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António Morais, Presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia:
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O Valor Local ouviu vários especialistas acerca da Covid-19 e daquilo que ela significa, nesta altura, a nível mundial. A evolução da pandemia; os números que já fez em todo o mundo quer a nível de infetados, quer de mortos; a forma como Portugal se está a posicionar neste ranking, a importância dos testes e o conceito de imunidade de grupo foram apenas alguns dos conceitos abordados, numa altura em que vacina ainda vai demorar.
António Morais, presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia, acredita que Portugal soube estar na linha da frente na luta contra a pandemia. A Covid-19 apresenta em muitos casos sintomas difusos, e não raro é o dia em que surge mais um quadro clínico diferente, segundo os especialistas. A doença está relacionada com febre, tosse, falta de ar, mas também diarreia, arrepios, perda do olfato e do paladar, entre outros sintomas. “Pode ser facilmente confundida com outras infeções respiratórias. O facto de muitas pessoas serem assintomáticas também ajuda nesse quadro com um potencial de infeção muito grave.” O vírus começou na província de Wuhan na China, no final do ano passado, associado ao comércio de animais selvagens, e até à data e depois de se ter espalhado pelos quatro cantos do mundo, “não há nenhuma evidência que a sua virulência tenha abrandado”, isto quando se fala nas diversas mutações que já poderá ter adquirido. Contudo os investigadores também não acreditam que as mutações com as novas estirpes possam ser mais letais. “A doença é sempre uma infeção resultado do agente infecioso e do hospedeiro, o homem, e isso faz com que seja difícil prever como vai ser a evolução do quadro clínico, exceto nas pessoas com idade mais avançada e com doenças associadas como a diabetes, hipertensão, problemas cardiovasculares”. A covid-19 tem sintomas semelhantes a outras infeções víricas que acontecem no inverno, mas a grande questão relaciona-se com os assintomáticos. Noutras grandes doenças infeciosas que o mundo presenciou, nas últimas décadas, como a SARS ou o ébola o nível de contágio entre os seres humanos é menor porque os sintomas associados são de tal forma graves que é impossível alguém não saber que está doente, e assim a propagação do vírus entre as pessoas é menor. Por outro lado, são doenças mais mortíferas, mas sem o caráter de uma pandemia em que o número de infetados é maior, muito por culpa dos denominados assintomáticos. Mas há perigos nestas contas do Covid-19. A doença por ser silenciosa faz com que muitos doentes com Covid-19 assintomáticos possuam, por vezes, níveis de oxigénio muito baixos e isso tem precipitado um significativo número de óbitos. Não têm queixas, mas quando chegam ao hospital pode ser tarde demais. “Esta é uma evidência que não vemos tanto noutras infeções respiratórias”, salienta António Morais que exemplifica – “Há doentes que estão relativamente estáveis na evolução da doença até ao sexto ou sétimo dia, e de repente queixam-se de uma súbita falta de ar, e esses são muitas vezes os que vão parar aos cuidados intensivos”. Nesta fase de discussão sobre a doença, foi estabelecida por uma equipa de profissionais de saúde uma relação entre a Covid-19 e a aplicação da vacina da BCG, ou seja a da tuberculose. Terá sido possível verificar que em países onde esta vacina fazia parte do plano de vacinação obrigatório havia menos óbitos, como é o caso do nosso país onde a vacina foi obrigatória até 2017. Mas ainda há que esperar pelos resultados dos ensaios clínicos, mas muitos são os que advogam este conceito de imunidade treinada garantida pela BCG. António Morais diz que é mais uma hipótese – “Fala-se num estímulo de resposta imunológica providenciado por essa vacina, mas não passa de uma suposição para já”. Quando questionado sobre o que pode vir primeiro na cura da Covid-19 e no desejado controle desta doença: se a vacina ou um tratamento via cocktail de medicamentos, o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia considera: “A vacina pode permitir voltarmos ao nosso estilo de vida normal, sem grandes riscos, mas o teste de fármacos é indissociável. Vamos ver o que conseguimos em primeiro lugar”. A pensar numa segunda vaga da doença que se prevê para o próximo inverno, os testes à Covid-19 podem ter um efeito importante, os denominados exames serológicos, através da recolha de sangue em que se pode aferir do denominado conceito de imunidade de grupo. “Dá para percebermos se alguém já teve em contacto com o vírus, e se esse indivíduo se apresenta imune à doença ou não. Mas as dúvidas são muitas, porque não sabemos quanto tempo dura a imunidade”. PUB
De acordo com os últimos dados da DGS há a registar 25 mil 351 casos confirmados de infeção por Covid-19 no nosso país. Já ocorreram 1007 óbitos motivados por esta doença. António Morais acredita que o número de infetados deve ser multiplicado por 10, ou seja neste caso já teríamos nesta altura 250 mil infetados. Isto devido aos assintomáticos e aos que não procuram o médico porque os sintomas são muito leves.
Sendo a Sociedade Portuguesa de Pneumologia representativa de vários profissionais de saúde, uma das preocupações está relacionada com o número de infeções em contexto hospitalar. “É um número significativo e isto pode dizer-nos duas coisas – que em alguns locais as condições de trabalho não são as melhores em termos de proteção, mas também algumas falhas de organização dos próprios hospitais que não se precaveram com material suficiente”. |
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