Grande Reportagem: Retrato dos Nossos Idosos

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ImagemCarlos Lourenço esteve ligado às coletividades de Azambuja

Desde os institucionalizados aos que recebem apoio em suas casas, até aos que procuram ocupar o tempo livre com actividades que lhes possam proporcionar convívio e que sejam uma mais-valia, fomos conhecer alguns idosos da região. Como vivem; como lidam com as suas doenças, como encaram a última estação da vida. Destaque ainda para algumas instituições que trabalham de perto com esta faixa etária.


“Jardins da Lagoa” aposta no trabalho com as demências

Na localidade de Casais da Lagoa, Azambuja, o lar “Jardins da Lagoa” decidiu, há poucos dias, implementar uma ala dedicada ao acompanhamento especializado dos idosos com demência, dado que esta unidade, de acordo com a directora técnica, Rosa Lobo, “não rejeita a integração de utentes com quadros de alzheimer e outras demências”. A nível nacional são poucos os lares do sector privado ou público que fizeram, até à data, este tipo de aposta, e quando o país tem cerca de 90 mil doentes de Alzheimer.

Nessa ala do clube residencial sénior de Casais da Lagoa, estarão a trabalhar com este tipo de utentes, um psiquiatra com formação em geriatria, um psicólogo, um enfermeiro, uma terapeuta ocupacional, a directora técnica e outro pessoal auxiliar. “Trata-se de uma equipa multidisciplinar que vai privilegiar a inteligência emocional no contacto com os doentes de alzheimer”. Desde já Rosa Lobo, fornece algumas pistas sobre como se deve lidar com esta população alvo – “Estamos a falar de pessoas que gostam sobretudo que as escutem, não gostam e ficam, particularmente, irritadas quando são confrontadas ou quando se lhes faz muitas perguntas. Gostam que acreditemos nelas, apesar das fabulações, de dizerem coisas sem sentido, porque o que importa, naquela fase das suas vidas, é que as possamos manter estáveis”, refere. Massagens terapêuticas, actividades de grupo e musicoterapia também são ferramentas que ajudam a estimular estes doentes.

Os técnicos envolvidos nesta experiência importante do lar têm obtido alguns sucessos para já, como no caso de um idoso que chegou à unidade com dificuldades em realizar as tarefas básicas do dia-a-dia e que conseguiu ultrapassar essa fase, embora apresente um caso de alzheimer que não regredirá, dado que a doença é incurável.


Entre os utentes deste lar, está uma cara conhecida de Azambuja, trata-se de Carlos Lourenço que esteve durante 30 anos na direcção do Grupo Desportivo de Azambuja e 15 anos no Rancho Folclórico Ceifeiras e Campinos de Azambuja. Também sofre da doença de Parkinson, e em Janeira fará um ano que entrou nesta unidade residencial para séniores, depois de ter estado um mês hospitalizado e ter chegado ao lar “em condições pouco recomendáveis”.

Com o apoio dos que ali trabalham tem conseguido restabelecer-se, pois lembra-se de que nem sequer andava quando chegou ao lar. Classifica a estadia como espectacular; e o seu dia-a-dia divide-se entre a ginástica na passadeira, assistir televisão e actividades de grupo. Também o visitam frequentemente; e amigos há que o levam a almoçar fora.

Relembra com saudades os tempos em que esteve no movimento associativo do concelho – “Estive muito tempo nas associações mas foi muito bom”. Há quem em Azambuja já não o veja há muito tempo, não imaginando que esteja num lar, dado que tem apenas 61 anos de idade. Por isso, formula um voto no final da entrevista: “Desejo a todas as pessoas de Azambuja muita saúde e que aproveitem a vida”.

Também residente neste lar, Tomás Matos, natural de Ponte de Lima, que até há poucos meses vivia em Vale do Paraíso, Azambuja. Doente de Parkinson, gosta sobretudo de actividades ligadas ao aspecto cognitivo, e por isso não dispensa as suas “palavras cruzadas e sopa de letras”, nomeadamente, as que vêm no jornal “Cardeal Saraiva” da sua terra.

Com 74 anos de idade, lembra-se bem dos seus tempos de juventude quando esteve na vida militar, e emigrado na Alemanha. Nos últimos anos dedicou-se sobretudo à agricultura.

Refere que o facto de tremer já vem desde mais novo, mas que nos últimos anos se tem acentuado – “Há dias em que tenho de beber por uma palhinha e nem consigo escrever a minha assinatura, tenho pesquisado muito sobre isto, cheguei a ler alguns livros”, dá conta. O convívio com os outros utentes e funcionários é para si importante pois considera ser “muito brincalhão”. “Toda a gente gosta de mim, faço rir, sempre fui muito alegre, nunca dei uma bofetada a ninguém”.


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Santa Casa do Cartaxo apoia 45 pessoas no apoio domiciliário

Todos os dias, e mais do que uma vez por dia, o serviço de apoio domiciliário da Santa Casa da Misericórdia do Cartaxo desloca-se a casa de pessoas indicadas pela Segurança Social com o objectivo da sua higiene, alimentação e limpeza do lar. Acompanhámos uma dessas acções. Ana Clara, com 87 anos, é uma das idosas abrangidas. Ao fim da tarde, recebeu a higiene, e foi-lhe deixado um pequeno jantar, até porque não consegue alimentar-se como seria esperado, devido ao avanço da idade. A sua magreza é visível. Está acamada há cinco anos. “No outro dia, trouxemos-lhe frango no forno, mas foi incapaz de comer”, refere uma das funcionárias da santa casa.

A técnica de Serviço Social, Elisabete Teófilo, conta que a idosa é visitada pelas funcionárias da santa casa três vezes por dia. Não conta com muitas ajudas, até porque “um dos filhos possui problemas com o álcool.”

Este serviço apoia 45 utentes, sendo que a comparticipação financeira de cada um é escassa, pois tratam-se de pessoas com carências económicas acentuadas. “A Segurança Social apenas comparticipa cinco dias por semana, até às quatro da tarde, mas fazemos o serviço todos os dias e até às oito”, refere Elisabete Teófilo. Ana Clara só encontra elogios para definir este apoio: “As senhoras da Santa Casa são muito boas, só não fazem melhor porque não podem”.

No caso de Maria Helena Barroso, 84 anos, também utente do serviço de apoio domiciliário da misericórdia do Cartaxo, é, igualmente, visitada três vezes por dia. Elisabete Teófilo sublinha “a boa articulação” com a unidade de cuidados continuados do Cartaxo que permitiu “ a aquisição de uma cama articulada” para esta idosa. “O filho da senhora, de início, estava relutante, mas lá se conseguiu”. A técnica gostaria de ver incrementado o banco de ajudas local, pois “ainda hoje foi pedida uma cadeira de rodas, mas as três existentes estão a ser utilizadas por outros utentes”.

Maria Helena é natural do Porto, e recebe o apoio domiciliário no Cartaxo, há cerca de um ano. “O meu filho trouxe-me para cá. Trabalhei como costureira até aos 80 anos. Fazia pijamas de flanela e camisas, uma arte que adorava”, refere. O amor que sente pela profissão que desempenhou ao longo da vida é por demais sublinhado, assim como, o aspecto religioso, até porque adora “ver a missa na televisão”.


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Vida nova para alunos que aprenderam a ler e escrever

Com pouco mais de 70 anos, Francisca Rosa decidiu que era tempo de começar a saber ler e escrever. Ao longo de toda a vida, a circunstância de ser analfabeta foi como que “uma doença”, nas suas palavras. Durante a visita do Valor Local a uma aula de alfabetização da Universidade Sénior de Benavente, em Samora Correia, um grupo de cerca de dez pessoas reúne-se para aprender, porque o “gosto” de saber cada vez mais já ninguém lhes tira.

No caso de Francisca Rosa, agora é muito mais fácil ir ao supermercado, ver preços, porque antigamente “não sabia se estava a gastar muito ou pouco”, confessa. Com mais ou menos dificuldade, a aluna quis ler um pouco dos títulos da última edição do Valor Local, que distribuímos pelos alunos. Podemos dizer que ficou aprovada.

Também aprovado ficou Valdemar Santos, 77 anos, que frequenta as aulas há quatro anos; e que já denota muito à vontade na leitura. “A minha vida melhorou muito. Agora quando me desloco a qualquer serviço ou loja, consigo ler tudo o que me é apresentado. É muito importante. Agora quando vou a um café faço questão de ler o jornal, mas antes tinha vergonha quando via os outros ler. Era um desgosto, mas hoje sinto-me muito satisfeito. Consigo ler também as cartas que me enviam para casa. Não preciso de pedir ajuda aos outros”. O aluno da universidade sénior refere mesmo que sente “uma grande felicidade”. “Também quero agradecer à nossa professora que é muito boa a ensinar-nos”. Leonor Gonçalves, professora nestas aulas de alfabetização, refere que ensinar este grupo etário se baseia sobretudo em alguns truques que facilitem a memorização das palavras associadas aos sons, pois estamos a falar de “pessoas que devido à idade não têm a mesma capacidade de aprendizagem de uma criança”. No caso de Valdemar Santos, diz que após ter sido operado às cataratas “conseguiu desabrochar na leitura de uma forma imparável”.

Também Maria Ferreira dá muita importância a estas aulas. “Tive sempre muita vontade de aprender a ler e escrever, mas não tinha quem me ensinasse. Agora já consigo ler a Bíblia. E isso é muito importante para mim”.


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Convívio entre gerações

De portas abertas desde Fevereiro de 2012, a Associação de Apoio a Idosos e Jovens de Meca, no concelho de Alenquer, tenta promover um saudável encontro de gerações com actividades em que os mais idosos interagem com os mais novos. No dia da reportagem do Valor Local, decorria a denominada “hora do conto”, desta vez alusiva ao Halloween.

Nélson Pereira, presidente da instituição, considera que os mais idosos “podem dar um bom contributo à freguesia de Meca e à instituição, devido à sua experiência”. “É importante que possam dar o seu testemunho de vida e que se consiga combater o seu isolamento”, refere, acrescentando que “muitas actividades podem ser feitas em conjunto, pois é boa esta mistura de gerações”.

A instituição conta com as valências de centro de dia, apoio domiciliário, centro de actividades ocupacionais (área da deficiência). O intercâmbio entre as duas gerações também se torna importante numa vertente de ocupação de tempos livres dos mais jovens, “antes de os pais chegarem a casa, principalmente em altura de férias”, refere. 

Sílvia Agostinho/Miguel António Rodrigues
Valor Local Novembro de 2013


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