POR LINHAS DIREITAS
Opinião António Jorge Lopes: "Quando o Voto se Torna Livre" A propósito das eleições presidenciais do passado domingo, deixo aqui algumas breves notas sobre a votação no concelho de Azambuja, salvaguardando que há temas que mereciam uma análise mais profunda e longa
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|31 Jan 2021 14:43
A propósito das eleições presidenciais do passado domingo, deixo aqui algumas breves notas sobre a votação no concelho de Azambuja, salvaguardando que há temas que mereciam uma análise mais profunda e longa.
A primeira nota vai para o nível de participação eleitoral. Apesar da pandemia do COVID-19 (ou por causa dela) ainda exerceram o seu direito de voto 7982 eleitores. Face ao anterior acto eleitoral para a Presidência da República votaram menos 1123 eleitores, fixando a abstenção em 55,23% (valor inferior à média nacional que atingiu os 60%). Esta participação cívica é de louvar porque as condições para o exercício da mesma não foram “normais”! Foi preciso ter paciência nalgumas mesas de voto e coragem para enfrentar o “bicho mau” que por aí anda. A este propósito manifesto aqui o nosso agradecimento a todos aqueles cidadãos que participaram e organizaram as assembleias de voto! Sem eles o acto mais sublime da Democracia não poderia ter sido realizado: votar em liberdade. A segunda nota é óbvia: Marcelo Rebelo de Sousa também venceu confortavelmente no concelho de Azambuja, com uns expressivos 60,76% (conquistando mais 916 votos do que nas eleições de 2016). E convenhamos: a tarefa não era díficil perante a “miséria” de candidatos alternativos! Marcelo foi o único candidato com perfil e estatura presidencial. Por isso, o candidato do centro (nas palavras de Rui Rio), da “direita democrática” (nas palavras de Ana Gomes) e da “direita social” (nas palavras do próprio) mereceu a confiança da esmagadora maioria dos cidadãos moderados. A terceira nota é a confirmação de uma (aparente) surpresa. Pela primeira vez, desde o 25 de Abril de 1974, um candidato não oriundo da esquerda ultrapassa a fasquia dos 50% de votos no concelho de Azambuja. Mesmo quando vitorioso em termos nacionais, até domingo passado nunca o candidato do centro-direita tinha conseguido chegar aos 40% de votação. Obviamente que este resultado é do próprio Marcelo Rebelo de Sousa e não pode nem deve ser apropriado por quem quer que seja. Mas é impossível não esboçar um sorriso quando recordamos que Marcelo como tantos outros dirigentes e simpatizantes do PSD foram cá carimbados de “fascistas” ao longo de todos estes anos… Enfim!... Agora os “fascistas” já são outros!... Por falar em “fascistas”, é tempo da quarta nota. O candidato da direita radical (há quem lhe chame também direita antisistémica ou extrema-direita) conseguiu no concelho de Azambuja 1166 votos, sendo o segundo candidato mais votado com 15,04% (o que é um valor superior à média nacional e é o valor mais alto do distrito de Lisboa…). Tenho para mim que este voto em André Ventura não foi nem é ideológico, mas foi meramente de protesto. Como o socialista Sérgio Sousa Pinto disse há dias, os eleitores de Ventura e do Chega! não são fascistas, são “fartistas”. Estão fartos do actual sistema e da actual situação económica e social e anseiam por uma mudança rápida.
Confesso que este resultado eleitoral de Ventura não me espantou. Aliás, apenas confirmou as linhas direitas que aqui escrevi há uns meses e que agora relembro: “Quanto mais o “sistema” é tomado e absorvido por um partido político (seja ele qual for) mais rapidamente os eleitores descontentes e desiludidos “descarregam” o seu voto em soluções radicais ou extremistas, sejam elas da esquerda ou da direita. Aliás, o crescimento evidente do CHEGA mais não é do que a revolta contra os “donos disto tudo”. Cabe aos cidadãos moderados, muitos deles abstencionistas desesperançados, contribuirem para a edificação de soluções equilibradas que travem os “donos disto tudo” e tornem irrelevante os focos de radicalismo ou de extremismo.” Fim de citação. Quinta e última nota. No concelho de Azambuja a soma dos votos do candidato de centro-direita, do candidato da direita radical e do candidato da direita liberal (Tiago Mayan) atingiu os 75%. Este facto sinaliza que, aparentemente, o eleitorado no concelho de Azambuja deixou de votar em função da “camisola” e sempre para o “mesmo lado”, mas que passou a votar em função do órgão político concreto, das circunstâncias de cada momento e do respectivo candidato. E se assim é o voto livre libertou-se. |
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