Os Sonhos dos Nossos Jovens
Os sonhos; as ambições dos jovens da nossa região; como olham para o futuro e sobretudo como procuram lidar com o fantasma do desemprego jovem e dos estágios não remunerados, foi o que procuramos saber junto de pessoas de várias idades, com e sem cursos superiores. A todos elas é comum a ideia de que baixar os braços está mesmo fora de questão.
Os sonhos; as ambições dos jovens da nossa região; como olham para o futuro e sobretudo como procuram lidar com o fantasma do desemprego jovem e dos estágios não remunerados, foi o que procuramos saber junto de pessoas de várias idades, com e sem cursos superiores. A todos elas é comum a ideia de que baixar os braços está mesmo fora de questão.

Jéssica Pereira é uma jovem de Azambuja, com 17 anos, e o seu sonho é trabalhar no mundo das touradas, mas não como cavaleira ou toureira. A sua ambição são os bastidores, e para isso quer tirar uma pós graduação em zootecnia, mas primeiro está um curso de engenharia agronómica no Instituto Superior de Agronomia. A média é satisfatória. A vocação descobriu-a no 11º ano, apesar de “gostar imenso de Biologia”.
A jovem, desde há alguns anos, que tem passado os verões a trabalhar na Sugal, empresa sedeada no concelho de Azambuja que todos os anos é uma espécie de viveiro de jovens adolescentes desejosos de ganhar alguma independência financeira. Uma vez a frequentar o curso, a jovem quer continuar a trabalhar, de preferência num part-time em Lisboa. Embora, já tenha decidido que não vai ficar a viver em Lisboa.
Na Sugal, o seu trabalho consiste em analisar as amostras de tomate que chegam constantemente ao laboratório a todas as horas do dia. “Andamos sempre a correr, porque temos de fazer as análises, lavar os utensílios, e ter o laboratório minimamente limpo, mas acaba por ser giro”, confessa. O facto de estar a trabalhar desde já no mundo da agricultura também serve de antecâmara do que poderá ser o seu futuro uma vez licenciada.
“Lembro-me que numa das ocasiões, fui mostrar um tomate com um aspeto estranho a um engenheiro, que me esclareceu que se tratava apenas de um caso de sementes a germinar, achei engraçado, e fiquei a pensar que um dia mais tarde, no lugar dele, já saberei esta informação”.
“Não me importava de seguir carreira na Sugal, é perto e tem tudo a ver com minha área, mas gostava muito de trabalhar no mundo da tauromaquia, nas ganadarias, por que por vezes necessitam de engenheiros agrónomos”, refere e enfatiza, rindo “Sou uma aficionada”. De resto, “o ambiente na Sugal é muito bom, todos são muito simpáticos e acessíveis, quero continuar a trabalhar todos os meses de agosto nesta empresa”.
Muito dinâmica e espontânea na conversação, Jéssica Pereira sempre encarou com um sorriso nos lábios a possibilidade de experimentar o mundo do trabalho, pois considera que “é muito importante ter esta experiência”. “Queria muito ver como funcionava, se haveria muita pressão ou não, e claro conseguir ganhar algum dinheiro, uma parte vai para as minhas poupanças, a outra é para gastar nas minhas coisas”. “É sempre bom termos o nosso dinheirinho e a nossa independência”, resume desta forma.
Uma das experiências mais enriquecedoras que registou, para já, no seu percurso escolar relaciona-se com o facto de na disciplina de Química ter podido apresentar um projeto em conjunto com os seus colegas, em concursos fora de portas. Como frutos desse envolvimento num projeto criado de raiz, ganhou noções de autonomia nos trabalhos práticos. “Conseguíamos desenvolver os projetos com muita independência, sem ser preciso um grande acompanhamento por parte da professora”. O estudo desenvolvido versava sobre o tratamento dos efluentes da indústria tintureira, e com isso granjearam a admiração da comunidade de Azambuja e não só.
Jéssica Pereira afirma-se consciente das dificuldades do mercado de trabalho, em que os sonhos dos jovens ficam muitas vezes pelo caminho, já que depois de tirarem o curso ambicionado, acabam por ter de trabalhar em áreas díspares. Neste aspeto, e ainda seja muito jovem, refere que está preparada para a eventualidade de uma vez licenciada, não conseguir de imediato trabalho na sua área pelo menos remunerado devidamente. “Temos de estar preparados para isso”. Para já refere que a escolha por agronomia também pesou, dado que nesta altura há mais saídas para quem deseja fazer carreira na agricultura. “Um curso de biologia não me daria saídas, à partida”. A escolha do curso superior é tema recorrente de conversa com os seus colegas, tendo em conta “as hipóteses de sucesso no mundo do trabalho”, embora se assuma “preocupada” por um dia poder vir a fazer parte das estatísticas dos que “andam de estágio em estágio sem um trabalho seguro”. “Não gostava de ficar com uma tela preta à minha frente e não saber o que fazer, mas se não for logo para a minha área, não me importo de fazer qualquer outra coisa na vida”.
Jéssica Pereira refere que os jovens da sua idade já sabem de antemão que um curso não é por si só sinónimo de garantias, “mas quem se fica apenas pelo 12º ano tem menos hipóteses, claro que o curso também não nos dá acesso ao emprego de sonho, temos de ir fazendo umas coisitas aqui e ali. Não é tão fácil como antigamente, sobretudo porque há imensos engenheiros, se estivermos a falar do curso que pretendo fazer”.
Ana Simões, 21 anos, passou os últimos dois anos a trabalhar num cal- center para um operador de telecomunicações. Depois de terminar o 12º ano em 2012, ainda passou por um estágio na Câmara de Azambuja do qual guarda as melhores recordações a nível dos colegas de trabalho no gabinete de comunicação.
Há cerca de três meses saiu do call-center porque já não aguentava mais tendo em conta a forte pressão psicológica e o desgaste mental. Na sua mente, não deixou de estar a ideia de um dia tirar um curso superior, nomeadamente, na área das relações públicas e publicidade. “Ultimamente também me interessei pela fisioterapia”, acrescenta.
Ainda antes de ter ingressado neste mundo, passou alguns meses na Sugal, nas linhas de seleção, mas as recordações não são totalmente felizes – “Porque há uma grande monotonia, passa-se muito tempo em pé, o ruído é demasiado intenso. Para além disso, o forte cheiro deixava-me muito enjoada”, dá conta. Embora o ordenado fosse regra geral apetecível para um jovem da sua idade. Ana Simões sentiu o peso de trabalhar numa das empresas que é líder no seu setor, mas não tem dúvidas de que a Sugal “apenas tem mais cuidado com determinados aspetos quando lá vão os japoneses, um dos principais clientes. Só nessas alturas é que colocam quatro pessoas em cada linham entre outros aspetos. No resto do tempo é tudo muito à portuguesa ou à la gárder”.
Voltando ao mundo dos call-centers, Ana Simões conta que há perto de três anos decidiu aventurar-se pelo mesmo. Tinha tirado a carta, e havia contas para pagar, por isso foi com surpresa e entusiasmo que após ter enviado um currículo de manhã, ao início da tarde a contactaram. “Senti-me livre das raízes de Azambuja, adorava trabalhar na zona em causa, Avenida da Liberdade, mas como era só quatro horas, não me compensava”.
O mundo dos call-centers que nem sempre é visto com bons olhos pelos clientes possui as suas próprias especificidades, e Ana Simões ainda se lembra de ter visto “colegas a vender gato por lebre”. “No meu caso, como sou muito transparente evitei fazê-lo. Tentava ser o mais assertiva possível”. Embora também opine que nem sempre os clientes tinham razão – “Há pessoas muito estúpidas, e isso deixava-me triste. Não entendiam que estávamos ali apenas para fazer o nosso trabalho”. Mas a pressão também se fazia sentir a nível das chefias, “porque se não atingíssemos determinados valores íamos para a rua”. “A experiência do call-center sobretudo ensinou-me muito quanto à minha vida pessoal, nomeadamente, a ter mais paciência e a nem sempre responder”.
Com uma imagem mais positiva do mundo dos call-centers e até beneficiando de alguma progressão nesta carreira, temos o caso de João Paulo de Vale da Pinta, Cartaxo. Há seis anos que trabalha na NOS, e no último ano tornou-se supervisor. Para trás ficou um curso superior no ISEL que não chegou a terminar.
Para se manter há tanto tempo neste setor onde a maioria não consegue ficar mais do que alguns meses ou até semanas, explica que o seu trabalho de início não foi tão psicologicamente stressante como acontece hoje em dia, embora não desminta a pressão a que muitos dos seus colegas são submetidos. O caminho deste setor também poderá passar na sua opinião por um aproveitamento das capacidades intelectuais ao máximo dos muitos licenciados que trabalham nestes locais dando outra dignidade e outro valor àquela profissão, “sendo este um caminho que em parte já está a ser feito”.
Ana Simões viu de tudo um pouco neste mundo laboral – “Muitos licenciados e muitas pessoas que já deveriam estar na reforma, mas ainda estavam por ali”. “O meu crescimento pessoal também passou muito por ter bebido essas experiências”.
Embora não tivesse razões de queixa do call – center onde trabalhava, não conseguiu aguentar mais. “Estava psicologicamente muito cansada, quase com uma depressão”.
Hoje, e depois de ter começado a procurar um novo emprego, confessa que não tem tido muitas respostas para além dos típicos call-centers. “Enviei muitos currículos para secretariado e rececionistas, também me inscrevi no centro de emprego”. Foi há dias a uma entrevista novamente para call-center, e “se calhar lá vai ter que ser”. “Vamos ver se fico ou não”. “Será uma nova experiência pois relaciona-se com o mundo da banca”.
O futuro contudo “só poderá passar por algo mais estável, e não por um call-center onde corro o risco de ir para a rua porque não vendi um cartão ou um pacote de televisão”. Não esconde que ver tantos licenciados a trabalhar na sua área atual a “faz pensar duas vezes, mas há os que não conseguem de todo mudar de vida, e outros que preferem nem sequer procurar alternativas melhores. São opções dos licenciados, mas não os critico”.
A jovem, desde há alguns anos, que tem passado os verões a trabalhar na Sugal, empresa sedeada no concelho de Azambuja que todos os anos é uma espécie de viveiro de jovens adolescentes desejosos de ganhar alguma independência financeira. Uma vez a frequentar o curso, a jovem quer continuar a trabalhar, de preferência num part-time em Lisboa. Embora, já tenha decidido que não vai ficar a viver em Lisboa.
Na Sugal, o seu trabalho consiste em analisar as amostras de tomate que chegam constantemente ao laboratório a todas as horas do dia. “Andamos sempre a correr, porque temos de fazer as análises, lavar os utensílios, e ter o laboratório minimamente limpo, mas acaba por ser giro”, confessa. O facto de estar a trabalhar desde já no mundo da agricultura também serve de antecâmara do que poderá ser o seu futuro uma vez licenciada.
“Lembro-me que numa das ocasiões, fui mostrar um tomate com um aspeto estranho a um engenheiro, que me esclareceu que se tratava apenas de um caso de sementes a germinar, achei engraçado, e fiquei a pensar que um dia mais tarde, no lugar dele, já saberei esta informação”.
“Não me importava de seguir carreira na Sugal, é perto e tem tudo a ver com minha área, mas gostava muito de trabalhar no mundo da tauromaquia, nas ganadarias, por que por vezes necessitam de engenheiros agrónomos”, refere e enfatiza, rindo “Sou uma aficionada”. De resto, “o ambiente na Sugal é muito bom, todos são muito simpáticos e acessíveis, quero continuar a trabalhar todos os meses de agosto nesta empresa”.
Muito dinâmica e espontânea na conversação, Jéssica Pereira sempre encarou com um sorriso nos lábios a possibilidade de experimentar o mundo do trabalho, pois considera que “é muito importante ter esta experiência”. “Queria muito ver como funcionava, se haveria muita pressão ou não, e claro conseguir ganhar algum dinheiro, uma parte vai para as minhas poupanças, a outra é para gastar nas minhas coisas”. “É sempre bom termos o nosso dinheirinho e a nossa independência”, resume desta forma.
Uma das experiências mais enriquecedoras que registou, para já, no seu percurso escolar relaciona-se com o facto de na disciplina de Química ter podido apresentar um projeto em conjunto com os seus colegas, em concursos fora de portas. Como frutos desse envolvimento num projeto criado de raiz, ganhou noções de autonomia nos trabalhos práticos. “Conseguíamos desenvolver os projetos com muita independência, sem ser preciso um grande acompanhamento por parte da professora”. O estudo desenvolvido versava sobre o tratamento dos efluentes da indústria tintureira, e com isso granjearam a admiração da comunidade de Azambuja e não só.
Jéssica Pereira afirma-se consciente das dificuldades do mercado de trabalho, em que os sonhos dos jovens ficam muitas vezes pelo caminho, já que depois de tirarem o curso ambicionado, acabam por ter de trabalhar em áreas díspares. Neste aspeto, e ainda seja muito jovem, refere que está preparada para a eventualidade de uma vez licenciada, não conseguir de imediato trabalho na sua área pelo menos remunerado devidamente. “Temos de estar preparados para isso”. Para já refere que a escolha por agronomia também pesou, dado que nesta altura há mais saídas para quem deseja fazer carreira na agricultura. “Um curso de biologia não me daria saídas, à partida”. A escolha do curso superior é tema recorrente de conversa com os seus colegas, tendo em conta “as hipóteses de sucesso no mundo do trabalho”, embora se assuma “preocupada” por um dia poder vir a fazer parte das estatísticas dos que “andam de estágio em estágio sem um trabalho seguro”. “Não gostava de ficar com uma tela preta à minha frente e não saber o que fazer, mas se não for logo para a minha área, não me importo de fazer qualquer outra coisa na vida”.
Jéssica Pereira refere que os jovens da sua idade já sabem de antemão que um curso não é por si só sinónimo de garantias, “mas quem se fica apenas pelo 12º ano tem menos hipóteses, claro que o curso também não nos dá acesso ao emprego de sonho, temos de ir fazendo umas coisitas aqui e ali. Não é tão fácil como antigamente, sobretudo porque há imensos engenheiros, se estivermos a falar do curso que pretendo fazer”.
Ana Simões, 21 anos, passou os últimos dois anos a trabalhar num cal- center para um operador de telecomunicações. Depois de terminar o 12º ano em 2012, ainda passou por um estágio na Câmara de Azambuja do qual guarda as melhores recordações a nível dos colegas de trabalho no gabinete de comunicação.
Há cerca de três meses saiu do call-center porque já não aguentava mais tendo em conta a forte pressão psicológica e o desgaste mental. Na sua mente, não deixou de estar a ideia de um dia tirar um curso superior, nomeadamente, na área das relações públicas e publicidade. “Ultimamente também me interessei pela fisioterapia”, acrescenta.
Ainda antes de ter ingressado neste mundo, passou alguns meses na Sugal, nas linhas de seleção, mas as recordações não são totalmente felizes – “Porque há uma grande monotonia, passa-se muito tempo em pé, o ruído é demasiado intenso. Para além disso, o forte cheiro deixava-me muito enjoada”, dá conta. Embora o ordenado fosse regra geral apetecível para um jovem da sua idade. Ana Simões sentiu o peso de trabalhar numa das empresas que é líder no seu setor, mas não tem dúvidas de que a Sugal “apenas tem mais cuidado com determinados aspetos quando lá vão os japoneses, um dos principais clientes. Só nessas alturas é que colocam quatro pessoas em cada linham entre outros aspetos. No resto do tempo é tudo muito à portuguesa ou à la gárder”.
Voltando ao mundo dos call-centers, Ana Simões conta que há perto de três anos decidiu aventurar-se pelo mesmo. Tinha tirado a carta, e havia contas para pagar, por isso foi com surpresa e entusiasmo que após ter enviado um currículo de manhã, ao início da tarde a contactaram. “Senti-me livre das raízes de Azambuja, adorava trabalhar na zona em causa, Avenida da Liberdade, mas como era só quatro horas, não me compensava”.
O mundo dos call-centers que nem sempre é visto com bons olhos pelos clientes possui as suas próprias especificidades, e Ana Simões ainda se lembra de ter visto “colegas a vender gato por lebre”. “No meu caso, como sou muito transparente evitei fazê-lo. Tentava ser o mais assertiva possível”. Embora também opine que nem sempre os clientes tinham razão – “Há pessoas muito estúpidas, e isso deixava-me triste. Não entendiam que estávamos ali apenas para fazer o nosso trabalho”. Mas a pressão também se fazia sentir a nível das chefias, “porque se não atingíssemos determinados valores íamos para a rua”. “A experiência do call-center sobretudo ensinou-me muito quanto à minha vida pessoal, nomeadamente, a ter mais paciência e a nem sempre responder”.
Com uma imagem mais positiva do mundo dos call-centers e até beneficiando de alguma progressão nesta carreira, temos o caso de João Paulo de Vale da Pinta, Cartaxo. Há seis anos que trabalha na NOS, e no último ano tornou-se supervisor. Para trás ficou um curso superior no ISEL que não chegou a terminar.
Para se manter há tanto tempo neste setor onde a maioria não consegue ficar mais do que alguns meses ou até semanas, explica que o seu trabalho de início não foi tão psicologicamente stressante como acontece hoje em dia, embora não desminta a pressão a que muitos dos seus colegas são submetidos. O caminho deste setor também poderá passar na sua opinião por um aproveitamento das capacidades intelectuais ao máximo dos muitos licenciados que trabalham nestes locais dando outra dignidade e outro valor àquela profissão, “sendo este um caminho que em parte já está a ser feito”.
Ana Simões viu de tudo um pouco neste mundo laboral – “Muitos licenciados e muitas pessoas que já deveriam estar na reforma, mas ainda estavam por ali”. “O meu crescimento pessoal também passou muito por ter bebido essas experiências”.
Embora não tivesse razões de queixa do call – center onde trabalhava, não conseguiu aguentar mais. “Estava psicologicamente muito cansada, quase com uma depressão”.
Hoje, e depois de ter começado a procurar um novo emprego, confessa que não tem tido muitas respostas para além dos típicos call-centers. “Enviei muitos currículos para secretariado e rececionistas, também me inscrevi no centro de emprego”. Foi há dias a uma entrevista novamente para call-center, e “se calhar lá vai ter que ser”. “Vamos ver se fico ou não”. “Será uma nova experiência pois relaciona-se com o mundo da banca”.
O futuro contudo “só poderá passar por algo mais estável, e não por um call-center onde corro o risco de ir para a rua porque não vendi um cartão ou um pacote de televisão”. Não esconde que ver tantos licenciados a trabalhar na sua área atual a “faz pensar duas vezes, mas há os que não conseguem de todo mudar de vida, e outros que preferem nem sequer procurar alternativas melhores. São opções dos licenciados, mas não os critico”.

Ana Morgado:
O desespero dos estágios não remunerados
Ana Catarina Morgado, 29 anos, do Cartaxo, conseguiu ao fim de vários anos realizar o seu sonho de trabalhar numa das áreas mais procuradas pelos jovens mas que depois é madrasta, não garantido empregabilidade a quem opta pela mesma – as Relações Internacionais, no seu caso aliada à Ciência Política, que tirou na Universidade Nova de Lisboa. Até chegar aqui o caminho não foi fácil, e também no seu caso, esta jovem do Cartaxo se sujeitou a estágios não remunerados até ao dia em que se fartou.
Licenciou-se no ano 2010, e teve uma experiência deveras marcante na Irlanda, onde depois da guerra civil motivada entre católicos e protestantes, se viu envolvida na organização não governamental “The Junction” que tinha como missão motivar um clima de paz entre as duas fações. O IRA deixou marcas profundíssimas e “o choque foi imenso”, sobretudo porque “estamos a falar de um país relativamente próximo do nosso, numa Europa aparentemente saudável”.
“Ainda havia muitas feridas abertas, a cidade Belfast fechava os quarteirões à noite. Estive na cidade onde teve lugar o Bloody Sunday, e este tipo de programas para jovens é fundamental para as gerações mais novas. Há um grande trabalho social nas escolas. A força do terceiro setor na Irlanda do Norte tem um papel preponderante na paz e na união das pessoas”, relata. A possibilidade de ver a história do conflito armado nas vivências das pessoas foi das experiências mais “enriquecedoras” que teve. “Tudo isso afeta de uma forma muito intensa o nosso desenvolvimento pessoal”.
De regresso a Portugal, o seu trabalho na área continuou, na altura, no Centro Norte Sul do Conselho da Europa, com mais um estágio não remunerado durante seis meses. Ana Catarina Morgado é muita crítica neste aspeto – “É de questionar como uma entidade que está inserida no Conselho da Europa, que é a instituição por excelência que defende os direitos humanos, não paga os estágios”. Foram tempos difíceis economicamente porque tinha de continuar a pagar habitação e alimentação e só o conseguiu com a ajuda dos pais e dos amigos.
Este é um caminho espinhoso que muitos jovens vão conhecendo: o trabalho não remunerado e o saltitar de estágio em estágio. Contudo “há uma altura na vida em que há que dizer basta”, e o dinheiro terá invariavelmente de falar mais alto. Por isso, foi trabalhar no departamento de recursos humanos de uma empresa em Alfragide, que se revelou “vital para finalmente conseguir ganhar algum dinheiro”.
Depois de três estágios não remunerados, Ana Catarina Morgado não tem dúvidas, “as empresas, determinados organismos e organizações andam à boleia de uma estrutura e de medidas para o emprego que não são promotoras de emprego na verdadeira aceção da palavra”. E troca esta observação por miúdos – “É muito mais fácil ter um estagiário pago pelo Estado em 70 por cento, e que lhe retira todas as responsabilidades enquanto empregador a nível da Segurança Social”.
Hoje, e se assim se pode dizer, realizou o seu sonho de trabalhar na área, voltou ao mundo das ONG’s, mas desta vez de forma remunerada, desde 2012, e a lidar de perto com as questões da Juventude, “capacitando os jovens para a necessidade da participação na vida cívica e da comunidade, e nos processos de decisão de questões da vida política”. Pertence à bolsa de formadores do Conselho Nacional da Juventude na capacitação dos jovens para as causas da cidadania e do ativismo públicos. Para conseguir vingar numa área em que muitos outros ficam pelo caminho ou nem sequer chegam a exercê-la, Ana Catarina Morgado refere que é muito exigente consigo mesmo, trabalha muitas horas e tenta atualizar-se o máximo possível. E por outro lado, tenta privilegiar os contactos em rede – “Estar presente, convidar, conhecer, promover coisas que envolvam outras pessoas são passos fundamentais”.
Trabalhando de perto com os jovens portugueses, tem uma opinião muito favorável sobre a forma como esta fatia da população vive as suas vidas – “Os nossos jovens acreditam que podem ter um futuro melhor e lutam por ele, possuem imensas competências sempre com muito fulgor, não deixando de reclamar o seu espaço e as suas oportunidades.”
O desespero dos estágios não remunerados
Ana Catarina Morgado, 29 anos, do Cartaxo, conseguiu ao fim de vários anos realizar o seu sonho de trabalhar numa das áreas mais procuradas pelos jovens mas que depois é madrasta, não garantido empregabilidade a quem opta pela mesma – as Relações Internacionais, no seu caso aliada à Ciência Política, que tirou na Universidade Nova de Lisboa. Até chegar aqui o caminho não foi fácil, e também no seu caso, esta jovem do Cartaxo se sujeitou a estágios não remunerados até ao dia em que se fartou.
Licenciou-se no ano 2010, e teve uma experiência deveras marcante na Irlanda, onde depois da guerra civil motivada entre católicos e protestantes, se viu envolvida na organização não governamental “The Junction” que tinha como missão motivar um clima de paz entre as duas fações. O IRA deixou marcas profundíssimas e “o choque foi imenso”, sobretudo porque “estamos a falar de um país relativamente próximo do nosso, numa Europa aparentemente saudável”.
“Ainda havia muitas feridas abertas, a cidade Belfast fechava os quarteirões à noite. Estive na cidade onde teve lugar o Bloody Sunday, e este tipo de programas para jovens é fundamental para as gerações mais novas. Há um grande trabalho social nas escolas. A força do terceiro setor na Irlanda do Norte tem um papel preponderante na paz e na união das pessoas”, relata. A possibilidade de ver a história do conflito armado nas vivências das pessoas foi das experiências mais “enriquecedoras” que teve. “Tudo isso afeta de uma forma muito intensa o nosso desenvolvimento pessoal”.
De regresso a Portugal, o seu trabalho na área continuou, na altura, no Centro Norte Sul do Conselho da Europa, com mais um estágio não remunerado durante seis meses. Ana Catarina Morgado é muita crítica neste aspeto – “É de questionar como uma entidade que está inserida no Conselho da Europa, que é a instituição por excelência que defende os direitos humanos, não paga os estágios”. Foram tempos difíceis economicamente porque tinha de continuar a pagar habitação e alimentação e só o conseguiu com a ajuda dos pais e dos amigos.
Este é um caminho espinhoso que muitos jovens vão conhecendo: o trabalho não remunerado e o saltitar de estágio em estágio. Contudo “há uma altura na vida em que há que dizer basta”, e o dinheiro terá invariavelmente de falar mais alto. Por isso, foi trabalhar no departamento de recursos humanos de uma empresa em Alfragide, que se revelou “vital para finalmente conseguir ganhar algum dinheiro”.
Depois de três estágios não remunerados, Ana Catarina Morgado não tem dúvidas, “as empresas, determinados organismos e organizações andam à boleia de uma estrutura e de medidas para o emprego que não são promotoras de emprego na verdadeira aceção da palavra”. E troca esta observação por miúdos – “É muito mais fácil ter um estagiário pago pelo Estado em 70 por cento, e que lhe retira todas as responsabilidades enquanto empregador a nível da Segurança Social”.
Hoje, e se assim se pode dizer, realizou o seu sonho de trabalhar na área, voltou ao mundo das ONG’s, mas desta vez de forma remunerada, desde 2012, e a lidar de perto com as questões da Juventude, “capacitando os jovens para a necessidade da participação na vida cívica e da comunidade, e nos processos de decisão de questões da vida política”. Pertence à bolsa de formadores do Conselho Nacional da Juventude na capacitação dos jovens para as causas da cidadania e do ativismo públicos. Para conseguir vingar numa área em que muitos outros ficam pelo caminho ou nem sequer chegam a exercê-la, Ana Catarina Morgado refere que é muito exigente consigo mesmo, trabalha muitas horas e tenta atualizar-se o máximo possível. E por outro lado, tenta privilegiar os contactos em rede – “Estar presente, convidar, conhecer, promover coisas que envolvam outras pessoas são passos fundamentais”.
Trabalhando de perto com os jovens portugueses, tem uma opinião muito favorável sobre a forma como esta fatia da população vive as suas vidas – “Os nossos jovens acreditam que podem ter um futuro melhor e lutam por ele, possuem imensas competências sempre com muito fulgor, não deixando de reclamar o seu espaço e as suas oportunidades.”
Jovens do Cartaxo querem ficar a trabalhar na cidade
Carolina Simões e Diogo Martins, ambos com 19 anos, são dois jovens do Cartaxo com militância cívica. Fazem parte de uma das juventudes partidárias locais, e no caso de Carolina foi também esse gosto que a levou a escolher o curso de Ciência Política que está a frequentar no ISCTE em Lisboa.
Considera o seu curso como muito abrangente, “pois dá para me virar para áreas como a Administração Pública, mas também dá para me candidatar a um emprego num banco, porque tenho cadeiras a nível da Economia”.
Esta jovem gostava que o seu futuro passasse pelo Cartaxo. “Na altura, tentarei enviar o meu currículo para os locais que eu veja que se adaptam à minha área aqui no concelho, mas por enquanto ainda é cedo”. Tendo em conta a sua paixão pela política, também não descartaria, um dia, assumir um cargo público no concelho: na Câmara ou numa junta de freguesia, quem sabe.
Para esta jovem, o trabalho nas autarquias pode ser muito aliciante mas também possui alguns revesses. “O político lida de perto com a população, e nas cidades mais pequenas como a do Cartaxo é mais difícil agradar-se a todos porque se está mais exposto, e se alguém não gosta de nós torna-se complicado”. Sobre a atuação do atual presidente da Câmara, refere que tem apreciado o seu trabalho.
Para Carolina Simões, a política não é só o que podemos pensar num primeiro relance, mas também está presente nas várias formas de voluntariado, nas organizações, até porque “ a cidadania está muito ligada ao ato de se dar ideias e daí construir-se um programa tal como acontece nas juventudes partidárias”. A jovem está consciente do facto de a política ser algo que passa muito ao lado dos jovens. Por vezes, “os amigos brincam um pouco com esta minha faceta”.
Pela primeira vez teve de abandonar a sua terra natal, e alugou casa em Lisboa. “É sempre complicado, mas como me mudei com duas amigas do Cartaxo, a adaptação foi mais fácil”.
Quanto à realidade do desemprego jovem é algo que a preocupa. “Se não tiver oportunidade de trabalhar na minha área, claro que depois terei de me adaptar, mas isso não pode ser impeditivo de tirar uma licenciatura naquilo que em princípio quero fazer no futuro”.
Já Diogo Martins inscreveu-se há pouco tempo numa universidade privada mas tem esperança de entrar na pública. “Gosto de Relações Internacionais e Ciência Política como a Carolina, mas penso que o Direito é mais abrangente”. Espera um dia exercer advocacia no Cartaxo, e tal como a sua colega, quer ficar o mais perto possível de casa. “Contribuir um pouco também para que o Cartaxo não possua apenas população envelhecida, e ser parte integrante na fixação de jovens com habilitações no concelho”.
Quanto ao futuro é perentório: “Apenas os melhores conseguem vencer, porque o mercado é extremamente exigente, temos de lutar por aquilo que queremos, se não nos forem dadas oportunidades no início, teremos de lutar por elas, e nesse aspeto olho um pouco para o caso da minha irmã que teve de emigrar. Espero que isso não aconteça comigo”.
Carolina Simões e Diogo Martins, ambos com 19 anos, são dois jovens do Cartaxo com militância cívica. Fazem parte de uma das juventudes partidárias locais, e no caso de Carolina foi também esse gosto que a levou a escolher o curso de Ciência Política que está a frequentar no ISCTE em Lisboa.
Considera o seu curso como muito abrangente, “pois dá para me virar para áreas como a Administração Pública, mas também dá para me candidatar a um emprego num banco, porque tenho cadeiras a nível da Economia”.
Esta jovem gostava que o seu futuro passasse pelo Cartaxo. “Na altura, tentarei enviar o meu currículo para os locais que eu veja que se adaptam à minha área aqui no concelho, mas por enquanto ainda é cedo”. Tendo em conta a sua paixão pela política, também não descartaria, um dia, assumir um cargo público no concelho: na Câmara ou numa junta de freguesia, quem sabe.
Para esta jovem, o trabalho nas autarquias pode ser muito aliciante mas também possui alguns revesses. “O político lida de perto com a população, e nas cidades mais pequenas como a do Cartaxo é mais difícil agradar-se a todos porque se está mais exposto, e se alguém não gosta de nós torna-se complicado”. Sobre a atuação do atual presidente da Câmara, refere que tem apreciado o seu trabalho.
Para Carolina Simões, a política não é só o que podemos pensar num primeiro relance, mas também está presente nas várias formas de voluntariado, nas organizações, até porque “ a cidadania está muito ligada ao ato de se dar ideias e daí construir-se um programa tal como acontece nas juventudes partidárias”. A jovem está consciente do facto de a política ser algo que passa muito ao lado dos jovens. Por vezes, “os amigos brincam um pouco com esta minha faceta”.
Pela primeira vez teve de abandonar a sua terra natal, e alugou casa em Lisboa. “É sempre complicado, mas como me mudei com duas amigas do Cartaxo, a adaptação foi mais fácil”.
Quanto à realidade do desemprego jovem é algo que a preocupa. “Se não tiver oportunidade de trabalhar na minha área, claro que depois terei de me adaptar, mas isso não pode ser impeditivo de tirar uma licenciatura naquilo que em princípio quero fazer no futuro”.
Já Diogo Martins inscreveu-se há pouco tempo numa universidade privada mas tem esperança de entrar na pública. “Gosto de Relações Internacionais e Ciência Política como a Carolina, mas penso que o Direito é mais abrangente”. Espera um dia exercer advocacia no Cartaxo, e tal como a sua colega, quer ficar o mais perto possível de casa. “Contribuir um pouco também para que o Cartaxo não possua apenas população envelhecida, e ser parte integrante na fixação de jovens com habilitações no concelho”.
Quanto ao futuro é perentório: “Apenas os melhores conseguem vencer, porque o mercado é extremamente exigente, temos de lutar por aquilo que queremos, se não nos forem dadas oportunidades no início, teremos de lutar por elas, e nesse aspeto olho um pouco para o caso da minha irmã que teve de emigrar. Espero que isso não aconteça comigo”.

Conciliar o desporto e um curso superior
Sandro Peixe, de 19 anos, da Glória do Ribatejo, Salvaterra de Magos, para além de estar a tirar um curso de Gestão de Empresas em Santarém tenta conciliar essa vertente com uma carreira no motociclismo na qual tem dado nas vistas.
A opção por tirar um curso relaciona-se com o facto de por antecipação saber que o seu futuro a longo prazo não poderá ficar apenas pelo desporto, e como gostava de Gestão pensa ter tomado a atitude certa. Começou a andar de mota aos cinco, e aos nove iniciou-se na competição. O seu pai já vencera nove títulos de campeão nacional. Até o avô andou nestas lides, portanto o seu percurso foi natural.
Há quatro anos que Sandro Peixe é campeão nacional no seu escalão, mas recusa o epíteto de “profissional”. “Dedico-me de forma profissional a este desporto mas como não vivo desta atividade não posso designar-me como tal”, esclarece. Com frequência tem estado no estrangeiro, onde já disputou o campeonato espanhol e o da Europa. “São experiências valiosas para a minha vida”.
Os desportos motorizados estão normalmente associados, pelo menos a nível internacional, a muito dinheiro envolvido. No caso de Sandro Peixe, este refere que “estamos a falar de facto de um desporto muito caro, e para se falar de internacionalização há que disputar as várias provas dos circuitos, algo só possível com um grande apoio por trás”. No seu caso já chegou a disputar quatro das oito provas europeias de um campeonato.
Sandro Peixe que corre pela Honda Portugal dispõe de vários patrocinadores como empresas locais, Câmara de Salvaterra, Junta da Glória/Granho. “Faltava-me talvez o apoio de uma petrolífera, mas de momento não consigo contar com isso”.
Muito associada ao conceito de jovem desportista está a ideia de que este perde muitas das atividades ligadas a esta fase da vida por estar demasiado envolvido numa determinada modalidade, quase sempre com regras muito rígidas. “Tenho uma vida regrada, é verdade, porque tenho de treinar, mas sinceramente quando chega a noite só me apetece dormir, por isso não vou para as ditas borgas. Posso perder alguma coisa, mas possivelmente outros jovens não disfrutarão das emoções que eu vivo”. A rotina de disciplina que criou também o ajuda quando se lhe fala dos estudos. Para já cumpriu com sucesso o primeiro ano do curso.
Quando se pergunta a Sandro sobre o seu futuro e as perspetivas dos jovens num país que foi sacudido pela crise, refere com alguma emoção: “Terão de ser as pessoas da minha idade, no futuro, as que vão ter de lutar por Portugal para que possamos dar a volta por cima. Se dermos a Portugal, Portugal nos retribuirá, é essa também a minha esperança. No meu caso gostava de continuar a trabalhar no que gosto e ganhar a minha vida neste mundo do motociclismo. E um dia quando terminar a carreira no motociclismo e já no mundo da Gestão, quero continuar a ser ambicioso, e também aqui ser bom e bem sucedido”.
Sandro Peixe, de 19 anos, da Glória do Ribatejo, Salvaterra de Magos, para além de estar a tirar um curso de Gestão de Empresas em Santarém tenta conciliar essa vertente com uma carreira no motociclismo na qual tem dado nas vistas.
A opção por tirar um curso relaciona-se com o facto de por antecipação saber que o seu futuro a longo prazo não poderá ficar apenas pelo desporto, e como gostava de Gestão pensa ter tomado a atitude certa. Começou a andar de mota aos cinco, e aos nove iniciou-se na competição. O seu pai já vencera nove títulos de campeão nacional. Até o avô andou nestas lides, portanto o seu percurso foi natural.
Há quatro anos que Sandro Peixe é campeão nacional no seu escalão, mas recusa o epíteto de “profissional”. “Dedico-me de forma profissional a este desporto mas como não vivo desta atividade não posso designar-me como tal”, esclarece. Com frequência tem estado no estrangeiro, onde já disputou o campeonato espanhol e o da Europa. “São experiências valiosas para a minha vida”.
Os desportos motorizados estão normalmente associados, pelo menos a nível internacional, a muito dinheiro envolvido. No caso de Sandro Peixe, este refere que “estamos a falar de facto de um desporto muito caro, e para se falar de internacionalização há que disputar as várias provas dos circuitos, algo só possível com um grande apoio por trás”. No seu caso já chegou a disputar quatro das oito provas europeias de um campeonato.
Sandro Peixe que corre pela Honda Portugal dispõe de vários patrocinadores como empresas locais, Câmara de Salvaterra, Junta da Glória/Granho. “Faltava-me talvez o apoio de uma petrolífera, mas de momento não consigo contar com isso”.
Muito associada ao conceito de jovem desportista está a ideia de que este perde muitas das atividades ligadas a esta fase da vida por estar demasiado envolvido numa determinada modalidade, quase sempre com regras muito rígidas. “Tenho uma vida regrada, é verdade, porque tenho de treinar, mas sinceramente quando chega a noite só me apetece dormir, por isso não vou para as ditas borgas. Posso perder alguma coisa, mas possivelmente outros jovens não disfrutarão das emoções que eu vivo”. A rotina de disciplina que criou também o ajuda quando se lhe fala dos estudos. Para já cumpriu com sucesso o primeiro ano do curso.
Quando se pergunta a Sandro sobre o seu futuro e as perspetivas dos jovens num país que foi sacudido pela crise, refere com alguma emoção: “Terão de ser as pessoas da minha idade, no futuro, as que vão ter de lutar por Portugal para que possamos dar a volta por cima. Se dermos a Portugal, Portugal nos retribuirá, é essa também a minha esperança. No meu caso gostava de continuar a trabalhar no que gosto e ganhar a minha vida neste mundo do motociclismo. E um dia quando terminar a carreira no motociclismo e já no mundo da Gestão, quero continuar a ser ambicioso, e também aqui ser bom e bem sucedido”.
“Em Portugal, não se valoriza quem é bom no que faz”
André Santos é o mais velho dos jovens entrevistados e como tal a sua visão é necessariamente mais nua e crua dos tempos em que vivemos. Com 35 anos, confessa que o mundo do mercado de trabalho é feito de muitas pedras no caminho. Depois de ter terminado o curso superior de Educação Física na Universidade de Algarve, as coisas até foram relativamente fáceis. Conseguiu emprego na sua terra natal, o Cartaxo, como professor de atividades desportivas no primeiro ciclo através de concurso público promovido pelo município. Contudo, anos mais tarde no Governo de Sócrates estes programas foram substituídos pelas denominadas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s) que acabaram por lhe baralhar os planos.
“Confesso que antes da implementação das AEC’s cheguei a ser muito bem pago, depois perdi cerca de 40 por cento dessa remuneração. As Câmaras desresponsabilizaram-se e entregaram essa vertente às empresas; e como se diz na gíria popular quem se lixa é o mexilhão.”, enfatiza.
O seu percurso a partir de 2007 passa por ficar a dar aulas em escolas o que fez até 2012. Os acontecimentos precipitaram-se nesse sentido. E como a vida não para de dar voltas, esteve ainda nos últimos anos a trabalhar num restaurante da família, porque confessa acabou por desistir da vida de professor – “A minha família era mais importante para mim, e não valia o sacrifício de ir dar aulas para longe, o restaurante foi-nos sustentando”. Por outro lado, “confesso que a convicção que tenho do que deve ser a organização e a evolução das escolas esbarra muito naquilo que experienciei”. E consegue ser mais definitivo – “Só por masoquismo é que se vai para professor hoje em dia”.
No fina de 2014, decidiu abraçar um projeto seu com a criação de um negócio que acaba por ser uma academia para crianças mas com a atividade física incluída. “Não conhecia nenhum conceito como o que criei, porque centro de estudos existem muitos, não há novidade nisso, mas para além dessa componente, temos a dita componente física como ballet, ténis de mesa, entre outras”. Para já está a ser bem-sucedido dado que possui cerca de 20 crianças a frequentarem o seu espaço, e ainda dá emprego a uma outra professora. “Fiz questão de lhe dar um contrato, pois não quero fazer aos outros o que me fizeram a mim”, dá a entender.
André Santos é o mais velho dos jovens entrevistados e como tal a sua visão é necessariamente mais nua e crua dos tempos em que vivemos. Com 35 anos, confessa que o mundo do mercado de trabalho é feito de muitas pedras no caminho. Depois de ter terminado o curso superior de Educação Física na Universidade de Algarve, as coisas até foram relativamente fáceis. Conseguiu emprego na sua terra natal, o Cartaxo, como professor de atividades desportivas no primeiro ciclo através de concurso público promovido pelo município. Contudo, anos mais tarde no Governo de Sócrates estes programas foram substituídos pelas denominadas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s) que acabaram por lhe baralhar os planos.
“Confesso que antes da implementação das AEC’s cheguei a ser muito bem pago, depois perdi cerca de 40 por cento dessa remuneração. As Câmaras desresponsabilizaram-se e entregaram essa vertente às empresas; e como se diz na gíria popular quem se lixa é o mexilhão.”, enfatiza.
O seu percurso a partir de 2007 passa por ficar a dar aulas em escolas o que fez até 2012. Os acontecimentos precipitaram-se nesse sentido. E como a vida não para de dar voltas, esteve ainda nos últimos anos a trabalhar num restaurante da família, porque confessa acabou por desistir da vida de professor – “A minha família era mais importante para mim, e não valia o sacrifício de ir dar aulas para longe, o restaurante foi-nos sustentando”. Por outro lado, “confesso que a convicção que tenho do que deve ser a organização e a evolução das escolas esbarra muito naquilo que experienciei”. E consegue ser mais definitivo – “Só por masoquismo é que se vai para professor hoje em dia”.
No fina de 2014, decidiu abraçar um projeto seu com a criação de um negócio que acaba por ser uma academia para crianças mas com a atividade física incluída. “Não conhecia nenhum conceito como o que criei, porque centro de estudos existem muitos, não há novidade nisso, mas para além dessa componente, temos a dita componente física como ballet, ténis de mesa, entre outras”. Para já está a ser bem-sucedido dado que possui cerca de 20 crianças a frequentarem o seu espaço, e ainda dá emprego a uma outra professora. “Fiz questão de lhe dar um contrato, pois não quero fazer aos outros o que me fizeram a mim”, dá a entender.
Depois da sua passagem pelas escolas e pelo meio académico, e tendo em conta que muitos jovens da sua idade escolhem o estrangeiro para fazerem a sua carreira, André Santos exprime a sua opinião muito pessoal acerca do denominado “fabulos mundo da emigração”, visto como a única saída e onde o sucesso está ao virar da fronteira. “Acredito que nem tudo seja assim tão cor-de-rosa lá fora, mas também sou da opinião de que os jovens no estrangeiro fazem coisas que aqui se recusam a fazer, mas por outro lado são mais reconhecidos pelas entidades empregadoras desses países. O que se passa cá em Portugal, e tive essa experiência, é que não importa o quão se é bom ou não numa determinada profissão, não somos reconhecidos por isso, mesmo que nos estafemos a trabalhar”.
Se a idade jovem for até aos 35 anos, André Santos ao olhar para o seu percurso deixa também este conselho aos jovens mais novos – “Que afiram de outras possibilidades dentro das suas áreas, que se especializem, tendo em conta também onde é que há emprego”.
Se a idade jovem for até aos 35 anos, André Santos ao olhar para o seu percurso deixa também este conselho aos jovens mais novos – “Que afiram de outras possibilidades dentro das suas áreas, que se especializem, tendo em conta também onde é que há emprego”.

Pela primeira vez a trabalhar a tempo inteiro na sua área
A trabalhar há duas semanas na Câmara de Alenquer, Sandra Ferreira de 26 anos, com raízes na Lourinhã, também vive atualmente na vila de Alenquer. Licenciada numas das áreas que menos saídas tem quando se fala em estabilidade profissional, o design gráfico, confessa que neste momento está a viver uma espécie de sonho. Para trás ficam alguns empregos nos CTT ou num café, dada a dificuldade que sempre sentiu em entrar no mercado de trabalho na sua área. O estágio na autarquia será de um ano.
Até ter concorrido à autarquia através de concurso público, foram três anos de envios sem parar de currículos. Quando estava a acabar o curso que fez na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha conseguiu perceber que não seria “muito fácil” vingar neste mercado. Muito esporadicamente “lá ia fazendo um flyerzitos mas não passava disso”.
Sobre a experiência profissional fora da sua área, refere que encarou com naturalidade essa fase – “Não me fez diferença, eu queria trabalhar, e foi o que me apareceu”. Dessas experiências, retira um ensinamento – “Pensava que não ia gostar, mas foi positivo o contacto com o público; atender as pessoas!”. Ao mesmo tempo, ia enviando os cv’s e deslocava-se a muitas entrevistas – “Corriam bem, mas havia sempre muitos candidatos, e nunca tive a sorte de ser selecionada. Concorri a tudo dentro do que era compatível com a minha área”. “Tive de ser muito persistente porque é fácil ficarmos desmotivados”, acrescenta.
Aproveitou ao mesmo tempo para ir fazendo algumas formações que se revelaram como decisivas para o facto de ter sido escolhida para este estágio, em web design e programação em ambiente web. “O designer gráfico só fica a ganhar se juntar estas vertentes ao seu currículo que nem sempre são exploradas nas universidades”.
Hoje confessa que “está a ser excelente” a sua estadia na Câmara. “Estou a fazer paginação e a criar layouts para um boletim”, resume assim o seu trabalho. Sandra Ferreira deixa alguns conselhos aos jovens designers ou a quem deseje seguir esta área – “Ser o mais versátil possível e tentar saber um pouco de tudo, porque temos de estar abertos a várias vertentes, o mercado do trabalho assim o exige porque a concorrência também é muito elevada”.
Sílvia Agostinho
25-08-2015
12:38
A trabalhar há duas semanas na Câmara de Alenquer, Sandra Ferreira de 26 anos, com raízes na Lourinhã, também vive atualmente na vila de Alenquer. Licenciada numas das áreas que menos saídas tem quando se fala em estabilidade profissional, o design gráfico, confessa que neste momento está a viver uma espécie de sonho. Para trás ficam alguns empregos nos CTT ou num café, dada a dificuldade que sempre sentiu em entrar no mercado de trabalho na sua área. O estágio na autarquia será de um ano.
Até ter concorrido à autarquia através de concurso público, foram três anos de envios sem parar de currículos. Quando estava a acabar o curso que fez na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha conseguiu perceber que não seria “muito fácil” vingar neste mercado. Muito esporadicamente “lá ia fazendo um flyerzitos mas não passava disso”.
Sobre a experiência profissional fora da sua área, refere que encarou com naturalidade essa fase – “Não me fez diferença, eu queria trabalhar, e foi o que me apareceu”. Dessas experiências, retira um ensinamento – “Pensava que não ia gostar, mas foi positivo o contacto com o público; atender as pessoas!”. Ao mesmo tempo, ia enviando os cv’s e deslocava-se a muitas entrevistas – “Corriam bem, mas havia sempre muitos candidatos, e nunca tive a sorte de ser selecionada. Concorri a tudo dentro do que era compatível com a minha área”. “Tive de ser muito persistente porque é fácil ficarmos desmotivados”, acrescenta.
Aproveitou ao mesmo tempo para ir fazendo algumas formações que se revelaram como decisivas para o facto de ter sido escolhida para este estágio, em web design e programação em ambiente web. “O designer gráfico só fica a ganhar se juntar estas vertentes ao seu currículo que nem sempre são exploradas nas universidades”.
Hoje confessa que “está a ser excelente” a sua estadia na Câmara. “Estou a fazer paginação e a criar layouts para um boletim”, resume assim o seu trabalho. Sandra Ferreira deixa alguns conselhos aos jovens designers ou a quem deseje seguir esta área – “Ser o mais versátil possível e tentar saber um pouco de tudo, porque temos de estar abertos a várias vertentes, o mercado do trabalho assim o exige porque a concorrência também é muito elevada”.
Sílvia Agostinho
25-08-2015
12:38
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