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O município de Azambuja deu luz verde em reunião de Câmara a dois megaprojetos de energia fotovoltaica no concelho – o primeiro em Vila Nova da Rainha pela Iberdrola Renewables Portugal SA num total de investimento avaliado em 40 milhões de euros, a construir em 200 hectares de terreno. Pretende vir a dar emprego a 260 pessoas na sua fase de construção. No local junto à A1 estão previstos 152 mil 440 painéis solares. Já em Alcoentre/Manique do Intendente, na Torre Bela, o projeto é de envergadura mundial, proposta das empresas CSRTB e da Aura Power Rio Maior previsto para uma área de 775 hectares, num investimento de 170 milhões de euros com a criação de 1000 postos de trabalho na fase de construção e 10 postos permanentes após esta fase.
A central está prevista para a quinta na parte em que fica de frente para a Companhia Logística de Combustíveis prolongando-se até à entrada de Alcoentre para um total de 638 mil 400 painéis solares. A proposta contou apenas com os votos a favor do PS, sendo que CDU e PSD votaram contra. Rui Corça, do PSD, diz ao Valor Local que a Câmara está a mostrar a mesma incompetência com que lidou com o caso do aterro. Já Luís de Sousa diz que o vereador laranja mais parece do Bloco de Esquerda ao estar contra um investimento desta dimensão no concelho. Quer um investimento quer o outro estão sujeitos a constrangimentos de Reserva Agrícola Nacional e espaço florestal. Sendo que em reunião de Câmara foi conferida a declaração de interesse público municipal a ambos, seguindo agora os dois projetos para a assembleia municipal. No caso do complexo que a Iberdrola quer construir em Vila Nova da Rainha o município pede para que a proposta seja aperfeiçoada com a indicação do número de postos de trabalho após a construção sendo que é imperativo que a empresa fixe a sua sede no concelho. No caso do investimento para a Torre Bela os constrangimentos são maiores à partida pois também está previsto para espaço de Reserva Ecológica Nacional. No total este parque fotovoltaico pode produzir energia elétrica suficiente para abastecer anualmente uma cidade com 110 mil habitantes. A área é a equivalente a 775 campos de futebol, mas choca com o facto de aquele ser um território florestal, agrícola, rodeado por uma unidade de paisagem particular. O grande desafio será passar no crivo do estudo de impacte ambiental onde várias entidades podem pronunciar-se. Sendo o que o Valor Local apurou junto da associação ambientalista Zero, a mesma não deixará de dar o seu contributo neste processo. Os solos da Torre Bela estão apenas previstos para uso agrícola admitindo-se outros usos como o habitacional, ou o turístico sendo que uma instalação deste tipo terá de reunir um largo consenso para ir em frente na fase do estudo de impacte ambiental, e quando submetido a entidades como a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo ou a Agência Portuguesa do Ambiente. Aquela localização está ainda sujeita a servidões como a conduta do Alviela, área de sobreiro e azinheira, linhas de água entre outras. O investimento a sul no concelho apresenta menos condicionantes, mais delimitado pela questão da proximidade à autoestrada e por estar integrado, se vir a luz do dia, em leito de cheia. Ambos os terrenos são propriedade de proprietários privados que os vão alugar aos grupos deste setor das energias alternativas. No caso da Quinta da Torre Bela os proprietários vão lucrar “neste arrendamento cerca de um milhão de euros por ano”, conta Rui Corça que manifesta - “É apetecível claro está!”. Rui Corça considera que “a Quinta da Torre Bela vai desaparecer” e com esta aprovação “a Câmara abre um precedente para que outros se instalem no concelho”. “Vai nascer um sol artificial ali entre Aveiras e Alcoentre porque este projeto na Torre Bela ocupará 80 por cento da quinta”. Para o autarca o investimento em especial o do norte do concelho não vai trazer benefícios, porque “são 10 postos de trabalho, e não sabemos que taxas é que vamos ganhar com isto, sendo que mesmo após a conclusão e no que toca a impostos indiretos também vem muito pouco para o município”. Como tal “não nos podemos dar ao luxo de abrir uma porta desta dimensão”.
O autarca diz que não está contra a produção de energias alternativas e amigas do ambiente “mas escusava de ser à custa do concelho de Azambuja”, elencando ainda a devastação em perspetiva da “fauna e da flora”. “Infraestruturas deste tipo nos Estados Unidos e embora de pequena dimensão têm levado à morte de milhares de pássaros por ano”, junta. O impacto “só para dar alguns exemplos causará uma descaracterização do concelho e com consequências nas vinhas e nos pomares adjacentes bem como no Paul de Manique pela intensidade do calor produzido”. Por outro lado, “este tipo de projetos não costumam ser implantados em zonas próximas de núcleos populacionais”. Segundo o autarca “na assembleia municipal tudo faremos para que os projetos sejam chumbados” e para que “Azambuja não seja agora o 'El Dorado' da energia solar pelos piores motivos”. Aos promotores “este investimento com cerca de 30 a 40 anos de vida útil pode render mil milhões de euros fazendo a conta por baixo”. O projeto da Torre Bela quando a funcionar vai conseguir satisfazer 10 por cento da necessidade de energia solar do país produzida por fontes não poluentes, e como tal no entender da Câmara de Azambuja é bem-vindo. Luís de Sousa, presidente da autarquia, ao Valor Local estranha a posição do vereador do PSD e refere que a procissão ainda agora vai no adro pois não faltarão pareceres das mais diversas entidades. Quanto aos benefícios ou prejuízos do projeto diz-se neutro – “No meu entender nem fico satisfeito nem insatisfeito se forem ambos para a frente”. Contudo refere que “não são conhecidas ilegalidades”, e portanto diz não compreender a aversão do PSD a estes projetos, sobretudo “quando é um partido de direita”. Luís de Sousa refere que está a tentar perceber a experiência do município de Santarém neste campo, pois para aquele concelho está previsto um investimento semelhante mas para 330 hectares. O autarca refere que a sua maior preocupação são as taxas a pagar pela empresa “porque de resto nada mais me preocupa”, não havendo até à data dados quanto a previsões no arrecadar de receitas. Luís de Sousa considera que o município está a estudar o que pode negociar, sendo que em cima da mesa está a criação de uma cortina arbórea na 366 e minimiza, ainda, a questão da devastação florestal pois “em grande medida estamos a falar de eucaliptos que são árvores que pouco interessam por causa dos incêndios, e que sugam as linhas de água necessárias à prática agrícola”. Contudo no projeto pode ler-se que em causa estão também sobreiros, espécie protegida, mas não é adiantado o número de exemplares a deitar abaixo se a central for para a frente. Quanto a contrapartidas, o autarca refere que está a tentar beber da experiência de Santarém para tentar perceber até onde pode ir. “Não vale a pena estarmos a fazer desde já um filme de terror à volta disto, ou um teatro como o vereador Rui Corça quando foi para o Facebook da Câmara durante a última reunião. Nós no PS não somos nenhuns patós que aqui andamos. Já viramos frangos há muito tempo”, conclui. Associação ambientalista Zero diz que avaliação de impacte ambiental é decisiva e país alcatifado a centrais não é boa ideia O Valor Local contactou as duas principais associações ambientalistas do país: A associação Quercus diz desconhecer o projeto e referiu que poderá falar do assunto em altura posterior quando já existir mais informação. Já a Zero- Sistema Terrestre Sustentável através do seu presidente, Francisco Ferreira, saúda este tipo de energia alternativa não poluente “até porque Portugal é um dos maiores produtores de energia solar e com um grande potencial pois estamos a falar de uma fonte barata e amiga do ambiente”. O futuro passa por aqui até porque está na mira o fecho de centrais a carvão no país. A demanda por mais produção elétrica está na ordem do dia e como tal “a energia solar contribui para a descarbonização” não obstante “alguns cuidados que têm de existir porque não devemos entrar em conflito com a necessidade de preservação de terrenos agrícolas ou de reserva ecológica”. “Alcatifar extensas áreas com centrais solares deve merecer grande ponderação”, conclui. Como tal a avaliação de impacte ambiental vai ser determinante para este tipo de projetos com vários passos a dar. “É um requisito indispensável e no passado já tivemos centrais viabilizadas e outras que não foram aprovadas”. Uma avaliação “transparente e honesta é o que desejamos neste processo”. A Zero “quis identificar junto do Governo quais as áreas no território adequadas à implantação de centrais solares, e com menos impacto no território, mas a nossa pretensão não foi aprovada”, lamenta Francisco Ferreira. Quanto ao facto de a central de Alcoentre estar prevista para uma zona próxima de núcleos populacionais, Francisco Ferreira diz que “não há problemas nenhuns no que diz respeito a impactes negativos para além do paisagístico” mas “se essa é uma zona de bons solos agrícolas talvez não se justifique ser invadida por painéis solares”. Já no caso do famigerado caso de morte de aves pelos aparelhos fotovoltaicos em causa, o ambientalista diz que não é algo valorizável, embora esta seja uma questão na ordem do dia em todo o mundo quando falamos no impacto dos painéis solares. |
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Não percebo porque não se investe esse dinheiro nos telhados das habitações.
Os grande fornecedores de energia que assim controlam o seu preço, criam seus lobies para dificultar a proliferação de micro geração .
Organizações que dizem defender o meio ambiente e as energias renováveis estão alinhados com os grandes produtores, por razões que cada um retire...
José Pereira
Viana do Castelo
23/12/2020 10:47
Tanto se fala em energia limpa e agora nao concordar nao faz sentido
António Ferreira
Aveiras de Cima
30/10/2020 17:47
Os grande fornecedores de energia que assim controlam o seu preço, criam seus lobies para dificultar a proliferação de micro geração .
Organizações que dizem defender o meio ambiente e as energias renováveis estão alinhados com os grandes produtores, por razões que cada um retire...
José Pereira
Viana do Castelo
23/12/2020 10:47
Tanto se fala em energia limpa e agora nao concordar nao faz sentido
António Ferreira
Aveiras de Cima
30/10/2020 17:47
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