
Sílvia Agostinho
25-01-2016 às 18:33
Numa altura em que a alimentação saudável ganha adeptos, e os consumidores são cada vez mais exigentes quanto à segurança alimentar, fomos conhecer alguns agricultores da região que se dedicam ao cultivo do milho OGM, o único produto aprovado para Portugal. O tema dos transgénicos desde sempre se assumiu como fraturante em Portugal e no resto do mundo, e este é um debate que está para durar. Na passada semana na Assembleia da República, foi apresentada uma proposta de projeto - lei pelo PCP e Verdes para abolir esta cultura do país.
Pedro Botelho, da Herdade da Adema, e como tal proprietário na região da Lezíria, concelho de Benavente, é agricultor há quase 40 anos, e confessa que não teve dúvidas quando decidiu dedicar-se à cultura do milho geneticamente modificado. Apesar deste ser para muitos um mundo desconhecido, e causador de receios, Pedro Botelho refere que encarou com naturalidade a possibilidade de cultivar milho transgénico, que acredita ser o futuro da Agricultura em todo o mundo.
Há dois anos que não faz plantação de milho deste tipo, mas por uma questão de oportunidade, depois de quatro anos seguidos dedicados ao seu cultivo, e refere que se voltar a plantar este cereal optará “com certeza pelo transgénico”. O agricultor explica que frequentou ações de formação através da multinacional Pioneer, também presente em Portugal, subsidiária agrícola da Dupont – um dos gigantes mundiais das sementes transgénicas a par da Monsanto e da Syngenta.
“Nessa formação tive de me certificar um bocadinho acerca das regras do jogo”, que não esconde serem muito apertadas. O cultivo do milho transgénico obedece a critérios que implicam a observação de uma distância de segurança igual ou superior a 200 metros em relação a campos com sistema de produção convencional e de 250 metros para os de produção biológica. Os agricultores que se dedicam ao cultivo de milho correspondente à designação "Organismo Geneticamente Modificado! (OGM) têm ainda de avisar os vizinhos de que o estão a fazer, frequentar ações de formação, nomeadamente, sobre as medidas de minimização da presença acidental de pólen nas suas culturas, e proceder a toda a rotulagem do produto com a referência a esse tipo de agricultura.
“Foi relativamente fácil implementar essas regras”, elucida o agricultor que fez um cultivo em cerca de 40 hectares. Ao lado possuía campos de milho convencional, que julga não terem sofrido contaminação.
Entre as diferentes vantagens que encontra no cultivo de OGM salienta o facto de ser “mais amigo do ambiente”. “Não estamos a aplicar fosfatos que se lixiviam para os lençóis de água, nem inseticidas”. A variedade transgénica introduzida em Portugal é a MON 810, autorizada pela Comissão Europeia, e específica no combate à broca, responsável por perdas significativas nas colheitas do milho convencional. E como tal, Pedro Botelho avança – “ Na cultura do milho tradicional, aplicamos produto que não chega para exterminar a lagarta, que comeu a maçaroca quase toda, enquanto no transgénico o vegetal tem um aspeto ótimo, não há bicho nenhum”. Os prejuízos na cultura tradicional podem chegar aos 20 por cento com perdas de duas a três toneladas por hectare. Para um campo, o agricultor exemplifica que consegue 17 mil hectares em milho transgénico para 14 mil no convencional.
Por outro lado, o agricultor avança que no cultivo do arroz através da prática “Clearfield” consegue usar sementes geneticamente modificadas “de venda livre no mercado”, em que “não é necessário frequentar formações, nem atender a requisitos impostos pelo Estado, com caderno de encargos”, e quando se trata de um produto que entra diretamente na cadeia alimentar humana, ao contrário do milho que se destina em exclusivo ao mercado das rações. “A semente não se faz muito porque é cara. Há infestantes muito resistentes da mesma estirpe do arroz bravo, e essas sementes limpam os campos”. Quando lhe perguntamos se esse arroz é transgénico, considera que não - “Até porque já nem sei se o milho pode ter essa designação”, isto porque “o que vemos é que os grãos do milho que ficam no chão de umas colheitas para a os outras, e que dão origem à nova sementeira perdem o seu caráter transgénico, porque o novo cereal, uma espécie de filho do transgénico, nasce cheio de parasitas, e disto fala-se pouco”.
Luís Grifo, engenheiro da Pioneer, ouvido pelo Valor Local diz que as plantas originadas pela semente de um híbrido simples (F1) são na sua totalidade iguais entre si e com idênticas capacidades. No entanto a descendência dessas plantas (a 2ª geração ou F2) dá origem a novas plantas completamente distintas entre si e cada uma delas com características únicas, podendo ou não reter algumas das características das plantas que lhes deram origem. Assim sendo, “é natural que a esmagadora maioria das plantas remanescentes não apresentem tolerância à broca e não tenham, inclusive, o mesmo potencial produtivo, tal a heterogeneidade entre elas”.
Pedro Botelho refere que duvida que o cultivo de OGM possa de facto ter os efeitos perversos ilustrados por diferentes atores da comunidade científica mundial – “Tudo isso ainda está de facto por provar”. Na ida aos supermercados, e quanto à possível compra de óleos alimentares feito com recurso a OGM, confessa que se preocupa com as possíveis implicações dos transgénicos na saúde humana, mas o facto de assistir ao dito fenómeno das sementes filhas dos transgénicos colocou-o “mais à vontade”. Por esta ordem de razões, e nas palavras do agricultor, a carga transgénica do milho dilui-se com facilidade. “Estou absolutamente convencido de que no grão não se transmite nada”. Por outro lado, “a planta do milho é estudada de uma tal maneira que não há como ter dúvidas.
25-01-2016 às 18:33
Numa altura em que a alimentação saudável ganha adeptos, e os consumidores são cada vez mais exigentes quanto à segurança alimentar, fomos conhecer alguns agricultores da região que se dedicam ao cultivo do milho OGM, o único produto aprovado para Portugal. O tema dos transgénicos desde sempre se assumiu como fraturante em Portugal e no resto do mundo, e este é um debate que está para durar. Na passada semana na Assembleia da República, foi apresentada uma proposta de projeto - lei pelo PCP e Verdes para abolir esta cultura do país.
Pedro Botelho, da Herdade da Adema, e como tal proprietário na região da Lezíria, concelho de Benavente, é agricultor há quase 40 anos, e confessa que não teve dúvidas quando decidiu dedicar-se à cultura do milho geneticamente modificado. Apesar deste ser para muitos um mundo desconhecido, e causador de receios, Pedro Botelho refere que encarou com naturalidade a possibilidade de cultivar milho transgénico, que acredita ser o futuro da Agricultura em todo o mundo.
Há dois anos que não faz plantação de milho deste tipo, mas por uma questão de oportunidade, depois de quatro anos seguidos dedicados ao seu cultivo, e refere que se voltar a plantar este cereal optará “com certeza pelo transgénico”. O agricultor explica que frequentou ações de formação através da multinacional Pioneer, também presente em Portugal, subsidiária agrícola da Dupont – um dos gigantes mundiais das sementes transgénicas a par da Monsanto e da Syngenta.
“Nessa formação tive de me certificar um bocadinho acerca das regras do jogo”, que não esconde serem muito apertadas. O cultivo do milho transgénico obedece a critérios que implicam a observação de uma distância de segurança igual ou superior a 200 metros em relação a campos com sistema de produção convencional e de 250 metros para os de produção biológica. Os agricultores que se dedicam ao cultivo de milho correspondente à designação "Organismo Geneticamente Modificado! (OGM) têm ainda de avisar os vizinhos de que o estão a fazer, frequentar ações de formação, nomeadamente, sobre as medidas de minimização da presença acidental de pólen nas suas culturas, e proceder a toda a rotulagem do produto com a referência a esse tipo de agricultura.
“Foi relativamente fácil implementar essas regras”, elucida o agricultor que fez um cultivo em cerca de 40 hectares. Ao lado possuía campos de milho convencional, que julga não terem sofrido contaminação.
Entre as diferentes vantagens que encontra no cultivo de OGM salienta o facto de ser “mais amigo do ambiente”. “Não estamos a aplicar fosfatos que se lixiviam para os lençóis de água, nem inseticidas”. A variedade transgénica introduzida em Portugal é a MON 810, autorizada pela Comissão Europeia, e específica no combate à broca, responsável por perdas significativas nas colheitas do milho convencional. E como tal, Pedro Botelho avança – “ Na cultura do milho tradicional, aplicamos produto que não chega para exterminar a lagarta, que comeu a maçaroca quase toda, enquanto no transgénico o vegetal tem um aspeto ótimo, não há bicho nenhum”. Os prejuízos na cultura tradicional podem chegar aos 20 por cento com perdas de duas a três toneladas por hectare. Para um campo, o agricultor exemplifica que consegue 17 mil hectares em milho transgénico para 14 mil no convencional.
Por outro lado, o agricultor avança que no cultivo do arroz através da prática “Clearfield” consegue usar sementes geneticamente modificadas “de venda livre no mercado”, em que “não é necessário frequentar formações, nem atender a requisitos impostos pelo Estado, com caderno de encargos”, e quando se trata de um produto que entra diretamente na cadeia alimentar humana, ao contrário do milho que se destina em exclusivo ao mercado das rações. “A semente não se faz muito porque é cara. Há infestantes muito resistentes da mesma estirpe do arroz bravo, e essas sementes limpam os campos”. Quando lhe perguntamos se esse arroz é transgénico, considera que não - “Até porque já nem sei se o milho pode ter essa designação”, isto porque “o que vemos é que os grãos do milho que ficam no chão de umas colheitas para a os outras, e que dão origem à nova sementeira perdem o seu caráter transgénico, porque o novo cereal, uma espécie de filho do transgénico, nasce cheio de parasitas, e disto fala-se pouco”.
Luís Grifo, engenheiro da Pioneer, ouvido pelo Valor Local diz que as plantas originadas pela semente de um híbrido simples (F1) são na sua totalidade iguais entre si e com idênticas capacidades. No entanto a descendência dessas plantas (a 2ª geração ou F2) dá origem a novas plantas completamente distintas entre si e cada uma delas com características únicas, podendo ou não reter algumas das características das plantas que lhes deram origem. Assim sendo, “é natural que a esmagadora maioria das plantas remanescentes não apresentem tolerância à broca e não tenham, inclusive, o mesmo potencial produtivo, tal a heterogeneidade entre elas”.
Pedro Botelho refere que duvida que o cultivo de OGM possa de facto ter os efeitos perversos ilustrados por diferentes atores da comunidade científica mundial – “Tudo isso ainda está de facto por provar”. Na ida aos supermercados, e quanto à possível compra de óleos alimentares feito com recurso a OGM, confessa que se preocupa com as possíveis implicações dos transgénicos na saúde humana, mas o facto de assistir ao dito fenómeno das sementes filhas dos transgénicos colocou-o “mais à vontade”. Por esta ordem de razões, e nas palavras do agricultor, a carga transgénica do milho dilui-se com facilidade. “Estou absolutamente convencido de que no grão não se transmite nada”. Por outro lado, “a planta do milho é estudada de uma tal maneira que não há como ter dúvidas.
Agricultor da Herdade de Pancas, Benavente:
“Nunca houve tanta segurança na agricultura como hoje em dia”
Produtor de milho transgénico desde 2012, Lúcio Faria, da Herdade de Pancas, também com campos no concelho de Benavente, refere que, ainda, se lembra quando começou a ouvir falar da existência de OGM e do seu cultivo em países como o Brasil ou a Argentina. À semelhança do seu colega, também frequentou formação “totalmente nova” com base na legislação, e sobre como se processa o ADN das moléculas nos transgénicos, e possíveis efeito secundários, “desdramatizando um pouco aquilo que se dramatizou na altura”. 2005 corresponde à data em que os OGM foram aprovados em Portugal, depois de um interregno que já durava desde 1999. Os primeiros testes com as sementes desde tipo iniciaram-se em 1993 no nosso país. “Estávamos perante uma nova tecnologia disponível para todos a usarem em função ou não do seu interesse”, resume desta forma.
Lúcio Faria dispõe de um terreno com 100 hectares dedicados a este cultivo, com observação das áreas de refúgio, com a manutenção da dita distância de segurança, bordada por uma área de milho convencional. Quanto ao facto de se aventar que mesmo com o cumprimento escrupuloso das regras deste jogo, a contaminação entre culturas convencionais e transgénicas é um facto, Lúcio Faria refere que estamos perante algo que não consegue aferir, tratando-se de uma questão técnico científica. Frequentemente, a agricultura deste tipo tem estado associada à a diminuição da biodiversidade; à contaminação genética (cruzamento de OGM’s com plantas convencionais); surgimento de superpragas (resistentes a herbicidas), desaparecimento de espécies benéficas; e o aumento da utilização de herbicidas.
Em 2007, um estudo da Direção Geral da Proteção de Culturas dava conta de uma contaminação praticamente inexistente, mas de lá para cá não há conhecimento de novos dados. “Estamos perante algo altamente auditado”, acrescenta o agricultor. “No meu caso já sofri uma auditoria à auditoria, a malha de controle é muito apertada.”
Por vezes diz que se torna cansativa a constante pressão para que as regras sejam escrupulosamente cumpridas, mas entende a circunstância, até porque a segurança alimentar também o preocupa, e o facto de a controvérsia em torno dos transgénicos estar constantemente na ordem do dia é mais um motivo para que este agricultor não queira contribuir para que o debate se intensifique ainda mais contra os produtores. “Nunca houve tanta segurança na agricultura como hoje em dia”; enfatiza, e acrescenta – “Estamos a falar de um produto que sai limpo, enquanto o milho convencional está carregado de produtos fitofarmacêuticos”.
Quanto aos lucros que consegue obter com o cultivo dos OGM’s refere que são de longe superiores aos do cultivo tradicional, “no qual em anos de ataque de broca as perdas podem chegar aos 100 por cento”. ”Face aos custos de produção, estamos a trabalhar abaixo das margens de lucro dos preços mundiais do mercado do milho, se porventura entra em perda de 20 ou 30 por cento de uma cultura, isto num ano bom, e se tiver em atenção que cada cultura custa à volta de dois mil euros por hectare, é questão de fazer as contas dos prejuízos que o milho convencional pode acarretar”. Mais caras, as sementes transgénicas são contudo “altamente compensadoras do ponto de vista económico porque não há perdas”. “Esta zona do Ribatejo é altamente propícia a ataques de broca, porque é ventosa, levando a que os campos sejam inundados por vários tipos de pragas”, acrescenta.
Também este agricultor não teria dificuldades em comprar os ditos óleos que já se encontram à venda nas várias superfícies comerciais do país, “porque ou acreditamos no crivo das instituições que pugnam pela segurança alimentar ou não acreditamos, e mudamos a lei”. “Todos os dias ouvimos falar que a variedade plantada cá, a MON 810 pode atacar o fígado e os rins, receio que isso também possa ser resultado da contrainformação de empresas produtoras de sementes convencionais, rivais das produtoras de OGM”. Para Lúcio Faria, há um empolamento do quadro, pois quando falamos de campos de transgénicos no mundo (milho, soja e algodão), “referimo-nos a uma área que não vai além dos três por cento do que se cultiva no mundo, 160 milhões de hectares contra cinco mil milhões de hectares convencionais”.
Em todo o mundo, há outras variedades de milho transgénico a serem plantadas, no nosso pais apenas a MON 810, mas o agricultor salienta que a broca é a única preocupação dos produtores, porque regra geral há um domínio agronómico por completo da planta. O aparecimento da praga que é o terror dos nossos agricultores desenvolveu-se devido à intensificação das áreas de produção. “Antigamente ainda podíamos fazer face a perdas de 20 por cento, porque o preço ainda lhe permitia ter lucro, hoje com o preço do milho a 170 euros a tonelada, com um custo de produção de dois mil euros, a margem é de zero.”
“Nunca houve tanta segurança na agricultura como hoje em dia”
Produtor de milho transgénico desde 2012, Lúcio Faria, da Herdade de Pancas, também com campos no concelho de Benavente, refere que, ainda, se lembra quando começou a ouvir falar da existência de OGM e do seu cultivo em países como o Brasil ou a Argentina. À semelhança do seu colega, também frequentou formação “totalmente nova” com base na legislação, e sobre como se processa o ADN das moléculas nos transgénicos, e possíveis efeito secundários, “desdramatizando um pouco aquilo que se dramatizou na altura”. 2005 corresponde à data em que os OGM foram aprovados em Portugal, depois de um interregno que já durava desde 1999. Os primeiros testes com as sementes desde tipo iniciaram-se em 1993 no nosso país. “Estávamos perante uma nova tecnologia disponível para todos a usarem em função ou não do seu interesse”, resume desta forma.
Lúcio Faria dispõe de um terreno com 100 hectares dedicados a este cultivo, com observação das áreas de refúgio, com a manutenção da dita distância de segurança, bordada por uma área de milho convencional. Quanto ao facto de se aventar que mesmo com o cumprimento escrupuloso das regras deste jogo, a contaminação entre culturas convencionais e transgénicas é um facto, Lúcio Faria refere que estamos perante algo que não consegue aferir, tratando-se de uma questão técnico científica. Frequentemente, a agricultura deste tipo tem estado associada à a diminuição da biodiversidade; à contaminação genética (cruzamento de OGM’s com plantas convencionais); surgimento de superpragas (resistentes a herbicidas), desaparecimento de espécies benéficas; e o aumento da utilização de herbicidas.
Em 2007, um estudo da Direção Geral da Proteção de Culturas dava conta de uma contaminação praticamente inexistente, mas de lá para cá não há conhecimento de novos dados. “Estamos perante algo altamente auditado”, acrescenta o agricultor. “No meu caso já sofri uma auditoria à auditoria, a malha de controle é muito apertada.”
Por vezes diz que se torna cansativa a constante pressão para que as regras sejam escrupulosamente cumpridas, mas entende a circunstância, até porque a segurança alimentar também o preocupa, e o facto de a controvérsia em torno dos transgénicos estar constantemente na ordem do dia é mais um motivo para que este agricultor não queira contribuir para que o debate se intensifique ainda mais contra os produtores. “Nunca houve tanta segurança na agricultura como hoje em dia”; enfatiza, e acrescenta – “Estamos a falar de um produto que sai limpo, enquanto o milho convencional está carregado de produtos fitofarmacêuticos”.
Quanto aos lucros que consegue obter com o cultivo dos OGM’s refere que são de longe superiores aos do cultivo tradicional, “no qual em anos de ataque de broca as perdas podem chegar aos 100 por cento”. ”Face aos custos de produção, estamos a trabalhar abaixo das margens de lucro dos preços mundiais do mercado do milho, se porventura entra em perda de 20 ou 30 por cento de uma cultura, isto num ano bom, e se tiver em atenção que cada cultura custa à volta de dois mil euros por hectare, é questão de fazer as contas dos prejuízos que o milho convencional pode acarretar”. Mais caras, as sementes transgénicas são contudo “altamente compensadoras do ponto de vista económico porque não há perdas”. “Esta zona do Ribatejo é altamente propícia a ataques de broca, porque é ventosa, levando a que os campos sejam inundados por vários tipos de pragas”, acrescenta.
Também este agricultor não teria dificuldades em comprar os ditos óleos que já se encontram à venda nas várias superfícies comerciais do país, “porque ou acreditamos no crivo das instituições que pugnam pela segurança alimentar ou não acreditamos, e mudamos a lei”. “Todos os dias ouvimos falar que a variedade plantada cá, a MON 810 pode atacar o fígado e os rins, receio que isso também possa ser resultado da contrainformação de empresas produtoras de sementes convencionais, rivais das produtoras de OGM”. Para Lúcio Faria, há um empolamento do quadro, pois quando falamos de campos de transgénicos no mundo (milho, soja e algodão), “referimo-nos a uma área que não vai além dos três por cento do que se cultiva no mundo, 160 milhões de hectares contra cinco mil milhões de hectares convencionais”.
Em todo o mundo, há outras variedades de milho transgénico a serem plantadas, no nosso pais apenas a MON 810, mas o agricultor salienta que a broca é a única preocupação dos produtores, porque regra geral há um domínio agronómico por completo da planta. O aparecimento da praga que é o terror dos nossos agricultores desenvolveu-se devido à intensificação das áreas de produção. “Antigamente ainda podíamos fazer face a perdas de 20 por cento, porque o preço ainda lhe permitia ter lucro, hoje com o preço do milho a 170 euros a tonelada, com um custo de produção de dois mil euros, a margem é de zero.”

“Plataforma Transgénicos Fora” evidencia perversidade do mercado dos transgénicos
A agricultura transgénica em Portugal sofre desde sempre a firme oposição da “Plataforma Transgénicos Fora” composta por 10 associações ambientalistas, e por cidadãos em nome individual. A luta deste tipo de movimentos conheceu o seu pico quando os “Verde Eufémia” em 2007 destruíram um hectare de milho geneticamente modificado no Algarve. De lá para cá, a Plataforma, que não integra o movimento que causou polémica, tem estado atenta a todas as notícias que a nível mundial circulam acerca das inovações a nível deste tipo de culturas. Ações de sensibilização e o fornecimento do máximo de informação possível sobre os OGM têm pautado a ação da plataforma.
No entender de Margarida Silva, porta-voz da plataforma e professora na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, o tipo de agricultura em questão desvirtua por completo uma das essências da atividade que consiste no uso das sementes de uma forma livre, selecionada, e com recurso ao cruzamento. As sementes transgénicas são patenteadas e só podem ser usadas para uma única colheita.
Há 10 anos que se pode cultivar milho transgénico no país, e para Margarida Silva é de salientar que a adesão não tem sido tão espetacular quanto se podia pensar, acabando por ser um cultivo pouco significativo, “mas isso não significa que apesar de ocupar apenas uma percentagem de 10 por cento, temos de continuar a pensar nos caminhos que a agricultura vai tomar”.
Margarida Silva é da opinião de que o nosso país deve abandonar o quanto antes esta agricultura porque nem sequer é rentável, tendo em conta que só países que conseguem produzir milhares de toneladas obtêm lucros, o que não acontece cá. “O preço do milho é muito baixo, não há forma de sermos competitivos nos transgénicos ou sequer no milho convencional”.
Os transgénicos não gozam da melhor reputação possível junto dos consumidores, sendo que em Portugal apenas alguns óleos alimentares vendidos nos supermercados contêm OGM. Mas por via indireta entram na cadeia alimentar através das rações que são fornecidas aos animais e destes através da sua carne, leite e ovos. “Não há rotulagem sobre o que animais comem, essa informação já foi pedida junto da União Europeia que a recusou”.
O mercado negro para as sementes transgénicas é outra das faces mais ou menos visíveis desta realidade, e Margarida Silva admite que se faça arroz transgénico no país, e qualquer manipulação que se faça com sementes daquele tipo “é algo que está completamente à margem da lei, e quem o pratica está totalmente em prevaricação”. “Há um mercado negro de arroz transgénico sobretudo proveniente da China”.
Regras do Governo são laxistas
A plataforma considera que as regras que o Governo tem colocado em prática acerca desta matéria são “extremamente laxistas”. Desde logo, o facto de “os agricultores apenas disporem de um dia de formação, sendo que nos outros países estamos a falar de formação ao longo do tempo”. Por outro lado, “essa formação é dada pela empresa que fornece as sementes transgénica”, o que no entender de Margarida Silva não dá garantias de que seja fornecida informação independente acerca dos riscos de contaminação, entre outros aspetos. “É um conflito de interesses brutal”, não tem dúvidas em atirar.
“Fui impedida de entrar numa ação de formação da Pioneer cá em Portugal. Entenderam que representava um perigo para eles. Não podem ter a consciência tranquila sobre o que andam a fazer”.
Os riscos de contaminação entre culturas transgénicas e não transgénicas foi o que “levou 17 países europeus” a recusarem os OGM. “As pessoas que governam este país estão mais interessadas em proteger os interesses da indústria do que os da agricultura portuguesa e dos consumidores”, refere e aponta o exemplo da França, que é “o maior produtor de milho europeu, que não permitiu a entrada de OGM”. “Será que a França não está atenta? Será que os produtores franceses não estão preocupados com a sua eficiência a nível mundial?”, deixa as interrogações.
Com isto, a ambientalista reforça que “Portugal só pode andar muito desatento”, o que “não é de estranhar, devido às enormes convulsões económicas e políticas”. Em 2015, foi fixado um prazo para se proibir o cultivo de transgénicos através de uma diretiva europeia, mas “o prazo terminou em época de eleições legislativas”. “Foi um período instável, perdemos o comboio, e se agora quisermos proibir será mais difícil”.
A agricultura transgénica em Portugal sofre desde sempre a firme oposição da “Plataforma Transgénicos Fora” composta por 10 associações ambientalistas, e por cidadãos em nome individual. A luta deste tipo de movimentos conheceu o seu pico quando os “Verde Eufémia” em 2007 destruíram um hectare de milho geneticamente modificado no Algarve. De lá para cá, a Plataforma, que não integra o movimento que causou polémica, tem estado atenta a todas as notícias que a nível mundial circulam acerca das inovações a nível deste tipo de culturas. Ações de sensibilização e o fornecimento do máximo de informação possível sobre os OGM têm pautado a ação da plataforma.
No entender de Margarida Silva, porta-voz da plataforma e professora na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica do Porto, o tipo de agricultura em questão desvirtua por completo uma das essências da atividade que consiste no uso das sementes de uma forma livre, selecionada, e com recurso ao cruzamento. As sementes transgénicas são patenteadas e só podem ser usadas para uma única colheita.
Há 10 anos que se pode cultivar milho transgénico no país, e para Margarida Silva é de salientar que a adesão não tem sido tão espetacular quanto se podia pensar, acabando por ser um cultivo pouco significativo, “mas isso não significa que apesar de ocupar apenas uma percentagem de 10 por cento, temos de continuar a pensar nos caminhos que a agricultura vai tomar”.
Margarida Silva é da opinião de que o nosso país deve abandonar o quanto antes esta agricultura porque nem sequer é rentável, tendo em conta que só países que conseguem produzir milhares de toneladas obtêm lucros, o que não acontece cá. “O preço do milho é muito baixo, não há forma de sermos competitivos nos transgénicos ou sequer no milho convencional”.
Os transgénicos não gozam da melhor reputação possível junto dos consumidores, sendo que em Portugal apenas alguns óleos alimentares vendidos nos supermercados contêm OGM. Mas por via indireta entram na cadeia alimentar através das rações que são fornecidas aos animais e destes através da sua carne, leite e ovos. “Não há rotulagem sobre o que animais comem, essa informação já foi pedida junto da União Europeia que a recusou”.
O mercado negro para as sementes transgénicas é outra das faces mais ou menos visíveis desta realidade, e Margarida Silva admite que se faça arroz transgénico no país, e qualquer manipulação que se faça com sementes daquele tipo “é algo que está completamente à margem da lei, e quem o pratica está totalmente em prevaricação”. “Há um mercado negro de arroz transgénico sobretudo proveniente da China”.
Regras do Governo são laxistas
A plataforma considera que as regras que o Governo tem colocado em prática acerca desta matéria são “extremamente laxistas”. Desde logo, o facto de “os agricultores apenas disporem de um dia de formação, sendo que nos outros países estamos a falar de formação ao longo do tempo”. Por outro lado, “essa formação é dada pela empresa que fornece as sementes transgénica”, o que no entender de Margarida Silva não dá garantias de que seja fornecida informação independente acerca dos riscos de contaminação, entre outros aspetos. “É um conflito de interesses brutal”, não tem dúvidas em atirar.
“Fui impedida de entrar numa ação de formação da Pioneer cá em Portugal. Entenderam que representava um perigo para eles. Não podem ter a consciência tranquila sobre o que andam a fazer”.
Os riscos de contaminação entre culturas transgénicas e não transgénicas foi o que “levou 17 países europeus” a recusarem os OGM. “As pessoas que governam este país estão mais interessadas em proteger os interesses da indústria do que os da agricultura portuguesa e dos consumidores”, refere e aponta o exemplo da França, que é “o maior produtor de milho europeu, que não permitiu a entrada de OGM”. “Será que a França não está atenta? Será que os produtores franceses não estão preocupados com a sua eficiência a nível mundial?”, deixa as interrogações.
Com isto, a ambientalista reforça que “Portugal só pode andar muito desatento”, o que “não é de estranhar, devido às enormes convulsões económicas e políticas”. Em 2015, foi fixado um prazo para se proibir o cultivo de transgénicos através de uma diretiva europeia, mas “o prazo terminou em época de eleições legislativas”. “Foi um período instável, perdemos o comboio, e se agora quisermos proibir será mais difícil”.

OGM e os perigos para a Saúde
Não entrando na cadeia alimentar humana por via direta, afigura-se como complexo poder aferir até que ponto os transgénicos são ou não prejudiciais para a saúde. A nível mundial foi aberto um verdadeiro campo de batalha com estudos de um lado e do outro a este respeito. A nível de segurança, Margarida Silva salienta que “há uma diretiva europeia que alerta para os perigos novos que estes alimentos acarretam que devem ser detetados precocemente”. A diretiva também prevê o acompanhamento e a monitorização durante a comercialização, que “não estão a ser feitos”.
Numerosas publicações científicas “têm identificado graves problemas para a saúde, realizados pelos poucos cientistas independentes que se dedicam a este tema”. O grande problema na opinião da também especialista em Biologia Molecular reside na circunstância de os estudos europeus “apenas olharem para os estudos da indústria” na altura de darem ao aval relativamente a pedidos para a introdução de novos métodos e produtos transgénicos para a agricultura. Como tal “não há independência, nem podemos ter conforto nas decisões”.
Há uma conclusão que é importante perceber – Demorará “muito tempo” até que se consiga provar que os transgénicos podem causar doenças como cancro, esterilidade, alergias crónicas, intoxicações hepáticas e renais. Margarida Silva estabelece uma comparação com o amianto, em que os primeiros cancros de pulmão surgiram após “30 ou 40 anos”. “No caso desta tecnologia que tem só 20 anos, é difícil traçar um perfil epidemiológico do consumo de transgénicos e os seus impactos na saúde humana”. O ritmo da vida moderna, e outros aspetos ambientais e da própria constituição de cada ser humano lançam ainda mais fumo para a nuvem de incertezas sobre o quão a nossa saúde pode ou não ser prejudicada pelo consumo de transgénicos, ainda que por via indireta, e Margarida Silva está consciente da dificuldade – “Será de facto muito complicado estabelecer uma relação de causa-efeito”. “É moroso, difícil e caro, mas saliento que dos estudos feitos de forma independente há numerosos sinais de alerta, nomeadamente, a nível de inflamações da parede intestinal, problemas renais, e perturbações hepáticas”. E salienta um estudo em particular – “Animais alimentados com o leite de cabras que comeram rações transgénicas, apresentavam um desenvolvimento inferior em comparação com os demais cabritos com mães alimentadas com rações convencionais. E isto é uma indicação muito clara de que o leite desses animais não é normal. O que prova que há razões para ficarmos preocupados”.
O nível do debate sobre esta matéria é global, e nos Estados Unidos, “as coisas são bem mais perversas”, com “as empresas a tentarem driblar a imposição de rotularem os seus produtos com a designação transgénica”. “Essas empresas já perderam em tribunal”, acrescenta. A grande novidade prende-se com a primeira autorização para a primeira espécie animal transgénica para consumo humano – o salmão. “Sabemos que a questão já foi bloqueada no congresso norte-americano, porque os senadores exigem a rotulagem”.
Não entrando na cadeia alimentar humana por via direta, afigura-se como complexo poder aferir até que ponto os transgénicos são ou não prejudiciais para a saúde. A nível mundial foi aberto um verdadeiro campo de batalha com estudos de um lado e do outro a este respeito. A nível de segurança, Margarida Silva salienta que “há uma diretiva europeia que alerta para os perigos novos que estes alimentos acarretam que devem ser detetados precocemente”. A diretiva também prevê o acompanhamento e a monitorização durante a comercialização, que “não estão a ser feitos”.
Numerosas publicações científicas “têm identificado graves problemas para a saúde, realizados pelos poucos cientistas independentes que se dedicam a este tema”. O grande problema na opinião da também especialista em Biologia Molecular reside na circunstância de os estudos europeus “apenas olharem para os estudos da indústria” na altura de darem ao aval relativamente a pedidos para a introdução de novos métodos e produtos transgénicos para a agricultura. Como tal “não há independência, nem podemos ter conforto nas decisões”.
Há uma conclusão que é importante perceber – Demorará “muito tempo” até que se consiga provar que os transgénicos podem causar doenças como cancro, esterilidade, alergias crónicas, intoxicações hepáticas e renais. Margarida Silva estabelece uma comparação com o amianto, em que os primeiros cancros de pulmão surgiram após “30 ou 40 anos”. “No caso desta tecnologia que tem só 20 anos, é difícil traçar um perfil epidemiológico do consumo de transgénicos e os seus impactos na saúde humana”. O ritmo da vida moderna, e outros aspetos ambientais e da própria constituição de cada ser humano lançam ainda mais fumo para a nuvem de incertezas sobre o quão a nossa saúde pode ou não ser prejudicada pelo consumo de transgénicos, ainda que por via indireta, e Margarida Silva está consciente da dificuldade – “Será de facto muito complicado estabelecer uma relação de causa-efeito”. “É moroso, difícil e caro, mas saliento que dos estudos feitos de forma independente há numerosos sinais de alerta, nomeadamente, a nível de inflamações da parede intestinal, problemas renais, e perturbações hepáticas”. E salienta um estudo em particular – “Animais alimentados com o leite de cabras que comeram rações transgénicas, apresentavam um desenvolvimento inferior em comparação com os demais cabritos com mães alimentadas com rações convencionais. E isto é uma indicação muito clara de que o leite desses animais não é normal. O que prova que há razões para ficarmos preocupados”.
O nível do debate sobre esta matéria é global, e nos Estados Unidos, “as coisas são bem mais perversas”, com “as empresas a tentarem driblar a imposição de rotularem os seus produtos com a designação transgénica”. “Essas empresas já perderam em tribunal”, acrescenta. A grande novidade prende-se com a primeira autorização para a primeira espécie animal transgénica para consumo humano – o salmão. “Sabemos que a questão já foi bloqueada no congresso norte-americano, porque os senadores exigem a rotulagem”.

Pioneer Portugal assegura:
“Máxima responsabilidade junto dos agricultores”
A Pioneer, pertencente a um dos gigantes mundiais de sementes, a Dupont é um dos operadores em Portugal, sendo responsável pela formação de 90 por cento dos agricultores portugueses no cultivo de variedades geneticamente modificadas (VGM). Na região do Ribatejo, a empresa presta formação aos vários produtores que se querem iniciar na produção de milho geneticamente modificado. Luís Grifo, engenheiro da Pioneer e responsável comercial da empresa, recusa a ideia dos detratores deste tipo de culturas quanto à qualidade da formação prestada e pós acompanhamento.
Segundo Luís Grifo é prestado apoio também na adoção das regras de coexistência mais adequadas e de todas as medidas que assegurem a rastreabilidade da produção. A escolha das variedades de milho GM mais adaptadas às condições do agricultor, assessoria técnica desde a sementeira, à fase vegetativa e após a colheita fazem também parte deste trabalho
O responsável refere que a empresa é credenciada e habilitada pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária, e como tal cumpre os requisitos de segurança. “Os técnicos da Pioneer asseguram aos agricultores que utilizam VGM, uma assessoria responsável desde as notificações aos serviços oficiais, à informação aos agricultores vizinhos, ao cumprimento das boas práticas agrícolas e finalmente, toda a organização dos processos inerentes à cultura de VGM”, descreve.
Perante a questão se não seria expectável que houvesse mais agricultores de transgénicos em Portugal, dado que em 2014 o nosso país apresenta cerca de 8500 hectares, explica que a utilização de variedades geneticamente modificadas apenas faz sentido em zonas endémicas e com elevado risco de ocorrência de ataques de broca do milho e com importante significado económico. Em Portugal, as zonas endémicas de maior expressão são o Minho, o Vale do Mondego, o Vale do Tejo e toda a região Alentejana. Os condicionalismos da legislação sobre coexistência, nomeadamente as zonas de refúgio e as medidas de isolamento “fazem com que as zonas do minifúndio e das pequenas parcelas apresentem tantas limitações que inviabilizam a utilização desta tecnologia”.
Para contornar esta limitação, refere que o Vale do Mondego tem, neste momento, alguma expressão, devido ao grande número de agricultores (371) que se uniram voluntariamente em zonas de produção para fazerem VGM, num processo que envolve mais de 2500 parcelas em cerca de 3000 hectares, embora a área de VGM se resuma apenas a cerca de 500 hectares. A maior área das parcelas e a dispersão da área de milho fazem do Ribatejo e do Alentejo as zonas de maior expressão em Portugal na utilização desta tecnologia, devido à maior facilidade na implementação das medidas de coexistência. A área de VGM que em 2005 rondava os 500 hectares, ultrapassa hoje os 8500. A sua expansão, que teve o maior impulso nos anos de 2011, 2012 e 2014, vê-se limitada pela contração da área total de milho nalguns anos por fatores que vão do preço à produção à limitação da água de rega ou, como em 2013, pela dificuldade extrema das empresas de produção de semente em colocarem no mercado semente de VGM devido a problemas de multiplicação de semente.
Em síntese, Luís Grifo refere que a elevada carga administrativa e as exigências impostas pela legislação desencorajam alguns agricultores na utilização desta tecnologia. Se a isso juntarmos os fatores como o preço à produção e os anos de seca, temos as principais razões que limitam o crescimento deste tipo de culturas.
Quanto ao facto desta tecnologia ser alvo de constantes críticas e sofrer uma oposição feroz dos ambientalistas, o engenheiro da Pioneer defende-se referindo que “os produtos transgénicos aprovados na Europa para cultura são seguros para consumo humano, animal e saúde ambiental e isso é provado pelo uso seguro na última década na Europa e no mundo”. Diz ainda que Portugal beneficiou desta inovação em termos de segurança alimentar (qualidade do grão produzido, por menor presença de microtoxinas). “Além disso, as VGM têm um desenvolvimento mais sustentável, pela maior eficiência na utilização da água de rega, menor necessidade na utilização de pesticidas e maior eficiência das unidades de fertilizante para a mesma quantidade de grão produzida.”
A nível internacional a DuPont Pioneer tem estado, segundo Grifo, na vanguarda das “necessidades específicas dos produtores e consumidores pelo mundo”.
“Um bom exemplo de novos produtos Pioneer GM são os produtos ‘Plenish’, sementes de soja alto óleico. Este é um produto inovador que vai de encontro às necessidades dos consumidores para óleos saudáveis, proporcionando uma excelente solução para a maioria dos alimentos e usos industriais.”
A continuidade dos cultivos transgénicos em Portugal tem estado na ordem do dia. PCP e Verdes apresentaram uma proposta que vai no sentido da sua não continuidade, e Grifo antecipa – “Sem esta inovação, os agricultores portugueses perderão competitividade num momento em que a agricultura global se vê confrontada com um cenário económico ainda muito debilitado e que persiste ainda pela Europa e pelo mundo.” Olhando para a experiência, até aqui “muito positiva”, da utilização do milho GM em Portugal, “pensamos que a liberdade de usar esta tecnologia pelos agricultores portugueses deveria ser defendida e rejeitada qualquer proposta de proibição, uma vez que não é com base em qualquer evidência científica de risco potencial para seres humanos, animais e meio ambiente que o Decreto Lei é proposto.”
Alenquer e Salvaterra disseram não aos OGM
Na região, os municípios de Alenquer e Salvaterra de Magos foram os únicos que até à data se declararam livres de transgénicos, embora esta seja uma possibilidade com poucos efeitos práticos. Desde sempre uma bandeira da esquerda, o executivo então liderado por Ana Cristina Ribeiro, do BE, intentou uma providência cautelar contra a Monsanto, em 2009, pelo facto de a multinacional ter requerido ao Governo a realização de ensaios em campos com milho geneticamente modificado. A área localizada no Escaroupim, propriedade estatal, acabou por receber os ditos testes com a variedade NK 603, que não é comercializada no nosso país.
O atual vereador da oposição Luís Gomes, eleito pelo Bloco de Esquerda, na altura chefe de gabinete de Ana Cristina Ribeiro recorda a forma “veemente” como o município se opôs às intenções do Estado e da Monsanto. “Na altura, até fizemos uma visita com um deputado do Bloco de Esquerda ao local”, recorda-se. Os testes tiveram “uma duração de cerca de quatro ou cinco meses, que escandalosamente foram autorizados pelo Estado em terrenos seus”.
Surgiram algumas preocupações por parte, sobretudo, de apicultores, “porque poderia afetar a sua produção”. “Não soubemos de outros receios, até porque tudo foi feito pela empresa em articulação com o Estado de forma muito secreta”. Apesar da oposição do município, “sabíamos que estávamos perante fatos consumados, e que não podíamos ir mais além de uma mera posição política”. Os ensaios em Salvaterra de Magos, propriedade do Ministério da Agricultura, tinham como propósito fins de identificação.
Já no caso do município de Alenquer, em 2006, houve a possibilidade de o município receber também testes com transgénicos na freguesia de Vila Verde dos Francos, que se estendiam ainda ao Vilar, no Cadaval. Por proposta da Coligação Pela Nossa Terra num processo liderado pelo então vereador em substituição José Carlos Morais, também ambientalista, foram feitas diversas ações no sentido de dizer que não aos ensaios com transgénicos.
Em Assembleia Municipal, o concelho declarou-se livre de transgénicos, “que embora não tendo vinculação legal, tratou-se de algo para marcar uma posição cívica e moral”. “Foi promovida uma reunião pública com elementos da empresa, forças políticas e agricultores da região, que neste último caso manifestaram as suas preocupações face a possíveis cenários de contaminação das suas culturas por transgénicos”, recorda-se. A empresa multinacional acabou por abandonar a ideia. Estavam em causa neste caso terrenos privados.
ANPROMIS acusa partidos de esquerda de querem acabar com os OGM
A Associação Nacional de Produtores de Milho (ANPROMIS) está preocupada com a possível ida para a frente de um proposta de decreto - lei apresentada pela esquerda no parlamento que prevê a possibilidade de os transgénicos virem a ser proibidos no país de futuro com incidência também no que se cultiva atualmente.
Luís Vasconcellos e Sousa, presidente da ANPROMIS, evidencia ao Valor Local a sua preocupação – “Se essa determinação dos grupos políticos de esquerda for para a frente está ser negada aos agricultores qualquer hipótese de escolherem o que querem plantar”, reflete. Esta é uma vontade que está a ser levada a cabo pelos Verdes, e PCP perante a qual o Governo está a reservar uma posição. Em conclusão “estamos perante algo de desfecho imprevisível”.
“Estamos dependentes destes partidos que agora estão no poder, ao fim ao cabo, mas os agricultores têm os seus direitos, não são objetos”, salienta, ao mesmo tempo que sobe de tom – “Os partidos deveriam defender os agricultores, e não o contrário, vamos ver que ações podemos tomar, tendo em conta o recurso por exemplo aos tribunais”.
A ir para a frente esta proposta de decreto-lei, deixa os agricultores não apenas com “milhões de euros” de prejuízos como “ficamos completamente sem ferramentas nenhumas para lidar com isto”. “Este é um tema político, e até agora não houve um político que tomasse uma posição pública daquelas que nós gostaríamos”.
“Máxima responsabilidade junto dos agricultores”
A Pioneer, pertencente a um dos gigantes mundiais de sementes, a Dupont é um dos operadores em Portugal, sendo responsável pela formação de 90 por cento dos agricultores portugueses no cultivo de variedades geneticamente modificadas (VGM). Na região do Ribatejo, a empresa presta formação aos vários produtores que se querem iniciar na produção de milho geneticamente modificado. Luís Grifo, engenheiro da Pioneer e responsável comercial da empresa, recusa a ideia dos detratores deste tipo de culturas quanto à qualidade da formação prestada e pós acompanhamento.
Segundo Luís Grifo é prestado apoio também na adoção das regras de coexistência mais adequadas e de todas as medidas que assegurem a rastreabilidade da produção. A escolha das variedades de milho GM mais adaptadas às condições do agricultor, assessoria técnica desde a sementeira, à fase vegetativa e após a colheita fazem também parte deste trabalho
O responsável refere que a empresa é credenciada e habilitada pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária, e como tal cumpre os requisitos de segurança. “Os técnicos da Pioneer asseguram aos agricultores que utilizam VGM, uma assessoria responsável desde as notificações aos serviços oficiais, à informação aos agricultores vizinhos, ao cumprimento das boas práticas agrícolas e finalmente, toda a organização dos processos inerentes à cultura de VGM”, descreve.
Perante a questão se não seria expectável que houvesse mais agricultores de transgénicos em Portugal, dado que em 2014 o nosso país apresenta cerca de 8500 hectares, explica que a utilização de variedades geneticamente modificadas apenas faz sentido em zonas endémicas e com elevado risco de ocorrência de ataques de broca do milho e com importante significado económico. Em Portugal, as zonas endémicas de maior expressão são o Minho, o Vale do Mondego, o Vale do Tejo e toda a região Alentejana. Os condicionalismos da legislação sobre coexistência, nomeadamente as zonas de refúgio e as medidas de isolamento “fazem com que as zonas do minifúndio e das pequenas parcelas apresentem tantas limitações que inviabilizam a utilização desta tecnologia”.
Para contornar esta limitação, refere que o Vale do Mondego tem, neste momento, alguma expressão, devido ao grande número de agricultores (371) que se uniram voluntariamente em zonas de produção para fazerem VGM, num processo que envolve mais de 2500 parcelas em cerca de 3000 hectares, embora a área de VGM se resuma apenas a cerca de 500 hectares. A maior área das parcelas e a dispersão da área de milho fazem do Ribatejo e do Alentejo as zonas de maior expressão em Portugal na utilização desta tecnologia, devido à maior facilidade na implementação das medidas de coexistência. A área de VGM que em 2005 rondava os 500 hectares, ultrapassa hoje os 8500. A sua expansão, que teve o maior impulso nos anos de 2011, 2012 e 2014, vê-se limitada pela contração da área total de milho nalguns anos por fatores que vão do preço à produção à limitação da água de rega ou, como em 2013, pela dificuldade extrema das empresas de produção de semente em colocarem no mercado semente de VGM devido a problemas de multiplicação de semente.
Em síntese, Luís Grifo refere que a elevada carga administrativa e as exigências impostas pela legislação desencorajam alguns agricultores na utilização desta tecnologia. Se a isso juntarmos os fatores como o preço à produção e os anos de seca, temos as principais razões que limitam o crescimento deste tipo de culturas.
Quanto ao facto desta tecnologia ser alvo de constantes críticas e sofrer uma oposição feroz dos ambientalistas, o engenheiro da Pioneer defende-se referindo que “os produtos transgénicos aprovados na Europa para cultura são seguros para consumo humano, animal e saúde ambiental e isso é provado pelo uso seguro na última década na Europa e no mundo”. Diz ainda que Portugal beneficiou desta inovação em termos de segurança alimentar (qualidade do grão produzido, por menor presença de microtoxinas). “Além disso, as VGM têm um desenvolvimento mais sustentável, pela maior eficiência na utilização da água de rega, menor necessidade na utilização de pesticidas e maior eficiência das unidades de fertilizante para a mesma quantidade de grão produzida.”
A nível internacional a DuPont Pioneer tem estado, segundo Grifo, na vanguarda das “necessidades específicas dos produtores e consumidores pelo mundo”.
“Um bom exemplo de novos produtos Pioneer GM são os produtos ‘Plenish’, sementes de soja alto óleico. Este é um produto inovador que vai de encontro às necessidades dos consumidores para óleos saudáveis, proporcionando uma excelente solução para a maioria dos alimentos e usos industriais.”
A continuidade dos cultivos transgénicos em Portugal tem estado na ordem do dia. PCP e Verdes apresentaram uma proposta que vai no sentido da sua não continuidade, e Grifo antecipa – “Sem esta inovação, os agricultores portugueses perderão competitividade num momento em que a agricultura global se vê confrontada com um cenário económico ainda muito debilitado e que persiste ainda pela Europa e pelo mundo.” Olhando para a experiência, até aqui “muito positiva”, da utilização do milho GM em Portugal, “pensamos que a liberdade de usar esta tecnologia pelos agricultores portugueses deveria ser defendida e rejeitada qualquer proposta de proibição, uma vez que não é com base em qualquer evidência científica de risco potencial para seres humanos, animais e meio ambiente que o Decreto Lei é proposto.”
Alenquer e Salvaterra disseram não aos OGM
Na região, os municípios de Alenquer e Salvaterra de Magos foram os únicos que até à data se declararam livres de transgénicos, embora esta seja uma possibilidade com poucos efeitos práticos. Desde sempre uma bandeira da esquerda, o executivo então liderado por Ana Cristina Ribeiro, do BE, intentou uma providência cautelar contra a Monsanto, em 2009, pelo facto de a multinacional ter requerido ao Governo a realização de ensaios em campos com milho geneticamente modificado. A área localizada no Escaroupim, propriedade estatal, acabou por receber os ditos testes com a variedade NK 603, que não é comercializada no nosso país.
O atual vereador da oposição Luís Gomes, eleito pelo Bloco de Esquerda, na altura chefe de gabinete de Ana Cristina Ribeiro recorda a forma “veemente” como o município se opôs às intenções do Estado e da Monsanto. “Na altura, até fizemos uma visita com um deputado do Bloco de Esquerda ao local”, recorda-se. Os testes tiveram “uma duração de cerca de quatro ou cinco meses, que escandalosamente foram autorizados pelo Estado em terrenos seus”.
Surgiram algumas preocupações por parte, sobretudo, de apicultores, “porque poderia afetar a sua produção”. “Não soubemos de outros receios, até porque tudo foi feito pela empresa em articulação com o Estado de forma muito secreta”. Apesar da oposição do município, “sabíamos que estávamos perante fatos consumados, e que não podíamos ir mais além de uma mera posição política”. Os ensaios em Salvaterra de Magos, propriedade do Ministério da Agricultura, tinham como propósito fins de identificação.
Já no caso do município de Alenquer, em 2006, houve a possibilidade de o município receber também testes com transgénicos na freguesia de Vila Verde dos Francos, que se estendiam ainda ao Vilar, no Cadaval. Por proposta da Coligação Pela Nossa Terra num processo liderado pelo então vereador em substituição José Carlos Morais, também ambientalista, foram feitas diversas ações no sentido de dizer que não aos ensaios com transgénicos.
Em Assembleia Municipal, o concelho declarou-se livre de transgénicos, “que embora não tendo vinculação legal, tratou-se de algo para marcar uma posição cívica e moral”. “Foi promovida uma reunião pública com elementos da empresa, forças políticas e agricultores da região, que neste último caso manifestaram as suas preocupações face a possíveis cenários de contaminação das suas culturas por transgénicos”, recorda-se. A empresa multinacional acabou por abandonar a ideia. Estavam em causa neste caso terrenos privados.
ANPROMIS acusa partidos de esquerda de querem acabar com os OGM
A Associação Nacional de Produtores de Milho (ANPROMIS) está preocupada com a possível ida para a frente de um proposta de decreto - lei apresentada pela esquerda no parlamento que prevê a possibilidade de os transgénicos virem a ser proibidos no país de futuro com incidência também no que se cultiva atualmente.
Luís Vasconcellos e Sousa, presidente da ANPROMIS, evidencia ao Valor Local a sua preocupação – “Se essa determinação dos grupos políticos de esquerda for para a frente está ser negada aos agricultores qualquer hipótese de escolherem o que querem plantar”, reflete. Esta é uma vontade que está a ser levada a cabo pelos Verdes, e PCP perante a qual o Governo está a reservar uma posição. Em conclusão “estamos perante algo de desfecho imprevisível”.
“Estamos dependentes destes partidos que agora estão no poder, ao fim ao cabo, mas os agricultores têm os seus direitos, não são objetos”, salienta, ao mesmo tempo que sobe de tom – “Os partidos deveriam defender os agricultores, e não o contrário, vamos ver que ações podemos tomar, tendo em conta o recurso por exemplo aos tribunais”.
A ir para a frente esta proposta de decreto-lei, deixa os agricultores não apenas com “milhões de euros” de prejuízos como “ficamos completamente sem ferramentas nenhumas para lidar com isto”. “Este é um tema político, e até agora não houve um político que tomasse uma posição pública daquelas que nós gostaríamos”.
Comentários
Gostaria de saber se o milho Transgênico tem boa produtividade em sequeiro?
Atenciosamente,
Raul César Costa e Silva
Irecê na Bahia
29/12/2016 10:39
Atenciosamente,
Raul César Costa e Silva
Irecê na Bahia
29/12/2016 10:39