Azambuja: Secretário da CIMLT debaixo de fogo em iniciativa da Plataforma Nacional 3Durante a apresentação dos próximos projetos deste grupo de cidadãos, António Torres não recolheu simpatias
Sílvia Agostinho
10-03-2018 às 11:58 A sessão promovida esta sexta-feira pela Plataforma Nacional 3 no Páteo do Valverde, em Azambuja, que visa a intervenção no trajeto entre Azambuja e o Carregado por parte da Infraestruturas de Portugal tendo em vista a diminuição dos acidentes, teve um protagonista inesperado: António Torres, secretário executivo da Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT) que após o seu discurso foi atacado por membros do público, alguns pertencentes a partidos políticos, face a uma postura que não agradou. Alguns membros da plataforma também não se sentiram confortáveis com a forma como Torres se expressou, nomeadamente, quando se referiu à forma pouco exata como durante a iniciativa os presentes usaram a expressão "ponto negro" (A designação oficial refere-se a um lanço de estrada com o máximo de 200 metros de extensão, no qual se registou, pelo menos 5 acidentes com vítimas, no ano em análise, e cuja soma de indicadores de gravidade é superior a 20).
Quando se referiu a isso e a forma como se expressou levou a que caísse o carmo e a trindade numa sessão com muitas pessoas com as emoções à flor da pele. Numa das intervenções, uma munícipe até questionou se Torres "era um ser humano ou não". Este segundo alguns dos presentes que viram morrer na Nacional 3 amigos, conhecidos e familiares terá tido pouca sensibilidade para a simbologia do encontro e para os objetivos da plataforma e da comunidade azambujense. O funcionário da CIMLT desculpou-se no fim, dizendo que não se importava de ter sido "o bombo da festa" ao longo da iniciativa, manifestando, ainda assim, total disponibilidade para colaborar, nomeadamente, no dia 15 de maio, Dia das Famílias, altura em que a plataforma pretende colocar ao longo da estrada que liga Azambuja ao Carregado um cordão de garrafões iluminados de forma a alertar para a causa e assim chamar o foco nacional para este problema. A Comunidade intermunicipal da qual faz parte Azambuja, segundo frisado por António Torres, é a única do país que até à data tem elaborado um plano de segurança rodoviária para as estradas da lezíria, e como tal a comunidade intermuncipal merecerá à partida o benefício da dúvida. Existirão obras em algumas dessas estradas nacionais e municipais, também no concelho de Azambuja, mas a Nacional 3, igualmente responsabilidade do Estado, não estará integrada nesse lote. Segundo André Salema, da plataforma, está previsto um investimento de 77 mil 500 euros para o cruzamento de Vale do Paraíso, Casais do Curralão e Guarita (Aveiras de Baixo). Contudo o mesmo expressou o seu descontentamento por a Nacional 3 não estar contemplada neste plano da Lezíria do Tejo. O Valor Local tentou perceber junto do secretário da CIMLT esta seleção mas o mesmo acabou por não conseguir responder. De acordo com a Plataforma, a Nacional 3 também não mereceu o mesmo acompanhamento e atenção que a Nacional 118 que atravessa entre outros os concelhos de Salvaterra e Benavente no plano de segurança rodoviário apresentado recentemente em Santarém. Torres tentou aludir ao facto de que os acidentes na nacional 3 não ocorrem apenas entre Azambuja e Alenquer, e que a Nacional 118 consegue superar a estrada que atravessa o concelho de Azambuja no que à sinistralidade diz respeito. Entre 2000 a 2015 na totalidade da Nacional 3 tiveram lugar 457 acidentes graves, dos quais resultaram 30 mortos, 67 feridos, e 533 feridos ligeiros. André Salema que deu a conhecer estes dados, mostrou ainda preocupação pela sobrecarga da via com o trânsito de pesados. Uma das municipes presentes, Helena Maciel, confrontou ainda a audiência com a situação dos peões que todos os dias fazem o trajeto até às fábricas que ladeiam a via, nomeadamente, a Avipronto sem coletes refletores e que se expõem ao perigo constantemente. No dia 15 de maio, a iniciativa da plataforma compreenderá ainda o descerrar de uma placa evocativa da memória das vítimas na fronteira entre os concelhos de Azambuja e Alenquer. Para que este seja um objetivo concretizável, a par da colocação dos garrafões na via, numa operação logisticamente difícil, a plataforma apelou no sentido de que os cidadãos possam guardar garrafões de água vazios até ao dia 15 de maio. Este grupo de cidadãos que integra a plataforma e que se deu a conhecer em finais de 2016, espera com a iniciativa de 15 de maio alavancar definitivamente esta causa, apesar de alguns partidos políticos como o CDS-PP local em comunicado enviado à nossa redação, critique a mesma e a catalogue de "fantasma político" que "surgiu para aliviar a tensão e pressão sobre um executivo PS que não tem capacidade nem força política para dialogar com o Governo". No encontro promovido, esta sexta-feira, estiveram presentes eleitos dos vários espetros políticos concelhios, bem como presidentes de junta locais, e ainda o presidente da junta do Carregado. Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, juntou-se também à causa e mostrou a sua disponibilidade para em conjunto com Luís de Sousa, presidente da Câmara de Azambuja, agendar uma reunião com o ministro das Obras Públicas, Pedro Marques, no sentido de se poder inscrever o pacote de obras desejado para a via no âmbito dos fundos comunitários Portugal 2030. O presidente da Câmara de Azambuja corroborou o discurso do seu colega autarca, referindo que após essa reunião com Pedro Marques logo se poderá avaliar se será prudente ou não "avançar-se com uma queixa contra o Estado", conforme já foi ventilado "tendo em conta que se assinaram acordos no âmbito da Ota que visavam compensar o município, e que entre outras medidas, contemplavam as obras da Nacional 3". "Chegou-se a falar em cinco milhões de euros para essas obras mas apenas fizeram uma pequena lavagem de cara no ano passado, sempre houve muito show-off", concluiu. O Valor Local contactou na última semana a Infraestruturas de Portugal com uma série de questões sobre esta estrada bem como outros casos que estão a causar preocupação na região como o estado da Ponte Dona Amélia, mas a IP não respondeu dentro do prazo. A nossa redação espera contar com essas respostas entretanto. ComentáriosSeja o primeiro a comentar...
|
PUB
|
Leia também
Guerra Colonial RevisitadaPassaram 56 anos desde que os primeiros soldados portugueses rumaram à Guerra de África que hoje entrou quase no imaginário popular, mas há episódios bem vivos e que marcaram para sempre os homens com quem falámos
|
Dias Felizes para doentes de Alzheimer sempre que a música tocaA forma como se encara esta doença, as estratégias que vão sendo aplicadas pelas instituições, a resposta das entidades hospitalares nesta reportagem
|
A Saga das pecuárias poluidorasDuas suiniculturas que laboram nas freguesias da Ventosa e de Abrigada permanecem a produzir quando já poderiam estar encerradas
|