Surto de Legionella
Um ano depois ainda não há acusações Os primeiros casos surgiram no início de novembro de 2014
Miguel A. Rodrigues/Sílvia Agostinho
04-11-2015 às 21:46 Um ano depois do surto de legionella que assolou o concelho de Vila Franca de Xira, ainda não há conclusões acerca da sua origem. O surto despoletou uma correria intensa às urgências do hospital da cidade durante todo o mês de novembro de 2014.
O assunto foi relembrado esta quarta-feira em reunião de câmara de Vila Franca pelo presidente do executivo, Alberto Mesquita, que lamentou a forma como o processo teima em se arrastar sem que a Câmara tenha na mão todas as conclusões que gostaria. O autarca reafirmou a intenção do município em "processar criminalmente " os culpados pelo prejuízo causado ao concelho, mas refere que para isso "primeiro há que ter certezas". Passado um ano, e até ao momento os indícios apontam para a empresa Adubos de Portugal (ADP), mas as investigações levadas a cabo pelas diversas entidades envolvidas, não apontam para certezas cientificas e conclusivas. Neste sentido, lamentou também que o município não tivesse sido convidado para estar presente numa conferência que vai decorrer no Algarve, em que o assunto vai ser debatido. Alberto Mesquita considerou que tendo em conta a intensidade do surto e o facto deste ter estado entre os maiores da Europa desde sempre, acabou por ficar colocado debaixo dos holofotes da comunidade cientifica, e por isso deverá ser alvo de uma atenção especial. O presidente do município falou num prejuízo para a economia do concelho, já que tal situação levou a que a imagem de Vila Franca de Xira ficasse associada à legionella, algo que a Câmara tentou contrariar logo na altura. No ano passado, e para tentar inverter o estado de coisas, o município chegou a prolongar a campanha da gastronomia até ao fim de dezembro. Mas esta foi "apenas uma das medidas a juntar a muitas outras que passaram pela promoção do turismo daquele concelho dentro e fora de portas", atestando assim que "Vila Franca de Xira não merece ficar conhecida por aquele surto." O surto da bactéria legionella infectou 375 pessoas e matou 12. Este facto levou também a que o município se associasse à delegação da Ordem dos Advogados do concelho, para que se tivesse acesso à justiça. Esta medida ratificada a 20 de janeiro último, levou a que 170 pessoas pudessem processar as empresas alegadamente responsáveis. Vitimas espalhadas pelo país Não foi só em Vila Franca de Xira que existiram vitimas deste surto. Muitas pessoas passaram pela Póvoa de Santa Iria, epicentro do fenómeno, e local onde estava concentrado o maior número de fábricas potencialmente causadoras deste surto. Maria Adelaide. moradora em Azambuja, foi entrevistada pelo Valor Local na edição de novembro do ano passado. Trabalhadora num jardim-de-infância na Póvoa de Santa Iria foi a única atingida na instituição. Começou a sentir os primeiros sintomas no dia 8 de novembro, quando surgiram também os primeiros infetados deste surto, mas só foi ao hospital no dia 10. “Ainda fui trabalhar naquela sexta, dia em que comecei a queixar-me. Vim para casa e tomei vários comprimidos, desde o brufene, ao ben-u-ron. Passei assim o fim-de-semana”. Maria Adelaide não associou os sintomas ao surto de legionella, pois confessa que não prestou atenção às notícias. Pensava que era uma gripe. Na segunda-feira, dia 8, foi ao Hospital de Vila Franca de Xira, onde esperou quatro horas nas urgências. Com o surto instalado já há vários dias, e com centenas de pessoas hospitalizadas, a unidade não criou qualquer espécie de corredor de urgência para quem chegasse com sintomas de legionella. “Demoraram hora e meia para triar, e deram-me a pulseira amarela”. Entretanto quando atendida fizeram-lhe análises, e disseram-lhe que tinha de ir imediatamente para o Hospital São Francisco Xavier. Mas recorda – “Nunca me disseram qual era a minha doença, mas eu também não perguntei”, relata, recordando que também nunca viu muita abertura para fazer perguntas. No local, estavam outras pessoas que reconheceu serem do Forte da Casa, pois viveu muitos anos no local, e estranhou ver tantas caras conhecidas de uma só localidade. “Nunca imaginei ficar internada ou ir para Lisboa por causa disto. Fiquei em choque. A partir daí, fui tratada como deve ser, nada tenho a assinalar”. No local ficou 8 dias. Passou um mau bocado, e lamenta profundamente que os presumíveis culpados, as empresas da zona, “tenham brincado desta maneira com a saúde das pessoas”. “Durante o tempo em que fiquei internada, tive expetoração com sangue, e muitas dores de estômago, devido à força da tosse. Passei um mau bocado, fiquei alarmada a pensar que podia não ser só legionella, mas depois lá me sossegaram.” No hospital em Lisboa soube que estavam lá outros doentes com legionella. Sobre a possibilidade de o foco de contaminação ser oriundo da Adubos de Portugal, refere que “verdade seja dita que desde o seu encerramento que menos pessoas acorreram aos hospitais.” A última vez que foi fiscalizada a qualidade do ar naquela empresa foi em 2012, altura em que Governo deixou de impor a obrigatoriedade dessa medida de controle da qualidade do ar. “O Governo esteve mal e as fábricas andaram a brincar com a saúde das pessoas”. Quanto a um possível pedido de indemnização, tem poucas dúvidas – “Se outros avançarem também vou pedir, porque morreram pessoas e muitas foram hospitalizadas”. Entrevista de Alberto Mesquita em 11/11/2014 sobre o surto
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