Série “Glória” da Netflix deixou sabor agridoce na terra
Localidade da Glória do Ribatejo no concelho de Salvaterra "aparece pouco" entre os cenários escolhidos
|01 Dez 2021 12:13
Sílvia Carvalho d'Almeida Estreou recentemente “Glória”, a primeira série original portuguesa da Netflix. Segundo o que o jornal Valor Local já tinha noticiado, aquando do início das gravações, no centro desta história está João Vidal, um jovem de família com ligações ao regime fascista português, que é recrutado pelo KGB depois de se politizar na Guerra Colonial. João Vidal ver-se-á envolvido nas intrincadas teias do jogo da espionagem e, no final de contas, compreenderá que, seja qual for o lado em que esteja, o mundo, principalmente o da espionagem, nunca é a preto e branco.”
Esta co-produção da RTP com a produtora SPi, do grupo SP Televisão, conta com 10 episódios, e foi gravada parcialmente na Glória do Ribatejo, onde se situava o local das emissões da Rádio Europa Livre (Free Europe), a RARET, que foi um importante centro estratégico de transmissão de propaganda americana anticomunista para os países de leste durante a Guerra Fria, desde a década de 50 até aos anos 90. Mas as opiniões dividem-se quanto às mais valias para a freguesia da Glória no concelho de Salvaterra de Magos. Em entrevista ao Valor Local, o presidente da Junta de Freguesia da Glória/Granho, João Oliveira, lamenta que tenham sido poucos os cenários onde a localidade aparece na série, e diz mesmo que não trouxe nenhum retorno económico à região. Apesar de existirem algumas cenas no interior da antiga Raret, no espaço exterior, ou seja na aldeia propriamente dia, segundo nos conta, “não havia atores a circularam na Glória, nem os realizadores tiveram qualquer contato com a Junta de Freguesia”, embora a presença destas filmagens “tenha despertado o interesse de alguns curiosos que foram até à entrada da RARET para tentarem observar as gravações”. Enfatiza que não houve, contudo, “nenhuma alteração da nossa vivência, da nossa maneira de estar”, nem foi necessária nenhuma autorização para as filmagens por parte da Junta de Freguesia ou da Câmara Municipal de Salvaterra, uma vez que estas decorreram em propriedade privada. Quando isto acontece, é normal haver convites aos órgãos autárquicos para visitarem o local das gravações, mas refere que neste caso “nem isso aconteceu”. O autarca que morou mesmo na zona e que chegou a trabalhar na RARET durante dez anos, conta ainda que não acredita que a Glória do Ribatejo esteja representada na série. Muitas das cenas são filmadas numa aldeia junto a uma igreja mas aconteceram fora da localidade, o que não deixou de causar alguma tristeza na população. Os trajes tão pouco, refere, são os que se usavam na altura, denotando assim a série alguma inverosimilhança. A série foca-se nos últimos anos do Estado Novo na transição entre o Governo de Salazar e o de Marcelo Caetano. João Oliveira fala com alguma propriedade, já que o seu pai também esteve empregado na RARET, e que este estudou eletrotécnica na mesma instituição antes de lá trabalhar. Nem mesmo, os cenários no interior da rádio na série são gravados na Glória do Ribatejo, até porque parte do edifício encontra-se vandalizado. Apenas foram gravadas as cenas “dentro das casas particulares de algumas das personagens”. O presidente da Junta, sabe também, que os turnos da rádio começavam às sete horas da manhã e não às oito, como é retratado, o que revela “pouca preocupação na procura de conteúdo mais assertivo, ou seja, pouca atenção nos detalhes”. Poucas cenas foram gravadas na terra, nomeadamente, a festa na piscina e a cena de violência doméstica retratadas na obra de ficção. Recorde-se que a antiga vereadora Ana Cristina Ribeiro, do Bloco de Esquerda, já tinha também demonstrado preocupação em que a série não refletisse verdadeiramente as gentes e os costumes da zona. Hélder Esménio, presidente da Câmara, referiu , à época do anterior mandato, que não estava na competência da autarquia interferir em conteúdos de ficção. De resto, João Oliveira acredita que a série poderá contribuir para divulgar o nome da aldeia, mas não acredita que traga “qualquer benefício'' às pessoas que lá moram, nem que esta passe a ser mais visitada por este motivo. Esclarece, contudo, que ao contrário das críticas à série escritas na imprensa de que só passaram a haver espiões da Ex-União Soviética em Portugal após o 25 de Abril, acredita que já andavam por cá antes da Revolução. Apesar da série ser uma obra de ficção e não refletir a realidade da Glória do Ribatejo, gostaria que houvesse uma segunda temporada. Comentários Subscrevo a opinião do presidente da Junta de Freguesia da Glória e acrescentaria: Sendo uma obra de ficção, poderiam ser incluídos figurantes locais em atividade e outros ocasionais vestidos à época, e aí o nosso poderoso folclore faria o que tão bem sabe que é representar. Claro que tudo isso seria introduzido pela realização da serie, como é obvio. Aliás, é o que fazem muitos realizadores de séries do gênero em outras partes do mundo para darem mais realismo aos cenários. Dessa forma, as cenas não ficavam tão vazias, só aparecem os atores, não se cruzam com mais ninguém por onde circulam, o que faz parecer uma filmagem no deserto. Essa inclusão não só iria oferecer mais realismo à série, como contentava merecidamente os locais e o publico em geral. Apesar disso, obrigado à produção e realização da série GLÓRIA. Celestino Silva 02/12/2021, 18:22 |
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