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Viagem aos espólios do Museu do Neo-RealismoÉ destas catacumbas da cultura que têm saído muitas ideias para exposições
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Sílvia Agostinho
11-07-2019 às 17:13 |
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É uma viagem aos tesouros do Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, que desde a sua abertura em 2007 tem acumulado espólios de autores portugueses doados pelas famílias, aquela que fazemos. É destas catacumbas da cultura que têm saído muitas ideias para exposições. Há documentos que aspiram pela transferência para os pisos superiores para ganharem um lugar de destaque na ilustração ao público como fragmentos vivos daquele movimento cultural surgido nos anos 30 em Portugal, tendo chegado aos anos 50, mas ainda com muitos exemplos até ao 25 de abril.
Uma das vertentes ainda pouco exploradas refere-se à troca de obras entre autores daquela corrente, que permutavam com frequência livros, quadros, desenhos. Na nossa reportagem foram-nos mostradas algumas dedicatórias em livros de escritores para outros escritores, pela bibliotecária documentalista do museu, Odete Belo, como uma antologia da Seara Nova de Mário Sottomayor Cardia para Carlos Oliveira, ou ainda a obra “Fanga” numa dedicatória de Alves Redol também para o autor de “Uma Abelha na Chuva”. Na secção de espólios, podemos contemplar bibliotecas inteiras dos autores que foram doadas pelas famílias, onde pelos títulos conseguimos observar as influências dos diferentes nomes do neo-realismo português, como Alves Redol ou Mário Sacramento. Só de Carlos Oliveira, o museu conta com 1700 livros da sua biblioteca, mais 1200 da de Armindo Rodrigues, e, grosso modo, outros 1200 de Alexandre Cabral, só a título de exemplo. Depois, são muitas e muitas caixas, cada uma delas contendo cerca de 60 documentos de todo um sem número de papéis e objetos destes autores. A família de um dos autores até juntou ao espólio o seu cinzeiro. O espólio de Alexandre Cabral conta, por exemplo, com um diploma do liceu. Muitas medalhas foram também sendo oferecidas a estes autores que agora fazem parte dos espólios, mas também zincogravuras das suas obras. Um dos espólios que chegou e ainda não foi tratado é o de Mário Braga, neo-realista, e editor da revista “Vértice”, onde muitos daqueles autores publicaram. Nos seus objetos pessoais, estão, imagine-se, ações. Garcez da Silva, um autor cuja obra pictórica ficou mais conhecida, após a receção dos espólios foi outra das descobertas, pois há sempre pormenores da vida e obra que se ficam a conhecer melhor quando chegam as doações dos herdeiros. Um dos que, confessa, tem estado um pouco parado é o do autor do concelho, Jorge Reis, mas “que vamos abrir em breve, depois de ter estado algum tempo em quarentena”. A documentalista do museu refere que o espólio de revistas e de jornais onde os neo-realistas começaram, muitos deles, a escrever, porque não conseguiram logo editar livros o que pressupunha um certo arcaboiço financeiro para pagar a impressão, é riquíssimo, com muito material por desvendar e mostrar. “Temos uma coleção como há poucas”. Mais do que na biblioteca nacional que chegam através dos espólios ao museu de Vila Franca. São cerca de 700 títulos de periódicos da época. Com tudo isto consegue-se um retrato social de décadas portuguesas em modo concentrado nestes arquivos, onde raramente as portas são abertas ao público, salvo exceções para alguns trabalhos académicos. Há cartazes que um dia mais tarde vão seguir para exposição. No espólio está um destes exemplos: “A Ditadura”, que foi doado por um herdeiro do lutador antifascista e antigo presidente da Câmara de Loures, Severiano Falcão. Não foi um neo-realista “mas interessa-nos sempre o enquadramento histórico”. |
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Depois dos espólios das famílias dos autores, começam a chegar elementos e objetos, no fundo também espólios, de pessoas relacionadas como foi o caso deste antigo autarca de Loures. Mas também de muitos outros anónimos com relação ou não com os autores, que têm ainda em casa um documento considerado como exemplificativo de uma época, de um tempo, e de um Portugal da ditadura que o museu vai conseguindo acolher. Um dos espólios aguardados é o do editor Luís Amaro por parte da família, sendo que o mesmo por força do seu trabalho contactou com os autores. Exemplos de cartas trocadas entre escritores são mostrados à nossa reportagem, a dar conta de peripécias relacionadas com a escrita e com os afazeres das suas vidas, onde conseguimos perceber emoções, camaradagem e sentido de humor no contacto que aqueles nomes faziam entre eles.
A vereadora da Cultura, na Câmara de Vila Franca de Xira, Manuela Ralha, dá nota do “importante acervo literário mas também em artes plásticas” do museu. O objetivo passa também por dar a conhecer outras vertentes da corrente estética para além da literatura como é exemplo a fotografia, de que Alves Redol foi também um embaixador ainda que menos conhecido neste campo. No futuro, está prevista uma exposição sobre Alves Redol recebida por António Mota Redol, o seu filho, e outra de Maria Lamas. |
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