População de Trancoso teme passar por novo inferno com reativação das pedreiras
Apesar das garantias da empresa que vai iniciar a exploração ainda este ano
|25 Março 2022 11:59
Sílvia Agostinho O fantasma da reativação de uma das pedreiras existentes em Trancoso na União de Freguesias de Alhandra, S. João dos Montes e Calhandriz começa a manifestar-se. Está para começar a extração de calcário na pedreira pertença da empresa Batalha dos Anjos Lda que a adquiriu à Mota-Engil. A pedreira tem uma área de exploração de 275 mil 258 m2. Durante o mês de março decorreu uma reunião entre moradores, empresa, Câmara de Vila Franca e junta de freguesia, e apesar de os novos donos da pedreira terem deixado algumas garantias de forma a sossegar a população, ainda permanecem bem vivos os traumas que a pedreira da antiga construtora do Tâmega deixou quando na década de 2000 se trabalhou a todo o gás das seis da manhã à meia noite, durante dias e dias seguidos, com vista à construção da autoestrada 10 no troço entre Loures e Arruda dos Vinhos, com a população a pagar a fatura dos incómodos.
Sónia Reis e José (nome fictício porque diz não querer arranjar engulhos depois da reunião com a empresa) são dois dos moradores de Trancoso. Em particular, José lembra-se da paisagem natural que rodeava a localidade com árvores de fruto, e muitos animais mas que foi substituída por uma coroa de crateras que envolve, atualmente, a localidade de Trancoso por força da exploração das pedreiras. A antiga construtora do Tâmega abriu falência e hoje é a Tâmega Engineering, contudo o cenário deixado após as obras da A10 permaneceu durante muito tempo – “Tinha uma área de exploração de 400m2 e extravasou todos os limites e não se efetuou qualquer tipo de requalificação durante muitos anos. Serviu para depósito de todo o tipo de detritos, como bidons, pneus, chapas, mas chegou-se ao cúmulo de se deitar para lá peles e cabeças de javalis”. Há pedreiras na zona que têm sido exploradas ao longo do tempo, mas que deixaram de ter “guarda e o alvará inscrito no portão e passaram a servir de caixote do lixo”. Entretanto há cerca de um ano e depois de algumas queixas, a pedreira foi tapada e passou a ser supervisionada, “o que não invalida o que já enterram”. A população não quer voltar a sentir as detonações como aconteceu no tempo da construção do troço rodoviário e isso foi deixado claro na reunião com a Batalha dos Anjos Lda, que deu essa garantia à população de que tentaria por força de tecnologia existente nos nossos dias minorar essa questão. José recorda – “Na altura da A10 imagine o que era estarmos aqui no clube e os copos tremerem por todos os lados, para além das fissuras que os rebentamentos deixavam nas fachadas das casas. Reparámos as nossas casas, e agora alguém nos vem dizer que vai voltar tudo outra vez”. “Tiveram a hombridade de marcar esta reunião connosco. A própria Câmara tem sido mais dialogante do que no tempo de Alberto Mesquita mas estamos expectantes quanto ao que vamos ter daqui para a frente”, acrescenta Sónia Reis. Os vários atores envolvidos predispuseram-se a comunicar “sempre com a população”. Quanto às garantias deixadas foi dito que proceder-se-ia à instalação de sismógrafos e aparelhos de medição da qualidade do ar. Para já a empresa “andou a arranjar os acessos e a arrumar a casa por assim a dizer”, sendo que a atividade extrativa ainda não foi iniciada. A cortina de pó que se formava aquando da exploração da antiga construtora do Tâmega ainda está bem presente na memória dos moradores, “com a fruta dos pomares aqui perto a ficar completamente branca”. É algo que esperam que não se venha a repetir. A Batalha dos Anjos Lda comprometeu-se ainda a fazer circular os seus camiões por acessos exteriores à localidade de Trancoso referindo ainda que a atividade será muito circunscrita, sendo que ficou assente “que a produção é para consumo interno das obras deles, as máquinas a utilizar serão de menor dimensão, e que não vão trabalhar todos os dias”. Um cenário pintado com cores agradáveis e que os moradores esperam para ver. Quanto à assunção dos custos em caso de danos provocados “não evidenciaram isso porque entendem que não vão existir”, referem os dois moradores. Sobretudo porque “têm licença para o dobro da área que está a descoberto nesta altura”, evidencia José. Até ao final doa ano, a empresa deve iniciar os trabalhos no terreno. Presente na reunião, o presidente da União de Freguesias de Alhandra, S. João dos Montes e Calhandriz, Mário Cantiga, diz ter ficado satisfeito com a reunião, sendo que teve a sensação de que a população “também ficou porque estabeleceu-se uma relação de compromisso com o proprietário da pedreira que deixou uma série de garantias que esperamos venham a ser cumpridas”. “Mostraram disponibilidade para se minimizar ao máximo os impactes da pedreira na vida das pessoas com diálogo permanente”. O Valor Local enviou uma série de questões à Câmara de Vila Franca junto do presidente Fernando Paulo Ferreira sobre este tema mas não obtivemos respostas. Comentários
Se começar a haver rebentamentos , vou manisfestar a minha revolta pois pago as minhas contribuições , e vou até onde for preciso. Só gostava de saber o que a Câmara recebeu para contribuir com uma aberração destas aqui num meio urbano. Deonilde Silveira 26/03/2022, 23:28 |
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