Valor Local
  • OUVIR RÁDIO
  • EDIÇÃO IMPRESSA
  • ESTATUTO
  • CONTATOS
    • FICHA TECNICA
    • ONDE ESTAMOS
  • PUBLICIDADE
  • VALOR LOCAL TV
  • PODCASTS

Pedro Bastos, diretor do HVFX
Consultas a doentes fora da área do hospital já representam nove por cento

Quatro anos depois da sua inauguração, o Hospital de Vila Franca de Xira atende cada vez mais doentes na urgência, nas consultas, e o número de camas no internamento, por vezes,  já não chega para as encomendas. O objetivo passa por manter os padrões de qualidade e segurança apesar de algum subdimensionamento da unidade que tem vindo a conquistar vários reconhecimentos.
Sílvia Agostinho
​22-04-2017 às 18:54
Imagem
 Valor Local - Há quatro anos foi inaugurado o novo hospital de Vila Franca de Xira, qual o balanço passado este tempo?
Pedro Bastos – Não é sequer comparável o que havia antes e o que existe agora com este novo edifício. Ainda no antigo, entraram novas especialidades ao serviço da população: oftalmologia, neurologia, otorrinolaringologia, pneumologia. Existia uma lacuna nestas áreas, nomeadamente, na oftalmologia. Paralelamente o novo hospital foi também equipado com recursos técnicos que não existiam de todo antigamente. Deu-se um acréscimo muito significativo de médicos e de enfermeiros. Temos um hospital moderno, com uma qualidade significativa, e com uma ligação fortíssima à comunidade que queremos manter. Destaco ao fim de quatro anos a melhoria nas componentes da acessibilidade ao hospital, na qualidade do serviço, e na a segurança.

Ciclicamente, o hospital é falado tendo em conta as urgências e algum caos que se vive em diferentes alturas. A que se deve?
No ano passado, a urgência cresceu 10 por cento no hospital. A nível do país a afluência às urgências também cresceu na sua globalidade. Contudo os níveis de resposta que registámos este ano, foram diferentes dos que dispúnhamos para anos anteriores, com um reforço das equipas de urgência. Como sabemos 30 por cento da população não é servida por médico de família e isso reflete-se na afluência às urgências. Um terço dos doentes que chegam às urgências são os ditos menos graves; dois terços são mais graves, correspondendo às pulseiras amarela, laranja e vermelha de acordo com a triagem de Manchester. Nos mais graves, é superior à média nacional. Se me perguntar se tal se deve ao facto de haver menos médicos de família, e com isso as pessoas deixarem agravar o seu estado de saúde até virem ao hospital, diria que não consigo fazer essa ligação direta.

Mas das análises que o hospital faz com o Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo (ACES) a que conclusão tem sido possível chegar neste domínio?
Analisamos a origem dos doentes, para percebermos se há diferenças no que toca à eventual falta de médico de família. Mas de facto não conseguimos obter essa correlação. Apenas, o facto de as pessoas encontrarem no hospital uma solução. Talvez por nas urgências poderem fazer logo análises ou outros exames. Se os centros de saúde forem dotados de alguns meios tecnológicos, nomeadamente, raio x, patologia clínica, poder-se-á fazer com que muitas das pessoas que hoje vêm ao hospital deixem de o fazer. Em alguns locais já decorre este tipo de experiência piloto por parte do Ministério da Saúde.

Para um hospital novo, o número de camas no internamento, como é sabido, não é em número suficiente, existindo por vezes macas nos corredores.
Isso explica-se também tendo em conta que muitas das pessoas que entram na urgência, ficam depois internadas. Isto já acontecia no anterior hospital, mas como este ganhou uma atratividade maior essa realidade é mais visível.

Este ficou então subdimensionado?
Havia quem antes não procurasse o hospital antigo, e se deslocasse a Lisboa. Os dados estimados, à época, na altura do concurso, eram outros, e nós regemo-nos por eles. Possivelmente não se tendo em linha de conta este acréscimo, mas também porque o novo hospital ganhou uma nova atratividade. Fizemos uma evolução muito boa na cirurgia de ambulatório programada, que não carece de internamento. Mas não conseguimos a capacidade de camas médicas para a população que servimos, tendo em conta que muitos dos que entram na urgência acabam por ficar internados. Face a isto temos procurado uma gestão muito criteriosa do internamento no sentido, por exemplo, de termos os ditos enfermeiros de referência por piso que articulam com as famílias, com os próprios doentes, e outros profissionais de saúde. Temos o BI do doente com a referência ao nome do médico e do enfermeiro que o segue com indicação também sobre qual a data previsível da alta. Isto é importante para a sua família ou cuidador. Ao mesmo tempo, desenvolvemos um programa tendo como fio condutor uma transição segura para a comunidade em articulação com os centros de saúde. Um desses exemplos é o nosso programa “Vida Ativa” que ganhou o prémio Healthcare Excellence no âmbito da Ortopedia que visa formar os cuidadores uma vez os doentes em casa, tendo em conta que saem do hospital enfrentando novas realidades como o facto de passarem a andar com próteses.

Em entrevista há um ano e meio ao nosso jornal, o provedor da Misericórdia de Benavente lamentava-se do facto de que com a vinda do Grupo Mello para a gestão do Hospital de Vila Franca e a consequente absorção do concelho de Benavente (que passou a integrar a vossa área de abrangência), a ARS lhe tinha cortado as pernas, resultando numa acentuada diminuição ou eliminação de algumas especialidades no Hospital da Misericórdia, beneficiando em contrapartida o vosso grupo…
Essa é uma questão à qual somos completamente alheios. Compreendemos a posição do senhor provedor. As especialidades de que este hospital dispõe estão perfeitamente definidas no contrato de gestão com o Estado ainda antes de 2008, julgo saber, que não as podia repartir com outras entidades. Não conheço o contrato que existia antes com a Misericórdia. As razões do senhor provedor serão certamente muito válidas tendo em conta que teria um contrato em vigor, e se eventualmente depois o Estado não o conseguiu cumprir.

Este hospital ainda teria capacidade para absorver mais um concelho da região?
Com as dificuldades que já tem seria muito difícil conseguir abranger mais população do que a atual.

Com uma nova lei do Governo, o utente já pode escolher o hospital onde quer ser consultado, à exceção das urgências. Como está a ser a afluência de pacientes vindos de outros concelhos que não os cinco da área de abrangência?
Tem vindo em crescendo significativo, com muita população que nos procura proveniente das áreas limítrofes do distrito de Santarém como Cartaxo, Salvaterra de Magos, o próprio concelho de Santarém. Segundo dados de março deste ano, as referenciações de centros de saúde para áreas fora dos cinco concelhos de hospital com vista às consultas representam nove por cento.

Tendo em conta as dificuldades do hospital nas áreas do internamento de que temos vindo a falar, como é que se tem adaptado a mais este afluxo de doentes?
Temo-nos adaptado permanentemente a esta nova realidade. Se este número continuar a crescer, obviamente que a nossa capacidade de resposta não é ilimitada. Sabemos que temos tempos de resposta bons em consulta e cirurgia, não sendo tão altos como em outros hospitais. Face a isto penso que a intenção do Governo será a de harmonizar esses tempos de espera com a possibilidade de escolha por parte da população.

E no sentido inverso, há quem procure outros hospitais, abandonando o da sua área de residência neste caso o de Vila Franca?
Temos notado muito pouco, porque o número de consultas com origem nos centros de saúde tem continuado a aumentar. Sabemos de facto que a população que vive nas proximidades do Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, como a de Arruda dos Vinhos, procura essa unidade de saúde, até mesmo nas urgências. Respondendo mais diretamente à sua pergunta, posso dizer que temos os dados concretos visando o acréscimo de doentes de outras zonas fora da área de abrangência mas o contrário não. Terá de ser uma entidade central a fornecê-los. Não sabemos quantos estão a sair. Mas claramente estão a entrar mais.

Atualmente temos um Governo suportado por dois partidos que defendem o fim das parcerias público-privadas (PPP’s) também na área da saúde. Este passou a ser um fantasma para a vossa gestão sempre que algum político se lembra de acenar com a bandeira do fim das PPP’s?
O nosso trabalho não é político nem fazemos comentários políticos.

Mas não vos rouba alguma tranquilidade?
Não, porque a nossa missão é fazermos o melhor trabalho possível sempre em articulação com os centros de saúde, e prestar um bom serviço às nossas populações. Não temos preocupações do ponto de vista político. Apenas mostrar que somos eficientes a gerir um hospital público com uma entidade privada.

Este Governo também vos tem tratado da mesma maneira que os anteriores?
Não vemos qualquer tipo de alteração do ponto de vista do tratamento, da atenção, ou da preocupação. Não sei bem o que queria dizer com a sua pergunta.

Ultimamente têm vindo a público alguns estudos, apresentados pelo próprio Governo, evidenciando que apesar de todas as críticas os hospitais públicos, no cômputo geral, apresentam os mesmos graus de eficiência das parcerias público-privadas, com a consequente propagação da ideia, em alguns setores políticos, de que afinal até na Saúde as PPP’s são relativas.
Se analisarmos os dados concretos quer do ponto de vista da qualidade assistencial, quer do ponto de vista da acessibilidade das pessoas, e por último dos custos, excluindo qualquer valoração política, todos eles convergem no mesmo sentido dos benefícios das PPP’s para o Estado português.

Sabemos que o controle do défice tem levado a uma série de constrangimentos no que toca aos gastos do Estado. Tendo em conta esta realidade, até que ponto é que esta unidade de saúde também se tem ressentido, e se eventualmente o Estado vos está a ressarcir demasiado tarde em relação aos custos que o hospital enfrenta?
No nosso contrato com o Estado temos uma componente muito forte que nos é adiantada todos os meses, e há posteriori acarreta um acerto de contas no final do ano que é efetuado num determinado prazo previsto contratualmente. Os valores mensais que nos são enviados são feitos a tempo e horas. Não temos razões de queixa a nível de tesouraria.

Uma das novas especialidades é a Oftalmologia, onde o hospital pelo que sei não tem tido mãos a medir tal o grau de carência da população quanto a este tipo de cuidado de saúde, sobretudo se olharmos para os diabéticos, cada vez em maior número, também com um elevado número de patologias oftálmicas relacionadas com a sua doença como as retinopatias.
É um facto. Também por força do rastreio à diabetes que tem sido levado a cabo nos cinco concelhos por parte do ACES que depois nos são encaminhados. Trata-se de um excelente exemplo do que o Estado pode e deve fazer neste tipo de doenças.

Outra das novas especialidades é a psiquiatria, que novos dados também têm sido possíveis de apurar?
Tem quatro anos neste hospital e tem vindo a afirmar-se de uma forma muito significativa na comunidade quer nos adultos quer nas crianças – pedopsiquiatria. Temos dado uma resposta importante à comunidade que antes não a possuía, tendo de se deslocar a Lisboa. Quanto a um quadro a traçar neste domínio, como sabemos temos duas áreas distintas nestes cinco concelhos, uma mais suburbana e outra mais rural. A idade avançada da população também predispõe ao despoletar determinados quadros neurológicos e psíquicos.

Um dos temas incontornáveis sempre que se fala deste hospital é o do estacionamento. A Câmara já se referiu à possibilidade de criação de mais alguns lugares…
Como se sabe o estacionamento não é da nossa gestão. Temos essa preocupação porque esse problema também se reflete no nosso trabalho. Sabemos de soluções que estão em cima da mesa que permitirão melhorar a acessibilidade com projetos já em execução. Poderemos ter novidades lá mais para o fim do ano.

E essa obra consiste em?
Trata-se de uma obra nos terrenos do hospital, nomeadamente, na parte traseira do edifício.

Nos últimos anos, o Hospital recebeu a acreditação da Joint Commission International, aliás muito desejada por vós, o que mudou desde essa altura?
Desde a primeira hora que decidimos investir fortemente na qualidade e na segurança. Foram dados passos conducentes à certificação do hospital. Em algumas certificações até fomos pioneiros a nível nacional. Em 2014 fomos de facto acreditados pela Joint Comission, a mais exigente a nível mundial. O nosso trabalho é permanente nessas duas componentes da segurança e da qualidade do doente. Estas acreditações são verificadas anualmente, e as reacreditações de três em três anos. Esperamos voltar a reunir todas as condições para tal em 2017. Também a nível nacional temos somado algumas distinções ao sermos, em 2016, o segundo hospital do país a conseguir a melhor pontuação nas diversas áreas no benchmarking da entidade reguladora da saúde. Estamos ainda entre os três melhores hospitais comparáveis a nível nacional.

Se consultarmos o Portal da Queixa identificamos algumas em relação a este hospital. Quase sempre há uma resposta para cada uma dessas queixas. É também política vossa não deixar ninguém sem resposta?
Em primeiro lugar é uma exigência legal. Sei que nem todos o fazem. Tentamos verificar as situações e responder da melhor forma, independentemente de a queixa ser ou não mais bem fundamentada. Mas também respondemos às que são deixadas no livro de reclamações. Esta área das queixas é fortemente supervisionada pela entidade reguladora da saúde. Posso-lhe dizer e com dados reportados a março, que temos mais elogios do que queixas no livro do hospital. As reclamações têm descido ao longo do tempo. Havendo mais elogios do que queixas se não estamos a falar de caso único a nível nacional andamos lá perto.

Como é que é também incutida essa cultura da exigência de que temos vindo a falar sempre que um novo profissional chega a este hospital?
Para além da cultura da casa que existe, damos muita formação às pessoas, que passa em primeiro lugar pelo acolhimento, dando a conhecer o hospital e os nossos valores. Também fornecemos formação comportamental cujo objetivo passa por ir além do próprio ato de tratar mas também de cuidar. Sermos empáticos. Essa componente é claramente trabalhada e insere-se no Movimento “Cuidar mais” da José de Mello Saúde. As pessoas têm de sentir confiança nos profissionais, que não advém somente do facto de determinado ato médico ter sido corretamente realizado, mas inclui um outro conjunto de aspetos que vai desde a limpeza passando pela segurança, alimentação, e a nossa capacidade de sermos empáticos e simpáticos.

Exigir a um determinado profissional que seja mais empático nem sempre será fácil, porque há quem por natureza seja mais frio.
Concordo, mas a cultura da nossa instituição vai nesse sentido para que o profissional seja o mais empático possível. Queria ainda salvaguardar na componente da formação que todas as pessoas que trabalham neste hospital sabem fazer suporte básico de vida. E uma parte significativa tem formação em suporte avançado de vida. Sabemos, inclusivamente, de pessoas que aqui trabalham que já usaram esses conhecimentos fora do hospital em casos em que foi necessário salvar vidas.

Recentemente o Sindicato dos Enfermeiros emitiu um comunicado em que acusava este hospital de estar a sobrecarregar os enfermeiros, e que por outro lado assiste-se a uma escassez de profissionais.
Nos últimos três anos contratámos 80 enfermeiros. Subimos em 24 por cento o número de dotação de enfermeiros neste hospital.

Mas não trabalham demasiadas horas?
Apenas trabalham as horas que são legais. Nesse comunicado diz-se que os enfermeiros trabalham 12 horas, mas apenas o fazem aqueles que pediram. Não foi uma imposição do nosso lado.
​
Não se deveu a forças de circunstância que obrigaram esses profissionais a ficarem mais tempo no hospital porque o serviço assim os exigiu?
Há dotações normais dos serviços de enfermagem ao longo de todo o ano. Nas alturas mais críticas, essas dotações são reforçadas, nomeadamente de inverno. Quando necessário recorremos a mais enfermeiros para virem trabalhar. Se algum enfermeiro tiver de faltar ao seu turno, podemos solicitar ao que está no anterior para prolongar o seu turno, mas isto é prática comum em qualquer hospital.

Comentários

Seja o primeiro a comentar

    A sua opinião conta:

Submeter

Outras Notícias

Imagem
Luz verde para a compra da Marinha de Vila Franca pela Câmara
Imagem
Com sede no Bairro da Ónia, Azambuja: Biosurfit empregará 150 pessoas até 2019
Imagem
Um Dia no Campo regressa a Aveiras de Baixo
Imagem
Imagem

Leia também 

Picture

Carregado: Barrada o Retrato de um bairro em Transformação

Esta é uma zona do concelho de Alenquer onde as comunidades estrangeiras escolheram estabelecer-se​
Picture

Higiene e Limpeza Urbana: Luta sem Tréguas

Principais dificuldades sentidas em vários concelhos da região
Picture

O Apelo da Solidariedade

Quatro exemplos de dedicação a várias causas na região

Jornal Valor Local @ 2013


Telefone:

263048895

Email

valorlocal@valorlocal.pt
  • OUVIR RÁDIO
  • EDIÇÃO IMPRESSA
  • ESTATUTO
  • CONTATOS
    • FICHA TECNICA
    • ONDE ESTAMOS
  • PUBLICIDADE
  • VALOR LOCAL TV
  • PODCASTS