Pandemia colocou a nu as fragilidades da saúde nos postos médicos da região
De Azambuja, a Benavente, de Vila Franca a Alenquer e só para dar este exemplo, as queixas dos utentes dos centros e extensões de saúde repetem-se: é cada vez mais difícil arranjar uma consulta. O quadro foi piorado com a pandemia, mas há situações que já vêm de trás.
Sílvia Agostinho
Sílvia Carvalho d’Almeida
29-04-2021 16:02
Iniciamos o nosso périplo na extensão de saúde de Alcoentre, concelho de Azambuja, onde os habitantes estão cada vez mais descontentes devido às dificuldades que têm tido no acesso a consultas tanto de medicina como de enfermagem. Se existia já um grave problema de falta de médicos de família, que persiste há anos, agora também os cuidados de enfermagem são mais escassos, pelo destacamento da enfermeira para o Centro de Vacinação da Covid-19.
Com a atual pandemia em curso, os utentes têm apenas acesso a consultas de urgência, para o próprio dia, à terça e sexta-feira, tendo estas de ser marcadas pelo telefone entre as nove e as dez da manhã. É comum assistir-se à indignação dos habitantes da freguesia que chegam a ir pessoalmente à extensão de saúde local para marcarem consulta, dado que “as linhas estão quase sempre ocupadas ou ninguém atende”. Os cidadãos gastam uma boa parte do seu tempo a tentar ligar para os centros de saúde da região. Quando não conseguem, resta irem bater à porta do centro de saúde, mas a norma dita que as consultas tenham de ser marcadas por telefone. Nestas coisas há sempre quem tenha mais sorte ou mais azar.
Alexandra Nunes, residente em Azambuja, conta que também andou a insistir na marcação de uma consulta por telefone. Ligou para o geral mas sem resultados. Quando se deslocou ao centro de saúde de Azambuja deram-lhe um número fixo diferente mas que vai diretamente para a receção que trata destes assuntos. Para marcar consulta teve então de ligar para este número em específico, mas apenas entre as oito e as nove. Sem dificuldades no outro dia de manhã ligou assim que o relógio marcou as oito horas e teve nesse mesmo dia uma teleconsulta.
Sílvia Agostinho
Sílvia Carvalho d’Almeida
29-04-2021 16:02
Iniciamos o nosso périplo na extensão de saúde de Alcoentre, concelho de Azambuja, onde os habitantes estão cada vez mais descontentes devido às dificuldades que têm tido no acesso a consultas tanto de medicina como de enfermagem. Se existia já um grave problema de falta de médicos de família, que persiste há anos, agora também os cuidados de enfermagem são mais escassos, pelo destacamento da enfermeira para o Centro de Vacinação da Covid-19.
Com a atual pandemia em curso, os utentes têm apenas acesso a consultas de urgência, para o próprio dia, à terça e sexta-feira, tendo estas de ser marcadas pelo telefone entre as nove e as dez da manhã. É comum assistir-se à indignação dos habitantes da freguesia que chegam a ir pessoalmente à extensão de saúde local para marcarem consulta, dado que “as linhas estão quase sempre ocupadas ou ninguém atende”. Os cidadãos gastam uma boa parte do seu tempo a tentar ligar para os centros de saúde da região. Quando não conseguem, resta irem bater à porta do centro de saúde, mas a norma dita que as consultas tenham de ser marcadas por telefone. Nestas coisas há sempre quem tenha mais sorte ou mais azar.
Alexandra Nunes, residente em Azambuja, conta que também andou a insistir na marcação de uma consulta por telefone. Ligou para o geral mas sem resultados. Quando se deslocou ao centro de saúde de Azambuja deram-lhe um número fixo diferente mas que vai diretamente para a receção que trata destes assuntos. Para marcar consulta teve então de ligar para este número em específico, mas apenas entre as oito e as nove. Sem dificuldades no outro dia de manhã ligou assim que o relógio marcou as oito horas e teve nesse mesmo dia uma teleconsulta.
De regresso a Alcoentre, Susana Santos residente na localidade e com três crianças refere que precisou recentemente de uma consulta para o seu filho e decidiu recorrer à extensão de saúde local. As consultas foram suprimidas, havendo apenas as de recurso, “que estavam cheias”, conta-nos. Não tendo outra opção teve que dirigir-se ao médico particular. "Temos um bom centro de saúde, mas não temos médicos, e os médicos de recurso acabam por não nos resolver o problema. Há anos que não existem médicos de família. Ainda para mais sabemos que lhes é oferecida habitação e as viagens pagas para permanecerem na vila, não percebo o porquê não termos sorte. Realmente é estranho”, salienta, destacando ainda: “Chegámos a ter aqui o doutor Óscar que era muito bom médico, mas foi logo levado para Aveiras de Cima. Seria ótimo que arranjassem médicos de família, até porque os nossos idosos precisam de ir de madrugada para o centro de saúde para obterem consulta, muitas vezes doentes. Neste momento, tenho que me dirigir a Azambuja, fazer cerca de 20 quilómetros, para ter consultas de saúde infantil, que demoram 10 minutos. Nem eu nem os meus filhos alguma vez tivemos médico de família."
Maria Marques, também residente em Alcoentre, e em jeito de desabafo, mostra a sua indignação: "Não sei o que se passa com este Centro de Saúde ou com a saúde deste concelho, que é uma vergonha! De momento está só um médico duas vezes por semana para a freguesia toda e só se pode apanhar consulta para o próprio dia telefonicamente. Como fazem as pessoas de mais idade? Muitas delas só sabem ligar para os filhos e outros nem telefone têm. Eu na terça-feira tive que ligar 42 vezes para conseguir consulta, consegui sim senhora, mas agora vem a outra parte, fazer o tratamento, e levar injeções e não há enfermeira todos os dias, porque estão escaladas para vacinação Covid. Resumindo tenho que recorrer a uma farmácia em Aveiras para levar as injeções. É muito triste esta nossa realidade!"
Outra residente, Maria Carvalho, que fez recentemente uma pequena cirurgia, precisou de recorrer aos cuidados de enfermagem para retirar pontos, mas foi enviada para o Centro de Saúde de Azambuja. “É uma pena, pois tanto ao nível de enfermagem como de medicina temos em Alcoentre muito bons profissionais, que fazem um esforço incrível para chegar a todo o lado, mas de facto para servir toda esta população precisamos de mais efetivos."
Num comunicado publicado recentemente, os presidentes das juntas de freguesia de Aveiras de Cima, Aveiras de Baixo, Alcoentre, Vale do Paraíso e Vila Nova da Rainha deixam a sua indignação quanto ao estado de coisas. Enviaram uma carta a mostrar o seu desagrado para as diversas entidades de saúde da região e do Estado. Um dos pontos sublinhados no documento prende-se com encerramento da extensão de saúde de Aveiras de Baixo e o posterior encaminhamento dos utentes para a unidade de Aveiras de Cima. Sendo que face a esta realidade apenas existe um médico, nesta altura para seis mil inscritos. Os 2500 inscritos da freguesia de Alcoentre também não têm médico de família. No caso dos habitantes da freguesia de Vila Nova da Rainha fazem as suas consultas neste momento no centro de saúde da sede de concelho mas ainda há 100 pessoas sem médico de família. Os cinco presidentes de junta mostram o seu descontentamento evidenciando que “os fregueses esperam meses por uma consulta e semanas por uma simples receita, em que se chegou a um ponto de rotura que é inaceitável e que não pode continuar”, e como tal “as entidades responsáveis têm o dever de olhar para esta realidade do concelho e de encontrar respostas que sirvam os interesses da população” e esta é “uma exigência dos executivos destas juntas de freguesia”. Os autarcas vão mais longe e interrogam-se – “Como é possível que os médicos que são colocados num determinado local tenham oportunidade de concorrerem para outros locais seis meses depois e sem nenhuma penalização. Não devia existir alguma responsabilização por parte destes médicos quando aceitam uma colocação numa determinada extensão”.
Maria Marques, também residente em Alcoentre, e em jeito de desabafo, mostra a sua indignação: "Não sei o que se passa com este Centro de Saúde ou com a saúde deste concelho, que é uma vergonha! De momento está só um médico duas vezes por semana para a freguesia toda e só se pode apanhar consulta para o próprio dia telefonicamente. Como fazem as pessoas de mais idade? Muitas delas só sabem ligar para os filhos e outros nem telefone têm. Eu na terça-feira tive que ligar 42 vezes para conseguir consulta, consegui sim senhora, mas agora vem a outra parte, fazer o tratamento, e levar injeções e não há enfermeira todos os dias, porque estão escaladas para vacinação Covid. Resumindo tenho que recorrer a uma farmácia em Aveiras para levar as injeções. É muito triste esta nossa realidade!"
Outra residente, Maria Carvalho, que fez recentemente uma pequena cirurgia, precisou de recorrer aos cuidados de enfermagem para retirar pontos, mas foi enviada para o Centro de Saúde de Azambuja. “É uma pena, pois tanto ao nível de enfermagem como de medicina temos em Alcoentre muito bons profissionais, que fazem um esforço incrível para chegar a todo o lado, mas de facto para servir toda esta população precisamos de mais efetivos."
Num comunicado publicado recentemente, os presidentes das juntas de freguesia de Aveiras de Cima, Aveiras de Baixo, Alcoentre, Vale do Paraíso e Vila Nova da Rainha deixam a sua indignação quanto ao estado de coisas. Enviaram uma carta a mostrar o seu desagrado para as diversas entidades de saúde da região e do Estado. Um dos pontos sublinhados no documento prende-se com encerramento da extensão de saúde de Aveiras de Baixo e o posterior encaminhamento dos utentes para a unidade de Aveiras de Cima. Sendo que face a esta realidade apenas existe um médico, nesta altura para seis mil inscritos. Os 2500 inscritos da freguesia de Alcoentre também não têm médico de família. No caso dos habitantes da freguesia de Vila Nova da Rainha fazem as suas consultas neste momento no centro de saúde da sede de concelho mas ainda há 100 pessoas sem médico de família. Os cinco presidentes de junta mostram o seu descontentamento evidenciando que “os fregueses esperam meses por uma consulta e semanas por uma simples receita, em que se chegou a um ponto de rotura que é inaceitável e que não pode continuar”, e como tal “as entidades responsáveis têm o dever de olhar para esta realidade do concelho e de encontrar respostas que sirvam os interesses da população” e esta é “uma exigência dos executivos destas juntas de freguesia”. Os autarcas vão mais longe e interrogam-se – “Como é possível que os médicos que são colocados num determinado local tenham oportunidade de concorrerem para outros locais seis meses depois e sem nenhuma penalização. Não devia existir alguma responsabilização por parte destes médicos quando aceitam uma colocação numa determinada extensão”.
Utente de Centro de Saúde da Castanheira ligou 98 vezes num só dia
No centro de Saúde de Castanheira do Ribatejo o quadro não é mais pacífico. Segundo a comissão de utentes local (foto acima), e numa entrevista concedida ao Valor Local, na edição passada, “é quase impossível que alguém atenda ao telefone para se marcar uma consulta”. Como dificilmente se consegue arranjar una marcação, “a extensão manda as pessoas para as consultas na Póvoa de Santa Iria” quase no extremo oposto do concelho, segundo Pedro Gago da comissão de utentes, que deixa o desabafo – “No concelho de Vila Franca de Xira, os centros de saúde trabalham bem não percebo o porquê de o nosso ter tantos problemas”. No contacto com o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo que compreende as unidades de saúde dos concelhos de Vila Franca, Benavente, Azambuja, Alenquer e Arruda dos Vinhos, Pedro Gago refere que ao longo dos anos, a atitude é de desvalorização do que se passa na Castanheira.
Com a pandemia, refere o porta voz da comissão de utentes, o centro de saúde passou a exigir que as marcações de consultas sejam, apenas, através de email, contudo “essa é uma dificuldade acrescida para a população idosa”, constata revelando que depois de algumas reuniões foi possível mudar a agulha. Passou a ser pessoalmente, e sem recurso ao telefone. Pedro Gago diz que tem conhecimento de que noutros centros de saúde do concelho, o atendimento é superior, em questões tão básicas como “o pedido de uma credencial”, algo que é correspondido “normalmente e sem grandes constrangimentos”, enquanto que na Castanheira “quase que é preciso meter um requerimento ao presidente da Câmara”. Por outro lado, e quando o utente quer mostrar o resultado de exames ou análises “tem de ser através de fotocópias” ficando a aguardar mais uma vez “pela teleconsulta”. Pedro Gago revela que só tem encontrado dificuldades no contato com esta extensão de saúde e diz mesmo que “há pessoas a enlouquecer e qualquer dia ainda entra lá alguém aos tiros”.
O Valor Local percebeu através das redes sociais que há opiniões para todos os gostos quanto ao funcionamento desta unidade de saúde, de elogios a impropérios- todo o tipo de reações cabe para destacar esta extensão por parte dos utentes locais. Muitos alegam que o atendimento é fácil e atencioso, mas do outro lado da barricada há quem alegue viver dias de inferno seja a tentar ligar para marcar consulta, seja no domínio da alegada fraca qualidade do atendimento. Uma coisa é certa os utentes da Castanheira do Ribatejo veem o tema do funcionamento do centro de saúde local como incontornável na vida da freguesia. Contudo e à semelhança de muitos outros na região, o edifício tem excelentes condições físicas, mas debaixo de um vistoso e elegante complexo permanecem os eternos alicerces frágeis da saúde em Portugal: falta de médicos, e profissionais à beira de um ataque de nervos por uma razão ou outra.
No centro de Saúde de Castanheira do Ribatejo o quadro não é mais pacífico. Segundo a comissão de utentes local (foto acima), e numa entrevista concedida ao Valor Local, na edição passada, “é quase impossível que alguém atenda ao telefone para se marcar uma consulta”. Como dificilmente se consegue arranjar una marcação, “a extensão manda as pessoas para as consultas na Póvoa de Santa Iria” quase no extremo oposto do concelho, segundo Pedro Gago da comissão de utentes, que deixa o desabafo – “No concelho de Vila Franca de Xira, os centros de saúde trabalham bem não percebo o porquê de o nosso ter tantos problemas”. No contacto com o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo que compreende as unidades de saúde dos concelhos de Vila Franca, Benavente, Azambuja, Alenquer e Arruda dos Vinhos, Pedro Gago refere que ao longo dos anos, a atitude é de desvalorização do que se passa na Castanheira.
Com a pandemia, refere o porta voz da comissão de utentes, o centro de saúde passou a exigir que as marcações de consultas sejam, apenas, através de email, contudo “essa é uma dificuldade acrescida para a população idosa”, constata revelando que depois de algumas reuniões foi possível mudar a agulha. Passou a ser pessoalmente, e sem recurso ao telefone. Pedro Gago diz que tem conhecimento de que noutros centros de saúde do concelho, o atendimento é superior, em questões tão básicas como “o pedido de uma credencial”, algo que é correspondido “normalmente e sem grandes constrangimentos”, enquanto que na Castanheira “quase que é preciso meter um requerimento ao presidente da Câmara”. Por outro lado, e quando o utente quer mostrar o resultado de exames ou análises “tem de ser através de fotocópias” ficando a aguardar mais uma vez “pela teleconsulta”. Pedro Gago revela que só tem encontrado dificuldades no contato com esta extensão de saúde e diz mesmo que “há pessoas a enlouquecer e qualquer dia ainda entra lá alguém aos tiros”.
O Valor Local percebeu através das redes sociais que há opiniões para todos os gostos quanto ao funcionamento desta unidade de saúde, de elogios a impropérios- todo o tipo de reações cabe para destacar esta extensão por parte dos utentes locais. Muitos alegam que o atendimento é fácil e atencioso, mas do outro lado da barricada há quem alegue viver dias de inferno seja a tentar ligar para marcar consulta, seja no domínio da alegada fraca qualidade do atendimento. Uma coisa é certa os utentes da Castanheira do Ribatejo veem o tema do funcionamento do centro de saúde local como incontornável na vida da freguesia. Contudo e à semelhança de muitos outros na região, o edifício tem excelentes condições físicas, mas debaixo de um vistoso e elegante complexo permanecem os eternos alicerces frágeis da saúde em Portugal: falta de médicos, e profissionais à beira de um ataque de nervos por uma razão ou outra.
Uma das utentes da extensão de saúde da Castanheira é Fernanda Graça que conta que recentemente telefonou 98 vezes num dia, e 33 no outro para a unidade, mas sem sucesso. É comum ter de ir para a porta da extensão logo às quatro da manhã. “Fico dentro do carro, mas se aparece alguém tenho de sair para marcar a vez”, conta. Por vezes às seis da manhã já estão três ou quatro pessoas à porta deste centro de saúde. De inverno este deve ser o menos tentador dos cenários. Fernanda Graça fala num sistema de troca de favores nesta unidade, onde “as senhoras administrativas reservam vagas para os amigos e amigas em troca de raminhos de flores”. Chega-se ao ponto de “às 9h30 já não haver vagas”. Quanto ao atendimento por parte dos médicos ressalva que não tem razões de queixa, mas com as funcionárias conta que já teve “grandes brigas” assim como com o “segurança”, o qual denunciou à empresa onde trabalha, acrescendo o facto de “mexer em credenciais e receitas o que devia ser proibido”. “Nem o diretor do centro de saúde merece o chão que pisa”, desabafa.
Centro de Saúde de Abrigada deixa a desejar no atendimento e nas condições
Em Abrigada, concelho de Alenquer, também tomámos o pulso à saúde. O centro de saúde é no rés do chão de um andar de habitação e as condições não são as melhores. Na edição de março ficámos a saber pelo utente Delfim Simões, residente no Bairro naquela freguesia, que as consultas são quase uma miragem, e que numa das suas muitas deslocações à extensão, uma funcionária irrefletidamente abriu os envelopes de uns exames que tinha para mostrar ao médico e deu-lhe logo ali o veredicto – “Disse que não tinha nenhum problema de saúde nem na próstata nem nos intestinos, e que o melhor era passar pela unidade noutro dia, pois talvez tivesse mais sorte em conseguir consulta”. O Valor Local contactou o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo que nos disse não ter recebido qualquer queixa formal. Sofia Theriaga, diretora do ACES, estranhou “o hipotético comportamento” em causa dado que vai “ao arrepio de todas as normas de conduta seguidas pela entidade”.
A unidade de Abrigada serve cinco mil utentes e o edifício está literalmente a rebentar pelas costuras. Estivemos no local logo às oito da manhã numa da últimas segundas-feiras. Flávio Gomes, habitante da localidade, estava à espera de entrar. Com a Covid-19, muitos utentes têm de esperar cá fora porque as instalações são diminutas. Concorda que é difícil marcar uma consulta através de telefone, mas a saúde também não está melhor nesta freguesia devido à falta de condições das instalações. A unidade serve os habitantes das freguesias de Abrigada e de Ota. “A falta de médicos é incontornável, mas de funcionários também”, responde. Joaquim Fragata também se encontrava a aguardar a sua vez no exterior, “porque com a Covid só lá podem estar quatro pessoas dentro”. Na sua opinião os cuidados de saúde prestados naquela extensão “são péssimos”. A falta de médicos é novamente o ponto fulcral das queixas. Joaquim Fragata refere que quando o caso é de urgência a solução passa por vir quase de madrugada para a porta do centro de saúde, caso contrário e no caso de uma consulta de rotina ou considerada como menos urgente diz que já aguardou perto de um ano. Acabou por desistir e optou por ir a um médico particular. A resposta era a de sempre, que “não há médicos”, sublinhando que este já era um quadro comum nesta extensão de saúde mesmo antes da pandemia. No dia da nossa reportagem estava ali por uma situação de urgência. “Cheguei às sete mas sou o nono na fila”, constata. Neste dia a médica só atenderia dez pessoas, mas no dia seguinte apenas seis utentes, e na quarta-feira apenas quatro. Veio cedo, trouxe o carro, mas “para quem vem de transporte público ou a pé é complicado” aguardar na fila quando as temperaturas são mais baixas. Joaquim Fragata já fez duas reclamações escritas mas “as respostas são as de sempre, rebeubéu e pardais ao ninho. É o que temos”, sentencia.
O discurso repete-se nas palavras de outro utente. Falámos com José Luís que adiantou o motivo da sua vinda ao local– “Vou ter consulta para renovar a baixa mas tive de vir para aqui cedo”. Veio às sete da manhã e conseguiu vaga. “Noutras alturas e para uma baixa bastava vir entregar os papéis de manhã para os vir buscar à tarde”. Por telefone é difícil marcar consulta como de resto já tinha sido confirmado na nossa edição passada por Delfim Simões. José Luís ilustra: “Já deviam ter acabado com esse sistema de as pessoas virem para aqui às tantas da madrugada para apanhar uma consulta, porque se as pessoas já estão doentes, piores ficam com o frio que aqui se apanha”. Quando chegou “já estavam três ou quatro pessoas dentro dos carros.” “Há sempre uns artistas que querem esperar dentro dos carros a dormir porque esperar cá fora ao pé da porta em pé e ao frio não é para todos, o que acontece é que depois dá sempre confusão quando não discussões este tipo de situações entre as pessoas.
Benavente e a eterna falta de médicos
No concelho de Benavente, o cenário teima em repetir-se. Mesmo antes da pandemia, o centro de saúde sofria com falta de médicos. Domingos David da comissão de utentes declara que as queixas são as mesmas, “mas com mais dificuldades porque há dias em que pura e simplesmente não se consegue marcar consulta nem por telefone nem pessoalmente”. Neste momento existe apenas uma médica com contrato para os utentes das freguesias de Benavente, Barrosa, e Santo Estevão a que se juntam dois outros médicos que podem ir embora de um momento para o outro. A única tábua de salvação para os utentes é o Serviço de Atendimento Permanente, ou seja as urgências. A médica principal do centro de saúde “tem muitos utentes e nesta altura ainda tem de fazer apoio à vacinação contra a Covid-19”, o que faz com que “muitos se dirijam ao SAP até para obterem receitas”.
Em Abrigada, concelho de Alenquer, também tomámos o pulso à saúde. O centro de saúde é no rés do chão de um andar de habitação e as condições não são as melhores. Na edição de março ficámos a saber pelo utente Delfim Simões, residente no Bairro naquela freguesia, que as consultas são quase uma miragem, e que numa das suas muitas deslocações à extensão, uma funcionária irrefletidamente abriu os envelopes de uns exames que tinha para mostrar ao médico e deu-lhe logo ali o veredicto – “Disse que não tinha nenhum problema de saúde nem na próstata nem nos intestinos, e que o melhor era passar pela unidade noutro dia, pois talvez tivesse mais sorte em conseguir consulta”. O Valor Local contactou o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo que nos disse não ter recebido qualquer queixa formal. Sofia Theriaga, diretora do ACES, estranhou “o hipotético comportamento” em causa dado que vai “ao arrepio de todas as normas de conduta seguidas pela entidade”.
A unidade de Abrigada serve cinco mil utentes e o edifício está literalmente a rebentar pelas costuras. Estivemos no local logo às oito da manhã numa da últimas segundas-feiras. Flávio Gomes, habitante da localidade, estava à espera de entrar. Com a Covid-19, muitos utentes têm de esperar cá fora porque as instalações são diminutas. Concorda que é difícil marcar uma consulta através de telefone, mas a saúde também não está melhor nesta freguesia devido à falta de condições das instalações. A unidade serve os habitantes das freguesias de Abrigada e de Ota. “A falta de médicos é incontornável, mas de funcionários também”, responde. Joaquim Fragata também se encontrava a aguardar a sua vez no exterior, “porque com a Covid só lá podem estar quatro pessoas dentro”. Na sua opinião os cuidados de saúde prestados naquela extensão “são péssimos”. A falta de médicos é novamente o ponto fulcral das queixas. Joaquim Fragata refere que quando o caso é de urgência a solução passa por vir quase de madrugada para a porta do centro de saúde, caso contrário e no caso de uma consulta de rotina ou considerada como menos urgente diz que já aguardou perto de um ano. Acabou por desistir e optou por ir a um médico particular. A resposta era a de sempre, que “não há médicos”, sublinhando que este já era um quadro comum nesta extensão de saúde mesmo antes da pandemia. No dia da nossa reportagem estava ali por uma situação de urgência. “Cheguei às sete mas sou o nono na fila”, constata. Neste dia a médica só atenderia dez pessoas, mas no dia seguinte apenas seis utentes, e na quarta-feira apenas quatro. Veio cedo, trouxe o carro, mas “para quem vem de transporte público ou a pé é complicado” aguardar na fila quando as temperaturas são mais baixas. Joaquim Fragata já fez duas reclamações escritas mas “as respostas são as de sempre, rebeubéu e pardais ao ninho. É o que temos”, sentencia.
O discurso repete-se nas palavras de outro utente. Falámos com José Luís que adiantou o motivo da sua vinda ao local– “Vou ter consulta para renovar a baixa mas tive de vir para aqui cedo”. Veio às sete da manhã e conseguiu vaga. “Noutras alturas e para uma baixa bastava vir entregar os papéis de manhã para os vir buscar à tarde”. Por telefone é difícil marcar consulta como de resto já tinha sido confirmado na nossa edição passada por Delfim Simões. José Luís ilustra: “Já deviam ter acabado com esse sistema de as pessoas virem para aqui às tantas da madrugada para apanhar uma consulta, porque se as pessoas já estão doentes, piores ficam com o frio que aqui se apanha”. Quando chegou “já estavam três ou quatro pessoas dentro dos carros.” “Há sempre uns artistas que querem esperar dentro dos carros a dormir porque esperar cá fora ao pé da porta em pé e ao frio não é para todos, o que acontece é que depois dá sempre confusão quando não discussões este tipo de situações entre as pessoas.
Benavente e a eterna falta de médicos
No concelho de Benavente, o cenário teima em repetir-se. Mesmo antes da pandemia, o centro de saúde sofria com falta de médicos. Domingos David da comissão de utentes declara que as queixas são as mesmas, “mas com mais dificuldades porque há dias em que pura e simplesmente não se consegue marcar consulta nem por telefone nem pessoalmente”. Neste momento existe apenas uma médica com contrato para os utentes das freguesias de Benavente, Barrosa, e Santo Estevão a que se juntam dois outros médicos que podem ir embora de um momento para o outro. A única tábua de salvação para os utentes é o Serviço de Atendimento Permanente, ou seja as urgências. A médica principal do centro de saúde “tem muitos utentes e nesta altura ainda tem de fazer apoio à vacinação contra a Covid-19”, o que faz com que “muitos se dirijam ao SAP até para obterem receitas”.
Sofia Theriaga dá conta de reorganização dos serviços nesta altura
Perante as críticas registadas nesta reportagem, o Valor Local ouviu Sofia Theriaga, diretora do ACES-Estuário do Tejo, que compreende o estado de espírito dos habitantes dos cinco concelhos, referindo que ainda há 49 mil utentes sem médico de família, “o que por si só já dificulta o acesso aos cuidados de saúde”. “Temos algumas respostas agilizadas mas que são insuficientes, e este é quadro que já se passava antes”. A responsável não esconde que a situação se agudizou com a pandemia porque “muitos recursos humanos estão alocados também aos centros de vacinação”. Como diretora executiva contratualizou com as unidades de saúde, nos últimos tempos, um fundo que se destina a reforçar as consultas nomeadamente no acompanhamento dos doentes de risco e de forma presencial, que inclui também a contratação de mais médicos. O ACES vai tentar ainda captar os utentes que se “acomodaram em parte à consulta telefónica e por isso dar-lhes acesso ao centro de saúde”.
Sofia Theriaga expressa que nesta altura estão a decorrer reuniões com todas as unidades “para percebermos o que tem corrido menos bem nos cinco concelhos e sob a forma de uma carta de compromisso corrigirmos as situações”. Está longe o desiderato de existirem médicos de família para os 49 mil utentes, mas “vamos assegurar os possíveis para os doentes de risco, ou portadores de doença aguda”, deixa a promessa, assegurando que nesta altura “estamos a normalizar para o antes da pandemia”. Faltam médicos e enfermeiros nos cinco concelhos, especialmente este último grupo profissional concentra-se agora nos centros de vacinação. “Nas consultas de planeamento familiar onde deveriam estar um médico e um enfermeiro, passou a estar apenas o médico e um assistente operacional”, dá conta para explicar a transferência daqueles profissionais para os locais onde se está a aplicar a vacina.
Perante as críticas registadas nesta reportagem, o Valor Local ouviu Sofia Theriaga, diretora do ACES-Estuário do Tejo, que compreende o estado de espírito dos habitantes dos cinco concelhos, referindo que ainda há 49 mil utentes sem médico de família, “o que por si só já dificulta o acesso aos cuidados de saúde”. “Temos algumas respostas agilizadas mas que são insuficientes, e este é quadro que já se passava antes”. A responsável não esconde que a situação se agudizou com a pandemia porque “muitos recursos humanos estão alocados também aos centros de vacinação”. Como diretora executiva contratualizou com as unidades de saúde, nos últimos tempos, um fundo que se destina a reforçar as consultas nomeadamente no acompanhamento dos doentes de risco e de forma presencial, que inclui também a contratação de mais médicos. O ACES vai tentar ainda captar os utentes que se “acomodaram em parte à consulta telefónica e por isso dar-lhes acesso ao centro de saúde”.
Sofia Theriaga expressa que nesta altura estão a decorrer reuniões com todas as unidades “para percebermos o que tem corrido menos bem nos cinco concelhos e sob a forma de uma carta de compromisso corrigirmos as situações”. Está longe o desiderato de existirem médicos de família para os 49 mil utentes, mas “vamos assegurar os possíveis para os doentes de risco, ou portadores de doença aguda”, deixa a promessa, assegurando que nesta altura “estamos a normalizar para o antes da pandemia”. Faltam médicos e enfermeiros nos cinco concelhos, especialmente este último grupo profissional concentra-se agora nos centros de vacinação. “Nas consultas de planeamento familiar onde deveriam estar um médico e um enfermeiro, passou a estar apenas o médico e um assistente operacional”, dá conta para explicar a transferência daqueles profissionais para os locais onde se está a aplicar a vacina.
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