusolândia" que operou em Braga até meados dos anos 2000, não conseguiu garantir fundos para continuar em funcionamento e acabou por fechar. Se o falhanço é uma realidade para um parque temático exclusivo e muito mais pequeno localizado no Norte do país, será que a Lusolândia estaria à altura do seu orçamento milionário? Valorização regional Os principais afectados pela construção da Lusolândia seriam mesmo os habitantes da Azambuja e de Alenquer. O parque seria certamente capaz de atrair muitos turistas vindos da vizinha Lisboa e ajudaria à criação de cerca de 2.000 novos postos de trabalho na região. No entanto, o projecto não teria o mesmo impacto a nível nacional. Além disso, por estar efectivamente à espera de atrair turistas de visita a Lisboa, contribuiria para o centralismo. A ideia de dinamização regional pode fazer sentido, mas não parecem existir motivos lógicos para que a Azambuja possa ser considerado o local ideal para se construir um parque temático em Portugal. |
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