População de Casais das Boiças sente-se enganada por promotor da Torre Bela e ameaça com providência cautelar
Traçado da Linha de Muito Alta Tensão enviado para a APA não foi o prometido. Câmara de Azambuja não supervisionou e foi surpreendida. Aura Power acusada de não querer chocar com os proprietários da Torre Bela, e assim prejudicar a população
|21 Maio 2022 19:05
Sílvia Agostinho É um autêntico balde de água fria para a população de Casais das Boiças, na freguesia de Alcoentre, que há cerca de um ano encetou uma luta pela deslocalização da Linha de Muito Alta Tensão (LMAT) que faz parte do projeto fotovoltaico da Torre Bela, do interior da localidade para a zona do olival da Torre Bela, mais longe das casas, de modo que não causasse incómodos, mas volvidos vários meses tomou conhecimento que tudo permanece mais ou menos na mesma.
O promotor composto pelas empresas Aura Power e CSRTB Unipessoal Lda entregou na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) uma proposta de traçado em tudo semelhante à primeira com algumas ligeiras nuances, mas que a ir para a frente continuará a passar por cima de Casais das Boiças que já convive há décadas com outras duas linhas do mesmo género e não quer uma terceira. Numa reportagem do Valor Local efetuada em maio do ano passado, assistimos a relatos da população que se queixava de diversos problemas de saúde relacionados com esta realidade na localidade. No dia 11 de maio, a população reuniu-se com o presidente da Câmara Silvino Lúcio e com o presidente da junta de Alcoentre, Francisco Morgado, mas sem a presença do promotor que não conseguiu estar presente, para exigir uma tomada de posição. António Loureiro, uma das vozes deste movimento de cidadãos de Casais das Boiças, referiu-se a esta terceira proposta de traçado (recorde-se que houve uma segunda que passava na localidade de Alcoentre numa zona ainda mais populosa e que também não foi do agrado da população) como “uma operação de cosmética”. Em declarações ao Valor Local, o habitante de Casais das Boiças declarou que de forma “cirúrgica”, o promotor afastou a linha “das casas de três moradores em específico”, nomeadamente, os que têm estado na linha da frente na oposição ao traçado – António Loureiro, Francisco Dionísio, e Patricia Pellissier. “Continuamos contra este traçado proposto, quando o que queremos é a sul, por cima das oliveiras, devendo entroncar com o corredor que vai levar energia para Rio Maior”. Salientando que a ir para a frente o que está em cima da mesa “vai desvalorizar terrenos e as pessoas não vão ficar a residir na terra”. Ainda em declarações ao nosso jornal, Loureiro explica que na prática este corredor é igual ao outro, e “nalguns casos até se aproxima mais de algumas residências, nomeadamente, na denominada zona dos Coelhitos”. Já Francisco Dionísio, outro habitante, referiu que a empresa continua a brincar com a saúde das pessoas – “Há alternativas viáveis com a passagem da linha por cima de mato, e de oliveiras, onde não mora ninguém, mas preferem continuar a prejudicar os habitantes”. O morador referiu que investiu muito na sua casa e que não está disposto a desvalorizá-la patrimonialmente com a nova LMAT, referindo-se ao desenho do projeto como o triângulo da morte, com a vinda de uma terceira linha para a povoação. “Vai descaracterizar toda a área entre Casais das Boiças e Alcoentre”. O munícipe não tem dúvidas que se a LMAT avançar nas atuais condições vai enveredar pelas vias judiciais com a apresentação de uma providência cautelar, e se preciso for recorrendo a “instâncias europeias”. Rui Seabra, é outro habitante de Casais das Boiças, a quem, neste caso, a empresa propôs-lhe uma compensação de 1100 euros para que pudesse ser colocada na sua propriedade uma estrutura de apoio. Contudo recusou porque pretende construir no local uma casa para a filha. “É de lembrar que eles não têm direito de expropriar ninguém, porque não estamos a falar em terrenos que se situem em alguma servidão do domínio público”. O morador está muito angustiado com a terceira proposta de traçado que no seu caso fica ainda mais próxima da sua casa do que as anteriores. “Não quero ficar intoxicado com mais alta tensão. Isto é tudo muito ilógico e é uma falta de respeito pelas pessoas”. Na reunião, o presidente da Câmara, Silvino Lúcio, denotou não estar a par das démarches que a empresa possa ter tomado desde há um ano para cá, sendo certo que a Aura Power assegurou que estava disponível para ir de encontro às pretensões dos habitantes, que nesta altura não têm dúvidas de que o promotor não quis desagradar ao seu “senhorio”, os proprietários da Torre Bela no fundo, e arriscou em manter praticamente o mesmo traçado. “Mas afinal o que é mais importante, as oliveiras ou as pessoas?”, atirou Zélia Nobre, moradora também presente na reunião. Instando pelo Valor Local, quanto ao facto de a Câmara ter perdido a liderança deste dossier aquando do envio do terceiro traçado para a APA ao não ter monitorizado junto do promotor se de facto a proposta era a desejada pela população, Silvino Lúcio reconhece que lhe falta alguma informação, mas diz-se disposto a ir até ao fim nesta luta da população de Casais das Boiças – “Vamos ver como é que vai ser! Vamos falar com o proprietário no sentido de o sensibilizar que o traçado mais correto é o que passa por cima das oliveiras, porque não o prejudica. Não serão meia dúzia de postes que vão estragar o olival”. O Valor Local contactou o antigo presidente da Câmara Municipal de Azambuja, Luís de Sousa, que confirma que a empresa se comprometeu, (numa reunião que teve lugar ainda antes do envio do traçado para a APA, e onde estiveram presentes para além de si, o presidente da junta de Alcoentre, os moradores António Loureiro, Patricia Pellissier e Francisco Dionísio) a desenhar o corredor de acordo com as pretensões da população. Luís de Sousa refere que ficou convencido de que a empresa ia cumprir a sua palavra tanto mais que as palavras do promotor foram ditas na presença dos responsáveis autárquicos e da população. Ao Valor Local, Simon Coulson, CEO da Aura Power, no último email trocado com o nosso jornal, já este ano, referiu que não ia prestar mais declarações sobre o parque fotovoltaico da Torre Bela e respetiva LMAT. Não deixe de ler:
Comentários Impedir, impedir, impedir… são interesses de alguns e não de todos. São grupos enormes, milionários e manipuladores, arrasam tudo, matam tudo e acham que tudo tem que ser em seu proveito. As muitas pessoas que já morreram com cancro e outras que lutam contra nos Casais das Boiças são inúmeras, a desvalorização do bem imobiliário e a desertificação é tudo o que resta se essa linha for construída. Se querem parques para produzir energia façam passar as Infraestruturas dentro daquilo que lhes pertence ou façam uma proposta mais ecológica aproveitando os muitos telhados que já existem aplicando paineis de forma gratuita dando à população energia grátis ajudando assim ao nível de vida que já é tão baixo e assim o excedente da energia recuperavam para fazerem o que quisessem… Telma Lobato 22-05-2022 às 09:08 |
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