E assim termina mais um ano. Sem qualquer intuito de fazer política nesta coluna – no sentido mais estrito da palavra, a política partidária por onde me tenho abstido de enredar -, este ano que agora está prestes a findar foi um ano que fez ressurgir alguma esperança e otimismo para todos nós, portugueses. O nosso País mereceu o reconhecimento internacional de muitos dos nossos compatriotas com enorme mérito, em matérias tão diferentes como o futebol, a investigação científica e culminando com a eleição de António Guterres para Secretário-Geral da ONU, aquele que é – ou deveria ser – o cargo mais importante a nível mundial. Por outro lado, a nível interno, é um facto indesmentível que a nossa situação económica melhorou – não só ao nível de indicadores económicos mas no dia-a-dia do cidadão. As medidas redistributivas e a reposição de alguns rendimentos – não tanto como seria desejável, mas o possível – tornaram a vida dos portugueses, especialmente dos de mais fracos rendimentos, menos insuportável.
É claro que há coisas incompreensíveis e revoltantes, como a “comédia” Caixa Geral de Depósitos e os escandalosos vencimentos que foram permitidos à Administração. E deixem-se lá de m…..! Para governar um Banco como a CGA apenas é preciso ser sério e não embarcar em aventuras, muitas das vezes mais determinadas por interessas próprios do que da Instituição. Cá pelo burgo concelhio, a coisa vai quentinha, com o aproximar das Autárquicas e o frenesim partidário que esse facto origina.
Mas também o passar do ano arrasta consigo alguns atos falhados e alguns amargos de boca que vão passando de ano para ano – e, neste caso, estou a referir-me ao perpetuar da tragédia que é o estado da Estrada Nacional 3. A EN3 é uma estrada completamente desadequada aos tempos modernos e às necessidades atuais de tráfego automóvel em todo o seu troço entre Santarém e o Carrregado – daí, a existência, há vários anos, de um pré-traçado de alternativa entre estas duas localidades, que remeta o actual traçado para troço secundário e urbano.
Mas neste momento o que nos preocupa é o verdadeiro matadouro humano em que setransformou o troço entre os Arneiros e Vila Nova da Rainha. Trinta mortos em 15 anos, centenas de acidentes e feridos graves, pessoas que ficaram incapacitadas, famílias destroçadas. E tudo sob o olhar sobranceiro do Estado e dos sucessivos Governos.
Durante os doze anos em que fui Presidente da Câmara, desenvolvi uma luta incessante no sentido de esse troço de estrada ser sujeito a uma intervenção de fundo, que passava pela construção de rotundas e separador físico, que inviabilizassem a viragem à esquerda, e a duplicação para quatro faixas. Conseguiu-se assinar um Acordo com o Governo Sócrates, em 2008, em que este se comprometeu a intervir de imediato na EN 3. Tudo em vão, apesar das dezenas de reuniões com Ministros, Secretários de Estado, Directores de Estradas disto e daquilo, Estradas de Portugal. Nada!
Tenho a consciência plena que fizemos tudo até aos limites e, por essa razão, não me povoam os sonhos nem me doem na consciência os mortos da EN 3, até porque intervimos muito mais do que aquilo que nos era devido: as rotundas de entrada e saída de Azambuja foram feitas pela Câmara, bem como a dos Casais de Baixo e a da Modis. Negociámos com todos os promotores a cedência duma faixa de terreno, onde fosse necessário, para o respetivo alargamento. Apresentámos soluções técnicas e muitas vezes vim de Lisboa otimista, sem contar com a hipocrisia de todos os que tinham poder de decisão neste processo. Ingenuidade minha!
O que me rói a consciência é o facto de não ter conseguido levar as entidades públicas “ ao tapete”, o que me revolta é ter visto, enquanto nada se fazia na EN 3, ter sido construída, por motivos insondáveis, uma plataforma fantasma na Castanheira – sem querer expressar qualquer falta de solidariedade para com os nossos vizinhos, mas a verdade é essa - , com direito a nó de inserção na A1 e tudo e onde, até hoje, que eu saiba, não se instalou uma única empresa!
Por isso, penso que isto já ultrapassa a esfera política e que será a sociedade civil que se terá de organizar para evitar que continue a matança.
Por isso aderi na primeira hora ao movimento cívico Plataforma EN 3 e integro a sua comissão organizadora, juntamente com a Inês Louro e o André Salema (que para além de ter perdido um irmão nessa fatídica estrada, conhece bem, como Presidente dos Bombeiros, os dramas que por ali se desenrolam). Por isso estou disponível para todas as iniciativas que a Plataforma EN 3 resolva tomar, no sentido de obrigar o Estado a honrar os compromissos assumidos em 2008 – com direito a publicação em Diário da República e tudo -, desde os mais suaves ate aos mais radicais.
Não sou homem de radicalismos. Sei que há medidas intermédias que podem minimizar os riscos da circulação na EN 3 e com certeza que a plataforma vai tomar iniciativas junto das entidades competentes – Câmara, Estradas de Portugal, Promotores instalados na zona- para que essas medidas sejam tomadas.
Mas a solução do problema passa inevitavelmente pelo projeto de fundo que foi contratado com o Governo, e temos que atuar junto de Ministérios , Assembleia da República e Comunicação Social ( o quinto órgão de soberania do País…), nem que para isso tenhamos que ir até às medidas mais radicais. Eu cá por mim, embora já “usado” e desgastado, ainda consigo, com a companhia de alguns conterrâneos, atravessar-me deitado na EN 3 e impedir que Lisboa seja abastecida de tudo o que vai da nossa plataforma logística à custa da morte dos nossos conterrâneos ou de quem circula nessa estrada da morte. Por isso deixo aqui um apelo para que todos os nossos conterrâneos, de Vila Nova da Rainha a Vila Nova de S. Pedro, adiram à Plataforma EN 3, começando por assinar o abaixo-assinado por forma a que o assunto seja obrigatoriamente discutido
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