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Renato Campos, primeiro presidente da Câmara do Cartaxo, após a Revolução: 
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"Faltava fazer tudo no concelho"
Não foram tempos fáceis, pois todos os dias, recorda o antigo autarca “choviam denúncias de carências e a exigência da sua resolução imediata”
Miguel António Rodrigues
26-04-2016 às 18:20
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O 25 de Abril de 1974 trouxe a nu muitas das dificuldades pelas quais as populações passavam, mas de que ninguém falava. Foi assim de norte a sul do país e tronaram-se mais visíveis com as primeiras eleições autárquicas no período pós revolução. Nessa altura, fervilhavam as reuniões políticas um pouco por todo o lado e o “apetite” pela causa pública era sem dúvida bem diferente dos dias de hoje.

Foi assim no Cartaxo, onde Renato Campos se tornou o primeiro presidente de Câmara eleito. Em entrevista ao Valor Local, o antigo autarca lembra que a sua atividade política já vinha da luta académica dos anos 60. Nessa altura andava envolvido “no meio e nos principais acontecimentos” com “as correspondentes represálias por parte da polícia política”.

Tal situação levou-o a ter uma vida mais ativa no mundo da política depois da Revolução. Renato Campos lembra que aderiu ao Partido Socialista a 1 de maio de 1974, tendo aberto a primeira sede do PS alguns meses depois. É por isso que refere com orgulho – “Atualmente, somos os militantes mais antigos do distrito de Santarém. Portanto o ‘bichinho’ da política já vinha de longe”.

Todavia, e apesar do envolvimento no mundo da política de forma mais ativa refere que nunca pensou participar em nenhum órgão autárquico mas “numa noite, já próximo do fim do prazo para a apresentação de listas, vieram a minha casa, dizendo-me que só haveria lista do PS se eu a encabeçasse”, lembra-se. “Não estava à espera, balbuciei um não indeciso, mas acabei por aceitar participar nessa nova aventura política, que para todos nós, afinal, era uma estreia absoluta”.

Renato Campos diz que não sabe de cor todos os nomes que participaram na primeira comissão administrativa. Já no que toca ao primeiro executivo camarário eleito a memória é mais viva - “Lembro-me muito bem de todos eles, três dos quais, infelizmente, já falecidos. Portanto, além de mim, estavam Anselmo Rocha (PS), Maria José Campos (PS), Josefino Parente (PS), Felisberto Martins (FEPU), José Gonçalves (FEPU) e Fernando Luís (PPD).”

Renato Campos recorda que durante a campanha que decorreu em novembro de 1976, “o PREC estava mais calmo, e as pessoas, na generalidade, já se respeitavam melhor dentro das regras democráticas”. Se bem que, a acrescentar “à divisão ideológica, ainda houvesse um bairrismo exacerbado que, por vezes, dificultava essa convivência”, ainda assim “tudo decorreu sem incidentes de monta.”

Renato Campos venceu as eleições, e a 2 de janeiro de 1977 tomou posse o Governador Civil de Santarém, que à época era Fausto Sacramento Marques. Renato Campos lembra que depois e já como deputado “seria o proponente e relator do projeto de lei que criou a região demarcada do vinho do Cartaxo, englobando também o concelho de Azambuja”.
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O antigo presidente da Câmara do Cartaxo recorda-se bem das dificuldades do início da democracia para as populações pois “não existiam finanças locais e, em alguns casos, os funcionários tinham dificuldade em passarem por cima de burocracias antigas, que lhes ensinaram como tabus”. Por isso era difícil responderem com “entusiasmo e celeridade às exigências de uma nova fornada de autarcas impacientes por resolverem depressa os inúmeros problemas que todos os dias lhes eram postos”.

O concelho do Cartaxo, à semelhança de tantos outros concelhos tinha muitas insuficiências. Renato Campos prefere falar do que não tinha o município em vez do que lhe fazia falta, e recorda por exemplo que o abastecimento de água só cobria “e mal o centro urbano do Cartaxo”. O saneamento básico não passava dos 10 por cento e não tinha qualquer tratamento.

Quanto ao ensino, este terminava na antiga quarta classe e não existiam postos médicos. Quanto à rede viária, imperavam o “macadame e os buracos” e não existia um edifício municipal em condições. “Enfim, costumo evocar como exemplo do atraso que fomos encontrar, o facto de dez anos depois de o Homem ter ido à Lua e de estarmos num concelho a 60 quilómetros da capital, ainda ser preciso inaugurar a eletricidade em várias povoações rurais. Nem fazia ideia desse estado tão carente, e no ato inaugural, pedia sempre desculpa às populações por esse atraso civilizacional”.

O executivo teve então de colocar mãos à obra e começou como prioridade, entre outras, a modernização da estrutura municipal “e pô-la a funcionar em novos moldes”. O antigo autarca recorda que, por fases, o município foi construindo a rede de águas e saneamento a par da recuperação da rede viária do concelho, “dando preferência aos maiores aglomerados populacionais”. “Isto tudo de forma responsável e faseada, pois nunca quisemos que a Câmara constituísse mais um problema para a economia do concelho, mas sim que fosse um fator da sua dinamização, já que, tal como hoje, os tempos eram muito difíceis. Como exemplo digo-lhe que os pagamentos ao comércio local eram imediatos, e os restantes não passavam em média, os 45 dias”.

Não foram tempos fáceis, pois todos os dias, recorda o antigo autarca “choviam denúncias de carências e a exigência da sua resolução imediata”. “As reuniões camarárias tinham multidões a reivindicar melhoramentos para as suas terras”, algo que foi sendo resolvido com a “colaboração das populações, disponibilizando mão-de-obra, tratores, donativos”.

Com efeito o concelho do Cartaxo é um dos poucos da região, talvez a par com Alenquer cuja gestão tem sido sempre feita pelo Partido Socialista. Renato Campos diz que sobre isso ”será melhor perguntar ao eleitorado”, atribuindo o facto “talvez à reconhecida capacidade de os autarcas socialistas se identificarem corretamente com as populações e com os seus anseios”.

Já quanto às dificuldades financeiras do município com a gestão de Paulo Caldas a ser o alvo de todos os focos, Renato Campos escusa-se a comentar “”por uma questão de ética”. Mas reconhece que a atual situação financeira do município “é muito difícil e muito limitadora da atuação que o presente executivo queira realizar” Quanto à gestão de Caldas, refere que talvez este “tenha querido concretizar no concelho, decerto com boa intenção, um modelo de desenvolvimento, cuja dimensão não estava conforme com os meios de que dispunha” e atribui também responsabilidade à oposição já que “também não existiu por parte dos demais partidos políticos uma posição firme de inviabilizar ou de chamar a atenção para certas coisas que vieram a não dar certo e a criar as atuais dificuldades”, vincando no entanto o esforço do atual executivo para ultrapassar “a gestão menos conseguida de Paulo Caldas”.


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