Rui Pires: “Temos adolescentes de 14 anos que não sabem ler nem escrever”
Federação das das Associações de Pais do Oeste, Lezíria do Tejo e Médio Tejo (FAPOESTEJO) acredita que há um novo analfabetismo entre os jovens
|09 Jan 2023 15:58
Sílvia Agostinho Criada em 2020 a Federação das Associações de Pais do Oeste, Lezíria do Tejo e Médio Tejo (FAPOESTEJO) é a maior do género em Portugal cobrindo 900 escolas, dispersas por 36 concelhos, num total de 1130 alunos. Muitas aprendizagens têm sido efetuadas, sobretudo durante os anos da pandemia, e um conhecimento do terreno ao nível do que é o ensino nesta vasta região igualmente. Rui Pires, encarregado de educação, e presidente daquela entidade, esteve no programa Hora Local da Rádio Valor Local e identifica o abandono escolar como um dos problemas transversais a muitos dos concelhos, sendo que em alguns deles, nomeadamente, na zona de influência do nosso jornal, em Benavente e Salvaterra de Magos há casos profundos do dito analfabetismo funcional entre jovens adolescentes.
O desafio da federação dispersa por três regiões é gigantesco, “mas consegue-se tendo em conta que nos órgãos sociais temos associados de todas”. No conjunto das três regiões “contamos com 50 associações de pais associadas no conjunto de 130 que estão a trabalhar”. Entre si, as três regiões apresentam algumas diferenças, salientando, Rui Pires, que a problemática do abandono escolar se faz sentir sobretudo nos concelhos do Oeste e menos nos do Médio Tejo. Neste aspeto, salienta o caráter mais urbano daquela região em comparação com muitos dos concelhos do Médio Tejo, a que se junta a maior proximidade a Lisboa, com os pais a trabalharem muito tempo fora de casa, com algum tempo perdido entre viagens, o que leva a possíveis situações que podem configurar quadros de alienação parental, e um menor acompanhamento do percurso escolar dos educandos. Já no Médio Tejo, os encarregados de educação têm o seu trabalho mais perto da área de residência, muitas vezes os pais trabalham e os filhos estudam na mesma localidade. O apoio dos municípios é “fundamental” segundo Rui Pires na identificação destes quadros. “Existe uma proximidade muito maior entre encarregados de educação e educandos no Médio Tejo, em que o modo de vida é menos stressante, enquanto no Oeste e em parte na Lezíria os ritmos da vida são mais intensos”. A realidade do abandono escolar tem várias vertentes. Ao contrário do que se pensa não acontece apenas na transição para o ensino secundário, sucedendo ainda no primeiro ciclo, sobretudo entre certas camadas da população como é o caso dos alunos de etnia cigana. “Temos de perceber como podemos ir mais além no apoio a estes alunos e famílias em que existe uma determinada realidade cultural como é o caso dessa etnia, mas também no que respeita a situações respeitantes a famílias imigrantes, em que os seus educandos podem sentir-se deslocados ou inadaptados à escola e isso poder levar a uma situação de abandono. Mas há casos em que os motivos do abandono se relacionam com situações familiares em que poder necessário o envolvimento de outros agentes como a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens, forças de segurança”. Rui Pires adianta que a FAPOESTEJO vai participar, em breve, enquanto membro da European Parent’s Association, associação que integra as associações de pais a nível europeu, num programa nacional em que a educação vai estar em destaque. “Com a pandemia a escola transformou-se totalmente e houve mais aproximação entre pais e professores” A pandemia trouxe vários desafios e um dos maiores passou pelo meio escolar com a introdução das aulas via plataformas de videoconferência. Todos tiveram de somar esforços para conseguir os mínimos de aprendizagem e não fazer com que os alunos regredissem no seu percurso escolar. Rui Pires confessa que nessa altura sentiu de facto uma união de vontades que nunca tinha acontecido entre as associações de pais, professores e direções escolares daquela maneira. Muitas vezes as associações de pais são vistas de lado e como uma pedra na engrenagem por parte dos demais atores escolares, mas nessa altura de grande desafio todos souberam dar as mãos, refere Rui Pires. “Os estabelecimentos escolares ouviram muito mais os pais, a escola abriu-se, e nós pais também escutámos mais as escolas, e com isso cresceu um respeito mútuo”. Os desafios para o futuro são muitos depois de uma pandemia, “porque temos crianças que iniciaram o primeiro ciclo em casa, e não tiveram oportunidade nos dois primeiros anos de terem períodos de recreio, de brincadeira, o que é uma parte muito importante do seu desenvolvimento psíquico”. O bullying, como não podia deixar de ser, é outro dos combates da sociedade escolar, sobretudo nestas novas formas de “ciberbullying” e do “bullying mais focado na intimidação mental”. A FAPOESTEJO tem uma parceria com o movimento No Bully Portugal, em que leva a cabo diversas iniciativas a alertar para os perigos daquela realidade com ações de formação. O processo de reconhecimento desta federação e de criação de uma relação mais próxima por parte das escolas tem sido um caminho longo. Na região de influência do nosso jornal isso ainda não estará muito bem concretizado com o Agrupamento de Escolas Marcelino Mesquita, Cartaxo, mas Rui Pires espera alcançar um consenso nessas relações. As realidades escolares são diferentes em vários dos concelhos onde estamos presentes, se em Arruda dos Vinhos a educação tem um peso determinante até na dinâmica do próprio concelho em que a presença do Externato Alberto Faria com o trabalho desenvolvido durante anos pelo seu fundador é disse exemplo, sendo esse setor visto como uma área de valor acrescentado, na ótica de Rui Pires, já nos concelhos de Benavente e Salvaterra de Magos “temos realidades sociais muito pesadas com alunos com 14 anos que não sabem ler”, em que “o abandono escolar é muito presente”. “Temos este fenómeno de novos analfabetos, que são crianças e jovens que necessitam do nosso apoio. Não querendo focar-me apenas nesses concelhos também existem noutros, porque a realidade é transversal sendo mais ou menos acentuada em determinados locais. Só temos de os apoiar e respeitar”. |
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