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A sede do Rancho Típico Saia Rodada, em Benavente, grita por obras de fundo há várias décadas. O estado da construção, propriedade da Câmara, pede uma intervenção urgente, e Zulmira Ganhão, vice-presidente, da coletividade, ao Valor Local, diz que as instalações, que já foram posto da GNR, mas onde há 40 anos se encontra o rancho não têm “dignidade”. No local, vêm-se rachas no chão e muitas fendas no telhado. Não há qualquer tipo de aquecimento no inverno e no verão também não existem condições de conforto. O rancho reclamava por um tabuado novo, que já tem, mas por a casa ser tão velha, e porque ficou por cima do que já existia, quando os pares vão dançar o pó salta do chão e torna-se impraticável ensaiar em condições.
Com a pandemia não tem havido ensaios, mas a direção do rancho continua a pedir à Câmara de Benavente para que acelere o projeto que prevê a demolição das atuais instalações para que no mesmo local seja construída uma nova sede. O projeto já existe mas aguarda financiamento comunitário com um custo estimado de cerca de 237 mil euros +Iva. José Carvalho, presidente da coletividade, dá conta das difíceis condições para se ensaiar – “De verão é horrível porque fica muito calor, e quando as pessoas que fazem parte do rancho trazem acompanhantes nem com as janelas abertas se consegue estar aqui dentro porque se torna muito abafado. Já no inverno não se consegue trabalhar com tanto frio, sendo que nessa altura do ano fazemos os ensaios durante a tarde, porque à noite é terrível”. O rancho é composto por pessoas de todas as idades, num total de 70 pessoas, e a direção salienta que as condições são particularmente penosas para as crianças. As instalações não estão preparadas para ar condicionado e os poucos equipamentos elétricos parecem estar à espera de um curto circuito a qualquer instante. Há uma lâmpada que faz um barulho infernal. O local é lúgubre, sem condições e pelos diversos espaços vão passeando desde osgas a ratazanas. Dizem-nos que a cave está pejada com aqueles roedores. Para além disso chove dentro das instalações, e “há dias em que vem um cheiro nauseabundo das casas de banho porque esta é uma zona histórica onde ainda existem esgotos antigos”, acrescentam. Zulmira Ganhão esteve, na última reunião de Câmara, onde expôs o assunto e confessa que não gostou da resposta do presidente que na sua opinião insinuou que o grupo, ao longo dos anos, nunca zelou pela conservação do espaço. Esta direção que está à frente do rancho há dois anos alega que os subsídios e os eventos que se podiam promover para se angariarem verbas para obras nunca seriam suficientes face ao estado de degradação do edifício. “Os apoios da Câmara não chegam sequer para cobrir financeiramente as nossas saídas, porque temos de pagar autocarro, as horas do motorista, portagens e gasolina”. Sendo que “nem sempre temos autocarro da Câmara para o efeito”, junta Carla Silva, tesoureira. A direção sustenta que “nem sequer têm um espaço digno desse nome para se realizarem eventos”. Os membros do Saia Rodada dizem que não conhecem nenhuma outra sede de um rancho folclórico nestas condições – “Quando fazemos algum evento tentamos que sejam sempre numa sala de espetáculos da Câmara porque não queremos trazer ninguém a esta espelunca. Temos vergonha”, sustenta Zulmira Ganhão que reitera – “Apesar de o senhor presidente querer dizer que não estimamos o espaço, a verdade é que se num dia limparmos isto tudo, no outro dia está tudo na mesma, por causa dos ratos e do pó”. “Quando estamos a cantar sentimos o pó a entrar pelas goelas”, enfatiza a vice-presidente. O rancho fundado em 1980 integra elementos não apenas do concelho, mas também de Salvaterra de Magos, Vila Franca de Xira, entre outras localidades da região. O grupo anseia por obras e não vê como uma saída passar a usar as instalações do Centro Cultural porque estariam sempre condicionados pois serve também outras coletividades. Sendo que “essa alternativa significava o adiar eterno das obras aqui”. O grupo alega ainda a “falta de vontade do presidente da Câmara em ajudar o rancho” em algumas pequenas obras, bem como na disponibilização de “umas ventoinhas e de uns aquecedores que não passaram de promessas até hoje”. As respostas têm sido lacónicas – “Vai dizendo que logo se vê e não passa disso”. “Chegámos a pedir tintas à Câmara mas foi um empreiteiro quem nos ajudou”, refere Zulmira Ganhão. José Carvalho acrescenta que as verbas da coletividade “não dão para comprar telhas ou vigas” com o objetivo da concretização de obras de fundo. (Clique no vídeo acima - Com visita guiada à sala de reuniões, e casas de banho da coletividade)
A direção da coletividade não acredita nas promessas de Coutinho, e considera Hélio Justino, vereador da Cultura, como “a única pessoa decente que está dentro daquela Câmara” pois “é o único que diz a verdade e nos dá ânimo e alento, enquanto o senhor presidente só diz ‘que quando puder vai fazer’, e com esta idade nunca pensei ouvir da boca dele que não preservávamos o espaço”, argumenta Zulmira Ganhão. A restante direção concorda – “Ele sabe que mesmo com angariação de verbas é impossível fazer dinheiro para o que este espaço precisa”. Em reunião de Câmara, Carlos Coutinho ouviu as críticas de Zulmira Ganhão e referiu que a coletividade tem de continuar a aguardar luz verde dos fundos comunitários, sendo que nesta altura é a única com um projeto candidatado nesse sentido e que está, inclusivamente, à frente da obra de requalificação do Celeiro dos Arcos. Ao Valor Local, o presidente da Câmara diz não compreender o tom de crítica até porque tem feito “todos os esforços para ajudar a coletividade, até quando a dada altura houve alguns desentendimentos entre os seus elementos, conversei com eles e fiz o possível para contribuir para o espírito de união”. O autarca entende que nunca foi lacónico nas abordagens com o rancho – “Sempre falei a verdade, e a verdade é que nunca prometi que fazia as obras na data x ou y porque não sabemos quando é que a verba ficará disponível pelos fundos comunitários”. Coutinho salienta que a requalificação da sede do Saia Rodada é a única obra numa coletividade inscrita no Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU). Acho despropositadas as afirmações dos responsáveis do rancho, embora perceba o sentimento das pessoas”. |
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