Teatro amador na região e a luta pela sobrevivência
Sílvia Agostinho/Nuno Filipe
02-07-2017 às 23:13
São quatro companhias de teatro amador da região. Apresentam diferenças entre si, mas em todas subsiste a paixão pelo palco. As suas dificuldades, as suas realizações neste trabalho em, que fomos descobrir o talento de atores, encenadores, e dramaturgos, e algumas críticas ao poder local e não só.
Sílvia Agostinho/Nuno Filipe
02-07-2017 às 23:13
São quatro companhias de teatro amador da região. Apresentam diferenças entre si, mas em todas subsiste a paixão pelo palco. As suas dificuldades, as suas realizações neste trabalho em, que fomos descobrir o talento de atores, encenadores, e dramaturgos, e algumas críticas ao poder local e não só.

Em 1989 começou para um pequeno grupo de vizinhos e amigos o sonho do teatro na Labrugeira, concelho de Alenquer, e a partir dessa altura até aos dias de hoje nunca mais o pano deixou de subir para ver os espetáculos destes atores na coletividade que acolhe este projeto, o Grupo Recreativo Flor de Maio. O grupo conhecido também como o teatro da biblioteca distingue-se por possuir várias faixas etárias, levando ao palco espetáculos dos grupos infantil, juvenil e adulto. Tanta variedade apenas numa aldeia seria difícil de adivinhar. Mas isto é também graças ao encenador Gualberto Silva desde sempre na génese do projeto, e que segundo algumas atrizes da terra com quem falámos nunca deixou este teatro morrer apesar de hoje apenas contar com cerca de uma dúzia de atores para os três tipos de espetáculos.
Duas das atrizes que fizeram história neste grupo fundado a partir de um curso de iniciação que durou de outubro de 1989 a fevereiro de 1990 partilham para esta reportagens momentos inolvidáveis em cena, e as memórias sucedem-se repetidamente, até que uma delas vai até sua casa buscar um álbum de fotografias que guarda desde os tempos em que andava nestas andanças. Vitória Costa e Clotilde Melo desistiram nos últimos anos, mas continuam a ajudar nas peças que ainda hoje vão sendo levadas ao palco com os poucos atores que ainda restam. Alguns são jovens ainda em idade escolar que descobriram o bichinho através de familiares mais velhos ligados a esta escola de cultura na aldeia, como a Leonor Filipe, neta de Gualberto Silva e a Maria Melo, sobrinha neta de Clotilde Melo ou o Bernardo Caetano. No caso das raparigas começaram nestas andanças quase que ainda gatinhavam na altura. O bichinho acompanha estes jovens que não perdem uma oportunidade para fazer parte desta casa da cultura local. Para Bernardo Caetano, “o teatro é uma cena que eu adoro e que quero para a minha vida!”. “E tem mesmo muito jeito”, concordam as senhoras da terra. “Os meus pais gostavam que eu fosse ator mas aconselham a que eu tire um curso. Vou agora para o 10º ano para Ciências. Ainda não sei o que vou fazer um dia mais tarde”…
De geração em geração lá se vai transmitindo esta tradição da terra que já conheceu verdadeiros momentos sensação quando a pequena sala de espetáculos do Grupo Recreativo Flor de Maio se enchia com mais de 180 pessoas desejosas de assistir e aplaudir as peças que todos os anos eram apresentadas.
Do repertório do grupo constam essencialmente peças clássicas como “A Casa de Bernarda Alba”; “A Sapateira Prodigiosa”; Guerras do Alecrim e da Manjerona”; “O Primo Bazílio”; “Auto da Índia”; entre outras. “Peças muito boas e muito bonitas”, assegura Clotilde Melo. Normalmente o grupo escolhe obras mais antigas que não implicam o pagamento de direitos de autor à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) (numa sala com a lotação da Flor de Maio, e como amadores que são, o valor a cobrar é de 60 euros por sessão no caso de autores ainda protegidos por direitos) sempre que levam à cena qualquer peça. Gualberto Silva, encenador e escritor de peças algumas das quais adaptadas por companhias no estrangeiro, tendo igualmente ganho um prémio em tempos da Secretaria de Estado da Cultura com a obra infantil – “Circo Fantasia, o Palhaço Teimoso”, dá conta que na maioria dos casos escolhe peças suas para os miúdos representarem – “Depois lá recebo uma cartinha da SPA mas digo que a peça é minha e faço o que eu quiser, e os senhores ficam muito chateados, mas pronto”.
Para uma companhia amadora, que está longe de viver de qualquer tipo de lucros, há que recorrer à tradicional caixinha de oferendas que fica à porta para que o público possa contribuir, apesar de o bilhete ser gratuito. “Quando falamos de um espetáculo com os mais pequenos, toda a gente da família vem, mais o cão e o gato, e abrimos a caixa e somos capazes de ter lá 130 ou 140 euros; quando é com o grupo juvenil, chega aos 80, quando somos nós, os mais velhos, 50 ou 60 euros. Isto para os velhos já não vale a pena”, graceja Gualberto Silva. Apesar de ser uma questão complicada, o melhor é mesmo levar com otimismo e sentido de humor a falta de público.
Depois há as saídas para outras localidades, dado que cada peça estreada por ano não chega à meia dúzia de representações. Por isso os intercâmbios são bem-vindos. O grupo desloca-se a concelhos vizinhos no Oeste como Torres Vedras, e mais longe até Peniche, Porto de Mós, ou Mafra. E à posteriori a visita é retribuída por grupos desses locais que vêm até à Labrugeira trazer as suas representações. O grupo já esteve em alguns dos principais palcos do teatro português em Lisboa onde tem recolhido elogios por parte de quem faz do teatro profissão.
A escolha por obras maiores de autores clássicos como Lorca, Tcheckov, Marivaux, ou mesmo Gil Vicente traz um acréscimo de responsabilidade para um grupo que faz do teatro amador uma ocupação das horas vagas, mas esta é uma função levada muito a peito.
Duas das atrizes que fizeram história neste grupo fundado a partir de um curso de iniciação que durou de outubro de 1989 a fevereiro de 1990 partilham para esta reportagens momentos inolvidáveis em cena, e as memórias sucedem-se repetidamente, até que uma delas vai até sua casa buscar um álbum de fotografias que guarda desde os tempos em que andava nestas andanças. Vitória Costa e Clotilde Melo desistiram nos últimos anos, mas continuam a ajudar nas peças que ainda hoje vão sendo levadas ao palco com os poucos atores que ainda restam. Alguns são jovens ainda em idade escolar que descobriram o bichinho através de familiares mais velhos ligados a esta escola de cultura na aldeia, como a Leonor Filipe, neta de Gualberto Silva e a Maria Melo, sobrinha neta de Clotilde Melo ou o Bernardo Caetano. No caso das raparigas começaram nestas andanças quase que ainda gatinhavam na altura. O bichinho acompanha estes jovens que não perdem uma oportunidade para fazer parte desta casa da cultura local. Para Bernardo Caetano, “o teatro é uma cena que eu adoro e que quero para a minha vida!”. “E tem mesmo muito jeito”, concordam as senhoras da terra. “Os meus pais gostavam que eu fosse ator mas aconselham a que eu tire um curso. Vou agora para o 10º ano para Ciências. Ainda não sei o que vou fazer um dia mais tarde”…
De geração em geração lá se vai transmitindo esta tradição da terra que já conheceu verdadeiros momentos sensação quando a pequena sala de espetáculos do Grupo Recreativo Flor de Maio se enchia com mais de 180 pessoas desejosas de assistir e aplaudir as peças que todos os anos eram apresentadas.
Do repertório do grupo constam essencialmente peças clássicas como “A Casa de Bernarda Alba”; “A Sapateira Prodigiosa”; Guerras do Alecrim e da Manjerona”; “O Primo Bazílio”; “Auto da Índia”; entre outras. “Peças muito boas e muito bonitas”, assegura Clotilde Melo. Normalmente o grupo escolhe obras mais antigas que não implicam o pagamento de direitos de autor à Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) (numa sala com a lotação da Flor de Maio, e como amadores que são, o valor a cobrar é de 60 euros por sessão no caso de autores ainda protegidos por direitos) sempre que levam à cena qualquer peça. Gualberto Silva, encenador e escritor de peças algumas das quais adaptadas por companhias no estrangeiro, tendo igualmente ganho um prémio em tempos da Secretaria de Estado da Cultura com a obra infantil – “Circo Fantasia, o Palhaço Teimoso”, dá conta que na maioria dos casos escolhe peças suas para os miúdos representarem – “Depois lá recebo uma cartinha da SPA mas digo que a peça é minha e faço o que eu quiser, e os senhores ficam muito chateados, mas pronto”.
Para uma companhia amadora, que está longe de viver de qualquer tipo de lucros, há que recorrer à tradicional caixinha de oferendas que fica à porta para que o público possa contribuir, apesar de o bilhete ser gratuito. “Quando falamos de um espetáculo com os mais pequenos, toda a gente da família vem, mais o cão e o gato, e abrimos a caixa e somos capazes de ter lá 130 ou 140 euros; quando é com o grupo juvenil, chega aos 80, quando somos nós, os mais velhos, 50 ou 60 euros. Isto para os velhos já não vale a pena”, graceja Gualberto Silva. Apesar de ser uma questão complicada, o melhor é mesmo levar com otimismo e sentido de humor a falta de público.
Depois há as saídas para outras localidades, dado que cada peça estreada por ano não chega à meia dúzia de representações. Por isso os intercâmbios são bem-vindos. O grupo desloca-se a concelhos vizinhos no Oeste como Torres Vedras, e mais longe até Peniche, Porto de Mós, ou Mafra. E à posteriori a visita é retribuída por grupos desses locais que vêm até à Labrugeira trazer as suas representações. O grupo já esteve em alguns dos principais palcos do teatro português em Lisboa onde tem recolhido elogios por parte de quem faz do teatro profissão.
A escolha por obras maiores de autores clássicos como Lorca, Tcheckov, Marivaux, ou mesmo Gil Vicente traz um acréscimo de responsabilidade para um grupo que faz do teatro amador uma ocupação das horas vagas, mas esta é uma função levada muito a peito.

E no caso de Clotilde Melo, que se retirou destas lides há 13 anos depois da morte de um filho, recorda-se que tinha sempre “bastantes nervos”. “Há que decorar o papel e fazermos o melhor que pudermos”, acrescenta Vitória Costa, que enfatiza – “A nossa idade era outra na altura dessas peças, tínhamos mais capacidade para decorar”.
Foi atriz no “Primo Basílio” e interpretou o papel da criada Juliana, personagem malévola que trabalhava na casa das principais personagens desta obra de Eça de Queirós. “Quando morri em cena fiquei aflita porque tinha um gancho na cabeça e deitada sobre o sofá tive de me aguentar para não me mexer e o raio do gancho a fazer-me uma dor na cabeça”. Na Casa de Bernarda Alba, era a Bernarda, e interpretou também uma personagem masculina em “Guerras do Alecrim e da Manjerona”. Normalmente dava corpo às denominadas más da fita, mas graceja que não é má pessoa na vida real. Nunca sonhou ir mais longe e fazer do teatro profissão. Trabalhou sempre na adega cooperativa local como operária de enchimento. “Quando vinha do trabalho, chegava a casa, tomava banho, vestia o pijama e depois o fato de treino por cima, para que quando chegasse a casa me despisse e já estava a jeito para ir para a cama”, conta para realçar o grau de exaustão que experienciava por ao mesmo tempo ter de conciliar o trabalho numa fábrica e a veia artística no grupo de teatro da Labrugeira. Mas era o que de mais extravagante fazia, não se assume como uma atriz de superstições – “Apenas me benzia e tomava um calicezinho com os colegas”, ri-se. “Vinho do Porto”, diz mais alto Clotilde Melo. Muitas brancas também sucederam a Vitória Costa – “Mas tentava que ninguém desse por isso. Não dou cavaco e siga! Tentamos sempre dar a volta”. O pai de Clotilde Melo também era ator no grupo, e quando lhe aconteceu uma branca, a mãe gritou da plateia – “Ah que se esqueceu do texto!”. “Quando uma pessoa vive, gosta e goza a personagem há outro ânimo”, defende Clotilde.
Montar um espetáculo consegue-se por vezes apenas com 200 euros recorrendo a muita reciclagem de figurinos e de decórs. Em setembro, haverá nova peça para se estrear, e no caso das crianças é mais difícil porque torna-se complicado concorrer com as novas tecnologias e com os horários escolares. “Temos uns textos antigos que vamos ensaiar dentro do universo maravilhoso, que já passou de moda, mas ao mesmo tempo nunca passa”, refere Gualberto Silva. “É pena as pessoas não aderirem ao teatro como gostaríamos, porque isto é muito saudável, é algo cultural, que treina a linguagem e a expressão”, acrescenta Clotilde Melo.
Na relação com o poder político local, Gualberto Silva, tem uma opinião muito própria – “No movimento associativo só temos a ganhar em ficar o mais longe possível desse poder, embora não possamos dispensar os apoios. Mas só até um certo ponto. Não pretendemos ser alvo de favoritismo ou vistos como um grupo dependente desse poder”. O encenador participou no regulamento das coletividades levado a cabo neste mandato, onde deixou algumas ideias para a Cultura no concelho, que na sua opinião não se deve resumir apenas ao culto do Espírito Santo ou ao Alenquer, Presépio de Portugal.
Foi atriz no “Primo Basílio” e interpretou o papel da criada Juliana, personagem malévola que trabalhava na casa das principais personagens desta obra de Eça de Queirós. “Quando morri em cena fiquei aflita porque tinha um gancho na cabeça e deitada sobre o sofá tive de me aguentar para não me mexer e o raio do gancho a fazer-me uma dor na cabeça”. Na Casa de Bernarda Alba, era a Bernarda, e interpretou também uma personagem masculina em “Guerras do Alecrim e da Manjerona”. Normalmente dava corpo às denominadas más da fita, mas graceja que não é má pessoa na vida real. Nunca sonhou ir mais longe e fazer do teatro profissão. Trabalhou sempre na adega cooperativa local como operária de enchimento. “Quando vinha do trabalho, chegava a casa, tomava banho, vestia o pijama e depois o fato de treino por cima, para que quando chegasse a casa me despisse e já estava a jeito para ir para a cama”, conta para realçar o grau de exaustão que experienciava por ao mesmo tempo ter de conciliar o trabalho numa fábrica e a veia artística no grupo de teatro da Labrugeira. Mas era o que de mais extravagante fazia, não se assume como uma atriz de superstições – “Apenas me benzia e tomava um calicezinho com os colegas”, ri-se. “Vinho do Porto”, diz mais alto Clotilde Melo. Muitas brancas também sucederam a Vitória Costa – “Mas tentava que ninguém desse por isso. Não dou cavaco e siga! Tentamos sempre dar a volta”. O pai de Clotilde Melo também era ator no grupo, e quando lhe aconteceu uma branca, a mãe gritou da plateia – “Ah que se esqueceu do texto!”. “Quando uma pessoa vive, gosta e goza a personagem há outro ânimo”, defende Clotilde.
Montar um espetáculo consegue-se por vezes apenas com 200 euros recorrendo a muita reciclagem de figurinos e de decórs. Em setembro, haverá nova peça para se estrear, e no caso das crianças é mais difícil porque torna-se complicado concorrer com as novas tecnologias e com os horários escolares. “Temos uns textos antigos que vamos ensaiar dentro do universo maravilhoso, que já passou de moda, mas ao mesmo tempo nunca passa”, refere Gualberto Silva. “É pena as pessoas não aderirem ao teatro como gostaríamos, porque isto é muito saudável, é algo cultural, que treina a linguagem e a expressão”, acrescenta Clotilde Melo.
Na relação com o poder político local, Gualberto Silva, tem uma opinião muito própria – “No movimento associativo só temos a ganhar em ficar o mais longe possível desse poder, embora não possamos dispensar os apoios. Mas só até um certo ponto. Não pretendemos ser alvo de favoritismo ou vistos como um grupo dependente desse poder”. O encenador participou no regulamento das coletividades levado a cabo neste mandato, onde deixou algumas ideias para a Cultura no concelho, que na sua opinião não se deve resumir apenas ao culto do Espírito Santo ou ao Alenquer, Presépio de Portugal.
Para os “Esteiros” a recuperação do Salvador Marques não é decisiva
Nascidos da Revolução dos Cravos, o grupo de teatro amador “Esteiros”, secção da Sociedade Euterpe Alhandrense, tem feito o seu caminho sempre na senda da cultura alternativa, centrada no realismo psicológico, baseado em textos de referência nacional e internacional. Hoje em dia fazem parte deste grupo de cerca de sete atores, liderados por João Santos Lopes, encenador e ator, e que ao longo dos anos tem colecionado prémios, o mais recente – o Prémio de Teatro Mário Rui Gonçalves, atribuído pelo município de Vila Franca de Xira, que premiou a companhia no âmbito da peça “O Pelicano” de August Strindberg. Mas a primeira peça levada a palco, lembra o encenador, foi “A Traição do Padre Martinho” de Bernardo Santareno em 1975. O grupo continua a manter até aos dias de hoje “um teatro de questionamento e não de entretenimento” que procura responder às questões intemporais da natureza humana – “para onde vamos; de onde viemos, o amor, as paixões, o poder”.
Apesar de herdarem o nome de uma obra neorrealista de Soeiro Pereira Gomes, o grupo não procurou ao longo dos anos ser uma montra da corrente literária. “Fizemos algumas peças do neorrealismo mas nunca procurámos muito ir por aí”, refere João Santos Lopes que faz parte do grupo desde os primeiros anos da década de 80. A longevidade de um grupo de teatro de autor tem na sua opinião uma explicação desde logo o facto de estar ligado a uma das maiores coletividades do concelho, “que nos permite ter um espaço para usar sem constrangimentos”; “ter um conjunto de atores e técnicos que amam o teatro, e a noção de que isto é importante nas nossas vidas”. Desta companhia já saíram nomes como Maria João Luís, “que considero a melhor atriz portuguesa neste momento”; e Albano Jerónimo.
Sobre a polémica que tem envolvido as companhias de teatro Inestética e Cegada, do concelho de Vila Franca de Xira, que desejariam mais apoios, considera que “é normal as companhias quererem mais dinheiro, e a autarquia tem a opinião de que os recursos são limitados. É uma questão de prioridades”. O grupo também recebe uma verba, e esse subsídio também tem por objetivo fazer multiplicar os espetáculos da companhia em outros pontos do concelho no âmbito do protocolo com a autarquia. Normalmente é estreada apenas uma peça por ano que depois roda pelas coletividades do concelho. Apesar de ser um teatro com um cariz que joga mais com a subjetividade entende que isso não é um entrave junto dos diferentes tipos de população- “Esse tipo de fosso já não sinto da mesma maneira que há 30 anos, quando se notava uma grande décalage a nível da compreensão do texto e da peça”. Hoje em dia, “há um público mais jovem que está sempre a aparecer, mas na faixa acima dos 30 o público é o mesmo de há muitos anos”. “Vejo muita gente mais nova interessada no teatro e em experimentar a representação”. Quanto aos que usam o teatro como uma futura rampa de lançamento para as telenovelas, considera normal, “até porque estamos a falar de uma companhia amadora onde é suposto haver alguma volatilidade, desde que trabalhem com profissionalismo e entrega não condeno outras aspirações”.
Também nesta companhia teatral se procede a muita reciclagem de figurinos, e de cenários, mas há 30 anos era pior quando “o projetor era feito com uma lata do Milo a servir de casquilho”. Na hora de escolher os textos há também a necessidade de escolher autores em que o pagamento dos direitos de autor não esteja presente, neste caso apenas as obras de autores falecidos antes de 1947 (os direitos de autor encontram-se protegidos até 70 anos após o falecimento d autor). Por outro lado, e na generalidade do país as companhias só têm conseguido sobreviver “com três ou quatro atores em palco porque não há dinheiro para pagar a muita gente”.
Numa companhia amadora João Santos Lopes é o único indivíduo remunerado porque a Sociedade Euterpe Alhandrense assim o determinou “apesar dessa decisão ter provocado alguma celeuma (ainda com o seu antecessor no cargo de encenador dos Esteiros) e de alguns atores terem saído”. Contudo refere trata-se de uma verba pouco significativa, e mais simbólica “que nem daria para pagar uma renda de casa, por exemplo”. Neste teatro o número de lugares para o público chega apenas a 40 cadeiras, o expectável para o público que costuma albergar quando os espetáculos são levadas à cena dentro de portas.
Numa entrevista com uma companhia de teatro de Alhandra, o tema Teatro Salvador Marques teria de ser um tema incontornável, e neste aspeto o encenador é taxativo – “A minha opinião é pública e conhecida- Não faz sentido recuperar o teatro mantendo a traça e todos os elementos quando não oferece condições para levar à cena peças nas devidas condições para o público, seria mais interessante a sua demolição e a fazer-se um novo com outras condições. A manter-se a traça: o palco acaba por não ter a profundidade, a boca de cena é pequena, a banda da Euterpe não cabe lá”. Por outro lado “quando se fala numa biblioteca para aquele espaço não faz sentido quando temos uma biblioteca como a Fábrica das Palavras a escassos 20 minutos a pé”.
Nascidos da Revolução dos Cravos, o grupo de teatro amador “Esteiros”, secção da Sociedade Euterpe Alhandrense, tem feito o seu caminho sempre na senda da cultura alternativa, centrada no realismo psicológico, baseado em textos de referência nacional e internacional. Hoje em dia fazem parte deste grupo de cerca de sete atores, liderados por João Santos Lopes, encenador e ator, e que ao longo dos anos tem colecionado prémios, o mais recente – o Prémio de Teatro Mário Rui Gonçalves, atribuído pelo município de Vila Franca de Xira, que premiou a companhia no âmbito da peça “O Pelicano” de August Strindberg. Mas a primeira peça levada a palco, lembra o encenador, foi “A Traição do Padre Martinho” de Bernardo Santareno em 1975. O grupo continua a manter até aos dias de hoje “um teatro de questionamento e não de entretenimento” que procura responder às questões intemporais da natureza humana – “para onde vamos; de onde viemos, o amor, as paixões, o poder”.
Apesar de herdarem o nome de uma obra neorrealista de Soeiro Pereira Gomes, o grupo não procurou ao longo dos anos ser uma montra da corrente literária. “Fizemos algumas peças do neorrealismo mas nunca procurámos muito ir por aí”, refere João Santos Lopes que faz parte do grupo desde os primeiros anos da década de 80. A longevidade de um grupo de teatro de autor tem na sua opinião uma explicação desde logo o facto de estar ligado a uma das maiores coletividades do concelho, “que nos permite ter um espaço para usar sem constrangimentos”; “ter um conjunto de atores e técnicos que amam o teatro, e a noção de que isto é importante nas nossas vidas”. Desta companhia já saíram nomes como Maria João Luís, “que considero a melhor atriz portuguesa neste momento”; e Albano Jerónimo.
Sobre a polémica que tem envolvido as companhias de teatro Inestética e Cegada, do concelho de Vila Franca de Xira, que desejariam mais apoios, considera que “é normal as companhias quererem mais dinheiro, e a autarquia tem a opinião de que os recursos são limitados. É uma questão de prioridades”. O grupo também recebe uma verba, e esse subsídio também tem por objetivo fazer multiplicar os espetáculos da companhia em outros pontos do concelho no âmbito do protocolo com a autarquia. Normalmente é estreada apenas uma peça por ano que depois roda pelas coletividades do concelho. Apesar de ser um teatro com um cariz que joga mais com a subjetividade entende que isso não é um entrave junto dos diferentes tipos de população- “Esse tipo de fosso já não sinto da mesma maneira que há 30 anos, quando se notava uma grande décalage a nível da compreensão do texto e da peça”. Hoje em dia, “há um público mais jovem que está sempre a aparecer, mas na faixa acima dos 30 o público é o mesmo de há muitos anos”. “Vejo muita gente mais nova interessada no teatro e em experimentar a representação”. Quanto aos que usam o teatro como uma futura rampa de lançamento para as telenovelas, considera normal, “até porque estamos a falar de uma companhia amadora onde é suposto haver alguma volatilidade, desde que trabalhem com profissionalismo e entrega não condeno outras aspirações”.
Também nesta companhia teatral se procede a muita reciclagem de figurinos, e de cenários, mas há 30 anos era pior quando “o projetor era feito com uma lata do Milo a servir de casquilho”. Na hora de escolher os textos há também a necessidade de escolher autores em que o pagamento dos direitos de autor não esteja presente, neste caso apenas as obras de autores falecidos antes de 1947 (os direitos de autor encontram-se protegidos até 70 anos após o falecimento d autor). Por outro lado, e na generalidade do país as companhias só têm conseguido sobreviver “com três ou quatro atores em palco porque não há dinheiro para pagar a muita gente”.
Numa companhia amadora João Santos Lopes é o único indivíduo remunerado porque a Sociedade Euterpe Alhandrense assim o determinou “apesar dessa decisão ter provocado alguma celeuma (ainda com o seu antecessor no cargo de encenador dos Esteiros) e de alguns atores terem saído”. Contudo refere trata-se de uma verba pouco significativa, e mais simbólica “que nem daria para pagar uma renda de casa, por exemplo”. Neste teatro o número de lugares para o público chega apenas a 40 cadeiras, o expectável para o público que costuma albergar quando os espetáculos são levadas à cena dentro de portas.
Numa entrevista com uma companhia de teatro de Alhandra, o tema Teatro Salvador Marques teria de ser um tema incontornável, e neste aspeto o encenador é taxativo – “A minha opinião é pública e conhecida- Não faz sentido recuperar o teatro mantendo a traça e todos os elementos quando não oferece condições para levar à cena peças nas devidas condições para o público, seria mais interessante a sua demolição e a fazer-se um novo com outras condições. A manter-se a traça: o palco acaba por não ter a profundidade, a boca de cena é pequena, a banda da Euterpe não cabe lá”. Por outro lado “quando se fala numa biblioteca para aquele espaço não faz sentido quando temos uma biblioteca como a Fábrica das Palavras a escassos 20 minutos a pé”.

“Área de Serviço” no Cartaxo
“Esta cidade tem muito sangue teatral”
É das companhias de teatro mais recentes da região. Começou a sua atividade em 2012 através de Frederico Corado que viu no Cartaxo o potencial para implantar um grupo baseado no teatro comunitário. Várias peças já foram levadas a palco, sempre com sucesso, e com muita adesão por parte da população do concelho desejosa de experimentar as artes de palco. Desde os mais jovens aos mais idosos, dar uma perninha no teatro da terra passou a ser quase um clássico para muitos que vêm na “Área de Serviço” um escape. É das poucas da região que consegue esgotar a capacidade da sala onde se apresenta, o Centro Cultural do Cartaxo com 327 lugares.
O encenador Frederico Corado ficou a conhecer o Cartaxo enquanto palco para um projeto maior na área do teatro através do ator José Raposo, que durante alguns anos esteve ligado à cultura no concelho. Logo na primeira audição “houve imensa gente que quis participar e arrancar com o projeto”. “Sabia que havia muito sangue teatral por estes lados por existir um passado também com muitas companhias teatrais”. Veio viver para Vale da Pinta no concelho. Filho do cineasta Lauro António, conta que apesar de também ser realizador de cinema, a escolha pelo teatro foi natural, apesar de gostar de ambas as linguagens. Ainda com 15 dias de vida entrou num filme em que se tinha de arranjar um bebé “O principezinho com orelhas de burro” de António Macedo. “Eu fiz de principezinho”.
A primeira peça pouco antes da constituição da Área de Serviço foi “O Marido Ideal” com 40 pessoas em palco, Sendo que apareceram cerca de 200 nos castings. Como é que se explica esta apetência – “Fizemos muita divulgação com cartazes na rua, aparece gente de todo o tipo, desde o reformado que está em casa e não tem nada para fazer, até à senhora que fez teatro quando era mais nova e agora quer voltar a fazer. Temos também o caso de quem fazia teatro noutras companhias que entretanto acabaram.” Depois seguiu-se o “Crime na Aldeia Velha”. Hoje a companhia conta com um elenco fixo de oito pessoas. Em média a companhia leva ao palco cinco peças por ano, “algo que não encontra paralelo em muitos locais do país tendo em conta o número de pessoas em palco, a grandiosidade dos espetáculos, o ritmo, a assiduidade”. O encenador não esconde que no seu caso a ambição é grande – “Temos cenários grandiosos e guarda-roupa que nunca mais acaba”.
Beneficiando de um público fiel que esgota a sala do CCC nos cinco dias em que os espetáculos são representados, e com um preço de bilheteira de cinco euros por pessoa, refere que consegue ter capacidade para pagar a logística, e os direitos de autor cobrados pela SPA. O elenco fixo ainda não é pago, mas confessa que esse será o próximo passo. A autonomia desta companhia teatral está patente no facto de não beneficiar nem de subsídios (“Todos sabemos da situação financeira da Câmara, nunca pedimos nada porque sabemos das dificuldades”) nem de patrocinadores. “Por isso a nossa autonomia é um exercício sufocante”, ilustra, e referindo-se à subsidiodependência da área acresccenta que “muitos alojam-se nessa possibilidade”. “No meu caso sei que se não conseguir pagar os custos não tenho peças”. “Critico a política de subsidiar apenas e só as que não têm capacidade para gerar receita que consiga colmatar os custos. As verbas deveriam ser para todos, e tal como se faz noutros países quando a peça já tiver superado a verba dada inicialmente, devolver-se-ia esse dinheiro que depois poderia ser canalizado para o dito teatro experimental”.
Na hora de escolher uma peça, a escolha aqui também recai um pouco sobre os clássicos e que versem sobre quotidianos que vão de encontro ao gosto do público como os que abordem os dramas ou as comédias familiares na senda do teatro de boulevard, a ruralidade, entre outros aspetos. E realça o sucesso que foi a representação recente de “Mar” de Miguel Torga (com 10 toneladas de areia em palco). A companhia tem ainda um repertório infantil que neste caso é levado a outros palcos para além do Cartaxo.
“Esta cidade tem muito sangue teatral”
É das companhias de teatro mais recentes da região. Começou a sua atividade em 2012 através de Frederico Corado que viu no Cartaxo o potencial para implantar um grupo baseado no teatro comunitário. Várias peças já foram levadas a palco, sempre com sucesso, e com muita adesão por parte da população do concelho desejosa de experimentar as artes de palco. Desde os mais jovens aos mais idosos, dar uma perninha no teatro da terra passou a ser quase um clássico para muitos que vêm na “Área de Serviço” um escape. É das poucas da região que consegue esgotar a capacidade da sala onde se apresenta, o Centro Cultural do Cartaxo com 327 lugares.
O encenador Frederico Corado ficou a conhecer o Cartaxo enquanto palco para um projeto maior na área do teatro através do ator José Raposo, que durante alguns anos esteve ligado à cultura no concelho. Logo na primeira audição “houve imensa gente que quis participar e arrancar com o projeto”. “Sabia que havia muito sangue teatral por estes lados por existir um passado também com muitas companhias teatrais”. Veio viver para Vale da Pinta no concelho. Filho do cineasta Lauro António, conta que apesar de também ser realizador de cinema, a escolha pelo teatro foi natural, apesar de gostar de ambas as linguagens. Ainda com 15 dias de vida entrou num filme em que se tinha de arranjar um bebé “O principezinho com orelhas de burro” de António Macedo. “Eu fiz de principezinho”.
A primeira peça pouco antes da constituição da Área de Serviço foi “O Marido Ideal” com 40 pessoas em palco, Sendo que apareceram cerca de 200 nos castings. Como é que se explica esta apetência – “Fizemos muita divulgação com cartazes na rua, aparece gente de todo o tipo, desde o reformado que está em casa e não tem nada para fazer, até à senhora que fez teatro quando era mais nova e agora quer voltar a fazer. Temos também o caso de quem fazia teatro noutras companhias que entretanto acabaram.” Depois seguiu-se o “Crime na Aldeia Velha”. Hoje a companhia conta com um elenco fixo de oito pessoas. Em média a companhia leva ao palco cinco peças por ano, “algo que não encontra paralelo em muitos locais do país tendo em conta o número de pessoas em palco, a grandiosidade dos espetáculos, o ritmo, a assiduidade”. O encenador não esconde que no seu caso a ambição é grande – “Temos cenários grandiosos e guarda-roupa que nunca mais acaba”.
Beneficiando de um público fiel que esgota a sala do CCC nos cinco dias em que os espetáculos são representados, e com um preço de bilheteira de cinco euros por pessoa, refere que consegue ter capacidade para pagar a logística, e os direitos de autor cobrados pela SPA. O elenco fixo ainda não é pago, mas confessa que esse será o próximo passo. A autonomia desta companhia teatral está patente no facto de não beneficiar nem de subsídios (“Todos sabemos da situação financeira da Câmara, nunca pedimos nada porque sabemos das dificuldades”) nem de patrocinadores. “Por isso a nossa autonomia é um exercício sufocante”, ilustra, e referindo-se à subsidiodependência da área acresccenta que “muitos alojam-se nessa possibilidade”. “No meu caso sei que se não conseguir pagar os custos não tenho peças”. “Critico a política de subsidiar apenas e só as que não têm capacidade para gerar receita que consiga colmatar os custos. As verbas deveriam ser para todos, e tal como se faz noutros países quando a peça já tiver superado a verba dada inicialmente, devolver-se-ia esse dinheiro que depois poderia ser canalizado para o dito teatro experimental”.
Na hora de escolher uma peça, a escolha aqui também recai um pouco sobre os clássicos e que versem sobre quotidianos que vão de encontro ao gosto do público como os que abordem os dramas ou as comédias familiares na senda do teatro de boulevard, a ruralidade, entre outros aspetos. E realça o sucesso que foi a representação recente de “Mar” de Miguel Torga (com 10 toneladas de areia em palco). A companhia tem ainda um repertório infantil que neste caso é levado a outros palcos para além do Cartaxo.

Teatro Paulo Claro
Público da Glória gosta de peças de intervenção e que façam pensar
O teatro na Glória do Ribatejo já tem tradição desde os anos 60. Existiu um teatro de marionetas entretanto extinto na década de 90. O nome do grupo vem de um jovem ator da terra que já ia fazendo furor no mundo do teatro em Portugal até que um acidente de viação lhe tirou a vida aos 29 anos na sequência de um atropelamento. Já nessa altura tinha fundado nesta aldeia do concelho de Salvaterra de Magos um grupo de teatro que ganhou o seu nome após o seu desaparecimento, em 2001.
A companhia conheceu alguns interregnos pelo meio, mas desde 2012 que mantém uma atividade regular, com novas caras em relação aos primeiros anos. Com frequência promove workshops com o objetivo de conseguir novos atores, onde aparecem “pessoas de todo o concelho”, refere Nuno Monteiro, presidente da assembleia geral da Associação Teatro Paulo Claro. Apesar da escassez de atores, do público esta companhia não se queixa. A população da Glória por norma é fiel às peças e comparece sempre em número satisfatório. Os espetáculos na Glória são apresentados na Casa do Povo, “a sala não tem muitas condições mas é o que se arranja”. Em palco, as peças costumam levar 13 a 14 pessoas consoante as peças. Nuno Monteiro dá uma perninha na encenação mas na última peça recorreram ao encenador Nuno Crespo do Cartaxo, “até porque sabemos que não temos conhecimentos e aptidão para encenar”. Depois da apresentação na Glória o grupo leva a conhecer a peça a outros locais do concelho como Salvaterra e Marinhais. Recentemente também estiveram na Benedita num encontro de teatro. Cada peça é representada cerca de cinco a seis vezes, e os ensaios duram em média três meses.
A importância de Paulo Claro ainda hoje é lembrada pois “se não fosse ele o teatro tinha acabado na terra em 1992”. O futuro da companhia para já não se consegue prever até porque a atual direção vai cessar funções em breve.
Para não fugir à regra, esta companhia também envereda pelos clássicos: Tchekov, Brecht, para “a SPA não nos bater à porta”, confessa. Um dos maiores sucessos do grupo baseou-se na representação de um texto de um autor alentejano que evocava a ditadura antes do 25 de abril. “As pessoas ficam admiradas com a nossa qualidade”. Quanto à logística conseguem montar um espetáculo a custo zero com a denominada prata da casa. O teatro de intervenção “que faça pensar” é o que mais agrada à população que não o de variedades. “Aqui tem de ser uma comédia mais interventiva”, realça Rui Pote, um dos atores principais da companhia.
Espaços no concelho onde a companhia se possa apresentar são poucos, e nem mesmo o recente Mercado da Cultura em Marinhais oferece condições a nível do palco para um espetáculo de teatro no entender dos responsáveis. Na Glória, vai surgir em breve o Espaço Jackson com o intuito de albergar todas as coletividades da freguesia. Existe alguma expetativa mas a companhia também não conhece para já como é que serão encaixadas as associações no seu interior.
Rui Pote, 24 anos, é um dos nomes principais da companhia, e tem desempenhado o papel de protagonista nas diferentes peças da companhia, como “Os Malefícios do Tabaco” de Tchekov, mas também em “Oh atear do lume”, e “A Exceção e Regra”. Profissionalmente na vida trabalha numas estufas e também se dedica a peças de marionetas. Chegou a sonhar em ser ator a nível profissional, mas “seria muito difícil com um custo muito elevado”
Público da Glória gosta de peças de intervenção e que façam pensar
O teatro na Glória do Ribatejo já tem tradição desde os anos 60. Existiu um teatro de marionetas entretanto extinto na década de 90. O nome do grupo vem de um jovem ator da terra que já ia fazendo furor no mundo do teatro em Portugal até que um acidente de viação lhe tirou a vida aos 29 anos na sequência de um atropelamento. Já nessa altura tinha fundado nesta aldeia do concelho de Salvaterra de Magos um grupo de teatro que ganhou o seu nome após o seu desaparecimento, em 2001.
A companhia conheceu alguns interregnos pelo meio, mas desde 2012 que mantém uma atividade regular, com novas caras em relação aos primeiros anos. Com frequência promove workshops com o objetivo de conseguir novos atores, onde aparecem “pessoas de todo o concelho”, refere Nuno Monteiro, presidente da assembleia geral da Associação Teatro Paulo Claro. Apesar da escassez de atores, do público esta companhia não se queixa. A população da Glória por norma é fiel às peças e comparece sempre em número satisfatório. Os espetáculos na Glória são apresentados na Casa do Povo, “a sala não tem muitas condições mas é o que se arranja”. Em palco, as peças costumam levar 13 a 14 pessoas consoante as peças. Nuno Monteiro dá uma perninha na encenação mas na última peça recorreram ao encenador Nuno Crespo do Cartaxo, “até porque sabemos que não temos conhecimentos e aptidão para encenar”. Depois da apresentação na Glória o grupo leva a conhecer a peça a outros locais do concelho como Salvaterra e Marinhais. Recentemente também estiveram na Benedita num encontro de teatro. Cada peça é representada cerca de cinco a seis vezes, e os ensaios duram em média três meses.
A importância de Paulo Claro ainda hoje é lembrada pois “se não fosse ele o teatro tinha acabado na terra em 1992”. O futuro da companhia para já não se consegue prever até porque a atual direção vai cessar funções em breve.
Para não fugir à regra, esta companhia também envereda pelos clássicos: Tchekov, Brecht, para “a SPA não nos bater à porta”, confessa. Um dos maiores sucessos do grupo baseou-se na representação de um texto de um autor alentejano que evocava a ditadura antes do 25 de abril. “As pessoas ficam admiradas com a nossa qualidade”. Quanto à logística conseguem montar um espetáculo a custo zero com a denominada prata da casa. O teatro de intervenção “que faça pensar” é o que mais agrada à população que não o de variedades. “Aqui tem de ser uma comédia mais interventiva”, realça Rui Pote, um dos atores principais da companhia.
Espaços no concelho onde a companhia se possa apresentar são poucos, e nem mesmo o recente Mercado da Cultura em Marinhais oferece condições a nível do palco para um espetáculo de teatro no entender dos responsáveis. Na Glória, vai surgir em breve o Espaço Jackson com o intuito de albergar todas as coletividades da freguesia. Existe alguma expetativa mas a companhia também não conhece para já como é que serão encaixadas as associações no seu interior.
Rui Pote, 24 anos, é um dos nomes principais da companhia, e tem desempenhado o papel de protagonista nas diferentes peças da companhia, como “Os Malefícios do Tabaco” de Tchekov, mas também em “Oh atear do lume”, e “A Exceção e Regra”. Profissionalmente na vida trabalha numas estufas e também se dedica a peças de marionetas. Chegou a sonhar em ser ator a nível profissional, mas “seria muito difícil com um custo muito elevado”
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