Refugiados ucranianos em Vale do Paraíso com "o coração em lágrimas e alegria ao mesmo tempo"
Sílvia Agostinho
17-03-2022 às 17:15
É uma história com demasiadas semelhanças com milhões de muitas outras. Desde que estourou a guerra na Ucrânia que mais de dois milhões de cidadãos daquele país estão a fugir rumo aos países que fazem fronteira como a Polónia, a Húngria, a Roménia, ou a Moldávia. Daqui seguem para muitos outros países da União Europeia. Portugal tem sido o destino de muitos. Foi assim para uma mãe de 45 anos e os dois filhos de 9 e 14 anos. Anna Yasko chegou com o filho Iona e a filha Varvara ao nosso país no dia 10 de março. Foram recebidos pelo presidente da República e depois de cumpridos os trâmites legais estiveram a viver com mais algumas dezenas de compatriotas, todas mulheres e muitas crianças, no Pavilhão Desportivo de Vale do Paraíso no concelho de Azambuja. Na Ucrânia ficou o marido a lutar contra o exército russo. (O Valor Local esteve a falar com esta família no sábado dia 12 de março em direto no nosso Facebook numa emissão que recolheu milhões de visualizações. No domingo ficámos a saber que tinham sido encaminhados para uma família de acolhimento em Alcoentre).
Anna recorda que abandonou a sua casa em Kiev, a capital, debaixo do som das bombas. Em três horas pegou nos filhos e nos poucos pertences, e foi até à estação de transportes mais próxima. “Quando começaram a cair os prédios à volta foi quando decidimos que tínhamos mesmo de ir embora”, refere à nossa reportagem. Sem saber para onde ir embarcaram numa viagem q-ue não tinha um destino certo. Na Ucrânia e na altura do embarque para os comboios e autocarros é comum ver malas a voarem para fora para que caibam mais alguns passageiros. No caso desta família foram quase 14 horas como sardinha em lata até chegarem a Lviv na fronteira com a Polónia. Fugir era o mais importante. Todos os dias mantém o contacto com o marido. O facto de haver rede de internet no pavilhão é uma mais-valia. E no dia da nossa reportagem eram muitas as mulheres a tentarem estabelecer contacto com os maridos que ficaram na guerra.
Anna Yasko era professora na Ucrânia e agora espera encontrar um emprego para conseguir dar curso aos sonhos de ambos os filhos no mundo da música. Varvara toca piano e violino e Iona guitarra. A comunidade local sabendo da paixão musical das crianças proporcionou-lhes rapidamente instrumentos musicais. Iona tocou para a nossa reportagem dois temas, e logo de seguida chegaram através das nossas redes sociais muitas mensagens de parabéns e de votos de boa sorte a esta família. Um emigrante de Aveiras de Cima até fez questão de garantir que entregaria a este jovem ucraniano uma palheta para a guitarra. Anna Yasko pergunta-nos onde há escolas de música perto de Vale do Paraíso. Indicamos que na própria freguesia há uma banda mas também em Azambuja, assim como noutros locais que ficam a alguns quilómetros. “Se for preciso vamos a pé”, garante-nos. Aprender a língua é também uma prioridade. Portugal foi o destino escolhido por esta família como pelas restantes que estão em Vale do Paraíso trazidas pela "Ukrainian Refugees” UAPT, uma associação criada por um empresário ucraniano radicado no nosso país desde os anos 2000 e que em tempo recorde fretou vários aviões para trazer compatriotas para o nosso país.
17-03-2022 às 17:15
É uma história com demasiadas semelhanças com milhões de muitas outras. Desde que estourou a guerra na Ucrânia que mais de dois milhões de cidadãos daquele país estão a fugir rumo aos países que fazem fronteira como a Polónia, a Húngria, a Roménia, ou a Moldávia. Daqui seguem para muitos outros países da União Europeia. Portugal tem sido o destino de muitos. Foi assim para uma mãe de 45 anos e os dois filhos de 9 e 14 anos. Anna Yasko chegou com o filho Iona e a filha Varvara ao nosso país no dia 10 de março. Foram recebidos pelo presidente da República e depois de cumpridos os trâmites legais estiveram a viver com mais algumas dezenas de compatriotas, todas mulheres e muitas crianças, no Pavilhão Desportivo de Vale do Paraíso no concelho de Azambuja. Na Ucrânia ficou o marido a lutar contra o exército russo. (O Valor Local esteve a falar com esta família no sábado dia 12 de março em direto no nosso Facebook numa emissão que recolheu milhões de visualizações. No domingo ficámos a saber que tinham sido encaminhados para uma família de acolhimento em Alcoentre).
Anna recorda que abandonou a sua casa em Kiev, a capital, debaixo do som das bombas. Em três horas pegou nos filhos e nos poucos pertences, e foi até à estação de transportes mais próxima. “Quando começaram a cair os prédios à volta foi quando decidimos que tínhamos mesmo de ir embora”, refere à nossa reportagem. Sem saber para onde ir embarcaram numa viagem q-ue não tinha um destino certo. Na Ucrânia e na altura do embarque para os comboios e autocarros é comum ver malas a voarem para fora para que caibam mais alguns passageiros. No caso desta família foram quase 14 horas como sardinha em lata até chegarem a Lviv na fronteira com a Polónia. Fugir era o mais importante. Todos os dias mantém o contacto com o marido. O facto de haver rede de internet no pavilhão é uma mais-valia. E no dia da nossa reportagem eram muitas as mulheres a tentarem estabelecer contacto com os maridos que ficaram na guerra.
Anna Yasko era professora na Ucrânia e agora espera encontrar um emprego para conseguir dar curso aos sonhos de ambos os filhos no mundo da música. Varvara toca piano e violino e Iona guitarra. A comunidade local sabendo da paixão musical das crianças proporcionou-lhes rapidamente instrumentos musicais. Iona tocou para a nossa reportagem dois temas, e logo de seguida chegaram através das nossas redes sociais muitas mensagens de parabéns e de votos de boa sorte a esta família. Um emigrante de Aveiras de Cima até fez questão de garantir que entregaria a este jovem ucraniano uma palheta para a guitarra. Anna Yasko pergunta-nos onde há escolas de música perto de Vale do Paraíso. Indicamos que na própria freguesia há uma banda mas também em Azambuja, assim como noutros locais que ficam a alguns quilómetros. “Se for preciso vamos a pé”, garante-nos. Aprender a língua é também uma prioridade. Portugal foi o destino escolhido por esta família como pelas restantes que estão em Vale do Paraíso trazidas pela "Ukrainian Refugees” UAPT, uma associação criada por um empresário ucraniano radicado no nosso país desde os anos 2000 e que em tempo recorde fretou vários aviões para trazer compatriotas para o nosso país.
“Estávamos a seguir no Facebook esta associação, que nos disse que Portugal era um bom sítio, não só porque é longe da Ucrânia e distante do conflito, mas principalmente porque as pessoas de Portugal são muito queridas, têm um coração mole e estão sempre aqui para nos ajudar”.
Desde que chegou a Portugal e a Vale do Paraíso mais em concreto “que tem sido inexplicável a onda de emoção que sentimos. As pessoas agarram em nós e abraçam-nos. A ajuda é tanta que não há palavras”, descreve Anna, especificando – “O coração está em lágrimas e alegria ao mesmo tempo”.
Voltar ao seu país é algo que vai estar posto de parte durante muito tempo. “Corremos muitos riscos no nosso país, vimos os aviões a passar e a despejar bombas com muito fumo. Estamos muito traumatizados com tudo isto”. Para classificar Putin, esta família só tem uma palavra – “É um animal, porque não pode ser uma pessoa normal. É um cobarde que está dentro de um bunker ao contrário de Zelensky que está ao lado do povo”. Mas lamenta que o povo russo “esteja a ser castigado porque se manifesta contra esta guerra pelo seu presidente”. Sobre a ofensiva russa concorda que Putin está a perder terreno porque “queria tomar Kiev em quatro dias e não está a conseguir, sendo que os países vizinhos estão com a Ucrânia neste combate contra o presidente russo”. Recorde-se que depois do pedido de adesão à União Europeia levado a cabo pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, a Moldávia e a Geórgia também se uniram neste desiderato. Putin tem sido contra a adesão quer à Nato quer à União Europeia por parte dos países que fazem fronteira com a Rússia. Em 2014 conseguiu fazer com que o anterior presidente ucraniano Viktor Yanukovych desistisse dessa velha ambição, num momento histórico, que levou à revolta da população com consequente queda do presidente, exilado desde então na Rússia. Os ucranianos veem na adesão à União Europeia uma forma de progresso civilizacional e económico.
Desde que chegou a Portugal e a Vale do Paraíso mais em concreto “que tem sido inexplicável a onda de emoção que sentimos. As pessoas agarram em nós e abraçam-nos. A ajuda é tanta que não há palavras”, descreve Anna, especificando – “O coração está em lágrimas e alegria ao mesmo tempo”.
Voltar ao seu país é algo que vai estar posto de parte durante muito tempo. “Corremos muitos riscos no nosso país, vimos os aviões a passar e a despejar bombas com muito fumo. Estamos muito traumatizados com tudo isto”. Para classificar Putin, esta família só tem uma palavra – “É um animal, porque não pode ser uma pessoa normal. É um cobarde que está dentro de um bunker ao contrário de Zelensky que está ao lado do povo”. Mas lamenta que o povo russo “esteja a ser castigado porque se manifesta contra esta guerra pelo seu presidente”. Sobre a ofensiva russa concorda que Putin está a perder terreno porque “queria tomar Kiev em quatro dias e não está a conseguir, sendo que os países vizinhos estão com a Ucrânia neste combate contra o presidente russo”. Recorde-se que depois do pedido de adesão à União Europeia levado a cabo pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, a Moldávia e a Geórgia também se uniram neste desiderato. Putin tem sido contra a adesão quer à Nato quer à União Europeia por parte dos países que fazem fronteira com a Rússia. Em 2014 conseguiu fazer com que o anterior presidente ucraniano Viktor Yanukovych desistisse dessa velha ambição, num momento histórico, que levou à revolta da população com consequente queda do presidente, exilado desde então na Rússia. Os ucranianos veem na adesão à União Europeia uma forma de progresso civilizacional e económico.
Presidente da Câmara de Azambuja enaltece espírito solidário – “O nosso povo é demais!”
Após o contacto de um dos interlocutores da associação "Ukrainian Refugees” UAPT, o município de Azambuja decidiu dizer sim a esta operação que consiste em oferecer um lugar para que as famílias possam ficar de forma temporária até serem encaminhadas para soluções mais definitivas por parte da associação. Chegaram no dia 10 de março e no dia seguinte, alguns dos refugiados já tinham para onde ir. No dia da nossa reportagem estavam 21 pessoas na Casa da Juventude e cerca de 69 no Pavilhão Desportivo de Vale do Paraíso. É lá que dormem, fazem as suas refeições e higiene. Como há muitas crianças à mistura há brinquedos e mesas de pingue-pongue para irem passando o tempo. A comunidade local e não só está muito empenhada em confortar e dar todo o carinho possível a estas pessoas. Silvino Lúcio, presidente da Câmara de Azambuja, descreve esta jornada e este arregaçar de mangas por parte do município como “muito emocionante”. A Câmara esperava levar para o concelho 140 pessoas, “mas muitas tinham familiares e amigos à espera e não foi necessário”.
Neste processo, o autarca saúda o espírito dos corpos de bombeiros do concelho, da Cruz Vermelha e da sociedade civil que contribuíram para esta causa bem como os funcionários da Câmara que “têm feito um trabalho extraordinário”. “O nosso povo é demais. Temos dois pavilhões da EPAC completamente cheios com dádivas de pessoas do concelho e até de fora”. Mas não foram apenas bens alimentares ou de higiene que a população deu, também choveram ofertas de micro-ondas, aquecedores, camas de bebé numa onda de solidariedade infinita ao ponto de o município anunciar nas suas redes sociais que já não necessitava de mais. “Esta onda solidária não tem comparação. Não param de chegar pedidos de pessoas a quererem vir para aqui (Vale do Paraíso) ajudar estas famílias, a disponibilizar os seus préstimos para o que for preciso”. Já as famílias apoiadas “mostram a sua grande gratidão”. “Aqui podem fazer as suas refeições e tomar banho, ao contrário dos seus compatriotas que estão refugiados em estações de metro sem condições nenhumas, infelizmente”. Ao serviço desta missão estão seis pessoas falantes de ucranianos, imigrantes estabelecidos no nosso país há vários anos e que dominam bem o Português, ou jovens luso-ucranianos. “Vamos mantendo aqui uma harmonia familiar e oferecendo o melhor que temos, e se mais tivéssemos mais daríamos”.
Após o contacto de um dos interlocutores da associação "Ukrainian Refugees” UAPT, o município de Azambuja decidiu dizer sim a esta operação que consiste em oferecer um lugar para que as famílias possam ficar de forma temporária até serem encaminhadas para soluções mais definitivas por parte da associação. Chegaram no dia 10 de março e no dia seguinte, alguns dos refugiados já tinham para onde ir. No dia da nossa reportagem estavam 21 pessoas na Casa da Juventude e cerca de 69 no Pavilhão Desportivo de Vale do Paraíso. É lá que dormem, fazem as suas refeições e higiene. Como há muitas crianças à mistura há brinquedos e mesas de pingue-pongue para irem passando o tempo. A comunidade local e não só está muito empenhada em confortar e dar todo o carinho possível a estas pessoas. Silvino Lúcio, presidente da Câmara de Azambuja, descreve esta jornada e este arregaçar de mangas por parte do município como “muito emocionante”. A Câmara esperava levar para o concelho 140 pessoas, “mas muitas tinham familiares e amigos à espera e não foi necessário”.
Neste processo, o autarca saúda o espírito dos corpos de bombeiros do concelho, da Cruz Vermelha e da sociedade civil que contribuíram para esta causa bem como os funcionários da Câmara que “têm feito um trabalho extraordinário”. “O nosso povo é demais. Temos dois pavilhões da EPAC completamente cheios com dádivas de pessoas do concelho e até de fora”. Mas não foram apenas bens alimentares ou de higiene que a população deu, também choveram ofertas de micro-ondas, aquecedores, camas de bebé numa onda de solidariedade infinita ao ponto de o município anunciar nas suas redes sociais que já não necessitava de mais. “Esta onda solidária não tem comparação. Não param de chegar pedidos de pessoas a quererem vir para aqui (Vale do Paraíso) ajudar estas famílias, a disponibilizar os seus préstimos para o que for preciso”. Já as famílias apoiadas “mostram a sua grande gratidão”. “Aqui podem fazer as suas refeições e tomar banho, ao contrário dos seus compatriotas que estão refugiados em estações de metro sem condições nenhumas, infelizmente”. Ao serviço desta missão estão seis pessoas falantes de ucranianos, imigrantes estabelecidos no nosso país há vários anos e que dominam bem o Português, ou jovens luso-ucranianos. “Vamos mantendo aqui uma harmonia familiar e oferecendo o melhor que temos, e se mais tivéssemos mais daríamos”.
Se, entretanto, as famílias ucranianas arranjarem acomodação fora das estruturas da Câmara, “vamos encaminhar estes bens para a Polónia, para o campo de refugiados”. Conforme a Rádio Valor Local deu conta no programa especial “SOS Ucrânia”, a autarquia em conjunto com uma empresa de transportes do concelho, vai enviar um camião para a Ucrânia com o fruto das dádivas da população, ficando o município responsável pelas despesas relacionadas com as portagens e o combustível.
Através do Governo por intermédio da secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, a Câmara tem estado a articular no sentido de dar soluções de vida àqueles cidadãos com a possibilidade de serem levados para outros municípios e serem-lhes dadas oportunidades no curto e no médio prazo. No entanto será possível fixar algumas das mulheres ucranianas “porque temos um tecido empresarial que se pode adaptar a estas pessoas”, embora seja escassa a oferta de habitações. Para já uma empresa de fabrico industrial de sedeada em Aveiras de Cima e o Pingo Doce manifestaram vontade de acolher possível mão de obra, bem como uma empresa algarvia.
O autarca diz que é necessário existir um olhar atento a possíveis abusos e situações de tráfico humano. “Há uma empresa que está disponível para levar 20 senhoras e os filhos, mas temos de estudar muito bem para que não se verifiquem situações menos claras, já basta o que estas pessoas passaram”.
O presidente da Câmara saúda ainda algumas ofertas que têm vindo por parte das empresas fixadas no concelho, nomeadamente, grandes grupos de distribuição que providenciaram os mais diversos tipos de bens.
O autarca conclui referindo que “nós azambujenses devemos ter orgulho porque estamos a ajudar uma causa bastante nobre”.
Continue a ler esta reportagem aqui
Através do Governo por intermédio da secretaria de Estado para a Integração e as Migrações, a Câmara tem estado a articular no sentido de dar soluções de vida àqueles cidadãos com a possibilidade de serem levados para outros municípios e serem-lhes dadas oportunidades no curto e no médio prazo. No entanto será possível fixar algumas das mulheres ucranianas “porque temos um tecido empresarial que se pode adaptar a estas pessoas”, embora seja escassa a oferta de habitações. Para já uma empresa de fabrico industrial de sedeada em Aveiras de Cima e o Pingo Doce manifestaram vontade de acolher possível mão de obra, bem como uma empresa algarvia.
O autarca diz que é necessário existir um olhar atento a possíveis abusos e situações de tráfico humano. “Há uma empresa que está disponível para levar 20 senhoras e os filhos, mas temos de estudar muito bem para que não se verifiquem situações menos claras, já basta o que estas pessoas passaram”.
O presidente da Câmara saúda ainda algumas ofertas que têm vindo por parte das empresas fixadas no concelho, nomeadamente, grandes grupos de distribuição que providenciaram os mais diversos tipos de bens.
O autarca conclui referindo que “nós azambujenses devemos ter orgulho porque estamos a ajudar uma causa bastante nobre”.
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