Vindima 2013 aponta para boa produção

Na Quinta de Vale de Fornos a preparar os próximos vinhos
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O Valor Local foi às vindimas. Em Aveiras de Cima, onde tomámos o pulso ao projecto da “Vila Museu do Vinho”; e na Quinta de Vale de Fornos, que se prepara para uma produção de 1000 mil garrafas. Ainda destaque para uma conversa com um dos últimos tanoeiros e com o presidente da Associação Portuguesa de Enólogos. Para já, o vinho da região e do concelho está bom e recomenda-se.

Na Quinta de Vale de Fornos, Azambuja, a produção vinícola deste ano, segundo os responsáveis, será de boa qualidade. A qualidade das uvas recolhidas até ao momento faz prever que o patamar continue elevado. No total deverão ser engarrafadas 100 mil garrafas.

No dia da nossa reportagem, a vindima não se efectuava, porque os responsáveis decidiram efectuar uma interrupção de alguns dias, no sentido de obterem um melhor resultado tendo em vista a qualidade final do vinho. Por isso, pudemos assistir a uma fase posterior à colheita, quando as uvas são depositadas nos enormes depósitos de 20 mil litros, e ficam segundo a explicação do engenheiro agrícola, João Cortes, a macerar, um processo em que o mosto e as películas (das uvas) entram em contacto para “darem lugar a uma extracção de cores, aromas, e sabores”. Neste estágio, o produto vai permanecer durante três a quatro dias a uma temperatura entre os 15 e os 16º. O objectivo é alcançar-se a concentração perfeita do vinho.

Posteriormente, passa-se à “desencuba”, passadas duas a três semanas. É altura de se separar o denominado vinho novo das massas, o vinho que não é prensado.

De acordo com João Cortes, o vinho branco, de entrada de gama, (designação referente ao vinho mais comum ou clássico) demora neste processo até ao seu engarrafamento cerca de três a quatro meses, no entanto, o tinto precisa de seis a oito meses. A colheita desta vindima destina-se aos vinhos da marca – “Vinha do General” (branco e tinto, entrada de gama) e Vale de Fornos (gama média, branco, tinto e rosé). Durante o ano que vem, a quinta prepara-se para apresentar algumas novidades quanto à aposta nos vinhos “Reserva”, (os que ficam a maturar um ano ou mais até saírem para o mercado).

Recentemente, a quinta recebeu dois prémios internacionais no concurso “Chinese wine and spirit awards”, realizado na China, com a conquista de uma medalha de ouro com o “Vale de Fornos” tinto, e outra de prata com o “Vinha do General” tinto, um marco importante que importa agora consolidar. “Para já está conseguido um negócio de exportação de 30 a 40 por cento para aquele país com a produção da vindima deste ano”, de acordo com Nuno Morais, enólogo e engenheiro agrícola na propriedade em causa. Em território nacional, a produção será encaminhada para mercados próprios em Lisboa, Algarve e Porto. Alemanha, Inglaterra, e Holanda serão outros dos destinos dos néctares da Vale de Fornos no estrangeiro.


Iniciativa da Vila Museu do Vinho:

“Dia nas Vindimas” é um sucesso

Aveiras de Cima no concelho de Azambuja é sinónimo de Ávinho, a Festa do Vinho e das Adegas. Este é um certame que assinalará em 2014 dez anos de existência e sempre com um balanço positivo, dinamizada pela associação “Vila Museu do Vinho”. Mas em Setembro é tempo de vindimas,  e por esta altura a associação organiza aquilo que tem vindo a ser um sucesso: “O dia nas Vindimas”, em que através do pagamento de 10 euros, o turista acompanha o processo de apanha da uva até à sua pisa. José Mata, produtor e presidente do conselho fiscal da associação diz mesmo que têm vindo muitos grupos portugueses e estrangeiros, que participam activamente nas actividades.

Com cerca de duas dezenas de produtores inscritos, a associação “Vila Museu do Vinho” conseguiu um balanço positivo desta sua primeira organização. Uma ideia partilhada com o Valor Local, por José Mata, presidente do conselho fiscal e também ele produtor de vinhos.

Sem receitas próprias, dependendo apenas de uma quotização e da receita das canecas vendidas no certame anual da vila, a Associação de Produtores de Vinho de Aveiras de Cima, tenciona unir e dar formação aos associados. Para José Mata, esta é uma matéria importantíssima, já que as regras fiscais estão a apertar junto dos pequenos produtores e isso leva a “que muitos desistam na actividade, e isso já se nota no nosso concelho” lamenta o produtor.

A associação que está atenta às novidades do mundo fiscal e produtivo, é também uma espécie de montra dos vinhos desta região. Todavia, esses vinhos não se encontram à venda, e sobre isso José Mata defende-se salientando para tal que a associação teria de crescer em torno de uma massificação de produção, algo que não é possível nesta altura.

José Mata, vinca mesmo que essa questão já foi abordada, mas isso obrigaria à venda do vinho, algo que não acontece agora, e que para tal teria de haver também um investimento nessa produção. Por outro lado, José Mata descarta que a associação se torne numa cooperativa. Para o responsável, essa é uma questão que não se coloca, primeiro porque não há produtores suficientes e porque também essa seria uma solução dispendiosa, isto tendo em conta o nível etário dos produtores.

Mas José Mata é também produtor de vinho. Mata recebeu o Valor Local na sua casa, onde faz experiencias com várias castas. É o meu laboratório” refere o produtor. Uma laboratório que consiste na plantação de varias castas bem à entrada de casa, e que servem igualmente de cartão de visita aos turistas e amigos que o visitam.

Com cerca de 3 hectares, José Mata garante que todos eles estão rentabilizados. Reformado das OGMA (Oficinas Gerais de Material Aeronáutico de Alverca) o produtor de 60 anos, garante que ainda tem muito para dar à causa, salientando que em breve terá a ajuda do filho, que não tem conseguido encontrar emprego na área em que se formou. José Mata destaca que o negócio do vinho pode ser proveitoso, mas aos mais novos aconselha a que encontrem primeiro um terreno com uma dimensão que dê alguma rentabilidade e que encontrem compradores para a produção, algo que pode não ser muito difícil, pois em Portugal, a qualidade ainda vale mais do que a quantidade. 


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José Mata apresenta as uvas 2013
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Zé Espiga é um dos poucos tanoeiros tradicionais na região de Lisboa

 Em época de vindimas, a preocupação dos enólogos com a qualidade do produto que se propõem produzir não se restringe apenas à escolha das melhores uvas nem ao tempo de maturação ou fermentação do vinho, mas também aos túneis, barris e pipas escolhidos para armazenar o néctar dos deuses.

Em Bucelas, terra de uva e vinho, existe um dos poucos tanoeiros artesanais a trabalhar na região de Lisboa. José Carlos Carvalho Quintão, mais conhecido como “Zé Espiga”, tem 53 anos e há 30 que faz da tanoaria a sua vida.

“A oficina era do meu pai, sempre soube do ofício, cresci aqui, ia para as feiras vender. Comecei a trabalhar bastante cedo, mas só aos 23 anos é que comecei a fazer vida disto”, conta o tanoeiro, que revela que, na zona de Lisboa, existem “cerca de três ou quatro tanoeiros tradicionais e só duas oficinas estão registadas”.

Esta profissão teve o seu auge nos anos 40/50, mas hoje em dia é quase impossível ensiná-la “porque não temos capacidade para ter uma pessoa na oficina que não consiga ser produtiva num curto espaço de tempo”. “Tive um aprendiz, aqui há uns anos, que fez um estágio de três meses, que é o que as escolas pedem aos alunos. Mas para se aprender a arte, para se aprender a ser tanoeiro, é preciso um ano ou dois, e as oficinas pequenas não têm capacidade para ensinar alguém durante esse tempo”, lamenta, apesar de reconhecer que as tanoarias mecanizadas fazem um trabalho muito aproximado daquele que é feito pelos tanoeiros tradicionais.

Contudo, a arte da tanoaria não se resume apenas à construção do barril, mas também à escolha das madeiras adequadas, que é também muito importante, por que estas influenciam o sabor e a cor finais do produto que vão receber. Zé Espiga prefere trabalhar com madeira de “carvalho e castanho, por que são boas tanto para fazer o barril como para o vinho. É por isso que os meus barris têm dez anos de garantia e um selo personalizado. Na região, toda a gente sabe que se o barril tiver aquele selo, é de Bucelas e tem dez anos de garantia. Normalmente as pessoas não andam sempre a trocar de barris, só compram novos quando aumentam as adegas, o que fazem é manutenção dos barris que já têm”, explica.

O tanoeiro faz, actualmente, apenas a feira da Malveira, uma vez que, hoje em dia, considera, “já não se vende muito nas feiras e não compensa ir lá. Cada vez há menos feirantes porque as pessoas vão cada vez mais aos supermercados. Eu faço barris como modo de vida, mas também faço para me divertir, temos de gostar daquilo que fazemos, não é?”, questiona.

Sobre se a profissão de tanoeiro artesanal está condenada, Zé Espiga lembra que, “há 40 anos havia mais de 50 tanoeiros e esses velhotes diziam que isto estava a acabar, mas ainda veio mais uma geração. Acho que não vai acabar. Até porque tenho ideia que no mundo inteiro se produzem muitos barris e muitos dos que aparecem nas adegas portuguesas vêm do estrangeiro”.

Além de barris para vinho e aguardente, Zé  Espiga faz também peças decorativas, como bancos para bares, mesas, armários, barris para rotundas, e até já fez um cenário todo com barris para a Plural, a empresa responsável pelas novelas da TVI e que está sediada na zona. 



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Azambuja precisa de dar mais um passo em frente nos seus vinhos

Presidente da Associação dos Escansões de Portugal, e com raízes no concelho de Azambuja, Rodolfo Tristão entende que a região do Tejo, na qual se insere o concelho de Azambuja, em tempos produzia muito mas com pouca qualidade, entretanto essa realidade alterou-se. No entanto, reconhece que “há que fazer cada vez mais investimento por parte das entidades locais.” “

Quanto às potencialidades dos vinhos de Azambuja e da região no que se refere à exportação entende que o sucesso de muitos está na qualidade do produto e acima de tudo na promoção dos seus vinhos. O escansão diz que as empresas ligadas a este sector “devem garantir que têm sempre o melhor vinho para exportar, adequar os rótulos tendo em conta o mercado e escolher os tipos de vinho tendo em conta o clima, mas acima de tudo a qualidade”.

As alterações climáticas no globo estão também a introduzir mudanças mais ou menos significativas na qualidade e nas características dos vinhos. “Em algumas regiões, as temperaturas médias subiram fazendo com que alguns vinhos adquirissem outras qualidades, estas alterações estão a decorrer em todo o mundo, logo é algo de muito sensível para a produção vinícola”.

Desde há alguns anos que se tem vindo a assistir a uma espécie de explosão de marcas a preços bastante económicos nos supermercados, uma realidade que na opinião de Rodolfo Tristão se deve a um melhor marketing das empresas e ao aparecimento de uma cultura vínica maior. “Os vinhos abaixo de cinco euros começam a ser mais procurados e os produtores conseguem garantir a qualidade dos mesmos”, refere. Neste âmbito, o concelho de Azambuja “tem que melhorar a imagem, tornar-se mais visível, pois a qualidade existe. Temos que melhorar e sermos mais empreendedores”. 



Sílvia Agostinho, Miguel António Rodrigues, Vera Galamba
Edição Setembro 2013


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