A aposta numa rádio para o século XXI, a Rádio Valor Local, e a consolidação do jornal Valor Local, são as apostas do empreendedor azambujense Miguel António Rodrigues, que não descura o seu gosto pelo jornalismo: “Uma vez jornalista, é toda a escolha de uma vida”. As razões de quem arrisca e aposta na comunicação social local aqui analisadas.
Jorge Jacinto - Miguel Rodrigues, casado com Sílvia Agostinho que o acompanha nos desafios da comunicação social e está ativamente presente na construção dos seus empreendimentos, um jornal e agora uma rádio, acaba de lançar a Rádio Valor Local após ter consolidado o seu projeto de imprensa, o jornal mensal Valor Local. Deixou de trabalhar para outros e arriscou no seu próprio negócio, numa área da sua eleição, a comunicação, o jornalismo. Pode ganhar, pode perder. Mas para já, com base em muito trabalho e afinco está a implementar as suas ideias com profissionalismo. A Rádio Valor Local transmitida pela internet, e que já conta com vários colaboradores de qualidade, nomeadamente, na componente musical e também em rubricas que têm a ver com a cultura ribatejana desta região do país – Azambuja e outros concelhos limítrofes. O colunista desta rádio desafiou Miguel Rodrigues a explicar-se nesta entrevista para que se conheça o espírito empreendedor deste azambujense que arrisca, numa época pouco favorável, nos negócios em particular num sector há muito em crise, a comunicação, nomeadamente, na sua vertente do jornalismo impresso. Mas a qualidade dos trabalhos aí estão, e a publicidade na Rádio Valor Local já é uma realidade. Miguel, obrigado pela aceitação deste desafio. A primeira questão tem a ver com o teu novo projeto: a rádio Valor Local. Porquê uma rádio, com difusão via internet e com outros suportes tecnológicos como o Facebook?
Miguel António Rodrigues - Isto foi uma sã loucura. As experiências que adquiri nas rádios por onde fui passando marcaram-me ao longo da vida. Em 2013, abandonei o mundo radiofónico para criar o jornal mensal Valor Local, uma decisão ponderada com um quê de tristeza porque sendo o jornalismo a minha paixão sempre o senti mais vivo numa rádio do que noutros meios. Com o jornal já consolidado, chegou a altura de lançar a rádio e aplicar no projeto o que aprendi no passado tendo em conta as realidades do presente. O que nós temos neste estúdio resulta da minha passagem pela Rádio Clube de Azambuja e pela Rádio Ribatejo. A construção da Rádio Valor Local também é uma realidade devido ao apoio de um conjunto de amigos, que nos apoiaram a vários níveis como o do software.
Qual é a matriz da Rádio?
A nossa base é a música dos ano oitenta, vive-se nos dias de hoje uma fase de nostalgia, complementada com blocos informativos e de análise que incidem particularmente sobre a zona geográfica em que nos inserimos, e com a presença plural de opiniões q.b. Aliamos esta matriz a plataformas modernas de difusão, já que queremos que a Rádio Valor Local seja um órgão de comunicação social do século XXI.
Trabalhaste na comunicação social local mas também na nacional, a TVI, onde te notabilizaste na cobertura do trânsito, informação essencial para milhares de portugueses que todos os dias se deslocam nas vias da Grande Lisboa. Na comunicação local passaste pela Rádio Clube Lezíria, pela Rádio Cartaxo, Ribatejo, Ateneu entre outros órgãos de comunicação social ao longo destas décadas. E agora tens os teus próprios projetos em associação com a Sílvia e sedeaste-os em Azambuja. Porquê este salto para empreendedor?
Fruto das circunstâncias. Sempre gostei de fazer tudo e mais alguma coisa e fui vendo que havia espaço para melhorar. As oportunidades nem sempre eram as mesmas porque os projetos não eram meus e estando eu a fazer experiências em casa alheia, cheguei a uma altura da vida - já com 40 anos -em que achei que era importante experimentar uma coisa nova. Foram vicissitudes que me levaram a este projeto, o Valor Local, que está à vista, e que me levou também a fazer aqui algumas experiências que pelos vistos estão a correr bem. Experiências que nunca poderia fazer num jornal ou numa rádio que não fossem meus.
De jornalista a empreendedor
Em Portugal, o espírito empreendedor ainda não está bem fomentado, sedimentado. É maior que há 30 anos, mas ainda não é totalmente autónomo. A sociedade civil ainda não se libertou, ainda estamos totalmente dependentes do Estado. Vem uma crise e toda a gente está à espera do dinheiro que vem de Bruxelas. Perante esta crise e sabendo, por outro lado, que a imprensa nomeadamente a nacional está em crise, aqui e noutros países, devido à concorrência do social media
E das “fake news” também…
Das fake news, porque hoje em dia toda a gente escreve e como ninguém assina não se sabe quem é o responsável. Como é que um homem, jornalista, com experiência mas jovem resolve dar o salto para o empreendedorismo? O risco não é muito grande?
É. Mas eu acho que sempre fui empreendedor desde que queria ser eletricista. Acho que os anos que levo disto, e já são alguns de carteira e alguns de profissão, levaram-me a experimentar coisas novas. Analisei exemplos no estrangeiro, em rádios e jornais, e pensei porque não adaptar isto à nossa realidade? Dou-te um exemplo, nós temos uma iniciativa no jornal que tem a ver com a poupança da água dedicada aos miúdos do 1º ciclo. Essa iniciativa acontece na edição de março e resulta numa entrega de diplomas à posteriori, mas antes disso há uma espécie de concurso sem carácter competitivo em que as crianças fazem um desenho alusivo à poupança da água e à necessidade de reciclarmos mais através de uma escultura em material reciclável. É importante para fomentar também a consciência das crianças. Tem tido uma aceitação espetacular. Este exemplo vem de um jornal norte-americano; não é nada de extraordinário, claro que a dimensão é totalmente diferente, o nosso produto é totalmente diferente, o nosso jornal está em papel o outro é um jornal online, mas resultou perfeitamente bem aqui. Portanto, eu continuo a achar que os exemplos bons devem ser adaptados, e devem ser naturalmente seguidos tendo em consideração as circunstâncias. Nós avançámos em março de 2017 com esta ideia, correu bem, e fazemos isto todos os anos.
É um bom exemplo, e se o diretor me permitir um aparte, já que falamos dos Estados Unidos da América, um grande abraço para o meu colega Renato que lá vive, e que também é colunista na Rádio Valor Local, com uma rubrica semanal sobre aquele País; um abraço ao Renato e parabéns ao Miguel por o ter como colaborador e colunista.
O Renato é de Azambuja
É de Azambuja! Um facto que nos apraz. Que vai naturalmente dar oportunidades à comunidade portuguesa lá radicada. Mas voltando agora à essência da questão, Miguel, e pegando no teu exemplo, o que me surpreendeu neste regresso a Portugal, foi a qualidade do jornal Valor Local, nomeadamente no aprofundamento dos temas, dos conteúdos. Isto é fácil de fazer na imprensa local?
Não, de todo, Jorge. Tu que passaste pelo jornalismo e és uma das pessoas que eu admiro há muitos anos. Não me esqueço que foste um excelente diretor da Valor, revista que entretanto deixou de se publicar. Por isso, sabes bem que fazer bom jornalismo não é fácil tanto no trato das fontes como na captação de investimentos, por exemplo. Este projeto que estamos a fazer resulta do trabalho de toda uma equipe, não é só meu. O mérito do jornal Valor Local tem muito do saber e empenho da Sílvia Agostinho que, como editora e chefe de redação, tem disponibilizado o seu espírito forte e rigoroso na busca de notícias, na criatividade.
Desde a primeira hora que quisemos fazer um jornal mensal como se fosse como se tratasse de uma revista pelo menos na análise dos temas. O Valor Local é um projeto mensal, escrito numa ótica de revista, logo não dá para se tratar os temas do dia-a-dia como se fosse de um jornal diário se tratasse. O que abordamos são temas de fundo, sendo por vezes difícil chegar às fontes. Aliás, a imprensa nacional tem o mesmo problema, embora as nossas dificuldades sejam o dobro se é que me permites a expressão, porque muitas das vezes na comunidade em que nos inserimos não existe o entendimento do que é a comunicação social, qual a sua natureza e o que faz a comunicação social. Também hoje há muitas confusões entre o que é um jornal e um Facebook. E isso é um desafio permanente! Combater a ignorância é uma tarefa sempre inacabada.
Jorge Jacinto - Miguel Rodrigues, casado com Sílvia Agostinho que o acompanha nos desafios da comunicação social e está ativamente presente na construção dos seus empreendimentos, um jornal e agora uma rádio, acaba de lançar a Rádio Valor Local após ter consolidado o seu projeto de imprensa, o jornal mensal Valor Local. Deixou de trabalhar para outros e arriscou no seu próprio negócio, numa área da sua eleição, a comunicação, o jornalismo. Pode ganhar, pode perder. Mas para já, com base em muito trabalho e afinco está a implementar as suas ideias com profissionalismo. A Rádio Valor Local transmitida pela internet, e que já conta com vários colaboradores de qualidade, nomeadamente, na componente musical e também em rubricas que têm a ver com a cultura ribatejana desta região do país – Azambuja e outros concelhos limítrofes. O colunista desta rádio desafiou Miguel Rodrigues a explicar-se nesta entrevista para que se conheça o espírito empreendedor deste azambujense que arrisca, numa época pouco favorável, nos negócios em particular num sector há muito em crise, a comunicação, nomeadamente, na sua vertente do jornalismo impresso. Mas a qualidade dos trabalhos aí estão, e a publicidade na Rádio Valor Local já é uma realidade. Miguel, obrigado pela aceitação deste desafio. A primeira questão tem a ver com o teu novo projeto: a rádio Valor Local. Porquê uma rádio, com difusão via internet e com outros suportes tecnológicos como o Facebook?
Miguel António Rodrigues - Isto foi uma sã loucura. As experiências que adquiri nas rádios por onde fui passando marcaram-me ao longo da vida. Em 2013, abandonei o mundo radiofónico para criar o jornal mensal Valor Local, uma decisão ponderada com um quê de tristeza porque sendo o jornalismo a minha paixão sempre o senti mais vivo numa rádio do que noutros meios. Com o jornal já consolidado, chegou a altura de lançar a rádio e aplicar no projeto o que aprendi no passado tendo em conta as realidades do presente. O que nós temos neste estúdio resulta da minha passagem pela Rádio Clube de Azambuja e pela Rádio Ribatejo. A construção da Rádio Valor Local também é uma realidade devido ao apoio de um conjunto de amigos, que nos apoiaram a vários níveis como o do software.
Qual é a matriz da Rádio?
A nossa base é a música dos ano oitenta, vive-se nos dias de hoje uma fase de nostalgia, complementada com blocos informativos e de análise que incidem particularmente sobre a zona geográfica em que nos inserimos, e com a presença plural de opiniões q.b. Aliamos esta matriz a plataformas modernas de difusão, já que queremos que a Rádio Valor Local seja um órgão de comunicação social do século XXI.
Trabalhaste na comunicação social local mas também na nacional, a TVI, onde te notabilizaste na cobertura do trânsito, informação essencial para milhares de portugueses que todos os dias se deslocam nas vias da Grande Lisboa. Na comunicação local passaste pela Rádio Clube Lezíria, pela Rádio Cartaxo, Ribatejo, Ateneu entre outros órgãos de comunicação social ao longo destas décadas. E agora tens os teus próprios projetos em associação com a Sílvia e sedeaste-os em Azambuja. Porquê este salto para empreendedor?
Fruto das circunstâncias. Sempre gostei de fazer tudo e mais alguma coisa e fui vendo que havia espaço para melhorar. As oportunidades nem sempre eram as mesmas porque os projetos não eram meus e estando eu a fazer experiências em casa alheia, cheguei a uma altura da vida - já com 40 anos -em que achei que era importante experimentar uma coisa nova. Foram vicissitudes que me levaram a este projeto, o Valor Local, que está à vista, e que me levou também a fazer aqui algumas experiências que pelos vistos estão a correr bem. Experiências que nunca poderia fazer num jornal ou numa rádio que não fossem meus.
De jornalista a empreendedor
Em Portugal, o espírito empreendedor ainda não está bem fomentado, sedimentado. É maior que há 30 anos, mas ainda não é totalmente autónomo. A sociedade civil ainda não se libertou, ainda estamos totalmente dependentes do Estado. Vem uma crise e toda a gente está à espera do dinheiro que vem de Bruxelas. Perante esta crise e sabendo, por outro lado, que a imprensa nomeadamente a nacional está em crise, aqui e noutros países, devido à concorrência do social media
E das “fake news” também…
Das fake news, porque hoje em dia toda a gente escreve e como ninguém assina não se sabe quem é o responsável. Como é que um homem, jornalista, com experiência mas jovem resolve dar o salto para o empreendedorismo? O risco não é muito grande?
É. Mas eu acho que sempre fui empreendedor desde que queria ser eletricista. Acho que os anos que levo disto, e já são alguns de carteira e alguns de profissão, levaram-me a experimentar coisas novas. Analisei exemplos no estrangeiro, em rádios e jornais, e pensei porque não adaptar isto à nossa realidade? Dou-te um exemplo, nós temos uma iniciativa no jornal que tem a ver com a poupança da água dedicada aos miúdos do 1º ciclo. Essa iniciativa acontece na edição de março e resulta numa entrega de diplomas à posteriori, mas antes disso há uma espécie de concurso sem carácter competitivo em que as crianças fazem um desenho alusivo à poupança da água e à necessidade de reciclarmos mais através de uma escultura em material reciclável. É importante para fomentar também a consciência das crianças. Tem tido uma aceitação espetacular. Este exemplo vem de um jornal norte-americano; não é nada de extraordinário, claro que a dimensão é totalmente diferente, o nosso produto é totalmente diferente, o nosso jornal está em papel o outro é um jornal online, mas resultou perfeitamente bem aqui. Portanto, eu continuo a achar que os exemplos bons devem ser adaptados, e devem ser naturalmente seguidos tendo em consideração as circunstâncias. Nós avançámos em março de 2017 com esta ideia, correu bem, e fazemos isto todos os anos.
É um bom exemplo, e se o diretor me permitir um aparte, já que falamos dos Estados Unidos da América, um grande abraço para o meu colega Renato que lá vive, e que também é colunista na Rádio Valor Local, com uma rubrica semanal sobre aquele País; um abraço ao Renato e parabéns ao Miguel por o ter como colaborador e colunista.
O Renato é de Azambuja
É de Azambuja! Um facto que nos apraz. Que vai naturalmente dar oportunidades à comunidade portuguesa lá radicada. Mas voltando agora à essência da questão, Miguel, e pegando no teu exemplo, o que me surpreendeu neste regresso a Portugal, foi a qualidade do jornal Valor Local, nomeadamente no aprofundamento dos temas, dos conteúdos. Isto é fácil de fazer na imprensa local?
Não, de todo, Jorge. Tu que passaste pelo jornalismo e és uma das pessoas que eu admiro há muitos anos. Não me esqueço que foste um excelente diretor da Valor, revista que entretanto deixou de se publicar. Por isso, sabes bem que fazer bom jornalismo não é fácil tanto no trato das fontes como na captação de investimentos, por exemplo. Este projeto que estamos a fazer resulta do trabalho de toda uma equipe, não é só meu. O mérito do jornal Valor Local tem muito do saber e empenho da Sílvia Agostinho que, como editora e chefe de redação, tem disponibilizado o seu espírito forte e rigoroso na busca de notícias, na criatividade.
Desde a primeira hora que quisemos fazer um jornal mensal como se fosse como se tratasse de uma revista pelo menos na análise dos temas. O Valor Local é um projeto mensal, escrito numa ótica de revista, logo não dá para se tratar os temas do dia-a-dia como se fosse de um jornal diário se tratasse. O que abordamos são temas de fundo, sendo por vezes difícil chegar às fontes. Aliás, a imprensa nacional tem o mesmo problema, embora as nossas dificuldades sejam o dobro se é que me permites a expressão, porque muitas das vezes na comunidade em que nos inserimos não existe o entendimento do que é a comunicação social, qual a sua natureza e o que faz a comunicação social. Também hoje há muitas confusões entre o que é um jornal e um Facebook. E isso é um desafio permanente! Combater a ignorância é uma tarefa sempre inacabada.
Pressões, oblige

Julgo que um jornal de proximidade, porque é disso que se trata de um jornal local como o teu, há a dificuldade acrescida de as possíveis fontes acharem que podem mandar no jornal, e não apenas transmitirem os seus próprios pontos de vista. A nível nacional, há uns anos, quando era jornalista, sentia isso por parte dos grandes decisores nacionais ,logo deduzo que este factor em jornalismo de proximidade…
É mais grave, sim…
Se é mais complicado… como é que lidas com isso?
Não sei… honestamente não sei. Pressões há sempre. Da esquerda, direita, do centro, de cima, de baixo, há sempre. Amarelo, verde, azul… aqui a questão é: temos ou não temos forma de resolver isso? E explicar às pessoas que as coisas não são bem assim como as pessoas pensam. Honestamente nunca tivemos nenhum caso de pressão gritante que nos obrigasse a recorrer a determinadas entidades. O que regra geral nós fazemos é tentar explicar às pessoas que não… porque muitas vezes, aqui na zona onde estamos, não é uma questão de pressão pura e dura para favorecimento. É mais uma questão de desconhecimento, por desconhecimento porque durante muitos anos… Azambuja sempre foi uma terra rica em jornais… Vila Franca, Cartaxo, enfim, sempre houve aqui comunicação social à volta, porque muitas das vezes o que as pessoas julgam é que se faço publicidade no jornal, logo eu mando no jornal. E isso não funciona assim. Temos que separar as águas, temos que separar as coisas, a publicidade é uma coisa, as notícias são outra. Por isso é que temos vários departamentos a tratar dos vários assuntos. A pressão como tu lhe chamas, ou pelo menos esses acessos…
É um termo simpático.
É mais por desconhecimento. Porque as pessoas entendem que fazem um telefonema ao diretor e queixam-se ao diretor de certa notícia que estava mal feita, mas que no fundo lhes desagrada. Não significa que não cometemos erros, mas retificamos sempre que se justifica e é justo. Mas nem sempre é fácil. Fiz recentemente uma entrevista a um determinado protagonista que concorria a uma agremiação, à direção de uma coletividade; publiquei-a, e depois fui violentamente atacado por sms, que guardei, para um dia mostrar a quem de direito. A pessoa não tinha razão e é este tipo de ignorância que leva muitas vezes a que nós também tenhamos as nossas pressões…
E também sofrem pressão de assuntos e interesses, digamos, mais pesados, que movem com interesses de grande dimensão? Como no caso do aterro de Azambuja, por exemplo?
Sim, e nesse caso concreto também houve pressões de políticos locais (risos). A empresa simplesmente não presta declarações.
Mas o vereador António José Matos foi impedido uma vez de lá entrar…
O António José Matos, o próprio presidente da Câmara, o vereador Silvino Lúcio, enfim… e acho que a comissão de acompanhamento do aterro também já teve dificuldades, e isto é algo que é legal porque estramos a falar de uma propriedade privada. Há uma ordem judicial que pode, enfim, contornar isto, e serão essas entidades que terão que pôr, enfim, pés ao caminho…
A propriedade privada mas pode colocar em causa um bem maior, que é um bem público…estamos a falar de saúde coletiva!
Exatamente. Mas essa é a atitude que elegemos. É um assunto complicado. No dia-a-dia recebemos informações a, b, c, e d sobre o aterro. Todos os dias. É raro que não haja uma informação nova. A questão é depois verificarmos in loco. O trabalho mais difícil é conseguirmos verificar factos para depois não termos que dar a mão à palmatória com uma notícia errada. É um assunto que está na ordem do dia, e do qual tomámos a dianteira desde o início e quando não interessava falar muito quer para o partido que está no poder, mas também no caso de outros partidos da oposição por impreparação técnica, por alheamento da situação, quando apenas um munícipe falava e praticamente todos os eleitos o ignoravam. Houve muita falta de coragem política até e estamos a recuar há cerca de um ano e meio atrás. Até alguma comunicação social alinhava neste diapasão. Estivemos desde o início em contracorrente. Hoje já é notícia em todo o lado, e todos os dias os políticos falam do aterro e todos têm uma ideia e fazem prognósticos quais treinadores de bancada. Durante este ano fomos contactados em duas ocasiões por imprensa estrangeira que também acordou para esta matéria. Fomos citados pela Reuters. Esteve cá uma televisão alemã a filmar, que ficou a saber da notícia das 69 mil toneladas produzida pela nossa equipa no início do ano. É quase impossível fazer mais serviço público nesta matéria. A nossa chefe de redação, a Silvia, tem trabalhado esta matéria com profundidade e com rigor.
Não está em causa pôr em causa uma iniciativa privada, de economia, está em causa sim dar voz aos cidadãos e tentar que o projeto compra os trâmites da Lei e os regulamentos etc e que acima de tudo salvaguardar um bem maior…
E acima de tudo o nosso papel é esse, é dizer às pessoas tudo o que ali está. Deixa-me fazer uma nota prévia como se costuma dizer. Nós nascemos em 2013 fruto de um conjunto de circunstâncias que eu não quero falar aqui, pois não vale a pena, o que lá vai lá vai, sofremos fortes adversidades nos nossos primeiros quatro anos de existência, mas o bem, como se diz na gíria, imperou. Desde a primeira hora sempre fizemos um trabalho fora do concelho da Azambuja, porque apesar de ser um concelho importante para nós, não era viável este projeto de um ponto de vista apenas local. E por isso estamos em outros sete concelhos: Cartaxo, Salvaterra de Magos, Benavente, Vila Franca, Arruda dos Vinhos, Alenquer, e naturalmente Azambuja. Concelhos onde estamos e temos presença. A questão aqui é, em 24 páginas que são a nossa média, conseguirmos integrar todo o tipo de informação. Quando surgimos, fizemo-lo com o objetivo de preencher um espaço que existia em vazio a nível da informação. O aterro é a prova disso. Não quer dizer que não exista boa imprensa na região, mas o tratamento da informação não é igual ao nosso na generalidade desses media. Se leres o jornal vês que os destaques são mais aprofundados, há um jornalismo reflexivo. Por outro não dispensamos o trabalho no terreno, não fazemos jornalismo de secretária e isso custa tempo, e custa dinheiro, mas dá um gozo tremendo.
Já reparei que no teu jornal há “opinion makers” que não são da Azambuja; tens, por exemplo um opinion maker da área socialista de Vila Franca de Xira, o João Santos, entre outros. Agora, porquê a definição destes 7 concelhos? Porque é que o jornal quer cobrir estes 7 concelhos e o que é que significam para o editor e diretor Miguel Rodrigues?
São os concelhos que estão aqui à nossa volta. Foram escolhidos porque eu numa determinada altura trabalhei noutros projetos e criei uma série de laços afetivos a esses concelhos. São tudo concelhos onde eu gostava de ter vivido. Moro cá, sou de cá, nasci cá há 47 anos mas são sítios onde eu me sinto bem. Arruda onde tenho excelentes amigos, Vila Franca onde cresci profissionalmente em Benavente onde trabalhei também, no Cartaxo onde trabalhei, em Salvaterra.
Miguel, estávamos a falar da proximidade estre estes 7 concelho e dos vasos comunicantes que o concelho da Azambuja tem com esses outros 6 conselhos. Em termos culturais como é que definias esta pequena região?
Culturalmente muito rica, se calhar muito subaproveitada também. É muito interessante do ponto de vista da gastronomia e ao nível do turismo, desde os eventos como a Feira de Maio, o Colete Encarnado. Estamos a falar da cultura ribatejana. Do ponto de vista gastronómico, temos o Mês da Enguia em Salvaterra de Magos. Gostamos do bacalhau, do Torricado, do Tejo, da lezíria. No jornal está também espelhada a cultura do nosso povo. As festividades religiosas e tudo mais. A cultura em si tem a falha como outros concelhos, na sua vertente mais erudita e fora deste tipo de realizações, que elenquei, mas será assim aqui como no resto do país que é pouco evoluído culturalmente. Poderei salientar sem desprimor para os demais municípios que será em Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos e Alenquer que se produz mais essa cultura do ponto de vista formador do gosto, com mais opções a nível das diferentes iniciativas que por lá se fazem. Azambuja tem um bocadinho essa falta, mas se calhar devido à falta de uma sala de espetáculos eventualmente.
Tenho reparado que que o jornal também aborda outros componentes que não necessariamente as tradicionais Ribatejanas, que incidem sobre as ruínas históricas de Vila Nova de São Pedro…
Temos ido a tudo. Em Vila Nova de S. Pedro tem sido um cavalo de batalha nosso porque é um projeto que de vez em quando conhece algum tipo de expedição por parte de arqueólogos e nós temos estado a acompanhar isso porque são as raízes de uma civilização.
Mas vamos agora a outra questão por deformação minha profissional, que é questão econômica: imprimir um jornal é caro já que o papel é caro e o vosso jornal mensal é impresso em 4 cores. Como é que viabilizas o jornal?
Criatividade. Temos uma equipa fantástica, quer a da rádio quer a do jornal, nós fazemos tudo. E o jornal foi crescendo desde a primeira edição que temos vindo a crescer. A primeira edição deu lucros, a segunda edição deu lucro. Com criatividade temos tido momentos bons e momentos maus.
Imagina que eu sou empresário que diz: eu meto x, muito dinheiro em publicidade mas eu quero que vocês todos os meses só digam bem da minha empresa.
Isso é algo que era contra a nossa ética. Porque aqui a questão é separarmos as coisas, separarmos o que é o jornalismo do resto. Acho que notícias são notícias. Sejam boas ou sejam más. Isso é um tipo de situação que acredito seja significativa em alguns órgãos de comunicação social mas no nosso preferimos perder o cliente.
Quais são as tuas referências no jornalismo?
Em termos de figuras cresci a ver o Mário Crespo , o Carlos Pinto Coelho que tive a oportunidade de entrevistar e foi fantástico, a Dina Aguiar e a Judite de Sousa. A nível internacional, o Larry King. A entrevistas que me marcou mais foi uma entrevista ao super-homem, o Christopher Reeve, das mais bonitas que já vi, com muita dignidade e que me deixou marca. Muitas vezes, ambiciono seguir as pisadas do Larry King (risos).
* Com Sílvia Carvalho d'Almeida
É mais grave, sim…
Se é mais complicado… como é que lidas com isso?
Não sei… honestamente não sei. Pressões há sempre. Da esquerda, direita, do centro, de cima, de baixo, há sempre. Amarelo, verde, azul… aqui a questão é: temos ou não temos forma de resolver isso? E explicar às pessoas que as coisas não são bem assim como as pessoas pensam. Honestamente nunca tivemos nenhum caso de pressão gritante que nos obrigasse a recorrer a determinadas entidades. O que regra geral nós fazemos é tentar explicar às pessoas que não… porque muitas vezes, aqui na zona onde estamos, não é uma questão de pressão pura e dura para favorecimento. É mais uma questão de desconhecimento, por desconhecimento porque durante muitos anos… Azambuja sempre foi uma terra rica em jornais… Vila Franca, Cartaxo, enfim, sempre houve aqui comunicação social à volta, porque muitas das vezes o que as pessoas julgam é que se faço publicidade no jornal, logo eu mando no jornal. E isso não funciona assim. Temos que separar as águas, temos que separar as coisas, a publicidade é uma coisa, as notícias são outra. Por isso é que temos vários departamentos a tratar dos vários assuntos. A pressão como tu lhe chamas, ou pelo menos esses acessos…
É um termo simpático.
É mais por desconhecimento. Porque as pessoas entendem que fazem um telefonema ao diretor e queixam-se ao diretor de certa notícia que estava mal feita, mas que no fundo lhes desagrada. Não significa que não cometemos erros, mas retificamos sempre que se justifica e é justo. Mas nem sempre é fácil. Fiz recentemente uma entrevista a um determinado protagonista que concorria a uma agremiação, à direção de uma coletividade; publiquei-a, e depois fui violentamente atacado por sms, que guardei, para um dia mostrar a quem de direito. A pessoa não tinha razão e é este tipo de ignorância que leva muitas vezes a que nós também tenhamos as nossas pressões…
E também sofrem pressão de assuntos e interesses, digamos, mais pesados, que movem com interesses de grande dimensão? Como no caso do aterro de Azambuja, por exemplo?
Sim, e nesse caso concreto também houve pressões de políticos locais (risos). A empresa simplesmente não presta declarações.
Mas o vereador António José Matos foi impedido uma vez de lá entrar…
O António José Matos, o próprio presidente da Câmara, o vereador Silvino Lúcio, enfim… e acho que a comissão de acompanhamento do aterro também já teve dificuldades, e isto é algo que é legal porque estramos a falar de uma propriedade privada. Há uma ordem judicial que pode, enfim, contornar isto, e serão essas entidades que terão que pôr, enfim, pés ao caminho…
A propriedade privada mas pode colocar em causa um bem maior, que é um bem público…estamos a falar de saúde coletiva!
Exatamente. Mas essa é a atitude que elegemos. É um assunto complicado. No dia-a-dia recebemos informações a, b, c, e d sobre o aterro. Todos os dias. É raro que não haja uma informação nova. A questão é depois verificarmos in loco. O trabalho mais difícil é conseguirmos verificar factos para depois não termos que dar a mão à palmatória com uma notícia errada. É um assunto que está na ordem do dia, e do qual tomámos a dianteira desde o início e quando não interessava falar muito quer para o partido que está no poder, mas também no caso de outros partidos da oposição por impreparação técnica, por alheamento da situação, quando apenas um munícipe falava e praticamente todos os eleitos o ignoravam. Houve muita falta de coragem política até e estamos a recuar há cerca de um ano e meio atrás. Até alguma comunicação social alinhava neste diapasão. Estivemos desde o início em contracorrente. Hoje já é notícia em todo o lado, e todos os dias os políticos falam do aterro e todos têm uma ideia e fazem prognósticos quais treinadores de bancada. Durante este ano fomos contactados em duas ocasiões por imprensa estrangeira que também acordou para esta matéria. Fomos citados pela Reuters. Esteve cá uma televisão alemã a filmar, que ficou a saber da notícia das 69 mil toneladas produzida pela nossa equipa no início do ano. É quase impossível fazer mais serviço público nesta matéria. A nossa chefe de redação, a Silvia, tem trabalhado esta matéria com profundidade e com rigor.
Não está em causa pôr em causa uma iniciativa privada, de economia, está em causa sim dar voz aos cidadãos e tentar que o projeto compra os trâmites da Lei e os regulamentos etc e que acima de tudo salvaguardar um bem maior…
E acima de tudo o nosso papel é esse, é dizer às pessoas tudo o que ali está. Deixa-me fazer uma nota prévia como se costuma dizer. Nós nascemos em 2013 fruto de um conjunto de circunstâncias que eu não quero falar aqui, pois não vale a pena, o que lá vai lá vai, sofremos fortes adversidades nos nossos primeiros quatro anos de existência, mas o bem, como se diz na gíria, imperou. Desde a primeira hora sempre fizemos um trabalho fora do concelho da Azambuja, porque apesar de ser um concelho importante para nós, não era viável este projeto de um ponto de vista apenas local. E por isso estamos em outros sete concelhos: Cartaxo, Salvaterra de Magos, Benavente, Vila Franca, Arruda dos Vinhos, Alenquer, e naturalmente Azambuja. Concelhos onde estamos e temos presença. A questão aqui é, em 24 páginas que são a nossa média, conseguirmos integrar todo o tipo de informação. Quando surgimos, fizemo-lo com o objetivo de preencher um espaço que existia em vazio a nível da informação. O aterro é a prova disso. Não quer dizer que não exista boa imprensa na região, mas o tratamento da informação não é igual ao nosso na generalidade desses media. Se leres o jornal vês que os destaques são mais aprofundados, há um jornalismo reflexivo. Por outro não dispensamos o trabalho no terreno, não fazemos jornalismo de secretária e isso custa tempo, e custa dinheiro, mas dá um gozo tremendo.
Já reparei que no teu jornal há “opinion makers” que não são da Azambuja; tens, por exemplo um opinion maker da área socialista de Vila Franca de Xira, o João Santos, entre outros. Agora, porquê a definição destes 7 concelhos? Porque é que o jornal quer cobrir estes 7 concelhos e o que é que significam para o editor e diretor Miguel Rodrigues?
São os concelhos que estão aqui à nossa volta. Foram escolhidos porque eu numa determinada altura trabalhei noutros projetos e criei uma série de laços afetivos a esses concelhos. São tudo concelhos onde eu gostava de ter vivido. Moro cá, sou de cá, nasci cá há 47 anos mas são sítios onde eu me sinto bem. Arruda onde tenho excelentes amigos, Vila Franca onde cresci profissionalmente em Benavente onde trabalhei também, no Cartaxo onde trabalhei, em Salvaterra.
Miguel, estávamos a falar da proximidade estre estes 7 concelho e dos vasos comunicantes que o concelho da Azambuja tem com esses outros 6 conselhos. Em termos culturais como é que definias esta pequena região?
Culturalmente muito rica, se calhar muito subaproveitada também. É muito interessante do ponto de vista da gastronomia e ao nível do turismo, desde os eventos como a Feira de Maio, o Colete Encarnado. Estamos a falar da cultura ribatejana. Do ponto de vista gastronómico, temos o Mês da Enguia em Salvaterra de Magos. Gostamos do bacalhau, do Torricado, do Tejo, da lezíria. No jornal está também espelhada a cultura do nosso povo. As festividades religiosas e tudo mais. A cultura em si tem a falha como outros concelhos, na sua vertente mais erudita e fora deste tipo de realizações, que elenquei, mas será assim aqui como no resto do país que é pouco evoluído culturalmente. Poderei salientar sem desprimor para os demais municípios que será em Vila Franca de Xira, Arruda dos Vinhos e Alenquer que se produz mais essa cultura do ponto de vista formador do gosto, com mais opções a nível das diferentes iniciativas que por lá se fazem. Azambuja tem um bocadinho essa falta, mas se calhar devido à falta de uma sala de espetáculos eventualmente.
Tenho reparado que que o jornal também aborda outros componentes que não necessariamente as tradicionais Ribatejanas, que incidem sobre as ruínas históricas de Vila Nova de São Pedro…
Temos ido a tudo. Em Vila Nova de S. Pedro tem sido um cavalo de batalha nosso porque é um projeto que de vez em quando conhece algum tipo de expedição por parte de arqueólogos e nós temos estado a acompanhar isso porque são as raízes de uma civilização.
Mas vamos agora a outra questão por deformação minha profissional, que é questão econômica: imprimir um jornal é caro já que o papel é caro e o vosso jornal mensal é impresso em 4 cores. Como é que viabilizas o jornal?
Criatividade. Temos uma equipa fantástica, quer a da rádio quer a do jornal, nós fazemos tudo. E o jornal foi crescendo desde a primeira edição que temos vindo a crescer. A primeira edição deu lucros, a segunda edição deu lucro. Com criatividade temos tido momentos bons e momentos maus.
Imagina que eu sou empresário que diz: eu meto x, muito dinheiro em publicidade mas eu quero que vocês todos os meses só digam bem da minha empresa.
Isso é algo que era contra a nossa ética. Porque aqui a questão é separarmos as coisas, separarmos o que é o jornalismo do resto. Acho que notícias são notícias. Sejam boas ou sejam más. Isso é um tipo de situação que acredito seja significativa em alguns órgãos de comunicação social mas no nosso preferimos perder o cliente.
Quais são as tuas referências no jornalismo?
Em termos de figuras cresci a ver o Mário Crespo , o Carlos Pinto Coelho que tive a oportunidade de entrevistar e foi fantástico, a Dina Aguiar e a Judite de Sousa. A nível internacional, o Larry King. A entrevistas que me marcou mais foi uma entrevista ao super-homem, o Christopher Reeve, das mais bonitas que já vi, com muita dignidade e que me deixou marca. Muitas vezes, ambiciono seguir as pisadas do Larry King (risos).
* Com Sílvia Carvalho d'Almeida